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IDANHA A VELHA |
Idanha-a-Velha -
capital da Cívicas Igaeditanorum da época romana - foi possivelmente
fundada no período de Augusto (séc. I a.C.) e terá sido o resultado da
política de apaziguamento e ordenamento do território, por parte de
Roma, e da necessidade de criar um ponto de paragem intermédio entre a
Guarda e Mérida.
Torna-se, assim, credível que os primeiros habitantes da cidade tenham
sido oriundos de um núcleo populacional pré-romano fortificado,
localizado nas imediações, designado por Cabeço dos Mouros. Fortalece
esta hipótese o facto de, até ao momento, não terem sido encontrados
materiais arqueológicos que sugiram uma ocupação do sítio anterior à
época romana.
Do nome da cidade pouco se conhece. As fontes mais antigas apenas se
referem enquanto circunscrição administrativa Cívicas Igaeditanorum,
nome derivado da designação do povo pré-romano que habitava a região
onde a nova cidade se implantou (os igaeditani). A forma actual deriva
da forma visigótica Egitania e da árabe Idania.
Também pouco se conhece da história da cidade durante o período
romano, embora ela deva ter tido um período de grande prosperidade
durante o Alto Império.
No seu período de maior florescimento a cidade estendia-se seguramente
desde a actual entrada norte até às margens do rio Ponsul, ocupando
praticamente toda a área interior do meandro do rio. Alguns vestígios
de uma rica habitação detectados na margem esquerda, no Olival das
Almas, sugerem mesmo uma extensão ainda maior.
No centro da cidade encontrava-se o forum, certamente uma construção
do séc. I, eventualmente do tempo de Augusto. Trata-se de um espaço
rectangular definido por um muro a toda a volta, hoje praticamente
irreconhecível, com a entrada a leste. Na cabeceira oeste encontra-se
o podium do templo, provavelmente dedicado a Vénus. Para sul do forum
encontravam-se as termas. As dimensões das estruturas já escavadas
sugerem tratar-se de um edifício público. Os abundantes elementos de
construção romanos, reaproveitados na muralha, indicam a existência de
numerosos edifícios. Porém, as realizadas nada mais deram a conhecer
do núcleo urbano da cidade.
Nos arredores foram encontrados um forno cerâmico e uma barragem que
talvez abastecesse de água a cidade.
Nos séc. III-IV o perímetro urbano contraiu-se com a construção de uma
forte muralha que cercava apenas uma pequena parte daquilo que foi a
cidade do Alto Império. As muralhas mostram, aliás, nitidamente terem
sido reconstruídas e modificadas ao longo do tempo. As portas actuais
não parecem corresponder às romanas. Antes se devem atribuir ao
período muçulmano, como sugere o investidor histórico Cláudio Torres,
ou mesmo ao período da Reconquista.
Com as invasões germânicas peninsulares do início do séc. V a cidade
passou a integrar o reino dos suevos. Deste período também pouco se
sabe. A informação disponível respeita à criação da diocese da
Egitânia, com sede em Idanha-aVelha, talvez por determinação do rei
Teodomiro. Em 569 a cidade fez-se representar no Concílio de Lugo.
Em 585 o reino dos suevos foi integrado no reino visigótico.
Idanha-aVelha terá ganho um novo impulso económico e
político-administrativo. A cunhagem de moeda em ouro parece ser uma
demonstração inequívoca daquele período de prosperidade. Os abundantes
elementos de construção ricamente decorados corroboram também esta
tese.
O edifício actualmente designado por Sé Catedral é tradicionalmente
atribuído àquele período. No entanto, o mais provável é que as suas
estruturas assentem sobre um edifício visigótico que pouco terá a ver
com o actual.
O baptistério datável dos séc. VI-VII, junto à porta sul da Sé, deve
ser interpretado como o vestígio da primeira basílica paleocristã.
Como a sua planta parece discordante da planta do actual edifício, é
de admitir que corresponda ainda ao primeiro templo suevo, sobre o
qual os bispos visigóticos erigiram a nova catedral que,
sucessivamente reconstruída, deu o actual templo.
Idanha-a-Velha foi tomada ao reino visigótico pelos muçulmanos no ano
de 713. Durante o período de ocupação muçulmana a cidade terá atingido
uma grande dimensão, se comparada com outros importantes centros
urbanos da época como Silves, Beja ou mesmo Lisboa. Alguns autores
contemporâneos referem-se-lhe como sendo uma cidade "rica". Nesse
período a Sé visigótica foi adaptada a mesquita, com obras de algum
vulto. A Porta Norte deve ser atribuída àquela época, assim como os
torreões de planta circular adoçados à muralha.
Em 1114, D. Teresa faz a doação de Idanha a D. Egas Gosendiz e a sua
mulher dizendo "que há muito está deserta". Afonso Henriques mandou
ocupar Idanha e doou-a a Gualdim Pais, da Ordem dos Templários. Tendo
sido novamente ocupada pelos mouros, é reconquistada aos muçulmanos no
reinado de Sancho I que a volta a entregar aos Templários. No entanto,
dada a sua posição, novamente cai nas mãos dos muçulmanos. No tempo de
D. Sancho II Idanha-a-Velha encontrava-se já numa situação de
decadência e despovoamento de tal ordem que D. Sancho manda, em 10 de
Março de 1240, que "fosse todo o povoado até ao último dia do próximo
mês de maio, sob pena de perderem o que seu fosse os que não viessem
povoar". Em 1244 foi doada novamente à Ordem dos Templários.
A Ordem efectuou algumas obras militares das quais a mais conhecida é
a torre que assenta sobre o podium do templo do forum. Porém, a
deslocação da fronteira cada vez mais para sul e para leste,
juntamente com a pouca aptidão defensiva do sítio, provocou um
inexorável processo de decadência. Depois de sucessivas tentativas de
fixação da população em Idanha, através da concessão de múltiplas
benesses, D. Manuel I concede-lhe Foral Novo, em 1 de Junho de 1510,
tendo esta sido uma última e frustada tentativa régia de devolver à
cidade o seu prestígio e importância.
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