Museu de Bagdad só volta
a abrir as portas «daqui a alguns anos»
TALEK HARRIS * Protegido por guardas
armados e isolado por arame farpado, o Museu de
Bagdad continua fechado ao público depois de ter
sido copiosamente pilhado após a queda do regime
de Saddam Hussein, há 14 meses.
A calma regressou ao local mas os responsáveis
afirmam que a reabertura só se dará daqui a
alguns anos, na sequência dos três dias de
destruição cega e de roubos selectivos que
devastaram o museu de arqueologia iraquiano em
Abril de 2003.
«O edifício estava todo virado do avesso»,
recorda Ahmed Kamel, director da secção
cuneiforme do museu. «Destruíram tudo. As portas
estavam partidas e as paredes sujas de tinta. As
vitrinas foram destruídas e os papéis dispersos
ao vento», lamenta-se. Kamel afirma que as peças
mais belas tinham sido fechadas nos depósitos
para as proteger dos bombardeamentos aéreos da
coligação, mas ninguém tinha imaginado uma tal
anarquia.
«Nunca pensámos que as pessas pudessem vir aqui
roubar porque isso nunca tinha acontecido.
Talvez tenham ficado surpreendidas por não ver
nada exposto e então dirigiram-se aos depósitos
e levaram tudo o que podiam, em especial peças
muito importantes», explica.
Cerca de 15 mil peças, algumas das quais de
valor incalculável, foram pilhadas.
Recuperaram-se 5 mil e este responsável espera
que mais algumas voltem ainda ao museu, enquanto
que outras devem ter ido parar a colecções
privadas no estrangeiro.
Os funcionários estão a fazer um inventário
minucioso do que foi roubado e do que escapou à
rapina. Kamel está confiante que uma das 18
galerias do museu abrirá ao público no final
deste ano, o que dará aos iraquianos a
oportunidade de descobrir uma parte desta
herança cultural única.
«Nenhum país pode orgulhar-se de possuir um
tesouro tão rico como o nosso. Quando
trabalhamos numa escavação arqueológica
descobrimos vestígios de diferentes
civilizações, a suméria, depois a acádia e a
seguir a babilónica», afirma Kamel.
Os enormes touros alados talhados na pedra estão
à entrada da galeria assíria do museu, onde
trabalha uma equipa italiana, mas mesmo nas
salas em vias de restauro as vitrinas partidas
lembram as pilhagens do ano passado.
Ahmed Kamel espera que o Museu de Bagdad,
inaugurado há 38 anos, mas fechado durante 10
anos após a primeira guerra do Golfo (1990-91),
e há mais de um ano após a invasão de Março de
2003, mostrará um dia a grandeza do Iraque.
«Quermos ter o melhor museu do mundo. É um sonho
ambicioso, mas penso que o podemos concretizar
em cooperação com outros países», acrescenta.