Novas descobertas na
área da necrópole islâmica escalabitana
A. P. V. A pesquisa arqueológica
realizada no Largo Cândido dos Reis, em
Santarém, onde foi recentemente descoberto
um antigo cemitério islâmico, não pára de
surpreender os especialistas.
Numa área ainda por calcular, mas que se
estima em 3500 metros quadrados, até agora
foram identificados 129 enterramentos, sendo
que 105 são islâmicos e os restantes provêem
de épocas posteriores, o que leva os
arqueólogos a considerarem a possibilidade
de se estar perante a maior necrópole
encontrada em território nacional com
indivíduos em bom estado de conservação.
Esta necrópole era procurada há muito tempo
na cidade de Santarém, não se sabendo,
porém, a sua localização, que veio a ser
detectada, por mero acaso, em Julho, durante
as obras de saneamento realizadas no local.
«A descoberta trouxe novos projectos de
escavação a algumas necrópoles islâmicas
mais conhecidas e, mais do que isso,
relançou a dúvida dos limites da antiga
cidade muçulmana de Shantarin», explica o
arqueólogo António Matias, da secção de
Arqueologia da Câmara Municipal de Santarém.
Pelos dados avaliados, «verifica-se que
havia da parte dos cristãos conhecimento
perfeito que no local se efectuavam
enterramentos islâmicos, uma vez que a
necrópole cristã está colocada na sequência
da muçulmana», revela ao DN o líder da
equipa de arqueologia.
António Matias não tem dúvidas que «a
continuação do trabalho de campo, bem como a
apresentação de um estudo paleobiológico
desta vivência islâmica escalabitana é de
grande importância para o conhecimento
histórico nacional e mesmo internacional»,
pelo que, por decisão já acordada com a
câmara, «não há data limite para as
escavações, dependendo do que se encontrar
já que há possibilidade de haver mais
corpos».
Ainda de acordo com este especialista, o
trabalho arqueológico é moroso e minucioso
de maneira a que fiquem à vista as
articulações para assim poder saber a sua
posição. «É necessário fazer o registo das
ossadas para tirar o máximo de informação
possível e conseguir datar os esqueletos,
saber a sua história e relacioná-la com a
história da cidade de Santarém», especifica.
Os achados que estão nos passeios ficarão
para futura investigação e o restante está a
ser levado para a Reserva de Arqueologia da
autarquia, para que as obras da Câmara de
Santarém possam continuar