No contexto da invasão espanhola de 1763-1776, o governador da
Província de Buenos Aires, D. Juan José de Vértiz y Salcedo,
liderou, em 1773, uma coluna espanhola com destino à Coxilha
Grande. No início de 1774, atingiram Santa Tecla, posto avançado
da estância de São Miguel das Missões. Nesse local, estratégico
para o controle do trânsito das tropas que cruzavam a região,
foi ordenado ao engenheiro Bernardo Lecocq a construção de uma
fortificação. GARRIDO (1940) atribui-lhe muralhas de treze
palmos de altura e fosso profundo, nomeando quatro baluartes:
Santo Agostinho e São Miguel, a Leste, sete palmos a cavaleiro
das cortinas que os ligavam aos de São João Batista e São Jorge,
e ao meio-baluarte de São Francisco (op. cit., p. 150). As
muralhas foram levantadas com leivas de barro socado (taipa) e
as construções, de pau-a-pique, distribuídas em torno da praça
de armas no terrapleno. O barranco do rio Negro servia-lhe de
proteção natural pelo lado norte.[1]
Após vinte e seis dias de cerco por forças portuguesas sob o
comando do sargento-mor Rafael Pinto Bandeira (filho de
Francisco Pinto Bandeira), rendeu-se a 23 de Março de 1776,
sendo incendiado e arrasado no dia seguinte (SOUZA, 1885:132).
Uma planta posterior a essa época, resume: "Plano da Fortaleza
de Santa Tecla, feita de taipa pelos castelhanos em um sítio
eminente, e descoberto nos anos de 1774 e 1775, e rendida,
arrasada e queimada pelos portugueses em o mês de março de 1776
(...)".[2]
O vice-rei do Brasil D. Luiz de Vasconcellos e Souza, acerca do
progresso das demarcações devidas pelo Tratato de Santo
Ildefonso (1777, informa:
"Com a contradição manifesta aos sobreditos artigos [4, 5 e 6º
do Tratado de Santo Ildefonso, 1777] pretendeu o comissário
espanhol no progresso das demarcações das principais vertentes
do rio Negro e Piraí, que o Forte de S. Tecla, situado dentro do
espaço intermédio, ficasse pertencendo à Espanha, torcendo-se e
estreitando-se a linha divisória para a parte de Portugal, a fim
de ficar salva a pequena distância de três quartos de légua, em
que se acha o dito forte, depois de assinalados os limites de
ambas as nações. Conserva-se presentemente este forte em tão mau
estado, que nada perde [a] Espanha em se arrasar e demolir: os
seus parapeitos estão por terra em quase todo o recinto, o seu
fosso no nível da campanha, e os seus quartéis mal servem de
abrigo a uma guarnição de quarenta homens. A sua construção
sempre foi [a] de um forte de campanha ou de registro, com
figura irregular pentagônica, composto de três baluartes e de
dois meio baluartes construidos de torrão, sem maior resguardo.
A única utilidade que alucina aos espanhóis para se conservar o
dito forte, se reduz a impedir os contrabandos das inumeráveis
cabeças de gado vacum de que abundam aquelas grandes campanhas:
mas é certo que existindo semelhante fortificação no meio de uma
região deserta, e cruzada além disso de tantas estradas e
veredas, para Maldonado, Montevidéu, Missões, Rio Grande e Rio
Pardo, nem se podem conseguir aquelas aparentes vantagens, nem
também deixarão de ocorrer motivos de discórdia entre os
vassalos dos dois domínios, por ficar aquela vigia tão próxima
da linha divisória por parte de Portugal, e tão remota e
separada das outras povoações pertencentes à Espanha,
infringindo-se conseqüentemente as regras mais certas da
recíproca segurança, que o mesmo Tratado prescreve. (...) de
comum acordo se entrou a demarcar o terreno compreendido entre
as vertentes do Ibucuí-guassu até às imediações da falda
meridional do Monte-Grande. Então é que conheceu o nosso
comissário que, aceitando a nova proposição que lhe fez o seu
concorrente, de admitir o curto espaço de légua e meia entre os
limites do terreno neutral, se podiam melhor adiantar e estender
os domínios de S. M., sem se embaraçar entretanto, com a única
objeção de ficar inteiramente salvo e fora dos limites daquelas
reservas o sobredito insignificante Forte de S. Tecla, que em
qualquer caso de dever ou não existir, não embaraçava o recurso
do expediente proposto, e só podia servir de obstáculo para não
se verificarem as conhecidas utilidades, que se representavam
para Portugal naquela demarcação."[3]
E, sobre o assunto, conclui:
"Não deixa contudo de fazer algum obstáculo [à demarcação] o
dito Forte de S. Tecla, por não exceder ali o terreno neutral a
curta distância de légua e meia, ficando posto e aquela vigia em
um lugar tão arriscado, e tão próximo à linha divisória, contra
a forma estipulada no art. 6º. Mas nem por isso deixou o
primeiro marco do lado da Espanha de ficar muito contíguo ao
dito forte, que não deixara por esse motivo de vir a ser
demolido, como se deve esperar da prevenção com que D. José
Varella tem premeditado mudá-lo para um dos três cerros de Bahé,
que existem pouco mais de três léguas ao sudeste da linha
divisória.".[4]
Devido ao seu valor estratégico, o forte foi reconstruído pelos
espanhóis em 1778, e novamente tomado e destruído pelo Regimento
de Cavalaria de Dragões do Rio Grande do Sul, sob o comando de
Patrício Corrêa da Câmara, em 1801.
Atualmente restam vestígios das antigas fundações em pedra,
tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional desde 1970, em terreno pertencente à Prefeitura do
Município de Bagé.
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