Arqueólogos
descobrem túmulo da Idade do Bronze em via
pública
paula ramos nogueira
guimarães
Uma equipa de arqueólogos da Universidade do
Minho descobriu, no lugar de Gordarelhas, na
freguesia de Serafão, em Fafe, um túmulo vazio
que, aparentemente, data da Idade do Bronze. A
peça - de forma quadrangular, de grandes
dimensões (dois metros de comprimento e um metro
de largura), apresenta cantos arredondados, o
fundo em laje de granito e contém fragmentos de
moinhos manuais - é toda ela construída com
rochas policromáticas de diversas origens e
integra-se numa necrópole de características
únicas do ponto de vista da ocupação do espaço à
própria arqui- tectura da sepultura.
O achado foi confirmado ao DN pela coordenadora
da pesquisa, Ana Betencourt, arqueóloga da
Universidade do Minho que está a desenvolver um
projecto de investigação financiado pela
Fundação para a Ciência e Tecnologia, intitulado
«A reconstrução da paisagem no Entre Douro e
Minho desde meados do terceiro a finais do
segundo milénio antes de Cristo».
Foi, aliás, no decurso deste projecto de
investigação que a equipa de Ana Betencourt
descobriu esta peça, situada a cerca de quatro
metros de distância de uma cista achada em 1999
e que ainda continha as ossadas de um
adolescente da Idade do Bronze.
Por se encontrar parcialmente sobre um caminho
público, a equipa adoptou como metodologia o
levantamento das peças, tarefa que ficou
concluída este fim-de-semana, no âmbito de uma
jornada de trabalho intenso que envolveu, para
além da equipa de arqueólogos, um grupo de
geólogos da Universidade do Minho, técnicos do
Museu Regional de Arqueologia D. Diogo de Sousa
(Braga), os Bombeiros Voluntários de Fafe (que
cederam uma viatura basculante para que fosse
possível o registo fotográfico em perspectiva
aérea) e as autoridades policiais, que
estabeleceram um perímetro de segurança de modo
a evitar a afluência do público.
O local do achado estava identificado desde o
Verão. Na altura, os investigadores optaram por
cobri--lo com geotêxtil e adiaram a escavação
por causa das condições climatéricas adversas.
Ana Betencourt está satisfeita com a descoberta
e classifica o achado como um «monumento muito
bonito e único». «À medida que fomos escavando,
fomos descobrindo coisas fantásticas. Não
estávamos à espera disto. Não conheço nada igual
no Norte do País, nem mesmo no Centro, pois tem
uma arquitectura bastante inédita», explicou ao
DN.
Ao contrário do que sucedera em 1999, esta
sepultura não continha ossadas, mas os
investigadores retiraram do seu interior um vaso
cerâmico (que já está a ser estudado e
recuperado no laboratório do Museu Regional de
Arqueologia Diogo de Sousa), fragmentos de
moinhos manuais (peças dormentes e moventes) e
detectaram um colorante vermelho (alegadamente
depositado sobre o corpo da pessoa ali
sepultada) que indiciam práticas de culto e de
distinção social muito bem definidas, que, em
certa medida, antecipam aquela que é a
organização dos cemitérios da actualidade.
Em declarações ao DN, a arqueóloga Ana
Betencourt considerou que um achado desta
natureza é, sobretudo, «problemático, porque
exige uma grande responsabilidade de quem
investiga».
«Não há paralelos, não conhecemos nada idêntico
e isso cria em nós uma grande perplexidade.
Agora é preciso estudar muito bem estes achados,
publicá-los e dar a notícia aos nossos colegas
para tentar descobrir se há algo idêntico ou
não», referiu aquela arqueóloga. «Para nós tudo
é importante e tudo compõe o puzzle, são
descobertas e que nos interessa é o avanço do
conhecimento», disse Ana Betencourt. À partida,
tudo indica tratar-se de achados com cerca de
cinco mil anos, situados, portanto, na Idade do
Bronze (algures entre o 3.º e o 2.º milénio
a.C.).
Só a datação por radiocarbono determinará, com
exactidão, as hipóteses que estão a ser
lançadas. Algum do material será remetido para
um dos (poucos) laboratórios estrangeiros que
recorrem às técnicas mais sofisticadas (entre as
quais a técnica AMS, que permite datar
quantidades residuais de carvão), a fim de ser
estudado.
O trabalho de campo é realizado aos
fins-de-semana e feriados e conta com a
colaboração de vários alunos do 4.º ano da
licenciatura de História (variante de
Arqueologia) da Universidade do Minho, em Braga.
Este é o segundo túmulo monumental a ser
descoberto, mas na zona «há muitos mais para
estudar», como garante a coordenadora da
investigação. O resultado das várias campanhas
efectuadas tem sido positivo e muitas peças
(sobretudo cerâmicas) estão a ser recolhidas,
catalogadas e estudadas, perseguindo-se um
«filão» da História que até agora permanecia
desconhecido. |