Grande Necrópole Medieval Descoberta na Sé de
Castelo Branco
Por MARISA MIRANDA
Quarta-feira, 31 de Março de 2004
Um conjunto de 32 sepulturas medievais, escavadas em
granito, provavelmente do século XIV ou XV, foi
descoberto na Sé de Castelo Branco. O património foi
identificado durante uma intervenção arqueológica, no
âmbito das obras de recuperação do imóvel que estão a
decorrer desde Novembro do ano passado, promovidas pelo
Instituto Português do Património Arquitectónico (Ippar)
e a Câmara de Castelo Branco.
A relevância deste achado prende-se, segundo a
arqueóloga Pilar Reis, que coordenou o trabalho, com o
bom estado de conservação das ossadas humanas associadas
a estas sepulturas antropomórficas (em forma do corpo
humano), facto que constituiu uma "surpresa".
"Nestas sepulturas rupestres [escavadas na rocha] não
é comum encontrar conservados os enterramentos,
sobretudo quando estão em contacto com o granito que
acelera a degradação e tão à superfície como estavam
estes", diz a arqueóloga.
Esta necrópole medieval diz respeito a toda a Sé de
Castelo Branco, mas, por enquanto, as escavações foram
feitas no exterior, por trás da "cabeceira" da igreja.
Das sepulturas que estão a descoberto foram retirados os
esqueletos de 10 indivíduos. Um deles, que teria entre
11 e 13 anos, despertou o interesse dos especialistas em
antropologia física, por apresentar uma deformação
física acentuada na coluna vertebral.
Além dos vestígios osteológicos, que estão a ser
estudados no Instituto de Antropologia de Coimbra, o
espólio inclui alguns alfinetes vulgares que serviam
para prender os panos de linho que, na época, eram
utilizados para envolver os mortos, um pendente e um
rosário composto por contas alternadas de prata, marfim,
azeviche e âmbar. O rosário é um objecto "de alguma
distinção", que pode fornecer pistas sobre o estatuto
social do defunto. Um facto também pouco habitual,
relata Pilar Reis, uma vez que na Idade Média "as
pessoas eram enterradas de forma a que não pudessem ser
individualizadas". Também o local das sepulturas, perto
do altar-mor, pode indicar que alguns dos indivíduos
pertenciam ao clero ou à nobreza.
A descoberta deste cemitério histórico obrigou já a
uma alteração do projecto de restauração da Sé, que
previa a colocação de iluminação no local onde foram
escavadas as primeiras sepulturas. Uma decisão possível
graças ao "excelente relacionamento entre os
intervenientes na obra", salienta a arqueóloga.
A existência de uma necrópole medieval nas imediações
da Sé de Castelo Branco encontra-se relatada por alguns
documentos históricos, mas esta é a primeira escavação
arqueológica que decorre no largo do edifício. Outras
sepulturas têm sido identificadas no concelho de Castelo
Branco, isoladas ou agrupadas junto a pequenas capelas,
mas normalmente desprovidas de esqueletos e espólio.
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