Cabinda situa-se na Costa
Ocidental de África, limitada a Norte, Nordeste e Noroeste pela
República Popular do Congo; a Leste, Nordeste e Sul pela República do
Zaire, e a Oeste pelo Oceano Atlântico. A sua superfície é de,
aproximadamente, dez mil quilómetros quadrados, correspondente a cerca
de quinze vezes a superfície da ilha da Madeira, vinte vezes maior que
as Chelles, cinco vezes mais extensa que a ilha Mauricía, e tem uma
população estimada em trezentos mil habitantes, mas apenas pouco mais de
oitenta e cinco mil se encontram no território.
Trata-se de uma das regiões
africanas mais ricas. Para além de petróleo, o subsolo de Cabinda possui
urânio, ouro, diamante, fósfato, manganês, ferro, entre outros minérios.
Produz café, cacau, banana, mamão, papaia, milho, mandioca, citrinos,
feijão, batata, entre muitos outros produtos agrícolas. É, também,
produtora de madeiras, algumas de espécies raras, e reúne todas as
condições para várias espécies de pecuária.
Ao longo da sua costa e em
alguns rios e lagoas tem uma invulgar riqueza piscícola. A sua riqueza
é, de longe, superior, na sua globalidade, à do Kuwait.
A 1 de Fevereiro de 1885
tomou-se protecturado de Portugal por vontade expressa dos legítimos
representantes dos seus povos, o que revela, na «opinião juris»
internacional, um princípio de um «certo direito dos povos de disporem
de si próprios».
Desde sempre os Cabindas se
revelaram acolhedores, compreensivos, gentis, leais e amigos de
Portugal. As nobrezas, portuguesas e cabindenses, estão ligadas por
laços diversos, antes mesmo do célebre tratado de Simulambuco, por via
do primeiro Visconde de Kacongo, João José Rodrigues Leitão, vulto de
grande prestígio entre os naturais, não só pelas suas altas qualidades
humanas como, também, por ter cooperado eficazmente na ocupação pacífica
e definitiva dos territórios de Kacongo e Massábi. A sua influência,
prestígio e estima junto dos chefes de Cabinda foram decisivas para que
estes solicitassem a protecção de Portugal, rejeitando as administrações
inglesa e francesa. O Congresso de Berlim, perante a vontade dos
Cabindas, viu-se forçado a reconhecer Cabinda como protectorado de
Portugal.
Entre outras personalidades da
nobreza Cabindense que sempre pugnaram por um relacionamento cordial
entre os povos locais e o Português, destaca-se D. Domingos José Franque,
mais conhecido por José do Soco, por residir no sítio do Sokáto. Era uma
figura venerada. Foi oficial de 2' linha do Exército português e
representava a mais firna estirpe das gentes de Cabinda. Neto de Franque
Cacolo que ostentava o privilégio honorífico de Mafuca do Reino de
N'Goio. Seu pai, Francisco Franque, foi coronel da 2' linha, e genro de
Manuel José Puna, Barão de Cabinda, estes, grandes influentes e
signatários do Tratado de Simulâmbuco que concedeu a Portugal o
protectorado daquelas terras e das suas gentes.
Embora muitos pensem ter sido
Diogo Cão o primeiro navegador português a tocar a costa de Cabinda,
existem fortes razões, aliás muito seguidas, de ter sido Rui de Sousa,
na sua viagem de 1491, com a caravela «Nossa Senhora da Atalaia», o
primeiro português a fundear no Golfo das Almadias, na Baía de Cabinda.
Refira-se que em 1510, nas terras de Cacongo, Loango e Ngoio, surgiram
os primeiros mestiços, todos com apelidos portugueses.
O Rei do Congo, D. Álvaro 1
(1570), tornou-se vassalo e tributário de Portugal, já que Ngoyo, Loango
e Kacongo faziam parte do Reino do Congo. Já em 1545, quando D. Diogo
era governador de Kacongo, até ao extremo Norte de Malembo, foi
consentido aos portugueses exercerem o comércio naquela região.
Aquando do domínio filipino,
registou-se a introdução de estrangeiros através de Pinda, Loango e
Cabinda, que foram expulsos em 1648 por determinação de Salvador Correia
de Sã e Benevides. As tentativas dos holandeses em correr com os
portugueses de Loango, em 1600, foram mal sucedidas, pois o Rei era
amigo do feitor português, opondo-se a esses intentos.
A propósito dos três tratados,
dos quais o de Simulambuco é o mais citado, constituem documentos
jurídicos de extraordinária relevância. No conjunto ou isoladamente
marcam a vida de Portugal e Cabinda cujas relações se pautaram por
compreensão, respeito e amizades mútuas.
Urna cuidada análise aos
documentos revela que os mesmos obdecem a normas do direito
internacional aplicadas nos tempos presentes. As três formas básicas
regulamentares continuam actuais: a negociação, a assinatura e
ratificação. E foi com base no espírito desses tratados, que Portugal
distinguiu, até ao «putch» militar de 25 de Abril de 1974, esse
território e as suas gentes, com um tratamento diferente, em muitos
aspectos, dos demais territórios de Além-Mar.
Por seu turno, as dinastias
cabíndeses sempre respeitaram os tratados firmados pelos seus
antecessores. De resto, o tratado de Simulambuco teve (e tem) uma «força
executora logo à acessão de angola à independência», reconhecida aliás
pelos Cabindas, mesmo tendo em atenção «os arranjos em materia a de
gestão administrativa>> por parte de Portugal. Recorde-se que Cabinda
ficou ligada administrativamente a Angola, apenas por comodidade
burocrática.
A 12 de Maio de 1886, Portugal
e França assinaram a Convenção para os limites das fronteiras entre
Cabinda e o actual Congo Brazaville, e a 31 de Maio de 1887 é criado,
por Carta de Lei de 18 de Julho de 1885, a sede de Distrito do Congo em
Cabinda. A 14 de Julho de 1887 é primeiro governador do Congo, João de
Brissac Neves Ferreira. Anteriormente, Portugal tinha apenas
representantes da soberania: alferes José Emilio dos Santos Silva e,
posteriormente, Jaime Pereira de Sampaio Forjaz Serpa Pimentel.
Em 1687, o comércio estava
entregue aos portugueses, corno sublinha o padre Merolla, que esteve em
«Kapinda», em casa do Mafuka, reconhecendo a valiosa protecção dada
pelos portugueses aos cabindas, e a confiança que, não só o Rei do
Congo, como toda a Corte, depositavam nos portugueses. Em 1700, segundo
Jacques Barbot e Casenenve, a maioria «daqueles gentes é católica». E é
nos anos subsequentes que os ingleses tentam apoderar-se de Cabinda,
Malembo e Lândana, tendo mesmo erguido um pequeno fortim. Por ordem de
D. João V o fortim inglês foi arrasado em 26 de Setembro de 1723. Para
assegurar os direitos de Portugal e defender os Cabindas e seus
interesses foi erguido o forte de Santa Maria, em 1783. Um ano depois,
cerca de 300 soldados portugueses morrem em consequência do paludismo.
Devido a tal ocorrência, o
forte ficou praticamente desguarnecido, não tendo sido difícil para os
franceses, chefiados por Mr. de Marigny, destruí-lo em 1784, obrigando a
pequena guarnição a capitular. Portugal exigiu, através da mediação de
Espanha, a devida reparação. E não obstante o reconhecimento dos
direitos de Portugal pela França, em Março de 1883, Loango e Ponta Negra
foram tomados à força por Cordier, comandante da corveta «Sagittaire»,
com a conivência de dois portugueses traidores (Saboga, no Loango; e
João da Silva Cruz, em Ponta Negra) e por alguns padres franceses da
Missão de Lândana. Porém, a fidelidade dos nativos a Portugal revelou-se
em ínvulgar abnegação na luta contra os invasores.
Foi essa insolência francesa
que acelerou os tratados de Chinfuma (29 de Setembro de 1883), Chicamba
(26 de Dezembro de 1884) e o de Simulambuco (1 de Fevereiro de 1885). A
atitude de Cordier foi veementemente repudiada, entre outros, por André
Locumbo, Mambonsba Luxema, Mafuca; Mambuko Chicaio, Mamboma Chibiene,
Cruz e Silva e Antônio Mário Ruas. Mas Ponta Negra acabaria por ficar em
poder dos franceses, recebendo a designação actual de Pointe Noire.
Terão sido, até certo ponto, os processos usados por Cordier que levaram
os povos de Cabinda, Lândana e Massabi a optarem definitivamente de um
modo voluntário por Portugal. Cordier, não conseguindo apoio das
populações, zarpara de Lândana na véspera do Tratado de Chifuma,
enviando para França a tradução literal do citado tratado, ao qual
assistiu o comandante da corveta inglesa «Flirt», Robert F. Hammick.
Antecipando-se, por dias, à
conferência de Berlim, realizada a 14 de Fevereiro de 1885, Portugal
celebra com a Associação Internacional do Congo, posteriormente Estado
Independente do Congo, a demarcação das fronteiras, tanto na região do
Congo como na da Lunda, e a 12 de Maio de 1886 Portugal e França assinam
uma convenção também para delimitarem as fronteira entre Cabinda e o que
é hoje o Congo-Brazaville.
Por decreto de 31 de Maio de
1887, a sede do distrito do Congo, criado por Carta de Lei de 18 de
Julho de 1887, passa a ser Cabinda, e a 14 de Julho de 1887 chega a
Cabinda Joao de Brissae das Neves, primeiro Governador do Congo.
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