O uniforme de 1895
para oficiais de cavalaria
Pedro Soares Branco
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Embora os planos
gerais de uniformes de 1885 e 1892 tenham marcado
de forma indelével os últimos anos
da monarquia, não deixaram por isso de
sofrer modificações significativas.
Uma dessas modificações foi introduzida
nos uniformes da cavalaria (lanceiros e caçadores
a cavalo) por decreto de 6 de Junho de 1895, publicado
na ordem do exército nº 11 de 7 de
Junho do mesmo ano.
Este decreto modificou diversos artigos do uniforme
dos oficiais de cavalaria, entre os quais o capacete,
que passou a ter "o guarda-nuca guarnecido
com uma virola de metal doirado igual à
da pala" para os oficiais. No caso dos capacetes
de lanceiros foi também modificado o cordão
do modelo de 1892, que passou a ter uma nova forma,
sendo "de oiro" para os oficiais(1)
(figura 1). A cor dos penachos foi também
modificada (quadro 1). No caso dos caçadores
a cavalo, o penacho, que em 1892 assentava sobre
uma "oliva" de metal cinzelado e dourado,
passou a ser dotado de um elemento metálico
adicional, o "descanso de penacho",
que era colocado sobre a "oliva" e cuja
função era alargar a porção
superior do penacho, conferindo aos capacetes
um aspecto mais "à prussiana".
Penachos
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1892
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1895
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Oficiais
de lanceiros
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Sedas
de búfalo brancas
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Sedas
de búfalo brancas
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Oficiais
de caçadores a cavalo
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Sedas
de búfalo pretas
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Sedas
de búfalo brancas
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Quadro 1: cor e material dos
penachos adoptados para os oficiais de cavalaria
em 1892 e 1895.
(1) - Na prática, o "novo"
cordão correspondia ao modelo adoptado
em 1848 para as barretinas de lanceiros, coberturas
usadas até 1885.
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Figura 1: Capacetes de oficial
de cavalaria, modelos de 1895
Ambos os capacetes
apresentam o guarda-nuca guarnecido com uma
virola de metal dourado. Notem-se as diferenças
entre os capacetes dos oficiais de lanceiros
(à esquerda) e de caçadores a
cavalo (à direita), no qual se pode ver
o "descanso de penacho" colocado sobre
a "oliva". Contrariamente ao que sucedia
noutras armas, os penachos dos oficiais de estado-maior
de cavalaria eram semelhantes aos dos restantes
corpos desta arma.
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O "primeiro dolman"
do modelo de 1895 modificou significativamente a
aparência dos uniformes dos oficiais de cavalaria.
Era confeccionado em "panno azul ferrete"
e apertava "ao meio do peito com seis alamares
de cordão de torçal de seda preta
(
) com três abotoaduras de botões
de metal doirado". Nas costas e nas mangas
apresentava guarnições "de cordão
igual ao dos alamares". A gola era "de
panno encarnado" e tinha "nos terços
anteriores, casas de galão de oiro",
com diferentes padrões para os lanceiros
e caçadores a cavalo. A gola era "avivada
de encarnado, para os lanceiros e (
) azul
ferrete para os caçadores a cavalo".
Os canhões eram "de panno encarnado"
com "os distinctivos da patente, tendo cada
um dois botões pequenos de metal doirado
do padrão respectivo". "Os bordos
anterior, inferior e as aberturas lateraes"
eram avivados "de panno encarnado". O
"primeiro dolman", cuja concepção
foi claramente influenciada pela moda militar europeia
da época, foi sem dúvida um dos mais
elegantes artigos de uniforme alguma vez usados
no Exército Português (figuras 2,3
e 4) |
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Figura 2: "Primeiro dolman"
de Tenente de caçadores a cavalo, modelo
de 1895
Note-se a disposição
dos alamares sobre o peito, com as três
abotoaduras de botões de metal dourado
das
quais apenas a central servia efectivamente
para abotoar! Para além da gola, o primeiro
dolman dos oficiais de caçadores a cavalo
distinguia-se do dos oficiais de lanceiros pelo
padrão dos botões.
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Figura 3: "Primeiro dolman"
de Tenente de caçadores a cavalo, modelo
de 1895
A guarnição
das costas, muito elaborada, apresentava dois
botões grandes, semelhantes aos das abotoaduras
do peito.
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Figura 4: Tenente de lanceiros,
circa 1895
O Tenente Guilherme
Augusto Dias Rebello, do regimento de cavalaria
nº 1, Lanceiros de Victor Manuel, foi fotografado
em Elvas no dia 28 de Julho de 1901. Note-se
o "primeiro dolman" do modelo de 1895,
com o tipo de gola usado pelos oficiais de lanceiros.
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O "primeiro barrete"
do modelo de 1895 era de pano azul ferrete, "tendo
o tampo e os quartos avivados de panno encarnado,
e circumdando todo o barrete duas listas de panno
da mesma cor". No centro do tampo apresentava
um botão "em forma de calote espherica,
de panno igual ao das listas". Apresentava
ainda "francalete de trancelim de oiro",
"pala de polimento preto, debruada com uma
tira do mesmo polimento" e "emblema de
metal doirado (
), sendo as pontas da estrella
e o numero do regimento ou cifra de estado maior
de metal prateado" (figura 5). |
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Figura 5: "Primeiro barrete"
de oficial de cavalaria, modelo de 1895
O padrão
dos botões que seguram o francalete indica
que esta cobertura pertenceu a um oficial de
lanceiros. A letra "R" colocada sobre
o emblema indica um oficial na reserva. A partir
de 1902, a pala do primeiro barrete dos oficiais
superiores de cavalaria passou a ser decorada
com um bordado a ouro.
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O "segundo dolman" do
modelo de 1895 era confeccionado em flanela azul
ferrete e apresentava algumas diferenças
relativamente ao modelo em uso desde 1892, entre
as quais se destacava a gola, que passou a ter "casas
de galão de oiro iguaes às do primeiro
dolman" (figura 6). Para uso com o "segundo
dolman" foi também adoptado, em 1895,
um "segundo barrete" cilíndrico,
em "panno ou tecido de malha de cor azul ferrete,
com (
) lista de galão de seda preta". |
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Figura 6: Tenente de caçadores
a cavalo, circa 1903
O Tenente Jayme
Raul de Brito Carvalho da Silva enverga o "segundo
dólman" de flanela azul ferrete
adoptado em 1895. Note-se a casa de galão
dourado colocada sobre a gola, do modelo usado
pelos oficiais de caçadores a cavalo.
Os cordões e agulhetas eram usados por
este oficial na sua qualidade de ajudante-de-campo
do director geral da secretaria da guerra.
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O talim do modelo de 1895 era de
polimento branco e dispunha de passadores para fixação
de dois francaletes, do mesmo material, destinados
a suspender a bainha da espada, também ela
modificada em 1895. Mais tarde, este sistema foi
adaptado à espada do modelo de 1902, que
era suspensa através de uma corrente metálica
(figura 7). O mesmo sistema continuou a ser usado
após a adopção da espada do
modelo de 1905. |
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Figura 7: Talim do modelo de 1895
adaptado para a espada do modelo de 1902, espada
do modelo de 1902 e coldre de revolver "Abadie"
para oficiais
Em 1902, o talim do modelo de 1895 deixou de apresentar
dois passadores com francaletes de polimento branco,
passando a ter apenas um passador, que se destinava
a fixar uma corrente metálica para suspensão
da espada do modelo de 1902 (aqui apresentada com
o seu fiador).
Apesar do talim ser de polimento branco, o coldre
do revólver era de polimento preto. O talim
era colocado por cima do dolman no serviço
em ordem de marcha sempre que o oficial usava revólver.
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A bandoleira e a cartucheira eram
do modelo adoptado em 1892. A bandoleira, de polimento
branco com 5 cm de largura era usada a tiracolo,
passando sobre o ombro esquerdo (figura 8).
A cartucheira era de polimento
preto com aplicações de metal dourado
(figura 9). As charlateiras, usadas com o "primeiro
dolman", eram também do modelo adoptado
em 1892 (figura 10).
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Figura 8: "primeiro dolman"
com charlateiras, bandoleira e cartucheira. Para
além de constituir um distintivo de serviço,
a bandoleira e a cartucheira faziam parte do grande
uniforme. |
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Figura 9: cartucheira
de oficial de caçadores a cavalo, modelo
de 1892
O emblema da cartucheira, colocado
entre a grinalda e a coroa real, apresentava um
modelo diferente para os oficiais de caçadores
a cavalo e para os lanceiros.
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Figura 10: charlateiras de oficial
de caçadores a cavalo, modelo de 1892
As charlateiras
dos oficiais de cavalaria eram de metal dourado,
com seis escamas, assentes sobre pano encarnado.
Os botões eram do padrão adoptado
para os caçadores a cavalo (caso destes
exemplares) ou para os lanceiros.
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