POR: MANUEL A. RIBEIRO
RODRIGUES
OS
UNIFORMES DE 1834
A paz assinada em Évora Monte, no dia 26 de Maio
de 1834, pôs término à Guerra Civil
que já durava fazia dois anos (contando desde
o desembarque no Mindelo em 1832).

Oficial em grande uniforme
(observe-se o talabarte m1806)
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Por força
do Decreto de 25 de Outubro de 1834, foi publicado
o Plano de Uniformes para o Exército, colocando
assim uma certa ordem na confusão de fardamentos
que existiu durante a guerra, desordem essa que
já se vinha agravando desde o termino da
Guerra Peninsular. Durante a Guerra Civil, todo
este estado de coisas piorou na medida em que as
duas facções utilizavam uma variedade
enorme de fardamentos e hoje, torna-se bastante
difícil ter provas concretas da existência
de alguns modelos, por falta de documentação
e de fontes iconográficas; por vezes, aparecem-nos
regulamentos de uniformes sem os respectivos modelos
e vice-versa; também é necessário
ter em linha de conta que muita da iconografia,
sobre este conturbado período, não
é coeva e, por vezes, é bastante fantasiosa.
Não nos podemos esquecer, que também
estiveram muitas tropas estrangeiras ao serviço
do Exército Liberal, o que torna este assunto
ainda mais confuso, na medida em que alguma iconografia
contemporânea diz respeito a tropas estrangeiras
e como as gravuras não têm cor é
extremamente difícil distinguir estas das
nacionais. |
O Plano de Uniformes de 1834 está
bastante mal feito, tem muitas omissões e as
ilustrações por serem muito pequenas,
não nos permite ver os pormenores com a necessária
nitidez.
No Arquivo Histórico Militar
existe uma série de desenhos que devem pertencer
a este Plano de Uniformes, mas tal indicação
não esta lá e têm uma numeração
que não condiz com o P.U em questão, mas
pela descrição certamente que o são,
isto sem contar com outras folhas que contém
uma grande quantidade de bordados para as golas, vistas,
frentes, canhões das mangas, etc., que também
não têm indicação alguma,
mas ao analisarmos atentamente algumas gravuras avulso,
deste Plano, verifica-se que fazem parte dele, mas nem
uns, nem outros tem indicação alguma,
nem se sabe a que posto ou função dizem
respeito; também não existe nenhum texto
descritivo destes desenhos.
O Autor
PLANO DE UNIFORMES
PARA O EXÉRCITO
Decreto de 25 de Outubro de 1834
inserto na Ordem do Exército n.º 9 de 22
de Novembro de 1834
OFICIAIS
GRANDE UNIFORME
BARRETINA
De vaqueta, larga com tampo de couro, guarnecida por
um galão de seda preta na parte superior em toda
a volta, na parte inferior tem, a toda a volta, um reforço
de couro; pala de couro envernizada de preto, francalete
de couro com uma fivela na parte inferior, com alhetas
para se poderem prender no tope da barretina, isto é
na oliva do penacho; na frente e ao meio tem uma chapa
de metal dourado com a figura de uma estrela de oito
pontas, tendo na parte superior uma coroa, interiormente
tem uma coroa circular onde aparecem, em alto-relevo,
as letras "REGIMENTO DE INFANTERIA" , tendo
ao centro o número do regimento em aberto, fig.
1; penacho de pelo de cabra, da cor da respectiva companhia,
e oliva dourada, tudo como a fig.2

Figura 1
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Figura 2
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CHAPÉU ARMADO
(Bicórneo)
De feltro preto, com laço de seda azul e
branco, tendo por cima uma presilha de cordão
dourado com o respectivo botão e borlas nos
cantos, sendo de canutilho para capitães
e subalternos, e de cacho liso para os oficiais
superiores; penacho da respectiva cor, tudo como
nos indica a fig. 3
Observação: como no presente P.U.
a sua utilização não é
específica, para os
oficiais de infantaria, deduz-se que o seu uso seria
facultativo.
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Figura 3
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PENACHOS
Companhia
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Cor
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Granadeiros
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Encarnado
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Fuzileiros
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Branco
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Atiradores
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Verde
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FARDA
Comprida de pano azul ferrete, assertoada pelo direito,
com duas ordens de oito botões; carcelas da respectiva
cor, colocadas nos canhões das mangas, sendo
avivadas e tendo, cada uma, três botões
pequenos, fig. 4; as abas ficam pela altura do dedo
médio, estando o soldado perfilado, as vistas
ou virado das abas são da cor do forro, e estão
presas por intermédio de emblemas de pano e da
cor particular, conforme o mapa abaixo; algibeiras desenhadas
no sentido da altura por um vivo, tendo cada portinhola
três botões; de cada botão da cintura
sai um vivo, na vertical, que termina junto à
junção das vistas, tudo conforme as fig.5,
6 e 7. Os forros e todos os vivos para a infantaria
são brancos.

Figura 4
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Figura 5
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Figura 6
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Figura 7
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EMBLEMAS DAS VISTAS
Companhia
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Emblema
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Cor
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Granadeiros
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Granada (fig.
8)
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Encarnado
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Fuzileiros
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Estrela (fig.
9)
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Azul claro
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Atiradores
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Corneta (fig.
10)
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Verde
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Nota: as cores dos emblemas foram tiradas por analogia
dos uniformes da Guarda Nacional de 1827. O presente plano
é omisso em relação às cores
dos respectivos emblemas.

Figura 8
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Figura 9
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Figura 10
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BOTÕES
De metal amarelo, ovados, com as armas nacionais,
fig. 11
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Figura 11
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DRAGONAS
De ouro, sendo a palmatória de liga lisa, com meia-lua
de metal amarelo, guarnecido com um canutilho de linha
e meia de diâmetro, que serve para cobrir o cosido
dela, as franjas são lisas, tudo conforme as fig.
12 e 13.
As franjas são:
- Para Alferes, Tenente e Capitão de canutilho
n.º 4
- Para Majores, Tenentes-Coronéis e Coronéis
de canutão n.º 6

Figura 12
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Figura 13
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CALÇAS
De mescla azul acinzentado, fig. 14
Observação: Nalguns
desenhos aguarelados (da época?) aparecem-nos
os oficiais com calças da cor da farda
(azul ferrete) e os oficiais superiores com um
vivo de galão dourado nas costuras laterais
das calças (cujo modelo se desconhece),
esta disposição, se existiu, é
omissa no respectivo P.U.
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Figura 14
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SAPATOS
De vitela pretos, abotinados.
BANDA
De seda carmesim com borlas de oito polegadas de comprimento
do mesmo, torcidas, devendo ser atadas em nó
ao lado direito, e as borlas caídas na altura
do joelho.
CAPA PARA BARRETINA
De oleado, de cor preta, colocavam-se nas barretinas
em ocasiões de chuva.
LUVAS
De pele, branca.
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