Africa do
Sul: Descobrimentos portugueses e
arqueologia marinha em debate na África
do Sul
Joanesburgo, 02/08 - Cerca de
quatro dezenas de académicos,
arqueólogos, historiadores e
especialistas em questões náuticas e
museologia encontram-se sábado em Mossel
Bay, África do Sul, para debater a
epopeia marítima portuguesa e os seus
vestígios naquele país.
_ a segunda conferência do género
organizada pelo Centro de Estudos
Náuticos Portugueses (CPNS), baseado em
Pretória, e decorre até ao próximo dia
08 com o patrocínio da Fundação Calouste
Gulbenkian e da Fundação Oriente.
O CPNS, fundado por académicos
sul-africanos, especialistas em áreas
diversas da História, organizou em 2004
a primeira conferência dedicada a este
tema na localidade de Port Edward, na
costa do Kwazulu-Natal, onde naufragou
em 1552 o grande galeão São João com
mais de 600 pessoas a bordo.
A 2ª conferência contará com a
participação de académicos portugueses,
bem como sul-africanos e de outras
nacionalidades que partilham o estudo da
História marítima portuguesa e a
identificação, resgate e preservação dos
destroços e outros vestígios históricos.
A costa sul-africana e o seu valioso
património histórico é considerada um
dos mais ricos locais do mundo para o
estudo das viagens dos portugueses nos
séculos XV e XVI.
Paul Brandt, professor universitário,
mergulhador e um dos co-fundadores do
CPNS, não esconde o seu entusiasmo por
este encontro de especialistas,
considerando que "o tema nunca se esgota
e todos temos muito a aprender uns com
os outros".
Mónica Bello, editora-executiva do
Diário Económico, vai falar sobre
"Destroços de Navios Portugueses" no
primeiro dia da conferência, enquanto
Glória de Santana Paula, professora de
História na escola secundária de Lagos,
dissertará no segundo dia sobre um
manuscrito de um sobrevivente do galeão
Santo Alberto.
No mesmo dia (7 de Agosto), o comandante
Malhão Pereira, da Academia Marítima de
Lisboa, discursará sobre "Um Estudo
Náutico das Viagens entre a Índia e a
Costa Sul-Africana" e os 9 destroços e
as suas localizações identificadas na
costa da África do Sul.
O historiador André Murteira falará
sobre "Os cercos holandeses a
Moçambique-1607/1608" e da Universidade
de Paris-Sorbonne vem a arqueólogo
marinha Vanessa Loureiro, que abordará o
tema "As colónias Portuguesas no Camboja
desde 1555 e o Papel dos Mercadores
Privados e Missionários".
Também no segundo dia da conferência vão
apresentar trabalhos científicos António
Manuel de Andrade Moniz, professor
auxiliar do Departamento de Estudos
Portugueses do Centro de Estudo de
Culturas Lusófona, e Ana Cristina Roque,
do Instituto de Pesquisa Tropical.
O primeiro debruçar-se-á sobre os
destroços marítimos como marcos da
cultura portuguesa e a segunda sobre o
papel decisivo de Sofala e da Ilha de
Moçambique na articulação das rotas
tradicionais e dos portos utilizados na
costa oriental de África durante o
século XVI.
No último dia estão programadas
intervenções dos portugueses Francisco
Contente Rodrigues, do departamento de
História da Universidade de Lisboa,
Filipe Castro, arqueólogo marinho na
Universidade do Texas A&M, e Francisco
Alves, director do Centro Nacional de
Arqueologia Náutica e Subaquática de
Lisboa.
Os temas a debater por estes
conferencistas vão da vida a bordo das
naus portuguesas as técnicas de
construção utilizadas naquele período na
Península Ibérica.
Outros oradores são oriundos de museus,
instituições e universidades
estrangeiras, como Brian McElney, do
Museum of East Asian Art de Bath,
Inglaterra, um especialista em cerâmica
da dinastia Ming, que constitua uma
parte importante da carga de muitos
navios portugueses daquele período.
Entre os sul-africanos contam-se
conservadores de museus onde se
encontram um valioso espólio da História
marítima portuguesa, responsáveis por
departamentos universitários que se
dedicam aos tesouros encontrados na
costa sul-africana como parte da
fundação do país e até arquitectos
paisagistas.
Valerie Esterhuizen, uma professora
universitária reformada que dedicou
praticamente toda a sua carreira ao
estudo de porcelanas e cerâmicas
chinesas da dinastia Ming, considera o
espólio a bordo nas naus portuguesas
(muito dele ainda no fundo do mar em
áreas de difícil acesso) um "fascínio e
uma constante fonte de aprendizagem".
A localidade de Mossel Bay, onde se
realiza a conferência, constitui um dos
mais ricos locais do mundo para o estudo
da História Portuguesa dos séculos XV e
XVI.
Antigo entreposto dos primeiros
navegadores - desde Vasco da Gama e
Bartolomeu Dias - a baía de Mossel
possui o Museu Bartolomeu Dias, onde,
além de uma riquíssima colecção de
artefactos, instrumentos e outros
vestígios daquele período, se encontra a
caravela que replicou a viagem de Dias
em 1989.
Bartolomeu Dias foi o primeiro a
circundar o Cabo da Boa Esperança,
situado a cerca de 400 quilómetros de
Mossel Bay, em 1489.
Na cidade podem encontrar-se muitos
sinais da presença portuguesa do
período, desde a nascente onde os
marinheiros recolhiam água fresca até a
árvore do correio, onde eram penduradas
cartas que as naus que rumavam a
Portugal, na Carreira da Índia,
recolhiam de tripulações que navegavam
em sentido oposto. |