Munições
A munição 7,65 mm Borchardt foi, na
verdade, a primeira munição, para pistola
semi-automática, bem sucedida, tendo servido de
padrão para outras munições que vieram
a ser desenvolvidas posteriormente.
Os primeiros modelos de transição da pistola
Borchardt-Luger utilizavam a munição 7,65
mm Borchardt, com o projéctil mais leve. Em 1898
Georg Luger redesenhou esta munição, utilizando
um invólucro mais curto, mantendo no entanto o
calibre e a forma do invólucro. Este encurtamento
tornou-se necessário dada a inclinação
do carregador, assegurando assim, maior precisão
na colocação da munição na
câmara. A nova munição ficou pronta
no princípio de 1899, com a designação
munição 7, 65 mm Borchardt-Luger, tendo
esta nomenclatura sido modificada, em 1901, para munição
7,65 mm parabellum.
Com as dúvidas que se levantavam sobre a aplicação
militar, do calibre 7,65 mm, em termos do poder de paragem,
Georg Luger deu início ao desenvolvimento uma nova
munição, em calibre 9 mm. No verão
de 1902, na DWM de Berlim, surgiu a munição
9 mm parabellum ( 9 x19 mm), de invólucro cilíndrico,
em que o diâmetro da base e as cotas referentes
ao sulco de extracção eram em tudo idênticos
ao da munição 7,65 mm parabellum, permitindo
assim, que a única diferença entre uma pistola
Parabellum 9 mm e uma 7,65 mm, fosse exclusivamente o
cano.
Até cerca de 1916-1917 as munições
9 mm parabellum correntes apresentavam um projéctil
com forma tronco-cónica. Porém, ao constatar-se
que estas munições criavam problemas de
encravamento, quando utilizadas no carregador de grande
capacidade, dito "de caracol" , passaram, a
partir desta altura, a ter ponta ogival.
Quando foram adquiridas as pistolas m/908 e as m/910 para
o Exército e Marinha respectivamente, teve lugar,
conjuntamente, a aquisição das respectivas
munições à DWM, de modo a fazer face
às primeiras necessidades. Posteriormente, o Arsenal
do Exército procedeu à aquisição
da maquinaria necessária para a produção
de cartuchos 7,65 mm e 9 mm parabellum, tendo estas máquinas
operado no INDEP, SA até há poucos anos
(fig. 17), paralelamente à maquinaria moderna em
uso actual, sempre que a produção assim
o exigia.
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fig. 17 - a) Máquinas destinadas
ao fabrico de invólucros, adquiridas à
DWM, provavelmente na sequência da aquisição
das espingardas Mauser-Vergueiro, em 1904, actualmente
no parque de máquinas da INDEP, SA., recentemente
ainda em serviço.
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fig.17 - b) Pormenor da placa de
identificação do fabricante |
Assim, os exemplares que encontramos em Portugal de
munições 7,65 mm parabellum fabricados pela
DWM, são invariavelmente de ponta tronco-cónica,
niquelada. Na base surgem as iniciais DWM e o número
471, que indica o tipo de invólucro, sendo os projécteis
utilizados nestas munições do modelo 261-A.
A partir de 1909 (2), passaram estas munições
a ser fabricadas pelo Arsenal do Exército, como
se pode verificar pela punção AE na base
do cartucho, juntamente com a data. Destes, os exemplares
que aparecem datados até 1917 (fig. 18.a, b, c)
têm projéctil tronco-cónico niquelado.
Posteriormente, nos cartuchos do AE, com datas compreendidas
entre 1930 e 1939, observa-se o projéctil ogival,
semelhante ao 261 da DWM (fig. 18.d, e, f).
Na década de 40 surgiram cartuchos 7,65 mm parabellum
que, na base, tinham as iniciais FCPQ (Fábrica
de Cartuchame e Pólvoras Químicas) e apenas
os dois últimos dígitos da data. Estas munições
utilizam tanto projécteis ogivais, niquelados como
cobreados (figs. 18.e, f).
Bem mais difícil é estabelecer parâmetros
em relação às munições
9 mm parabellum, já que estas foram usadas exaustivamente,
sendo raros os exemplares existentes desta época.
Contudo, as munições adquiridas à
DWM (fig. 18.g), juntamente com as pistolas de Marinha,
possuíam ponta tronco-cónica, niquelada.
Passaram, posteriormente, a serem fabricadas no Arsenal
do Exército e na Fábrica de Cartuchame e
Pólvoras Químicas, em Chelas, utilizando
ponta ogival (fig. 18.h).
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fig. 18 - Alguns exemplares de
munições 7,65 mm parabellum e 9 mm
parabellum. Com a aquisição das armas
foram geralmente adquiridos um elevado número
de munições, que passaram depois a
ser produzidas no Arsenal do Exército e,
mais tarde, na Fábrica de Cartuchame e Pólvoras
Químicas de Chelas.
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fig.
19 - Caixa de 50 munições 7,65 mm
parabellum da Fábrica de Cartuchame e Pólvoras
Químicas fabricadas em 1945.
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Conclusão
A pistola Parabellum é um marco incontornável
na história da arma de fogo portátil, ao
afirmar-se pela fiabilidade do seu mecanismo, como a primeira
pistola automática com aplicação
militar.
Ao testar, em 1906, e ao adquirir em 1907 a pistola Parabellum,
Portugal adoptou uma das mais sofisticadas armas de fogo
disponíveis no momento. Não sendo um país
com grandes tradições no uso, pelos oficiais,
de uma arma de defesa (a não ser a espada), as
escolhas, ainda que demoradas, foram sempre muito criteriosas
e acertadas.
Ao revólver Abadie mod. 1878, para oficiais, em
calibre .385, uma arma extraordinariamente bem concebida
e com características para ser um excelente revolver
militar, seguiu-se a pistola Parabellum que se manteve
em serviço, nas suas diversas variantes, até
à década de sessenta, mesmo após
a sua substituição oficial, em 1961, pela
pistola Whalter P-38.
Se até 1878 muitos dos oficiais faziam a aquisição
particular de um revólver, mesmo com a adopção
oficial do revólver Abadie m/1878, este foi disponibilizado
para que os oficiais o adquirissem, através de
módicas prestações deduzidas no seu
vencimento. A pistola Parabellum terá sido a primeira
arma que foi efectivamente distribuída aos oficiais.
Penso que com este estudo se cumpre o objectivo de sistematizar
os diversos modelos e variantes portugueses da pistola
Parabellum assim como estabelecer as suas principais características
identificadoras, providenciando um importante elemento
de apoio à identificação e classificação
para coleccionadores e um elo fundamental da história
da arma de fogo portátil em Portugal.
Notas:
(1) - Nas armas destinadas ao mercado civíl
apenas o cano e o punho eram numerados com o número
completo, contrariamente à numeração
militar, em que as restantes peças eram igualmente
marcadas com os dois últimos dígitos do
número. Penso que esta marcação
se destinava a evitar as trocas de peças entre
armas nos depósitos, situação que
não ocorreria facilmente num particular.
(2) - Esta data foi estimada tendo em conta a mais antiga
destas munições, do Arsenal do Exército,
observada.
Bibliografia:
BARNES, Frak C. (19723) - Cartridges
of the World. Illinois: Digest Books, Inc.
DATIG, F. A. (1962) The Luger Pistol.
Borden Publishing Company, Los Angeles
Gonzaga, G. (1908) Pistola Automática
Regulamentar, Revista Militar, 60, 304-312
JONES, Harry E. (1967) - Luger Variations,
Vol I California: Published by the author.
KENYON, Charles Jr. (1990) - Lugers
at random. Illinois: Handgun Press, Illinois.
Kenyon, Charles Jr.; (1996) "Lugers
at random" The Gun Report, 41, 12, 12-13
Kenyon, Charles Jr.; (1996) "Lugers
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Kenyon, Charles Jr.; (1996) "Lugers
at random" The Gun Report, 42, 4, 12-13
WALTER, J. (1977) - Luger. London: Arms
and Armour Press.
WALTER, John (1995) - The Luger Story.
London: Greenhill Books, London.
ZHUK, A. B. (1995) - The Illustrated
Encyclopedia of Handguns. London: Greenhill Books.
"Instrucções relativas
ao uso da pistola 7,5 mm M/1908" Imprensa Nacional,
Lisboa, 1909
"Instruções para
o uso da pistola Parabellum 9 mm M/943" Papelaria
Fernandes Livraria, Lisboa
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho ao Coronel de Artª
Joaquim Oneto, guardando a boa memória das visitas
ao seu espaço em Cascais, onde, em diversas conversas,
recebi os meus primeiros conhecimentos sobre a história
da pistola Parabellum.
AGRADECIMENTOS
Desejo expressar a minha gratidão
ao bom amigo José Gabriel Barreto Costa pelas
longas conversas sobre esta arma admirável, que
me incentivaram a escrever este apontamento, bem como
a sua prestimosa ajuda em termos de bibliografia e iconografia.
Aos amigos Óscar Cardoso e José Almeida
Santos, o meu reconhecimento pelos conhecimentos partilhados.
Ao saudoso amigo Augusto Condesso a preciosa ajuda nos
assuntos relativos às munições.
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