MIGUEL-PEDRO
QUADRIO O Roteiro da Rota do
Fresco não se destina apenas a
apresentar, enquadrar e documentar alguns
exemplares de pintura mural, que podem ser
vistos em edifícios religiosos do Baixo
Alentejo. Reconhecendo que o texto de
Catarina Vilaça de Sousa e as fotografias
reveladoras de António Cunha cumprem
exemplarmente esse objectivo, o roteiro
bilingue (português/inglês) desafia o leitor
a percorrer/relembrar uma (ou mais) das
rotas da pintura a fresco, que lhe sugere a
Associação de Municípios do Alentejo
Central.
A concretização da iniciativa e o traçado
dos percursos ficaram a dever-se à
investigadora e historiadora de arte
Catarina Vilaça de Sousa, que já elegera
esta forma esquecida de expressão artística
como objecto da sua tese de Mestrado - A
Pintura Mural no Concelho de Alvito /
Séculos XVI a XVIII (publicada, em 1999,
pela Câmara Municipal de Alvito) -
pretendendo alargar o seu estudo, no
doutoramento a apresentar na Universidade
Nova (dirigido por Custódio Vieira da
Silva), aos exemplares existentes nos
concelhos que também integram a rota: Cuba,
Portel, Vidigueira e Viana do Alentejo.
As características das pinturas então
estudadas - intervenções sucessivas,
localização em espaços diversos e dispersos
e razoável estado de conservação -
levaram-na, então, a defender que os frescos
fossem estudados, restaurados e expostos nos
espaços para que foram criados.
A justeza desta posição adequa-se
particularmente ao riquíssimo acervo da
pintura mural alentejana. Ao contrário da
permeabilidade do Norte e do Centro de
Portugal às novas correntes artísticas, a
escassez de recursos, a conservação do gosto
pela parede pintada e o tradicional recurso
à cal são as razões apontadas por Vilaça de
Sousa para que, no Alentejo, o expoente da
pintura mural se desse apenas em pleno
século XVII (quando a maioria dos artistas
se entusiasmavam já com a talha, o azulejo e
a pintura sobre tábua ou tela, relegando o
fresco para meros complementos ornamentais).
O progressivo agravamento da situação
económica da região impedirá, no entanto,
que se testassem outras soluções artísticas,
resumindo-se a maior parte das intervenções
à cobertura a cal das pinturas danificadas.
A circunstância favorecerá a consolidação e
manutenção de um património único e
singular, que outras regiões mais dinâmicas
rasuraram.
A exaustiva caracterização deste núcleo de
pintura mural e o glossário de termos
técnicos que a acompanha permitem, pois, que
o leitor conheça as rotas de que dispõe.
Visitando-a mais tarde (marcações em
www.amcal.pt/rotadofresco ou pelo telefone
284 419 020), estará a contribuir para um
dos mais inteligentes e atractivos programas
de recuperação/divulgação do nosso
património, deslumbrando-se, ainda, com os
segredos que a cal (des)ocultou.