Arqueólogos
acreditam ter descoberto, no Castelo de Silves, vestígios do palácio
onde viveu o Infante D. Henrique, o grande impulsionador dos
Descobrimentos Portugueses. O achado deu--se por mero acaso, há
cerca de um mês. Em causa poderão estar os únicos testemunhos
conhecidos de um local onde terá residido o Infante, o que coloca
Silves na génese da expansão marítima
Foi no decurso da abertura de uma vala
para a instalação de infra-estruturas de uma casa de chá, dentro do
castelo, no âmbito das obras do programa Polis, que surgiu à luz do
dia algo suspeito. “Verifiquei que os materiais não eram islâmicos”,
salienta a arqueóloga Rosa Varela Gomes, da Universidade Nova de
Lisboa, responsável pelas escavações, para quem foi “uma surpresa
total” o que veio a ser descoberto.
As escavações revelaram um amplo
salão e uma escadaria com siglas iguais às da Sé de Silves, o que
indica uma ocupação cristã. Mas há mais: os alicerces são em taipa
diferente da islâmica e existe uma abóbada tombada. O palácio teria
um piso superior, tendo sido já recolhidas diversas peças,
nomeadamente de cerâmica, moedas e fivelas dos séculos XIV e XV. Os
materiais são de grande qualidade e muitos importados.
Ao lado da casa, os arqueólogos
depararam-se ainda com um lagar “muito bem conservado”. Rosa Varela
Gomes afirma que se trata de um importante lagar do século XV.
A conclusão de que o palácio
pertenceu ao Infante D. Henrique resulta da circunstância dos
vestígios descobertos serem contemporâneos ao período em que ele
viveu em Silves. “O Infante foi alcaide de Silves, existindo
despachos assinados com a indicação desta cidade. Tendo em conta
esse facto, a alcaidaria teria de se
localizar dentro do castelo”, refere a arqueóloga.
Para além disso, Gomes Eanes de
Zurara, cavaleiro da casa do Infante, escreveu a Crónica da Guiné
precisamente em Silves. E há registo de muitos marinheiros oriundos
desta zona do Algarve, incluindo Diogo de Silves, descobridor dos
Açores.
Rosa Varela Gomes acredita que
Silves está ligada “à génese dos Descobrimentos”. O Infante ter-se-á
mudado depois para Lagos e Sagres. A arqueóloga refere a necessidade
da continuação das escavações.
A presidente da Câmara, Isabel
Soares, considera que a descoberta representa “uma importante
mais-valia em termos culturais e turísticos para o concelho”.
NECESSÁRIO FINANCIAMENTO
Boa parte da área do palácio do
Infante ainda está por escavar, colocando-se agora a questão do
financiamento dos trabalhos. A arqueóloga Rosa Varela Gomes
esclarece que a estrutura surgiu em resultado das obras do Polis,
mas estas não prevêem verba para a continuação das
escavações.
A presidente da autarquia, Isabel Soares, assegura, no entanto, que
o objectivo é prosseguir os trabalhos, dada a importância do achado.
O que está a descoberto será parte do piso superior do palácio,
situado à esquerda da porta principal do castelo, que abateu com o
passar do tempo. Está ainda por explorar o resto desse piso e a
totalidade do rés-do-chão, bem como alguns anexos ao
imóvel.
OUTRAS INTERVENÇÕES NA CIDADE
CRIPTA
Outras acções arqueológicas
estão em curso em Silves. No próximo mês irá ser efectuada uma
prospecção de geo-radar na Sé, com o
objectivo de descobrir a entrada da cripta. Neste local já terá
estado enterrado D. João II.
POLIS
A zona histórica está em obras,
no âmbito do Polis. A presidente da Câmara diz que estarão
concluídas até finais de 2007. No castelo serão criados um jardim
islâmico e uma casa de chá, sendo recuperada uma cisterna almóada.
ENTRADA
As torres do castelo vão ser
musealizadas, recebendo parte dos
objectos recolhidos no palácio do Infante. Isabel Soares, presidente
da autarquia, revela ainda que será criada uma nova entrada no
castelo, pela Porta da Traição.
José Carlos
Eusébio