Da revista Panorama, de Alexandre
Herculano, transcrevemos a descrição do famoso castelo
de Beja, magnífica obra mandada construir por D. Dinis.

“A torre está erecta junto à porta de
Évora, quase ao poente da cidade; na base é um quadrado
perfeito e eleva-se em três corpos, que saem uns dos
outros, medindo tudo desde o chão até às extremidades
das últimas ameias, cento e oitenta palmos [um palmo =
22 centímetros]; a sua largura no primeiro corpo é de
cinquenta e cinco palmos, tendo em altura até ao
terrado, cento e vinte e oito, palmos; - o segundo
corpo mede trinta e quatro e meio palmos de alto, e o
último dez e meio ditos. Contém o primeiro duas salas
fechadas de abobadas, uma próxima da outra, a inferior
oitavada e a superior de forma quadrada, com vinte e
três palmos de largo; nesta ha quatro janelas, uma em
cada face, sendo a do norte mais alta e em forma de
varanda; as outras três são divididas com uma coluna ao
meio, formando dois arcos pontiagudos à gótica. No
segundo corpo há outra sala com urna única porta que dá
para o terrado. O terceiro em continuação do segundo por
duas faces tem um terrado de doze palmos por cinco de
largura, ao qual dá serventia uma escadinha de pedra do
lado do Ocidente.
Na primeira
secção da Torre, que indicámos, vê-se uma cimalha,
saliente cinco palmos de face da parede e ainda mais nos
cantos, o vão é fechado por um parapeito de seis palmos
de alto e quase um e meio de grosso, guarnecido em toda
a circunferência por sessenta colunelos quadrados mas
com as cabeças agudas e que formam as ameias; nos cantos
dos terrados, e na parte mais saliente da cimalha, bem
como na varanda da segunda sala, correspondendo aos
intervalos dos cachorros que a sustentam, existem
buracos redondos com um pé de diâmetro, que mostram ser
abertos, não só para vigiar, como também para despedir
armas de arremesso e outros defensivos contra os
inimigos que se aproximassem da raiz da Torre; nas duas
secções superiores há iguais ameias com proporções mais
diminutas; alguns colunelos ao Norte e ao Sueste estão
derrubados, bem como o parapeito e cimalha intermédia,
tanto pela violência de um raio que tocou por aquele
lado, como por alguns presos que, encerrados na torre,
se divertiam em destrui-la. É esta a única, se bem que
pequena, ruína, que em toda a construção se descobre.
Para se entrar na torre sobe-se uma pequena rampa e
depois trinta degraus até a primeira sala, que tem
servido de calabouço aos soldados do 15º batalhão, e não
tem outra luz mais que a de três agulheiros redondos nas
faces da torre e a que entra pela porta, quando se abre.
Á esquerda desta porta e por um ângulo da torre sobe-se
uma escada de caracol embutida na grossura da parede, de
oitenta e três degraus, que consente duas pessoas a par,
e dá entrada às salas superiores da terceira das quais
se continuam por diferentes lances até ao terrado
último, mais setenta degraus que perfazem ao todo (com
os já mencionados) cento e oitenta e três degraus de
cantaria, afora a elevação da rampa que talvez tenha
sido escada. A luz que alumia em toda a subida entra por
frestas que deixaram nas paredes. Do alto da torre
avista-se uma formosa e dilatada perspectiva,
descobrindo-se algumas vilas e lugares, diferentes
serras, o Guadiana e até o Castelo de Palmela, na
distância de dezoito léguas.”
A planície, por onde, vindas de todas as
direcções, convergem para a cidade numerosas estradas,
espraia-se intérmina até o horizonte longínquo.
Quem passar por Beja e não subir à Torre
de Menagem privou-se de um espectáculo inesquecível; não
viu Beja.
Dar uma volta pelo adarve ameiado; notar
os restos da alcáçova quatrocentista, o painel de Jorge
Colaço, alusivo à morte do Lidador, e as Portas de
Évora, - arco de uma das entradas da cidade romana.
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