Castelo visitável até 2006
património Garantia dada
pelo coordenador do projecto
arqueológico Recuperação,
desenvolvida pelo IPPAR, está
orçada em 800 mil euros
Eduardo Pinto
Até
ao final de 2006 deverá estar
concluída a primeira fase da
recuperação do milenar castelo e
vila amuralhada de Ansiães.
Nessa altura será possível a
realização de visitas guiadas,
de modo a que os turistas possam
sair esclarecidos sobre a
história do monumento. A
garantia foi dada pelo
coordenador científico do
projecto arqueológico, Luís
Pereira, durante um colóquio
sobre património histórico
realizado em Carrazeda de
Ansiães. O projecto de
recuperação, desenvolvido sob a
tutela do Instituto Português do
Património Arquitectónico
(IPPAR), está orçado em cerca de
800 mil euros e tem uma
comparticipação comunitária de
75%.
Actualmente, está a ser
construído o centro de recepção,
junto à igreja extra-muros (S.
João Baptista), aproveitando-se
para tapar uma cratera ali
existente no granito. Dentro das
muralhas está a ser testada a
consistência do levantamento dos
derrubes - muros desmoronados
das antigas casas de Ansiães -
efectuado no início da
requalificação. Dada a sua
debilidade, Luís Pereira
preferiu submeter os derrubes à
acção da meteorologia durante,
pelo menos dois anos, antes de
proceder ao seu capeamento com
argamassa, de modo a evitar a
infiltração da chuva. Serão
ainda instalados sistemas de
drenagem para evitar que a água
se acumule dentro dos
compartimentos.
Segundo o arqueólogo, este é o
primeiro teste a ultrapassar
antes de prosseguir com a
intervenção, admitindo que possa
demorar "vários anos". Na sua
opinião, "não é sensato
recuperar património num curto
espaço de tempo", dado que há
teorias que vão surgindo
sucessivamente e "o que hoje é
recuperado de uma maneira,
poderá sê-lo de forma diferente
no futuro". Daí que defenda uma
recuperação gradual e ao longo
dos tempos.
Conhecer o passado
Entretanto, está a ser feito o
estudo dos materiais e de toda a
informação científica resultante
das escavações nas Igrejas de S.
Salvador e de S. João Baptista,
que levaram à recolha de um
vasto e diversificado conjunto
de ossadas humanas, que ajudarão
à reconstituição da história
demográfica de Ansiães. "A
partir desses ossos, poderemos
conhecer o género de pessoas que
vivam ali, as doenças mais
frequentes, a alimentação e o
tipo de actividades que
desempenhavam", explicou.
Todo o espólio retirado das
escavações irá integrar um
Centro Interpretativo que será
edificado pela câmara municipal
de Carrazeda na zona histórica
da vila. No entanto, este é um
projecto que ficará dependente
de uma nova candidatura aos
dinheiros do IV Quadro
Comunitário de Apoio.
Recessão demográfica afectou
vila
O
burgo medieval de Ansiães foi
dos primeiros a receber Carta de
Foral em Portugal, pela mão de
Fernando Magno, em 1057. A sua
ocupação começou no Calcolítico,
por volta do ano 2.500 a.C., e
prolongou-se até ao século IX,
época em que o povoado foi
abandonado totalmente. Durante
toda a Idade Média, Ansiães
assumiu-se como uma das
principais vilas de
Trás-os-Montes, mas viria a
perder importância devido à
recessão demográfica. A maior
parte dos habitantes começou a
deslocar-se para a actual sede
de concelho e para localidades
como Linhares, Lavandeira ou
Marzagão. A igreja românica de
S. Salvador, rotulada pelo Abade
de Baçal como "Jóia de
arquitectura do Românico
Transmontano", é um dos quatro
templos portugueses mais
interessantes do estilo. Uma
importância que fica a dever-se,
sobretudo, a uma parte
semi-circular que constitui o
portal frontal, do tipo
Pantocrator.
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