CASTELO DE AMIEIRA
( NOTÍCIA HISTÓRICA )
Foi no penúltirno decénio do século XIII, talvez no ano de 1286, que
na cidade de Salamanca, senão em terra mais vizinha da fronteira
portuguesa, viu escondidamente a luz da villa uma criança que devia ser,
ern Portugal, pátria de seu pai, um dos primeiros homens da agitada
época em que viveu. Nascera de um moço de grande prol, coma entã o se
dizia, que ao tempo cursava os <Estudos> fundados em 1254, naquela
urbe castelhana, pelo famoso rei D. afonso, o Sábio (avõ materno do
nosso D. Dinis), e de uma salmantina de honrada família, segundo se diz.
Chamava-se o escolar D. Gonçalo Pereira, e era filho de um rico-homem de
igual nome, a quern apelidaram <o liberal> pela magnificència corn
que vivia e espalhava em torno de si muitas das suas imensas riquezas.
a irregularidade do nascimento nào privou em verdade dos favores da
fortuna aquela criança tão imprudentementc lançada ao rnundo por urn
homem que pretendia honrar a sua estirpe, nào so como cavaleiro de fama,
nos campos de batalha, mas tarnbém cormo servidor de Deus e da sua
Igre¡a, em altas dignidades eclesiásticas. Entretanto, persistindo
embora neste último intento, o moço D. Gonçalo Pereira, não se
descuidou de fazer legitimar pelo papa Celestino V e por el-rei D. Dinis,
o seu prematuro bastardo, nem de the proporcionar, nos anos que se
seguiram, uma rápida a brilhante ascensão social.
Assim, antes de perfazer 18 anos de idade, já D. Álvaro Gonçalves
Pereira era admitido sem dificuldade na mais nobre das Ordens Militares
que então se achavam representadas em Portugal: a dos Hospitalários de
S. João de Jerusalém. Monge e guerreiro desde então, o filho de D.
Gonçalo Pereira foi principalmente um soldado da Fé, batalhador
esforçado, bem digno das tradições de seu pai - prelado jamais remisso
em trocar a casula de sacerdote pela armadura de lidador-e também as de
seus avós, que sempre haviam primado entre os mais bravos cavaleiros da
Península. Em Rodes, sede da sua Ordem, achou então, durante esse tempo,
a liça heróica, o vasto campo de acção de que precisava; e, combatendo
os Turcos em todo o Mediterrâneo oriental ou nas próximas costas
africanas, de tal modo se distinguiu entre os mais bravos, que em 133fì,
quando seu pai, no sólio arquiepiscopal de Braga, já tinha sido honrado
com a mitra de Primaz das Espanhas, foi ele o escoIhido para o cargo de
Prior da Ordem do Hospital no nosso País -cargo que então vagara por
falecimento do velho bailio de Leça, D. Estevão Vasques Pimentel (').
Assim investido em uma dignidade, que era talvez a mais invejada a de
maior prestígio que então havia na corte portuguesa, conforme notou
Oliveira Martins na « Vida de Nun'Alvares>, não depos a sua lança,
nem deixou enferrujar a sua espada; em 1344, com mais de 50 anos de idade,
na companhia dos seus freires e também na de seu pai, já septuagenário
mas ainda forte, pelejou valorosamente na Batalha do Salado onde tamanha
fama consagrou o heroismo, a lealdade e , nobre isenção dos Portugueses
capitaneados por D. Afonso IV .Foi cerca de três lustros depois dessa
batalha, segundo se crê, que ele, tendo resolvido transferir para a vila
do Crato , cabeça da Ordem, que então se achava instalada no Castelo d,
Belver, amplificou a vasta obra reformadora, anteriorment, iniciada,
mandando construir, em uma das outras onze vilas que o Priorado possuía
naquela região, a de Amieira, o poderoso castelo que chegou aos nossos
dias e acaba de ser restaurado pela Direcção Geral dos Edifícios e
Monumento Nacionais.
Nesse grande edifício, digno de representar um feudo( medievo, a
construído talvez sob a sua direcção pessoal D. Álvaro Pereira deixou
provas flagrantes do muito que, aprendera durante a sua permanência em
Rodes e em outros lugares onde, como cavaleiro da Ordem do Hospital, tão
larga acção exercera. A traça da nova fortaleza, bem delineada para
facilitar a sua missão defensiva, acusa um espírito cultivado prático,
já emancipado de certas superstições que eram vulgares nos mais
ilustres capitães do tempo a que não raro se reflectiam em certos
aspectos ou pormenores da velha arquitectura militar que os serviu. Esse
vasto recinto rectangular com a sua cerca de muralhas poderosamente
reforçada, no cantos, por quatro grandes torres - a d° Menagern e mais
quatro de menor vulto (') constituía, de facto, o lugar (? protecção a
refúgio de que toda a população local necessitaria, em caso de guerra.
Era por certo, na época em que foi construído, um castelo moderno,
sàbiamente preparado para tornar mais eficiente a menos penosa a difícil
tarefa da sua guarnição, quer durante os longos cercos aconselhados pela
estratégia medieval, quer na perigosa hora dos assaltos que tantas vezes
se desencadeavam imprevistamente, por obra de traição ou • sagaçaria
> dos inimigos. Em volta, outros muros ameados, os da barbacã,
anteparavam ainda as torres a as quadrelas ; e dentro, no meio da praça
de armas, uma larga a profunda cisterna, com água perene, prevenia, ao
use da época, um dos tormentos que mais afligiam a não raro
desmoralizavam as guarnições sitiadas, quando a duração dos assédios
excedia certos limites.
A construção, assim principiada nos últimos anos do reinado de D.
Afonso IV, deveu provàvelmente a este soberano um considerável auxílio
- moral e material. A defesa da sempre vulnerável e quase sempre
arneaçada fronteira de Castela, que não estava muito distante, jamais
deixara de preocupar <>s monarcas da sua dinastia. Seu filho D.
Pedro, embora se não empenhasse em nenhuma acção guerreira contra os
seus parentes e vizinhos de Leste, interveio também, de algum modo, no
incremento ou, pelo menos, na orientação de determinados trabalhos.
Estes, que só tinham progredido deveras depois de findos ou quase findos
os do acastelado mosteiro da Flor da Rosa, ainda não se achavam
concluidos em 1359, como se infere de uma carta dirigida em 27 de Maio
desse mesmo ano (era de 1397), por aquele rei, a D. Álvaro Gonçalves
Pereira, com o fim de the lembrar certas recomendações que alguns meses
antes, em 4 de Janeiro, lhe transmitira, sobre a feição ou o curso das
obras (')Durante a vida do fundador, parece que o Castelo de Amieira nunca
foi charnado a participar de qualquer contenda armada mais ou menos grave.
Durante a guerra travada entre o nosso fraco rei D. Fernando, que
pretendia reinar também em Castela, e o seu poderoso opositor, D.
Henrique de Trastarnara, não há notícia de por ali terem passado as
tropas invasoras deste último. Contudo, o prior D. Álvaro Gonçalves
Pereira, apesar de ser já muito velho, não deixou por certo de conservar
bem defendidas, enquanto durou a canrpanha, todas as fortalezas do
Priorado, não só por fervor patriotico mas tambem porque, tendo sido
amigo pessoal, muito privado, de. Pedro, o Cruel, rei de Castela,devia
alimentar verdadeiro ódio contra aquele que o assassinara .
<--------------------------------------------------------------------------------------------------->
Na guerra suscitada, após o falecimento de D. Fernando, entre os
partidários do Mestre de Aviz a os da rainha de Castela, D. Beatriz,
filha do defunto monarca português, o Castelo de Amieira, assim como os
demais da Ordem do Hospital, tomou voz pela pretendente de além
fronteiras, considerada legítima herdeira do trono, por ser essa a
orientação política adoptada pelo prior D. Pedro Álvares Pereira,
filho primogénito a sucessor de D. Alvaro. Mas, pouco depois da batalha
de Atoleiros, em Maio de 1384, já defendia, por influência de
Nun'Álvares, adversário de seu irmão, a causa do Mestre de Aviz.
Terminado esse período de agitação, para sempre memorável, só
depois de decorrido mais de meio século sofreu c> Castelo um cerco
formal, que foi, segundo se crê, o primeiro da sua história militar.
Corria então o ano de 1440, a achavam-se extremamente exarcebadas as
dissenções entre a rainha D. Leonor, viúva de D. Duarte, a seu cunhado,
o Infante D. Pedro, regente do Reino. Dócil instrumento das ambições do
velho Conde de Barcelos a demais intrigantes da mestria facção, a mãe
de D. Afonso V, que nascera princesa de Aragão, concebeu o propósito de
fazer intervir a seu favor, nesse pleito de família, o poder militar de
Castela, onde seus irmãos domimivane. Com tal intento, principiou por s°
retirar furtivamente para o Crato, depois de obtida a cumplicidade do
prior Nuno de Góis, que no lance prometera recebê-la a defendê-la. A
ocupação dos principais castelos do Priorado, já em declarada rebeldia,
foi imediatamente ordenada. E assim enquanto D. Lopo de Almeida marchava
contra o de Belver e o Infante D. João contra o do Crato, foi o mais
famoso cavaleiro daquele tempo, D. Álvaro Vaz de Almada, conde de
Avranches, quem acometeu o Castelo de Amieira. A gente de armas que
acompanhou em tal empresa o grande amigo de D. Pedro, era «muita e mui
bem concertada», conforme esclarece Rui de Pina, em o capítulo LXX da
Crónica de El-Rei D. Afonso V. D. Álvaro de Almada proverase (nota ainda
o mesmo cronista) <com as artiIharias a provisões qu° para o cerco
convinham, a todo posto em mui segura a singular ordenança, fazendo-o
assim come homem que o vira a passara em outros reinos, já muitas vezes
-.
Nesse imprevisto cerco, embora não ocorressem «cous~t. assinadas para
escrever•, houve todavia, creu Rui de Pin~i, «algumas cousas de agoiro
». Quais ? A prinieira fc>i o triplo assalto de uma águia a certo
ninho de cegonhas existents «sobre as casas do Priors, no Castelo, quando
começou () cerco. Como a águia, nas très investidas de tal assalto,
apresc~u primeiro «dois cegonhos novos» a por fim o próprio chefs da
ninhada, não duvidou o famoso historiador quatrocentista (le que tão
estranha ocorréncia, naquele momento, fosse < para a perdição do
Prior (Nuno de Góis) a dos filhos> um - triste pro~gnóstico•. A
segunda «cousa de agoirou consistiu em que () projéctil de um tiro de
quartão da ~artilharia. dos sitiant(-, acertando no escudo de armas do
Prior, colo)cado sobre a po~w~
(la fortaleza, o despegou, sem o partir, das mãos de dois an ¡f ),Z
de pedra que ali o sustinham, lançando-o inteiro no clião, ondt, afinal
se despedaçou ('). 12
O cerco foi breve, como se esperava; e o mesmo aconteceu nos demais
castelos do Priorado, então acometidos. Nenhum, em verdade, opôs
demorada resistência. A fuga da rainha, dos áulicos, que a acompanhavam,
a do Prior Nuno de Góis para a cidade castelhana de Albuquerque, permitiu
o rápido restabelecimento da antiga paz em todos os domínios da Ordem. O
Castelo de Amieira, entregue então à guarda de Pedro Rodrigues de
Castro, não foi obrigado a intervir de novo na contenda; a essa feliz
inactividade bélica prolongou-se ainda, ao longo de muitos anos, nos
reinados que se seguiram. Só o Tempo, inimigo irredutível de todas as
obras humanas, acometeu - sem grandes danos, cumpre dizê-lo-o poderoso
arcabouço do gigante. Contudo, há notícia de diversos trabalhos de
reparação empreendidos em alguns dos seus muros durante reinado de D.
João 11, a ainda de outros, mais importantes, ordenados por D. Manuel em
1515. D. João Ill, sempre beni-avindo corn Castela (tal como seu pai),
não julgou por certo~ de utilidade alguma, para segurança do seu trono,
a conservação dessa fortaleza longínqua; dcixou-a exclusivamente
<< guarda de seu irmão, o Infante D. Luís, para o qual obteve,
coin a protecção do papa Clemente V11, o priorado do Crate. Mas nem esse
príncipe, nem seu filho D. António, o efémer(> rei de 1586, a
beiieficiarai» ccm» da,iisciuer reparaçÓes de vulto, segundo parece.
Em 1641, quando começou a guerra da restauração, ali devia ter ido,
sem dúvida, o engenheiro-jesuíta Cosmander, A quem D. João IV confiou
credulamente, naquele tempo, a missão de preparar, para a grande luta que
se esperava, todas a--- de Austria, tendo invadido aquela região, arrasou
o Crato, destruindo bárbaramente, não só as edificaçoes e os
monumentos da vila, mas também todo o arquivo do Priorado, que era muito
importante; contudo, encarniçado em tão selvática obra de subversão (a
que talvez não fosse estranha a lembrança de ter ali dontinado o infeliz
D. António, principal inimigo dinástico de seu bisavô, Filipe ll de
Espanha), não atingiu com os seus excessos de vandalo a vila ou o Castelo
de Amieira.
Data porventura dessa época a construção de várias casas de
habitação no interior do Castelo. Buscando ali refúgio, cone receio das
atrocidades do invasor castelhano, o povo local foi provàvelmente
autorizado a improvisar, dentro das muralhas, os abrigos de que carecia. A
ocupação dessas casas, embora prolongada talvez por negligéncia ou
comodidade, não excedeu por certo os limites do século XVII, pois consta
de uma obra impressa em 1747 que todas se achavam¡à abandonadas e
quase destruidas naquela época.
<--------------------------------------------------------------------------------------------->>
Depois, no extenso período que sobreveio a se prolongou até os nossos
dias, o Castelo de Amieira foi, a bem dizer, abandonado á sua sorte.
Datará acaso dessa época a invasão e apropriação, por diversos
intrusos, de toda a parte da fortaleza, compreendida entre as muralhas
principais a as da barbacã? É legítimo acreditá-lo, visto constar da
~informação» de 1759, a que já aludimos, que «dentro da barbacãy
apenas havia, ao tempo, algumas árvores de fruto. -A que se deve tal
facto? Como a por que se permitiu a acumulação, em tão impróprio
lugar, de tudo quanto lá se encontrou agora: casebres de moradia,
estábulos, pocilgas, logradouros do>mésticos de toda a espécie, onde
animais a criaturas humanas viviam quase a mesma vida? A responsabilidade
de tão estranha concessão caberá exclusivamente aos últimos
alcaides-menores (que outrora substituíam os verdadeiros alcaides, sempre
ausentes) ou aos administradores da Junta de Freguesia, que depois
sucederam áqueles na posse do domínio útil do Castelo? Talvez a uns e a
outros. Em 1923, pouco depois de haver transitado para o Ministério da
Guerra a posse efectiva do Castelo, por efeito do Decreto que no ano
anterior o havia classificado « monumento military, a Junta de Freguesia
de Amieira obteve do mesmo Ministério um contrato de arrendamento com os
tradores da junta -e antes deles os alcaides-rnenores-haviam estabelecido
o costume de arrendar a ocasionais pretendentes o resguardado terreno de
barbacã. Assim se compreende que a Direcção Geral dos Edifícios a
Monumentos Nacionais, quando iniciou as obras de restauração,
reconhecesse a necessidade de resgatar transigentemente aquele terreno, em
verdade semi-alienado, para que o monumento pudesse recuperar a sua
independência total. Durante os ingratos a múltiplos trabalhos da
desobstrução ali realizados, acharam-se os muros da barbacã já quase
desfeitos - ou por imfiltrações de água, nunca evitadas nem detidas, ou
pelas obras de «arrurnação» efectuadas sem nenhum comedimento em
diversas épocas.
A transformação da praça de armas em cemitério, decidida pelos
«arcontes. da vila, tal como em Belver, quando a lei de 1846 proibiu os
enterramentos nas igrejas e nos adros paroquiais, foi sem dúvida um acto
de incompreensão a até d,, irreverência, apenas atenuado pelo ambiente
político da época; há, porém, queer the atribua a virtude de haver
concorrido, em tal conjuntura, para preservar o interior do Castelo de
outras intrusões ainda piores. Foi realmente com tal intento (diz-se
ainda) que a advogaram então os principais habitantes do
lugar-circunstância que, aliás, talvez seja confirmada pela resolução
a que se deve o entaipamento da porta que na frontaria do Castelo dava
acesso àquela parte do monumento. Efectivanrente, desde então, só
através da capela de S. -João foi possível a entrada no cemitério ou
no próprio Castelo.
Assim, durante muitos anos, tanto no século actual corm > no
anterior, essa capela erigida em honra do padroeiro da, orden do
hospital,constituiu deveras, fiel à sua tradição
É menor a sua antiguidade.- Quando foi edificada, então? Quem a
edificou? A data de 1566, esculpida na verga da porta, é indicação
bastante para nos sugerir uma con jectura, que pode ser errada, mas não
sem fundamento. Nesse tempo, regia o priorado do Crato o futuro
pretendente à Coroa, D. Antônio, filho do Infante D. Luís. Pode
portanto supor-se que foi ele - ou, menos provàvelmente, algum
alcaide-mor de sua nomeação - quem empreendeu tal obra. - Mas,
construída então, com a sua feição actual, substituiria outra, mais
antiga, erigida pelo pai do Condestável? Abalançarse-is este a construir
fora das muralhas o « oratório do paço dos Priores», como chama a esse
templozinho uma antiga memória? Ninguém por certo o acreditará. Sem
dúvida alguma, durante as suas repetidas estâncias na Amieira, o famoso
prelado nunca devia ter deixado de acudir às suas necessidades ou
obrigações espirituais em adequado santuário doméstico; mas a este,
só dentro do recinto fortificado, ao abrigo dos azares da guerra, poderia
em verdade situá-lo. Talvez a primitiva capela fosse unia das
construções que se diz terem existido outrora na praça de armas, junto
da muralha que corre entre a Torre de Menagem e a Torre de S. João. Em
todo o caso, a capela que hoje existe, apesar de nascida sòmente no
século XVI, acha-se de tal modo integrada no ambiente histórico a
tradicional do monumento, que não podia ser excluída dos benefícios da
restauração últimamente realizada.
Livre dos males que durante tanto tempo o humilharam, o Castelo de
Amieira readquiriu a independência de senhor soberano com que soube
enobrecê-to o fundador, valoroso naladino da sua Fé a da sua Pátria.
digno pai daquele a quem do Crato, suprem sem desvantagem o que possa
parecer mingua de acção, de serviços heróicos ou de glória, na
própria história militar do Castelo. Certo, além do breve cerco
impostor em 1441, à sua guarnição, por D. Álvaro Vaz de Almada, como
já referimos, nunca o Destirlo the ofereceu, em verdade, outro ensejo de
experimentar a resist°ncia daqueles muros alterosos ou das torres que os
fortificam; mas essa boa ou má fortuna, mera obra de acaso, não basta
para diminuir a sua importância ou desmentir o seu valor. Mais de urna
vez a sombra das suas poderosas fortificações devia ter alentado, em
ocasiões d;, perigo, a população da vila e das cercanias, ou até,
porventura. os que, ao serviço da Pátria, tanta vez defenderam de......
de recordações de glória, a firmou sólidamente uma <prova
histórica » de real valor, que enobrece Portugal. Assim, nenhuma das
três virtudes que mais valorizam os grandes monumentos, segundo o nosso
primeiro historiador, deixou de ser exaltada e honrada, como cumpria, pela
restauração que acaba de efectuar-se.

 |