Derrota de Tânger
A 13 de Setembro de 1437, sem esperar pelos reforços que o Rei D. João I
planeara enviar, o Infante D. Henrique, com uma força de apenas 5000 homens,
chega em frente a Tânger. Monta acampamento longe do mar, onde a frota
comandada pelo seu irmão D. Fernando tinha já ancorado, chegado igualmente
de Ceuta.
Tânger, a 50 quilómetros de Ceuta, bem muralhada e guarnecida, assentava ao
fundo da vasta baía, à entrada do estreito, no dorso dum pequeno monte que o
forte castelo dominava. Nos primeiros dias não houve combate, por se tratar
apenas de levantar acampamento e desembarcar as armas, artilharia e
mantimentos.
O primeiro assalto geral a Tânger foi a 20, quando já o governador
Salat-Ben-Salat, antigo governador de Ceuta, pudera aperceber-se fortemente
para a defesa. O assalto foi infrutífero, por as escadas serem curtas e as
portas terem sido fechadas a pedra e cal. Os Portugueses retiraram, com 20
mortos e cerca de 500 feridos, correndo sério risco de perder os engenhos de
guerra, colocados muito perto dos muros. Maus começo da batalha.
O infante, logo tratou de mandar vir de Ceuta escadas maiores, duas grossas
bombardas,
pedras e pólvora; mas a 29, surgiu uma inumerável multidão de Mouros do
deserto, vindos em socorro de Tânger. Apenas com 1500
lanceiros,
800
besteiros e 2000
peões,
o infante D. Henrique conseguiu pôr em fuga essas hordas ferozes. Mas a 3 de
Outubro, voltaram em maior número e ainda dessa vez foram repelidos.
A 5, já senhor das escadas vindas de Ceuta, D. Henrique ordenou novo assalto
geral à praça, igualmente repelido com muitas perdas.
Apesar da evidência dos factos, que aconselhavam a retirar, D. Henrique,
obstinado, preparava novos engenhos para tentar um terceiro assalto, quando
a 9 todos os montes e vales vizinhos apareceram repletos de Mouros, trazidos
em socorro de Tânger pelos reis aliados de Fez e de Marrocos.
O infante formou logo as suas tropas no acampamento e foi com a cavalaria
postar-se junto às tendas do marechal Vasco Fernandes Coutinho e capitão-mor
do mar D. Álvaro Vaz de Almada, cujas tropas guardavam os engenhos e a
artilharia. Então uma violenta investida dos defensores da praça fez cair em
seu poder a artilharia portuguesa, e o combate desse dia terminou pela
retirada dos portugueses para as trincheiras do seu acampamento. No dia
seguinte os Mouros repetiram os ataques ao acampamento, mas o desespero da
defesa obrigou-os a desistirem de lá entrarem. Entretanto, porém, os Mouros
do exército de socorro conseguiam ocupar a praia entre o acampamento e o
mar, cortando os portugueses da sua frota. A 13 de Setembro de 1437, todo o
acampamento estava cercado; os portugueses passavam de sitiantes a sitiados.
Vendo-se em tal aperto, D. Henrique, aconselhado pelos seus fidalgos,
resolve abrir passagem para o mar, durante a noite, à custa das espadas. A
tentativa malogrou-se por traição de um clérigo que deu o aviso aos Mouros.
E daí por diante a falta de água e víveres no acampamento, o calor tórrido,
os repetidos alarmes, os assaltos, as perdas sofridas, tudo indicava o mais
desastroso final àquele punhado de bravos. Mas as grandes perda infligidas
também aos Mouros instruíam-nos suficientemente sobre o valor português
para, em vez de tentarem por assalto geral apoderar-se do campo, mandarem
mensageiros com propostas de capitulação.
As negociações duraram dois dias. A 16, o infante capitulou nas mais duras
condições: acordava em abandonar o campo, as armas, os cavalos e a
artilharia e comprometia-se a obter do rei de Portugal a restituição de
Ceuta, a entrega de todos os prisioneiros e juramento de trégua de cem anos
com os reis da Berbéria; de parte a parte se entregariam reféns até ao
cumprimento do ajuste - o infante D. Fernando pelos portugueses e um filho
de Salat-Ben-Salat pelos Mouros.
D. Henrique, humilhado, ainda hesitou em entregar o irmão; por fim, a pedido
do próprio D. Fernando, deixou-o como refém. Mercê de tão dura capitulação,
os portugueses conseguiram embarcar nos botes, não sem que tivessem de abrir
caminho pela praia, porque as ferozes tribos do deserto, desobedecendo aos
chefes, por todos os lados acometiam os vencidos.
A 20, realizado o embarque, a frota viajou para Ceuta, onde o infante D.
Henrique, sem animo de se apresentar no reino, entregou o comando dos navios
ao Conde de Arraiolos, deixando-se ficar na praça.
Conquista de Arzila e Tânger
A 22 de Agosto de 1471, a poderosa armada portuguesa, mais de 470 velas,
ancorava diante de Arzila. No dia seguinte, apesar do estado do mar, começou
o desembarque, operação eriçada de dificuldades e que custou a perda duma caravela
e mais de 200 homens afogados. o Rei correu ao local do desastre e
desembarcou logo. Sem mesmo esperar o palanque (espécie de
trincheira de paliçada , trazida do reino na frota, e que as fúrias do
mar não deixaram desembarcar), mandou levantar logo acampamento e as
primeiras bombardas, protegidas com trincheiras,
bastilhas
e outros artifícios de fortificação ligeira. Ainda nesse dia, o fogo das
bombardas derrubou dois lanços de muralhas. No dia seguinte, dia de S.
Bartolomeu, logo ao amanhecer, o alcaide de Arzila mandou içar nas muralhas
o sinal de rendição; mas, ébrias de saque, as tropas de Afonso V, vendo-o
partir apressadamente ao encontro dos parlamentários mouros, trataram de
antecipar-se a quaisquer negociações, e, sem ordem nesse plano, começam a
encostar as escadas às muralhas e deram o assalto geral pela brecha aberta
na véspera. Pôde o ímpeto dos assaltantes remediar a imprudência do ataque.
Desprevenidos, aterrados, os Mouros abandonaram as muralhas, refugiando-se
no castelo e na mesquita, cujas portas logo os Portugueses britaram com
vaivéns por não as poderem arrombar a machado. Em breve o forte castelo,
último refúgio dos Mouros, foi atacado também. Antes mesmo que as escadas
chegassem, os assaltantes subiram por meio das lanças, paus e cordas,
travando depois com os defensores, no pátio do castelo, um combate tão feroz
que todo o terraço se transformou numa vasta poça de sangue, onde os
cadaveres se amontoavam.
Obtida facilmente a vitória, toda a cidade foi posta a saque pelos
assaltantes, cuja presa foi avaliada em 800.000 dobras e 5.000 cativos.
Assim Arzila foi tomada aos Mouros. Quatro dias depois, os habitantes de
Tânger, aterrados com a notícia da fulminante vitória dos Portugueses,
abandonaram a praça para não sofrerem a mesma sorte. Afonso V mandou logo
lá, com numerosas tropas, o Marquês
de Montemor que achando logo a cidade quase deserta a ocupou sem um
tiro. Essa fatídica praça, que tanto sangue e tantas lágrimas havia custado
aos Portugueses, caiu assim inesperadamente em poder de Afonso V.
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