O castelo medieval
À
época da Reconquista cristã da
península, Coimbra foi
conquistada pelas forças de
Fernando Magno (1064),
transformando-se em sede de
condado governado pelo conde
Sesnando
Davides, a quem se
atribui a sua primitiva defesa.
No
século seguinte, a povoação e
seu castelo integraram os
domínios do Condado
Portucalense, aqui tendo
residido o conde D. Henrique e
sua esposa D. Teresa, e aqui
tendo nascido D. Afonso
Henriques, que a transformou na
sede do condado, substituindo
Guimarães. Deste modo, com o
advento da
nacinalidade, Coimbra
tornou-se a primeira capital
portuguesa, condição que
conservou até 1255, quando a
perdeu para Lisboa. Com relação
ao Castelo de Coimbra e
à cerca
da vila, é atribuído aos
monarcas D. Afonso Henriques
(1112-1185) e D. Sancho I
(1185-1211), a responsabilidade
pela ampliação e reforço destas
defesas. O primeiro, pela Torre
de Menagem, e o segundo pela
chamada Torre de Hércules
(1189). O rei D. Fernando
(1367-1383) também teria
disposto do mesmo modo.
No
contexto da crise de 1383-1385,
em Agosto de 1385, dias antes da
batalha de Aljubarrota, parte
das forças de Castela, vindas da
Beira a caminho de Lisboa, de
passagem por Coimbra, travaram
combate com um grupo de
moradores junta à
Porta da Almedina, na
parte baixa da povoação. Era
Alcaide-mor do
castelo
o
nobre
Gonçalo Mendes de Vasconcelos,
o qual, apoiando o Regente,
mantinha o pendão português.
Entretanto, na ocasião, o
castelo não sofreu assédio e nem
assalto. O nobre tomou parte nas
Cortes de Coimbra de 1385, vindo
a ser um dos três fidalgos que
compuseram o Conselho Régio ali
indicado. Entretanto, por haver
sido pessoa de confiança da
rainha D. Leonor, o novo
soberano retirou-lhe a
alcaidaria,
utilizando-se de um estratagema:
Ordenou el-rei de se ir ao
Porto, com intenção de cobrar
alguns lugares dos que naquela
comarca de
Antre Douro e Minho
tinham voz por el-rei de
Castela. E antes que partisse de
Coimbra, porque não tinha boa
suspeita de Gonçalo Mendes de
Vasconcelos, especialmente por
ser dívido
da rainha Dona Leonor, teve que
era bem de lhe tomar o castelo e
dá-lo a outrem de que fosse
seguro. E falou com Vasco
Martins de Melo, que, como o
visse fora do castelo, que
entrasse dentro e o tomasse; e
Vasco Martins assim o fez, da
qual cousa,
posto que muito
desprouguese a Gonçalo
Mendes, el-rei o contentou de
tal guisa em outras mercês, que
foi de todo pacificado.
(Fernão Lopes. Crónica de D.
João I).
O
castelo e as defesas da vila
mantiveram-se relativamente bem
conservadas até ao século XVI,
quando começou a se fazer sentir
a pressão do crescimento urbano
sobre a cerca exterior.
Deste modo, o velho castelo
medieval tomou parte em nova
questão de sucessão dinástica,
desta vez apoiando o Prior do
Crato, resistindo sem sucesso às
tropas castelhanas sob o comando
de
Sancho
d´Ávila.
Do consulado pombalino aos
nossos dias
Conhece-se a planta do castelo à
época pombalina, que permite
avaliar que o progresso urbano
já cobrava o seu tributo à
época, sob a forma de diversas
edificações
adossadas aos seus muros.
De acordo com uma carta do
académico
Manuel da Silva Real
à
Academia Real da História
(5 de Abril de 1723), era de se
lamentar o esburacamento das
paredes e do solo da torre
quinária,
também chamada de
Torre de Hércules,
praticado por pesquisadores de
tesouros, que uma tradição local
à época afirmava terem ali sido
deixados pelo herói mitológico
da Grécia Antiga. Era
alcaide-mor do Castelo, à época,
o duque de Aveiro. Ao final do
século XVIII, o castelo
encontrava-se sem função e quase
que totalmente em ruínas. Desse
modo,
projetou-se arrasá-lo
para erguer, em seu lugar, um
Observatório
Astronômico
para a Universidade de Coimbra
(1772), trabalhos de demolição
iniciados em 29 de Março de
1773. As obras do observatório
iniciaram-se no mês de Abril do
mesmo ano, sendo suspensas,
entretanto, em Setembro de 1775,
quando pouco mais do que os
alicerces do edifício haviam
sido erguidos. Por razões não
completamente esclarecidas, um
novo observatório, de menores
dimensões, foi erguido no pátio
da Universidade e inaugurado em
1799.
No
contexto da Guerra Peninsular, a
cidade, sem condição de defesa,
antiga ou moderna, foi ocupada
pelas tropas francesas,
inicialmente sob o comando de
Jean-Andoche
Junot, e posteriormente,
sob o de André
Massena.
No
século XX subsistiam o chamado
Arco da Almedina e
poucos vestígios das muralhas
medievais de Coimbra. O conjunto
foi classificado como Monumento
Nacional por Decreto publicado
em 23 de Junho de 1910.
Características
Os
trabalhos de prospecção
arqueológica recentemente
iniciados no Pátio da
Universidade de Coimbra, visam,
sendo ampliados, responder as
indagações maiores acerca das
primitivas plantas defensivas,
quer do período romano, quer do
muçulmano, quer do medieval.
Conhecemos parcialmente o
castelo medieval pelas plantas
pombalinas que chegaram até nós.
Elas mostram uma estrutura de
planta quadrangular irregular,
no estilo românico, quando
subsistia ainda a torre de
menagem, de planta quadrada. A
cidade medieval dividia-se entre
a chamada
Cidade Alta (ou
Almedina), ocupada pelo
clero e pela nobreza (e, a
partir do século XVI, os
estudantes da Universidade), e a
Cidade Baixa, onde se
concentrava o comércio e o
artesanato.
O
perímetro amuralhado medieval,
com planta aproximadamente oval,
que presumimos bastante extenso,
embora não tenhamos ciência do
seu traçado preciso, compreendia
ambos os núcleos. Em seu ponto
mais baixo, às margens do
Mondego, era defendido pela
Torre de
Belcouce.
Entre as torres que se
conservaram, destaca-se a
chamada
Torre da Almedina, à
atual
rua Ferreira Borges. Nela se
rasga a
Porta da Almedina,
originalmente guardada por dois
cubelos, que
posteriormente foram ligados por
um arco de ferradura, modificado
ao longo dos séculos até à
atual
conformação em arco de volta
perfeita. Sob o reinado de D.
Manuel I ou de seu sucessor, D.
João III, esta torre foi
adaptada para Casa da Câmara,
datando desta época o
baixo-relevo da Virgem com o
Menino, de autoria do escultor
João
Ruão, no
interior do arco. Ao final do
século XIX, a torre serviu ainda
como
Escola Livre das Artes do
Desenho, sob a
direção
do Prof.
António Augusto Gonçalves,
e, no século XX, como Arquivo
Histórico Municipal.
Por fim, da cerca medieval,
subsiste ainda uma pequena porta
em arco de ferradura, junto ao
Museu Nacional de Machado de
Castro e a chamada
Torre de
Anto.
A
lenda de
Martim de Freitas
Após a deposição de D. Sancho II
(1209-1248) em 1245, sendo o
governo do reino confiado ao seu
irmão, o infante D. Afonso,
refugiou-se o primeiro em
Toledo, no reino de Castela.
Reza a lenda que
Martim
de Freitas,
alcaide do Castelo de Coimbra,
fiel a D. Sancho II, a quem
prestara menagem, recusou-se a
entregar o castelo ao regente,
mesmo suportando um longo cerco,
iniciado em 1246. Informado do
falecimento do soberano naquela
cidade castelhana (Janeiro de
1248), pediu e obteve um
salvo
conduto e foi, por seus
próprios meios, certificar-se da
notícia. Lá chegando, aberto o
caixão, depositou as chaves do
castelo sobre o cadáver do seu
senhor, retirando-as em
seguinda
para então as entregar ao novo
soberano, como seu legítimo
senhor. (in:
Rui de Pina.)
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