O EXÉRCITO DA RESTAURAÇÃO
1640 - 1668
54D002 - Piqueiro Português
|
Portugal perdeu a sua independência
a favor da Espanha no ano de 1580, tendo-a recuperado
no dia 1 de Dezembro de 1640, isto é, sessenta
anos depois; seguindo-se uma guerra contra a Espanha,
para resgatar e assegurar a nossa independência,
que durou quase 28 anos!
Quando o Duque de Bragança
foi aclamado rei de Portugal, D. João IV,
reconheceu de imediato a necessidade urgente de
tratar da defesa do reino, o que se tornava uma
tarefa gigantesca e difícil na medida em
que não existia exército em Portugal
nem tão pouco oficiais, uma vez que este
estavam na Flandres a combater pela Espanha. O
que acabou por salvar Portugal foi a ideia que
ocorreu ao novo governo, "o levantamento
em armas de toda a nação".
Um dos factos que também
ajudou à nossa vitória, foi o facto
de o primeiro-ministro espanhol, Conde-Duque de
Olivares, não ter dado grande importância
à nossa revolução por nos
julgar impossibilitados de nos defendermos, dando
azo a que D. João IV e os seus ministros
tratassem de organizar o exército, mandando
vir do estrangeiro muitos militares, principalmente
de cavalaria, tendo concorrido para o efeito a
França, a Inglaterra, a Holanda, a Irlanda,
etc.
|
Os principais combates
travaram-se no Alentejo, Beira, Trás-os-Montes
e Minho, tendo sido na primeira província onde
se deram os maiores combates e constantes escaramuças
de um e do outro lado da fronteira. Tendo sido as principais
batalhas as seguintes: Montijo (1644) e Linhas de Elvas
(1658). Os anos de 1661 e 1662 foram terríveis
para nós, tendo D. João de Áustria
ocupado uma grande quantidade de praças do Alentejo,
chegando quase até Álcacer do Sal, mas
depois foi batido na batalha do Ameixial (1663) e o
marquês de Carracena foi derrotado na batalha
de Montes Claros (1665). Entretanto, grande parte das
nossas possessões ultramarinas fora recuperada,
nomeadamente Tânger em Marrocos, Angola, São
Tomé e no Brasil: Pernambuco, Baía e Maranhão.
Contudo Ceuta, Malaca e Ceilão perderam-se definitivamente.
Em 13 de Fevereiro de 1668, foi a paz
assinada entre o ainda regente D. Pedro (depois D. Pedro
II) e Carlos II, rei de Espanha, pelo qual terminava
a Guerra da Restauração que já
durava fazia perto de vinte e oito anos.
TRAJE DA ÉPOCA
DA RESTAURAÇÃO
Por esta época o traje militar
não se distinguia do civil, assim os militares
vestiam-se conforme as suas posses e posição
social. A espada era de uso comum de toda a classe nobre.
Todo este estado de coisas tornava extremamente difícil
distinguir um militar de um civil, assim o único
distintivo que utilizavam como insígnia da sua
condição, era a bengala que variava de
forma conforme a função do seu utilizador.
Neste sentido o uso da bengala ficou restrito aos militares.
Regra geral, vestia-se o gibão,
fig. 1, sobre um colete bastante comprido, fig. 2; mais
tarde apareceu a casaca que descia até à
altura do joelho.
Foi por esta época
que desapareceu a gorgeira encanudada, sendo substituída
pela gola de linho branco, muito bordada ou lisa, erguida
na parte posterior ou abatida sobre o gibão,
fig. 3 e 4, podendo-se adicionar uma gravata.
Calças compridas e mais justas,
fig. 5, podendo-se usar também mais folgadas,
fig. 6. O que se chamava calças, no século
anterior, passou a chamar-se meias, fig. 7, que podiam
ser de seda ou linho, tudo dependia da classe social.
As ligas, de fitas caídas ou de agulhetas, rematavam
os calções, em geral apertados abaixo
do joelho, fig. 8 e ligando com os canhões das
botas quando estas se traziam.
As capas passaram a ser compridas, sendo
sustentada no braço ou na bainha do "rapier",
fig. 9, muitas destas capas ostentava por altura do
ombro do lado esquerdo as insígnias bordadas
das ordens militares, Avis, Cristo, São Tiago,
etc., fig. 10.
Os sapatos de couro, que cobriam todo
o pé, eram enfeitados com laços de fita,
fig. 11 e 12. As botas altas confeccionadas em cordovão,
usavam-se abaixo do joelho, bastante largas e de cano
voltado, geralmente eram decoradas com uma roseta de
fitas ou com uma pestana que assentava no peito do pé,
fig.13 e 14.
Figura 15
|
Os chapéus sofreram
grandes modificações, o de copa alta
e abas curtíssimas que se usou no século
anterior (vide os retratos de D. Filipe II), degenerou
no de feltro de aba larga e pouco rígida
que se adornava de pluma pendente para os nobres,
fig. 15. Por vezes, eram enriquecidos por uma jóia.
Geralmente eram confeccionados em feltro negro,
castanho e branco. |
Passaram-se a utilizar bigodes,
perinhas e os cabelos cortados sensivelmente pela
altura da orelha, fig. 16. As perucas foram introduzidas
no nosso país muito lentamente, e só
passaram a ter aceitação sensivelmente
a partir de 1680/1700. |
Figura 16
|
O traje da burguesia
e do povo não sofreu grandes modificações,
em comparação com o século
anterior, continuava-se a utilizar o gibão,
a capa, o calção, o salto raso com
meia branca nos homens do povo e o chapéu
de feltro largo e assim continuaram a ser os principais
elementos do traje ostentados por estas duas classes,
fig. 17, 18 e 19. |
Figura 17
|
A influência da moda francesa
só se fez sentir, no nosso país, com a
vinda para Portugal da rainha D. Maria Francisca Isabel
de Sabóia, mulher de D. Afonso VI e de D. Pedro
II. Um dos meios mais influentes na introdução
da moda era a corte, esta era ditada pela rainha e o
seu séquito, tendo em atenção que
ao saber-se a nacionalidade da mulher do rei fica-se,
de imediato, a saber qual a preponderância do
traje utilizado. Neste sentido, durante o reinado de
D. João IV a moda espanhola era preponderante
em virtude da nacionalidade da nossa rainha, da proximidade
geográfica e não nos podemos esquecer
que a Espanha nos tinha governado nos últimos
sessenta anos.
O que efectivamente existia não
eram uniformes, como acima foi dito, mas uniformidade
devido ao fornecimento de equipamento e armamento pelo
estado, o que dava um certo " ar de andarem os
exércitos fardados", fig. 20 e 21.
Em virtude do acima exposto iremos apresentar
neste trabalho, não os uniformes que eram inexistentes,
mas sim as funções de cada "especialidade",
o seu armamento e equipamento. Para o estudo desta época,
é necessário ter sempre em linha de conta
que a grande maioria dos nossos militares, estavam armados
e equipados com material das mais diversas proveniências,
uma vez que assim que se teve notícia da Restauração
de Portugal, quase todos os países que eram inimigos
da Espanha, começaram a mandar-nos toda a espécie
de material bélico, de que tanto carecíamos,
fruto também do trabalho dos nossos embaixadores
que D. João IV expediu, pela Europa fora, para
tentar arranjar auxílio, o que conseguiu. Assim
recebemos material da França, Inglaterra, Suécia,
Holanda, etc.
Página
seguinte>>>
|