NOUDAR
Breve Historia
do Castelo

em Noudar vamos
encontrar as raizes de Barrancos. No entanto,
muito pouco se sabe de concreto das suas
origens, da sua historia e das suas lendas, ou
mesmo dos motivos da desvalorização do burgo ate
ao esquecimento.
A noticia da sua
fundação perde-se nos seculos, nao so porque
Noudar entrou na coroa portuguesa apenas no
seculo XIII, mas tambem porque o arquivo
camarario ardeu duas vezes, quer pelas invasoes
francesas, quer durante as lutas liberais.
Embora escassos
os conhecimentos que podem contribuir para
determinar corn precisao a sua historia, já
existem alguns dados que lhe atestam importancia
demografica e militar.
Noudar nao
escapou aos incomodos sofridos pelas regioes
fronteiriças ao longo da Historia da
consolidação de Portugal, tanto mais que se
encaixa estrategicamente na porção de territorio
bern demarcada do resto do Alentejo pelo rio
Guadiana.
Foi notorio o
papel de Noudar apos a reconquista crista.
Gonçalo Mendes da Maia terá chegado a regiao por
volta
de 1167, fazendo
conquista para o reino de Afonso Henriques. No
entanto, a localização Ionge de tudo e de todos
nao proporcionava a manutenção do territorio por
parte dos portugueses, pelo que voltou a posse
dos mouros durante a ofensiva almoada, tendo
sido mais tarde reconquistada pelos cristaos de
Castela. I é sabido que durante a ocupação dos
barbaros os visigodos nao alteraram de forma
sensivel os quadros eclesiasticos surgidos corn
a decadencia do Imperio Romano. Mas na fase de
unificação da Peninsula, feita pela
administração visigotica, em que o clero se
tornou a classe social dominante, por os seus
elementos se considerarem uma elite
representante da antiga cultura, procedeu-se a
uma organização episcopal de dioceses e
paroquias, a qual foi recuperada corn a
reconquista crista e em que Noudar pertencia ao
Bispado de Badajoz, tal como Moura e Serpa.
As marcas
deixadas pelos arabes em mais de dois seculos de
ocupação na regiao natural do Alentejo tern de
se reflectir necessariamente na influencia sobre
a população.
Embora o tipo
populacional dominante nao tenha sofrido
modificações, ha marcas fundamentais de uma
relação de confronto assumida, mais nos aspectos
religiosos do que em qualquer outro, uma vez que
as suas tecnicas agricolas e muitos dos costumes
foram assimilados pelos povos, tal como muitas
formas vocabulares que naturalmente passaram a
fazer parte da lingua portuguesa. Por exemlo, ha
quem atribua origem arabe ao vocabulo Noudar,
tendo surgido na nossa lingua por corrupção,
sendo designada ao longo dos tempos por Noudar,
Noudall, Nodar, Nordal, Nodre ou Nodal. Na
regiao proxima de Amareleja, ainda hoje, e
frequente chamar-se Lodre ou Lodres;
Ainda na posse de
Castela em 1253, foi mais tarde doada por Afonso
X (0 Sabio), corn as vilas de Serpa e Moura, a
sua filha D. Beatriz, segunda mulher de Afonso
III, em 4 de Março de 1283.
Terminadas as
guerras e definida a linha de fronteira pelo
tratado de Alcailices (1297), o rei D. Dinis
devotou-se a revitalização e reorganização das
potencialidades do territorio. Entre outras
preocupações, vocacionou-se para o povoa- mento.
Havia que repovoar as terras Que, por estarem
mais proximas das fronteiras ou nas estradas
mais frequentemente seguidas pelas invasoes,
sofriam prejuizos em tempo de guerra,
favorecendo-as corn privilegios. Desta forma
conce- de-Ihe foral em 16 de Dezembro de 1295.
Em 1543 D. Manuel mantem os privilegios,
igualmente pela concessao de foral. O rei
«Lavrador» procedeu a rnelhorarnentos na
fortaleza rnandando reconstruir o castelo do
qual fez entrega a Ordern Militar de S. Bento de
Aviz, na pessoa do Mestre D. Frei Lourenl;o
Affonso.
Urn outro
privilegio consistia ern tornar as povoalções
coutos do reino, quais refugios de impunidade
legal para crirninosos. Ali foi fundado um couto
de horniziados, na rnedida ern que, por
conveniencia do poder central , haveria que
rnanter-se naquele local uma povoalção,
guarnecida de defensores que pudessern opor
resistencia as eventuais agressoes ou invasoes
de Castela.
Noudar parece
tratar-se do rnais antigo couto de horniziados
do reino, sendo assirn estabelecido numa carta
outorgada por: D. Dinis ern 16 de Janeiro de
1308. Encontrarn-se rnuitas referencias a este
couto pelos reinados de D. João I, D. Afonso V,
D. Manuel l e na regencia de D. Pedro.
Dada a sua
posilção de guarda avançada no territ6rio,
conheceu por varias vezes a hegernonia de
Castela. Ern todas as crises e rnudanças sociais
sofreu influencias de urn lado e de outro da
actuallinha de fronteira.
Fixadas as
dernarcalçoes corn Castela, e Noudar fazendo
parte integrante de Portugal, ern rneados do
seculo XIV ali voltou o senhorio castelhano. Ern
1372 e devolvida a coroa portuguesa pelo
casarnento de D. Fernando corn Leonor Teles. E
no entanto, após a rnorte do rnonarca ern 1383,
regressou a jurisdilção de Castela.
Ap6s os
acontecirnentos de 1383/85, Noudar inclui-se nas
terras que tern voz por Castela. No reinado de
D. Joao I a povoalção integra-se de novo ern
território portugues e o rei, sendo Mestre de
Avis, recebe a cornenda da pralça.
No ultimo quartel
do seculo XV tiverarn irnportancia as incursoes
castelhanas ern territ6rio portugues durante o
conflito entre D. Afonso V e os Reis Catolicos,
devido ao problerna sucessório do rnonarca de
Castela, Henrique IV. Tendo sido uma questão de
caracter politico-militar, ela
afectou a raia
portuguesa desde o Sabugal ate Alcoutim, corn
particular incidencia no Alentejo. Logo na
primeira incurção (1475) perdeu-se a praça de
Noudar , que por tres anos ficou em poder do
inimigo, a quem foi comprada e readquirida para
o reino de Portugal. A perda deste posto
avançado teve muita influencia nas operaçoes
seguintes, em que ficaram ameaçadas as terras da
margem esquerda do Guadiana e toda a fronteira
ao sul. Como ja foi salientado, sempre se
verificaram discordias entre as populaçoes dos
termos de Moura, Noudar, Aroche e Encinasola,
por causa das comedias (pastagens) do Campo de
Gamos, a suI do castelo. Esta fase, a primeira
do problema da «contenda», estende-se ate 1542,
ano em que o litigio ficou ultrapassado por
acordos entre os governos dos dois reinos. Este
problema porem não teve entendimento entre os
habitantes das povoaçoes interessadas e foi
reaberto duzentos e sessenta anos depois,
ficando definitivamente resolvido em 1894.
Tambem as acçoes das Guerras da Restauração
foram sentidas na «villa» de Noudar, tanto mais
que a sua posição de posto avançado servia de
guarda praças para as fortificadas de Serpa,
Moura e Mourao. Em 1644 o castelo foi tomado
pelo inimigo, que mais tarde o perdeu. Finda a
guerra em 1668, a artilharia foi reduzida as
guarniçoes das fortalezas. Fica pois no Baixo
Alentejo tropa de artilharia em Serpa, em Moura,
em Noudar, em Mertola, em Vila Nova de
Milfontes, em Sines e provavelmente em Beja.
Tambem durante a Guerra da Sucessao em Espanha,
no ano de 1707, as tropas do Duque de Osuna
apoderaram-se das praças de Noudar, Moura e
Serpa, sendo repelidas destas ultimas no ano
seguinte. Contudo Noudar conservou- se em poder
do rei espanhol ate a assinatura do tratado de
Utrecht entre o rei de Castela e D. Joao V, em
que as questoes relativas a praças e terras
conquistadas ou em litigio foram reguladas nos
seguintes termos: «Restituição mutua de todas as
praças e terras conquistadas durante a guerra,
entregando-se imediatarnente a Portugal o
Castelo de Noudar corn o seu termo.
De resto
constata-se que o castelo foi rnuito afectado
quer nas Guerra da Restauraçao quer nas lutas da
Sucessao, urna vez que as rnuralhas se
encontrarn rnuito destruidas do lado de Espanha,
a este e suI. Na planta da praça executada por
Miguel Luis Jacob é feita referencia «ao reducto
projectado para rnelhor defesa da Praça no
padroasto aonde o inimigo na guerra passada
elegeu contra a Praca as suas baterias. Este
local e o rnorro fronteiro a sul do castelo e
que se charna de So Gens, em posiçao dorninante
relativarnente aquele e ali se deveria construir
o referido «reducto para substituir a praça
depois da guerra da Sucessao nos tempos de Dº
Joao V». No entanto nao foi ate agora encontrado
outro docurnento que refira a necessidade da
construçao daquela obra de fortificaçao, que
nern tao pouco foi iniciada.
Certarnente que
esse projecto foi preconilado face ao evoluir da
fortificaçao rnilitar, urna vez que o
projecto apresenta um traçado abaluartado
quadrangular, havendo necessidade de ali rnanter
urna posicao fortificada perrna-nente corn urna
guarniçao.
A irnportancia de
S. Gens corno ponto de vigia e de apoio á defesa
do Castelo de Noudar e rnaterializada pela
existencia no local das ruinas de urna errnida
de planta circular, que vigiava o territorio a
sul da fortaleza.
Merece aqui notar
que a igreja catolica dedica So Gens a
cornernoracao a 25 de Agosto e que a festa
principal que se realiza anualrnente ern
Barrancos coincide corn esse dia.
Em 1704 teria
ainda urna populaçao de 350 vizinhos, «corn
belas residencias» e Misericordia, apesar de ja
ern fins do seculo XVII «ter entrado ern franco
declinio. Ern 1740 a sua populaçao baixara para
200 vizinhos.
Um alvará regio
de 1774 colectava as Carnaras Municipais a favor
da Universidade de Coimbra Esta colecta que
rnais tarde foi substituida pelo charnado
irnposto literário, e «seria urn pouco
excessiva», relacionava Noudar como vila e
julgado pertencente a comarca de Elvas, pagando
um contribuiçao de 780 reis.
Destituido de
seus Coros, despojado de tudo quanto the dava
vida, votado ao abandono, «0 Castelo de Noudar e
terrenos que the pertencem com a superficie de
7370 metros quadrados» foram anunciados para
«arremataçao em hasta publica perante o
Governador Civil do Distrito de Beja no dia 29
de Julho de 1893 ao meio dia, pela quantia de
licitaçao de base de 300 mil reis». No entanto
esta arremataçao so veio a concretizar-se em 11
de Outubro do mesmo ano, tendo sido comprado por
Juan Barroso Dominguez, proprietário em
Barrancos, pela importancia de trezentos mil e
cem reis, apos um processo muito moroso,
iniciado por seu pai e que envolveu durante
quatro anos a burocracia e a intervençao da
Secretaria de Estado dos Negocios da Guerra, o
Comando Geral de Engenharia em Lisboa, a
Comissao de Engenharia em Evora e, logicamente,
o Ministerio da Fazenda, além do empenhamento do
interessado e das influencias de amigos seus
«bem colocados» em Lisboa.
Urn decreto de 16 de Junho de 1910 classifica o
Castelo de Noudar como monumento nacional
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