As peculiaridades geográficas da área onde atualmente se encontra o Estado do Rio Grande do Sul, dividido em 11 diferentes regiões fisiográficas, influíram para retardar a ocupação da terra pelo conquistador europeu. Passado um século do descobrimento do Brasil, ocorrido em 1500, a região era quase inteiramente desconhecida pelos portugueses. Seus campos eram ocupados por três grupos indígenas: o Gê ou Tapuia (onde se encontram remanescentes caingangues), que ocupava a região de "Cima da Serra", onde hoje se encontram os municípios de Passo Fundo, Lagoa Vermelha, Vacaria, Bom Jesus e São Francisco de Paula; o Pampeano (Charrua, Minuano), que vivia no pampa gaúcho e uruguaio (campos de vegetação baixa, propícios à criação de gado); e o Guarani, que ocupava o litoral, nas margens da Lagoa dos Patos e nas vizinhanças dos grandes rios.

As Missões Guaranis
A partir de 1626, padres jesuítas espanhóis começaram a fundar reduções ou missões (aldeias orientadas pela religião católica, onde os índios viviam de acordo com os princípios da cultura ocidental, em comunidades organizadas pelos missionários jesuítas) na região oeste do território hoje pertencente ao sul do Brasil, ao Uruguai e à Argentina. Durante todo o século XVII ocorreram conflitos freqüentes entre índios e bandeirantes. Os primeiros tinham apoio dos missionários jesuítas, que desejavam convertê-los e civilizá-los. Em função desse apoio, diversas missões foram criadas e destruídas, tendo os índios sido, por vezes, submetidos a períodos de exílio forçado de suas terras originais. No final do século XVII e princípios do século XVIII, os índios iniciaram um retorno gradual às terras que antes lhes pertenciam, sempre com o apoio dos jesuítas. Foram criados nesse período, sete povoados, que ficaram conhecidos como os "sete povos das missões". A etnia desses povos era variada, predominando traços dos guaranis. O Governo de cada aldeia imitava a organização das cidades coloniais espanholas, sendo a sociedade dividida em classes, segundo o ofício. Artistas eméritos eram considerados em plano social superior, com prerrogativas quase de nobreza. A agricultura era exercida coletivamente, não havendo propriedade particular. Os instrumentos agrícolas utilizados também pertenciam à coletividade. O gado, fator primordial para o sustento dessas populações, era criado em campos (vacarias) afastados das aldeias, onde existiam boas condições climáticas e gramíneas de alto poder alimentício. Criavam também cavalos, ovelhas, cabras, galinhas, porcos etc. Dada a facilidade de aprendizagem, não houve problemas em ensinar aos índios as artes mecânicas em "oficinas" onde aprendizes trabalhavam sob a orientação de um "mestre". Todos os artífices trabalhavam para a comunidade e viviam da produção da comunidade. Extraía-se a erva-mate e madeira, praticava-se a metalurgia e se criava gado. Tendo aprendido a fazer mudas, os índios plantaram grandes ervais nas proximidades dos povoados. Com a madeira extraída, executavam obras de arte, especialmente peças sacras, como imagens, candelabros etc. Os "sete povos" eram formados pelas aldeias de São Francisco Borja (1682); São Nicolau (1687); São Luiz Gonzaga (1687); São Miguel Arcanjo (1687); São Lourenço Mártir (1690); São João Batista (1697); e Santo Ângelo Custódio (1707), município onde hoje podem ser encontradas as ruínas da igreja de São Miguel, conjunto tombado pela Organização das Nações Unidas - ONU, como patrimônio histórico da humanidade.
Enquanto floresciam os sete povos no oeste, o litoral era aos poucos ocupado pela penetração portuguesa. Em 1680 foi criada a colônia de Sacramento, às margens do rio da Prata (hoje cidade de Colonia no Uruguai). Fundada como local de contrabando, tornou-se um dos centros da guerra de fronteiras travada entre portugueses e espanhóis durante todo o século XVIII. Em 1726, os espanhóis fundaram a cidade de Montevidéu, a leste de Sacramento, também na margem esquerda do Prata, para diminuir a influência de Portugal na região e ampliar o controle da navegação no Prata. Depois de várias tentativas para conquistar Montevidéu, os portugueses fundaram o Forte Jesus Maria José, em 1737, atual cidade de Rio Grande, em território brasileiro. Os conflitos se encerraram apenas em 1777, com a assinatura do Tratado de Santo Ildefonso, entre Portugal e Espanha, pelo qual ficou garantida a soberania espanhola sobre Sacramento e a posse de Rio Grande pelos portugueses. A região hoje correspondente ao Estado do Rio Grande do Sul teve sua fronteira definida apenas em 1801, após a assinatura do "Tratado de Badajoz".
A partir de 1824, começaram a chegar levas de imigrantes alemães para a região, o que diversificou a economia, antes baseada nas grandes estâncias de gado de corte. Os imigrantes instalaram-se em pequenas propriedades rurais, com produção agrícola diversificada, que passou a abastecer o Estado e ser exportada para as regiões vizinhas.
No século XIX, ocorreram ainda várias rebeliões no Rio Grande do Sul. A mais longa delas foi a Guerra dos Farrapos, produto de divergências entre defensores de ideais republicanos e federalistas. Durou dez anos (1835-45). A pacificação do Estado, após outras lutas civis, só ocorreu a partir de 1928, com o Governo de Getúlio Vargas, que mais tarde viria a ser presidente do Brasil.

Fonte: www.mre.gov.br

 

Em 1740 chegou à região do atual Rio Grande do Sul o primeiro grupo organizado de povoadores. Vindos da ilha dos Açores, contavam com o apoio oficial do governo, que pretendia que se instalassem na vasta área onde anteriormente estavam situadas as Missões. Mas as dificuldades de transporte fizeram com que terminassem por se fixar na área onde hoje está Porto Alegre, a capital do Estado. Praticando a agricultura de pequena propriedade, não encontraram, em um território em que cada estância funcionava como uma célula independente, mercado para seus produtos, e terminaram por se integrar à economia voltada para a pecuária.

Posteriormente, em 1780, um fato iria reforçar ainda mais o caráter rural da vida do atual Estado. Foi criada a primeira charqueada comercial em Pelotas. Aos poucos, o charque se tornou o principal produto de exportação do Rio Grande, sendo enviado para as demais regiões do país.

Essa situação começou a ser modificada no início do século XIX. A estrutura econômica do Brasil de então se baseava na exportação dos produtos agrícolas plantados em grandes propriedades por trabalhadores escravos. O Rio Grande fornecia o charque para esses trabalhadores, e também para os moradores pobres das grandes cidades. Mas, a partir da década de vinte do século passado, o governo brasileiro resolveu estimular a vinda de imigrantes europeus, para formar uma camada social de homens livres que tivessem habilitação profissional, e pudessem oferecer ao país os produtos que até então tinham que ser importados, ou que eram produzidos em escala mínima. Isto significa que o governo queria trazer pequenos produtores - para fornecer alimentos para as cidades - e artesãos.

A idéia, apoiada por alguns, era rejeitada pelos senhores de escravos, que temiam que os trabalhadores livres "fossem um mau exemplo", demonstrando que o trabalho pago produzia mais e melhor que o escravo. Moradores de regiões mais ao norte do país, os grandes senhores de escravos conseguiram impedir que os imigrantes fossem destinados às suas regiões. Por isto, o governo terminou por levá-los para o Rio Grande do Sul, que estava situado à margem do grande eixo econômico, no centro do país.

Os primeiros imigrantes que chegaram foram os alemães, em 1824. Eles foram assentados em glebas de terra situadas nas proximidades da capital gaúcha. E, em pouco tempo, começaram a mudar o perfil da economia do atual Estado.

Primeiramente, introduziram o artesanato em uma escala que, até então, nunca fora praticada. Depois, estabeleceram laços comerciais com seus países de origem, que terminaram por beneficiar o Rio Grande. Pela primeira vez havia, no país, uma região em que predominavam os homens livres, que viviam de seu trabalho, e não da exploração do trabalho alheio.

As levas de imigrantes se sucederam, e aos poucos transformaram o perfil do Rio Grande. Trouxeram a agricultura de pequena propriedade e o artesanato. Através dessas atividades, consolidaram um mercado interno e desenvolveram a camada média da população. E, embora o poder político ainda fosse detido pelos grandes senhores das estâncias e charqueadas, o poder econômico dos imigrantes foi, aos poucos, se consolidando.