Forte São Mateus
Em 1617, o governador e capitão-mor da
capitania do Rio de Janeiro, Constantino
Menelau (1615-1617), que considerava o Forte
de Santo Inácio do Cabo Frio excessivamente
vulnerável, solicitou o seu desmantelamento
e a construção de um novo forte para
proteção da povoação de Santa Helena do Cabo
Frio e da barra do canal da lagoa de
Araruama (hoje canal do Itajuru). O
Governador-geral do Brasil, D. Luís de Sousa
(1617-1621), após consultar Lisboa, aprovou
o projeto do Engenheiro-mor e dirigente das
obras de fortificação do Brasil, Francisco
de Frias da Mesquita (1603-1634), cuja traça
definitiva data de 1617 (SILVA-NIGRA, 1945),
e transferiu a responsabilidade das obras
para o Capitão-mor de Cabo Frio, Estevão
Gomes (1616-??), em 1618. Foi nessa
conjuntura que ocorreu a transferência da
primitiva povoação para o local do atual
bairro da Passagem, rebatizada com o nome de
Nossa Senhora da Assunção do Cabo Frio.
Uma carta do superior jesuíta do aldeamento
indígena de São Pedro, enviada àquele
governador do Brasil em 1620, revela que a
nova fortificação do Cabo Frio já estava em
funcionamento nesse ano. Nela, Estevão Gomes
abrigava provisoriamente algumas dezenas de
famílias de Tupiniquins que logo seriam
transferidas para o aldeamento jesuíta de
São Pedro do Cabo Frio, núcleo da atual
cidade de São Pedro d'Aldeia.
Em um mapa anônimo de cerca de 1625 da
"Terra de Cabo Frio", observa-se o forte
velho (Forte de Santo Inácio) localizado
junto ao porto da barra do canal da lagoa de
Araruama, e o novo, próximo à praia, numa
ilhota mais elevada a cavaleiro da barra.
Acredita-se que o material de construção, o
armamento e a guarnição tenham sido
remanejados para o novo Forte de São Mateus.
A nova estrutura, em alvenaria de pedra e
cal, apresenta planta no formato de um
polígono quadrangular irregular, com duas
baterias à barbeta, uma guarita no vértice
pelo lado do mar, e edificação para Quartel
e Depósito no terrapleno pelo lado de terra.
Esta edificação apresenta atualmente cinco
compartimentos:
Casa do Comando
Quartel da Tropa
Cozinha
Casa da Pólvora
Cisterna (ou cela), em nível inferior
No contexto da reconquista de Angola (e seu
mercado de escravos) aos neerlandeses,
Salvador Correia de Sá e Benevides retirou a
artilharia e a guarnição do forte, deixando
sem defesa os vinte e quatro moradores que
permaneceram no Cabo Frio (1648). Em 1650,
Estêvão Gomes reaparelhou-o para defesa da
povoação, com os seus canhões servindo para
sinalizar a passagem dos navios que iam para
o Rio de Janeiro
No período colonial, o Brasil ocupava um
lugar importante nos interesses mercantis e
políticos da Europa. Durante a expansão
colonial no Atlântico Sul, os europeus
tiveram aqui um ponto de apoio e um alvo
considerável. Ao longo da costa atlântica,
Cabo Frio foi uma das primeiras feitorias
estabelecidas no extenso litoral.
Supostamente fundada por Américo Vespúcio em
1503, a feitoria portuguesa registrava, em
1526, a presença de treze homens chefiados
pelo feitor Manoel Braga, segundo os dados
registrados na viagem guarda-costas de João
Caboto.
Portanto, tornava-se necessário uma
política de defesa do território por parte
das metrópoles colonizadoras, que passasse
pela fundação de feitorias, vilas, cidades e
fortificações. Essas garantiam, além da
exploração econômica da região, a solidez
dos regimes políticos da Europa. A formação
de núcleos de povoamento era uma exigência à
instalação de fortes e fortalezas, no
princípio, pela abundância do pau-brasil.
Dessa maneira, os principais núcleos de
povoamento do litoral norte fluminense foram
fundados a partir da construção do Forte São
Mateus. Cabo Frio primeiro, depois Campos
dos Goitacazes e Macaé, entre outras.
Abriam-se, portanto, os caminhos em busca do
sertão.
Havia no litoral brasileiro, nos
primeiros anos do século XVII, cento e
trinta e uma “bocas de fogo” para defender a
colônia portuguesa. O Forte São Mateus fazia
parte dessa estratégia de defesa. Nos
reinados dos Felipes de Espanha, durante a
União Ibérica (1580-1640), reforçava sua
linha de fortificações no território
ultramar, para proteger suas possessões.
Nesse sentido, o Forte cumpria um objetivo
militar e geopolítico.
Os franceses, ao tentarem estabelecer-se
em Cabo Frio na segunda metade do século XVI,
depois de serem expulsos do Rio de Janeiro,
construíram um pequeno forte ou reduto (Casa
da Pedra), demolido posteriormente pelas
autoridades coloniais. Em seu ligar surgiria
a Fortaleza de Santo Inácio, consagrando o
auto de fundação da cidade, em 13 de
novembro de 1615. Anos depois (1616-1620),
por questões logísticas seria erguido, por
ordens de Felipe II de Espanha, o Forte São
Mateus, construído por portugueses e índios
tamoios chefiados por Estevão Gomes. O
forte, localizado na Boca da Barra - entrada
do Canal do Itajurú, é uma das mais antigas
obras da arquitetura colonial
latino-americana.
Construídas em pedra e argamassa,
utilizando cal e óleo de baleia, fortes e
fortalezas, na maioria das vezes, exibiam
uma arquitetura em linhas retas, que
formavam cortinas extensas, interrompidas
por torres ou baluartes de formas simples. O
Forte São Mateus é parte do patrimônio
histórico nacional e compõe junto com a
Praia do Forte um dos mais belos cartões
postais do litoral do Brasil.