Torre de Moncorvo teria nascido duma remota Vila da Alta
Idade Média, que em antigos documentos vem designada Vila Velha de Santa
Cruz da Vilariça», situada no topo da margem direita do Rio Sabor a nas
proximidades do «núcleo de vida pré-histórica do Baldoeiro».
Através dos tempos, as ruínas desta vila, no dizer do Abade de Baçal,
são designadas pelos nomes de Santa Cruz da Vilariça, Vila Rica,
Derruida, Mesquita, Roncal, São Mamede e agora Vila Velha.
Segundo a tradição, os habitantes desta povoação, devido
...à insalubridade do local muito sujeito às emanações palustres»
e, talvez, também, «em consequência dos estragos sofridos com as RAZIAS
MOURISCAS tão frequentes na época... abandonaram-na deslocando-se para
um ponto mais arejado no sopé da Serra do Reboredo. Tal deslocação
parece datar dpi época em que o rei Leonés Fernando I, chamado o MAGNO
conseguiu desalojar os Islamitas da corda duriense levando-os para o
Sul... ».
Pinho Leal vê-se extremamente embaraçado para explicar este
despovoamento da Vila da Santa Cruz da Vilariça a interroga-se se não
teriam coexistido estas duas povoaçúes-Torre de Moncorvo a Santa Cruz da
Vilariça, e o douto Abade dc: Baçal, baseando-se nas INOUIRIÇÕES de D.
Afonso III, feitas em 1258, perfilha, igualmente, a tese da coexistência
destas Vilas.
De qualquer maneira, a ter-se dado o abandono da Vi!a de Santa Cruz da
Vilariça, este ter-se-is processado •,...nos fins do séc. XIII».
No princípio desse século existia ainda a Vila de Santa Cruz da
Vilariça a «dava sinais de relativa vitalidade, pois recebeu do rei D.
Sancho II, em 1225, uma carta foral que the concedia importantes
isenções a regalias fisc~iis a penais.
Quanto à origem do topónimo Torre de Moncorvo há opiniões bastantes
controversas. Num trabalho que fiz, não a nível linguístico, mas de
recolha de lendas, com uma turma da área de humanísticos, encontrei
algumas lendas, de uma poesia encantadora, em que se revela o poder
imaginativo a creativo do nosso povo. Tenho pena de não as poder aqui
apresentar.
Limito-me por isso a dizer, mui sinteticamente, que o topónimo Torre
de Moncorvo virá de Torre Mendo Curvo (ou Meem Corvo) um dos guerreiros
fundadores desta vila, talvez, vassalo dos braganções a que mandou
erguer aqui uma i orre. Do volume X da «Memórias
Arqueológicc-Históricas do Distrito de BragançaA, do Reitor de Baçal,
transcrevemos: «Turre de Menendo Corvo nas Inquirições a Torre de
Mencorvo na documentação antiga. Men a Mendo, de onde Mencorvo a depois
Moncorvo, é nome próprio medieval muito usado, assim como o apelido do
Corvo; portanto da torre que algum Men ou Mendo Corvo tinha ali, passou o
nome à terra, assim como na Vila de Torre de D. ,Chamap.
Esta é «a explicação que sempre se tem dado ao topónimo Torre de
Moncorvo:,. Pelo menos é este topónimo que sempre figura nos nossos
documentos em romance - e até as Inquirições reflectem tal linguagem
através do latinismo «Turre de Menendo Curvou.
Contudo (seguindo um pouco o pensar de José Manuel Pereira, que há
pouco citei) as origens do topónimo Torre de Moncorvo parecem-me,
também, um pouco obscuras, dado que os eruditos ao trabalhar sobre
documentos a apócrifos, sobre lendas a crónicas, sobre tradições a
testemunhos não conseguiram ser bastante claros sobre este topónimo.
A prova do que acabo de afirmar deduz-se do que passo a citar das
Memórias Paroquiais de 1758: «Foi esta vila de Torre de Moncorvo
antigamente situada entre o rio Sabor e a Ribeira (da) Vilariça em um
outeiro, que dista do lugar em que agora tem o seu assento, huma légua;
ainda hoje naquele sitio se
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se vêm os muros, parte de uma torre, a outras relíquias da sua
antiguidade; a alí se chamou Vila de Santa Cruz. Hé tradição que se
mudava daquele sítio pela multidão de formigas, que não só faziam dano
considerável em todos os viveres, mas aos mesmos viventes the cauzavão
notável opressão; a resolvendo-se a evitar estes incomodos forão para o
pé do Monte Reboredo aonde havia uns cazaes de que era senhor um homem
chamado Mendo, o qual dizem que na sua casa tinha uma torre: e
domesticando nela um corvo, the ficarão chamando por alcunha, Mendo do
Corvo. Crescendo depois a povoação a tendo o foral de Villa the
chamarão de villa de Mendo do Corvo; que com fácil corrupção se
continuou a chamar a villa de Moncorvo. Outros dizem que a sua ethimologia
(continua ainda a citar as Memórias Paroquiais) se dirivou do mesmo
Monte, que domina, a quem chamavão monte Curvo: a os que segusm esta
dirivação escrevem (e) the chamão villa de Moncorvo».
Seja como fnr- o certo é que só a partir do tempo de D. Dinis, no
pensar do erudito padre Francisco Manuel Alves, Moncorvo adquire ..o seu
incremento».
Este rei (D. Dinis) concede-the foral em 12 de Abril de 1285 passando
então o concelho a ter nova sede a nova designação que seria o Concelho
de TORRE DE MON~CORVO.
Moncorvo é portanto elevada à categoria de vita e, entre muitos
privilégios que o rei trovador the concede, contase o de uma feira anual.
Mas, segundo Viterbo, •os da Torre de Moncorvo, tendo já carta de
EI-Rei D. Dinis para fazerem uma feira na sua vila todos os mews;
novamente allegaram que havendo muitas feiras de mez nos arredores de
Moncorvo elles não podiam vender o SEU PAM, E GADOS. E SUAS MERCHANDIAS
TAM AGINHAS.
Portanto Ihes concede uma feira anual que começará quinze dias antes
da Páscoa a durará outros quinze dias depois da Páscoa...•. O alvará
desta concessão data de doffs de Novembro de 1319.
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• No ano de 1295 - segundo Viterbo - estando em Beja D. Dinis, a 17
de Novembro... mandou que as TERÇAS DAS IGREJAS DE VILA FLOR E DAS DA
TORRE as empreguem e gastem na fortaleza, que actualmente andavam fazendo
OS OUE DA VILLA DE SANTA CRUZ DA VILARIÇA SE HAVIAM MUDADO PARA TORRE DE
MONCORVO, por ser esta praça mais fronteira... a.
E compreende-se que D. Dinis consagrasse à vila de Torre de Moncorvo
particular atenção n...promovendo o urgente levantamento dos muros a
«cubos» que dentro de algum tempo dariam jus a que a vila fosse
designada pelo nome de fortaIeza... », dada a sua posição geográfica
em relação ao resto do distrito e à importância militar do rtporto•
do Pocinho como um dos pontos de passagem obrigatória da via de Trancoso
a Bragança... v muito próxima a ...da linha do Cõa, então fronteiriça
com o reino Leonês>,.
Todavia rt...no ano de 1376 ainda as obras da fortaleza não estavam
acabadasA.
Em 1372 D. Fernando considera Moncorvo como uma (vila) das melhores de
RTralus Montesu a atendendo à valentia dos seus moradores, demonstrada
nas guerras com os castelhanos, em 24 de Dezembro deste mesmo ano (ou
1381?) dá-the como termo as vilas de Vilarinho da Castanheira (hoje
freguesia de Carrazeda de Ansiães) e a de Mós (hoje freguesia do
conceIho de Moncorvo).
Mas do castelo, ou melhor das fortificações que tantas glórias
trouxeram aos habitantes de Moncorvo, em 1866 já estavam em ruínas a em
1878 uma vereação presidida pelo bacharel António Joaquim Ferreira
Pontes põs fim, no dizer do Abade de Baçal, a esse «...símbolo de
autonomia de Moncorvo, da sua força a da sua importância». Apenas
ficaram raros vestígios como •...um portal ainda completo em arco
redondo... chamado de Nossa Senhora dos Remédios por cima dele estar uma
capela desta invocação:~.
D. Manuel I, a 4 de Maio de 1512, concede a Moncorvo novo foral depois
de •visto o foral da dita vila dado por el-rei D. Dinis•.
•Entretanto ao tempo do foral (segundo afirma alguém) começa a
erguer-se o padrão manuelino da igreja-matriz, já extra-muros,
dominadora a acolhedora e o casario acantoa-se à sua volta... •.
Nesta vita teve, também, a sua sede uma comuna de judeus com rabino a
sinagoga que D. Manuel extinguiu, quando da expulsão dos judeus. Estes
dedicavam-se à exploração das
•ferrarias• a ao fabrico do fio de seda.
•No tempo de D. João III, por necessidade de defesa militar a da
expansão ultramarina impunha-se que se p.rocedesse ao arrolamento
demográfico de Trás-os-Montes. Chamavam-se as operações estatísticas
•numeramento• sendo um recenseamento cuidadoso de moradores... •
que, talvez, não abrangasse menores. Poìs o concelho de Torre de
Moncorvo, já nessa altura. tinha uma população à volta de 800
moradores, dos quaffs 13 clérigos a 151 viúvas. O termo alargava-se por
5 léguas de comprido e 5 de largo.
Segundo Duarte Nunes de Leão em 1609, Torre de Moncorvo •...era uma
das grandes correições em que se dividia judicialmente o País. Estava a
par de correições tais como Miranda, Vila Real a Coimbra de grande
extenção a relevo•.
•Na organização judiciária dos Filipes, a correiçâo •mencorvense•
era composta... de 26 vitas, segundo afirma ~CarvaIho a Costa na •Coreografia
Portuguesa•.
•No tempo de D. João V (1706-1750) houve nests vita uma grande
cordoaria para a marinha de guerra na qual se gastavam
•...Pela sua larga extensão, variedade das povoações e riquezas,
pelos seus rios, desde Chaves na fronteira até ao Douro, a correição
Moncorvense era principal na organização judiciária do País a na
administração da justiça•.
50 000 arrobas de canhamo... • quase todo produzido no Vale da
Vilariça. O Marqués de Pombal deu-the grande impulso e mandou construir,
no então Bairro da Corredoura, grandes armazéns onde se empregavam
muitos operários. Porém, por volta de 1740, era extinta esta indústria.
Em 1784 a população do concelho de Torre de Moncorvo andava jà à
volta dos 2 000 habitantes, o que, nessa altura, era um sintoma de
prosperidade.
Foram sempre os moradores de Torre de Moncorvo orguIhosos do seu
heroísmo a valentia a tal ponto que nunca inimigo algum alcançara entrar
nos seus muros ou rendé-los e isso diziam aos reis nas suas pretensões.
Mas na guerra dos Sete Anos, em que Portugal se vë envolvido pelas
arbitrárias decisões do •Pacto de Família•, a que não aderiu, o
exército francoespanhol, comandado pelo general Sárria, em 30 de Abril
de 1762, atravessa a fronteira por Almeida a Moncorvo é tomada a saqueada
depois de arrasado o castelo de Vimioso a reduzida a escombros Miranda do
Douro por uma explosão.
Mas o patriotismo a valentia dos Moncorvenses revela-se, mais uma vez,
quando das chamadas aInvasões Francesas• expulsando os franceses em
1808.
A 17 de Junho deste ano, após o levantamento de Bragança
...ergue-se Moncorvo contra o domínio estrangeiro apoderando-se das
barcas e passagens do Douro de modo a cortar as comunicações do inimigo
impedindo .... desse modo a vinda para o Norte do Douro do General Loisson
que então se preparava em Almeira para reprimir, com a sua peculiar
ferocidade, a patriótica rebelião dos Transmontanos.
Em 24 a 25 deste mês de Junho de 1808 em Moncorvo se congrega o Clero,
a Nobreza e o Povo a se constitui a Junta de Segurança a Administração
Pública•.
-Infelizmente, as questões da vila com a sua fronteira Vila Nova de
Foz -Côa, que perseguia os judeus (que sempre nela abundaram) por
sectários do inimigo, vendo-se constrangidos a fugir para Torre de
Moncorvo, que os recebia, Provocaram sanguinolentas lutas entre as duas
eilas, desfazendo 0 melhor fruto deste ardor patriótico - que não obstou
porém, ao resultado final: a expuísão do inimigo».
resenha historica de torre de moncorvo
de:p.joaquim m. rebelo
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