O castelo medieval
Sendo imperativa a operação de
uma fortificação destinada a
complementar a linha defensiva do
acesso por Santarém à então capital,
Coimbra, ao fim de um ano no
arruinado Castelo de Cera, o Mestre
da Ordem do Templo em Portugal, D.
Gualdim Pais, decidiu-se pela
construção de um novo castelo, em
local mais adequado, e que viria a
tornar-se a sede da Ordem no país.
Não se sabe com certeza qual a
razão que levou à opção por Tomar,
em lugar da reforma de Cera. Alguns
estudiosos afirmam que o novo sítio,
em um outeiro à margem direita do
rio Tomar (atual Nabão), dominando
uma planície, era estratégicamente
mais vantajoso. Outros argumentam
que o sítio foi escolhido
considerando a sua posição na linha
que, em relação ao
Meridiano de Paris, forma um
ângulo de 34°, comum nos projetos
arquitetônicos da Ordem,
correspondente à diagonal da relação
de 2/3 observada na
constelação de Gêmeos, um dos
símbolos Templários.
De qualquer modo, a construção do
Castelo de Tomar
iniciou-se em 1 de Março de 1160,
conforme inscrição epigráfica em
seus muros. Na mesma época,
iniciou-se a construção da Charola,
posteriormente adaptada a
Capela-mor, uma das edificações
templárias mais importantes no
Ocidente.
Diante do compromisso de promover
o povoamento da região, D. Gualdim
Pais concedeu o primeiro foral ao
termo de Tomar já em 1162, documento
posteriormente confirmado em 1174.
Em 1165, a Ordem recebeu ainda os
domínios de Idanha e de Monsanto,
sendo-lhe prometido, em 1169, um
terço das terras que viessem a
conquistar ao Sul do rio Tejo. No
ano seguinte (1170), a chamada Linha
do Tejo era reforçada com a
construção do Castelo de Almourol.
Duas décadas mais tarde, sob o
reinado de D. Sancho I (1185-1211) a
contra-ofensiva Almóada de 1190 sob
o comando do califa
Abu
Yusuf Ya'qub al-Mansur, após
reconquistar o Castelo de Silves e o
Algarve, avançou para o Norte
conquistando, sucessivamente, os
castelos de Alcácer do Sal, Palmela
e Almada (1190-1191). Transpôs em
seguida a Linha do Tejo, cercando
Santarém, destruindo Torres Novas e
Abrantes até alcançar Tomar, que,
sob sucessivos assaltos, resistiu
durante seis dias defendida pelos
Templários, quebrando o ímpeto do
invasor. Nesta ocasião, os mouros
forçaram a porta do Sul e penetraram
na
cerca
exterior. A defesa dos Templários
foi de tal forma encarniçado que a
porta de assalto ficou conhecida
como Porta do Sangue.
Diante da extinção da Ordem pelo
Papa Clemente V (1312), o rei D.
Dinis (1279-1325) acautelou a posse
dos bens dela no reino. Para melhor
administrá-los, criou a Ordem de
Nosso Senhor Jesus Cristo (1321),
inicialmente com sede em Castro
Marim, transferindo-lhe o património
da antiga Ordem. Poucos anos mais
atarde, entretanto, a sede da nova
ordem foi transferida para Tomar (c.
1338).
O Infante D. Henrique, na
qualidade de Governador da Ordem de
Cristo, terá tido residência no
Castelo de Tomar.
Posteriormente, o castelo foi objeto
da atenção de D. Manuel (1495-1521)
e de D. João III (1521-1557) através
de obras de restauração e reforço,
quando foi ampliado o Convento de
Cristo. Por ordem do primeiro, a
população intra-muros foi obrigada a
transferir-se para a vila, junto ao
rio (1499); posteriormente, na
primeira metade do século XVI, os
Paços da Rainha foram ampliados,
desenvolvendo-se as obras no sentido
setentrional, entre a Charola
e a Alcáçova.
Do século XVII aos nossos dias
Escasseiam, a partir de então as
informações sobre este conjunto
defensivo: em 1618, demoliu-se a
torre Noroeste para se ampliar a
entrada no recinto do castelo, que
chegou aos nossos dias relativamente
bem conservado.
A vila de Tomar foi elevada à
categoria de cidade por alvará de D.
Maria II (1826-1828 e 1834-1853), em
13 de Fevereiro de 1844.
O castelo encontra-se
classificado como Monumento Nacional
por Decreto publicado em 23 de Junho
de 1918, e como Património da
Humanidade, pela pela Assembléia
Geral da UNESCO de 27 a 30 de Junho
de 1983.
Em 1973 foram procedidos
trabalhos de restauro no piso do
adarve no troço de muralha entre a
Porta do Sol e a Torre da
Rainha e, mais recentemente, em
1986, trabalhos de consolidação das
muralhas junto à Porta do Sangue.
Características
Castelo de
Tomar, Portugal.
O castelo apresenta elementos de
arquitectura militar nos estilos
românico, gótico e renascentista.
Alguns autores apontam a presença de
vestígios indicativos de uma
estrutura militar anterior, que
poderia remontar à época romana e
que teria perdurado até à época
islâmica, referindo a presença, no
aparelho dos muros, de algumas
placas decorativas, de cronologia
visigótica ou moçárabe,
provavelmente oriundas do sítio de
Santa Maria dos Olivais, à margem
esquerda do rio Nabão.
É composto por uma dupla cintura
de muralhas, que delimitavam o
primitivo burgo intramuros e a praça
de armas:
-
uma em
plano superior, de planta
poligonal irregular, com algumas
faces curvas, nascendo junto à
entrada da Casa do Capítulo
e terminando na Torre de Dona
Catarina. Delimita a
Alcáçova e mantém apenas a
cisterna e a Torre de Menagem em
seu interior, figura defensiva
introduzida em Portugal pelos
Templários e que tem, aqui, o
seu testemunho mais antigo;
-
outra em
plano inferior, ligando a
fachada Leste da Charola
à zona Sul da Alcáçova, que
correspondia à vila fortificada
da Baixa Idade Média. Também
apresenta planta poligonal
irregular, desenvolvendo-se em
cunha no sentido Leste, rematada
numa grande torre de planta
quadrangular, denominada
Torre da Rainha. Esta
cintura incorpora um outro
elemento defensivo também
introduzido pelos Templários no
país: o
alambor. Este consiste no
embasamento dos muros em rampas,
destinadas a impedir a
aproximação das torres de
assalto e a dificultar os
trabalhos de sapa e mina, bem
como a eliminar ângulos mortos
na base das muralhas, tendo sido
empregado em Tomar circundando
toda a muralha.
Essas muralhas eram reforçadas a
espaços regulares por cubelos de
plantas semi-circular e
quadrangular, em tipologia importada
pelos Templários do Oriente, que a
ele recorreram na Terra Santa na
fortificação de
Saphyum,
que seguia o risco do
Krak dos
Cavaleiros Hospitalários, em
Hom.
Ingressando pela Porta de
Santiago e ultrapassando-se a
Porta do Sol surgem, à direita,
a Alcáçova e a Torre de Menagem.
Abre-se então o terreiro que vai dar
à Charola. Para Sudoeste,
outro terreiro, rematado pela
Torre de Dona Catarina. A
muralha prossegue, amparada em
torreões, até à Porta do Sangue
e à Torre da Condessa. Para o
Norte, observam-se outras torres com
plantas em diversos feitios.
Ultrapassada a Charola,
abre-se a Porta de São Martinho,
inflectindo a muralha, sempre
amparada por torres e cubelos, de
novo em direcção à alcáçova.
Apesar das múltiplas alterações
que tiveram lugar no recinto
fortificado ao longo dos séculos, a
maior parte delas relacionada com as
sucessivas campanhas de alargamento
do Convento de Cristo no setor
Oeste, são ainda numerosos e
significativos os elementos
românicos do castelo. Entre eles
destaca-se a Torre de Menagem, com
planta no formato retangular
dividida internamente em três
pavimentos. No segundo pavimento
encontra-se uma inscrição em latim,
repetida na lápide comemorativa do
cerco muçulmano de 13 de Julho de
1190 na escadaria que leva ao
terreiro da Charola, informando ao
visitante:
Na era de 1198 (1160 da era de
Cristo), reinando Afonso,
ilustríssimo rei de Portugal, D.
Gualdim, mestre dos cavaleiros
portugueses do Templo, com os seus
freires, começou no primeiro dia de
Março a edificar este castelo,
chamado de Tomar, que, acabado, o
rei ofereceu a Deus e aos cavaleiros
do Templo.
Ligações externas