Necrópole da Sé de Castelo Branco
Por MARISA MIRANDA
pode ser anterior ao século XIV
A necrópole medieval escavada em Março na Sé de
Castelo Branco poderá ser ainda mais antiga do que,
inicialmente, foi apontado. "Algumas sepulturas
descobertas na lateral da Sé, que estavam cortadas pela
construção da cabeceira do edifício - que data,
provavelmente, do século XVI -, são anteriores aos
séculos XIV e XV", revela a arqueóloga Pilar Reis, que
tem acompanhado a intervenção e que aguarda "os
resultados da datação dos vestígios osteológicos
encontrados nestas sepulturas".
Durante os últimos meses, a escavação pôs também a
descoberto "o núcleo específico de enterramentos de
crianças, algumas delas bastante jovens". Um achado
"importante para o estudo da organização" destes
cemitérios históricos. Próximo do local foi ainda
encontrada uma pedra tumular que servia para assinalar a
localização de uma sepultura específica ou de uma
determinada área de enterramentos.
Por definir continua o espaço onde ficará todo o
espólio encontrado ao longo da escavação e que inclui um
pendente e um rosário composto por contas alternadas de
prata, marfim, azeviche e âmbar, muitas moedas,
fragmentos de cerâmica, adornos pessoais, como, por
exemplo, duas fivelas de sapatos em prata e a pedra
tumular.
A intervenção arqueológica terminou esta semana. Os
relatórios serão entregues em Janeiro ou Fevereiro do
próximo ano. E toda a informação recolhida será ainda
objecto dum artigo, a publicar pelo IPPAR, durante o
primeiro semestre de 2005.
As primeiras sepulturas rupestres escavadas na
cabeceira da Sé, em Março, serão integradas nos arranjos
paisagísticos da envolvente do espaço. Neste sítio será
colocada alguma sinaléctica explicativa ou informação do
registo arqueológico da descoberta "para que as pessoas
que passeiam por aquele espaço, não vendo os
enterramentos, possam entender a importância
arqueológica do local".
Reabilitação concluída este mês
Esta necrópole medieval foi descoberta durante a
intervenção arqueológica, desencadeada no âmbito das
obras de recuperação da Sé, que decorrem desde Novembro
do ano passado, promovidas pelo Instituto Português do
Património Arquitectónico (IPPAR) e a Câmara de Castelo
Branco. A escavação revelou um conjunto de 32 sepulturas
antropomórficas (com forma humana), escavadas em granito
que, de acordo com a análise dos arqueólogos feita na
altura, seriam, provavelmente, do século XIV ou XV. Esta
necrópole envolve toda a Sé de Castelo Branco e das
primeiras sepulturas escavadas foram retirados os
esqueletos de dez indivíduos. Um dos quais, que terá
entre 11 e 13 anos, despertou o interesse dos
especialistas em antropologia física, por apresentar uma
deformação física acentuada na coluna vertebral. O bom
estado de conservação das ossadas humanas associadas a
estas sepulturas acabou por tornar este achado
relevante.
Quanto à recuperação da Sé de Castelo Branco esta
deverá ser concluída no final de Dezembro, mas o
director do IPPAR de Castelo Branco, José Afonso,
adiantou que poderá ser feita "mais uma pequena
intervenção nos tectos da capela", não prevista no
projecto inicial.
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