'Dragões' de Angola
INTRODUÇÃO
54G007 - 'Cavaleiros do Capim'
CCAV2563 - Angola 1970
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O emprego de unidades
de Cavalaria a Cavalo no Teatro de Operações
de Angola, nasceu da necessidade de, num terreno
como o Leste de Angola, e na presença de
um inimigo essencialmente nómada, existir
uma tropa de reconhecimento altamente móvel
e silenciosa, com capacidade de percorrer longas
distâncias durante vários dias sem
necessidade de reabastecimento, mantendo-se em
condições físicas para, a
qualquer momento, executar acções
de combate. Os Dragões, tal como os seus
antecessores na história, caracterizavam-se
pela capacidade de combater tanto a pé
como a cavalo.
O cavalo foi encarado no seu emprego como um meio
de transporte para chegar a um determinado ponto.
Dada a sua extraordinária capacidade todo-o-terreno
permitia chegar a locais que de outra forma eram
inacessíveis mantendo duas características
muito importantes no tipo de guerra de contra-subversão
que Portugal travava: a surpresa e o estado de
"frescura física" dos militares
(quando comparado com a mesma aproximação
mas apeada). |
Foi este o grande sentimento
nos militares da Companhia de Cavalaria 2563, que
depois de um ano de operações "a
pé" foi devidamente instruída e
equipada tornando-se no 1º Esquadrão a
Cavalo. Antes, no início de 1967, um pelotão
experimental fora constituído por pessoal voluntário
já a prestar serviço em Angola e por
uma remonta de cerca de trinta cavalos vindos da África
do Sul.
UNIFORME, ARMAMENTO E EQUIPAMENTO
O Uniforme usado pelos militares era o Uniforme
de Campanha m/964, com camisa ou dolman, o calçado
mais usado eram as botas pretas modelo/967 usadas
com polainas. Quanto à cobertura de cabeça,
houveram várias propostas no sentido do quico
ser substituído por um chapéu de abas
largas para proteger melhor, uma vez que a cavalo,
o militar ficava acima do capim e por isso não
desfrutava da sombra que este proporcionava.
O Armamento consistia na Espingarda Automática
G-3 7,62mm para Oficiais, Sargentos e Praças.
Mais tarde foi usada a espingarda automática
G-3 com coronha retráctil igual à usada
pelas tropas paraquedistas. O transporte da G-3 fazia-se
consoante era improvável, provável ou
iminente o contacto com o Inimigo. Quando o contacto
era improvável, a G-3 era transportada no respectivo
suporte que podia ser colocado à frente ou
à retaguarda da sela. (O transporte da espingarda
automática G-3 a cavalo foi sempre um assunto
que mereceu muita atenção mas que esteve
longe de ser completamente resolvido). Quando o contacto
com o inimigo era provável ou iminente a G-3
era empunhada com a bandoleira cruzada no tronco.
Mais tarde adoptar-se-ia o emprego da pistola walther
que seria empunhada municiada permitindo uma resposta
quase instantânea a qualquer ameaça.
Segundo vários veteranos a G-3 nunca era "sacada"
enquanto a cavalo, sendo a pistola a arma por excelência
para as acções a cavalo. A G-3 era essencialmente
empregue nas operações apeadas. Não
era vulgar as unidades a cavalo usarem armamento pesado
tais como metralhadoras ligeiras ou morteiros, no
entanto nalgumas operações de maior
risco, foi levado o Morteirete.

Espingarda Automática G3
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Pistola Walther P38
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O Equipamento
para o cavalo consistia no "Arreio para cavalo
Oficial e Praça m/938" constituído
pelas seguintes peças de equipamento:
Arreio de cabeça:
-Barbela m/77 x 1
-Cabeçada m/41
x 1
-Freio-bridão m/935 x 1
-Rédea m/903 x 2
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Arreio de montada:
-Cilha M/42 x 1
-Cilha mestra m/42 x 1
-Estribos M/917 x 2
-Loros m/935 x 2
-Peitoral m/935 x 1
-Selim m/42 x 1
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Outros Artigos:
Relativo à alimentação:
-saco de boca e para ração m/935
x 1
-saco de boca m/914 x 1 |
Relativo à limpeza:
-luva x 1
-brussa x 1
-almofaça x 1 |
Relativo à conservação:
-cobrejão m/935 x 1 |
Equipamento para o
militar:
-Cinturão x 1
-Suspensórios x 1
-Porta-carregadores x 2
-bornal x 1
-Cantil x 1
-Marmita x 1
-Porta-granadas x 1
-Poncho x 1
Como é visível
nas fotografias e que aliás é característico
das forças em campanha, existia bastante flexibilidade
para a forma como cada militar aparelhava o seu cavalo
e qual o equipamento individual, para além
do obrigatório, trazia consigo. No entanto,
existiam pequenas regras (comuns a quase todas as
tropas montadas ao longo da história):era feito
um "malote" para cavaleiro e um outro para
o cavalo.
"Malote"
do cavalo
-cobertor
-coberjão
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"Malote"
do cavaleiro
-pano de tenda
-cobertor
-tenda 3P
-muda de roupa interior (eventual)
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A acrescentar a estes
malotes havia o transporte da ração
do homem e do cavalo para um período de cerca
de cinco dias. No inicio da operação,
o cavalo transportava consigo cerca de 18Kg ou 22,5Kg
de ração granulada, já dividida
em pequenos sacos de plástico, para cada refeição,
preservando-a da humidade. Para o homem era distribuído
uma ração de combate por dia. Por vezes
transportava-se um suplemento da ração
(para os homens e cavalos) em cavalo de baste, que
também podiam ser usados como cavalos de reserva,
para substituição de algum doente ou
sofrendo de graves assentaduras.
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fotografia de perfil do cavalo
de um Oficial dos dragões. Como curiosidade
é o facto de o selim estar revestido por
uma pele de cordeiro o que o torna muito mais
cómodo (prática muito usada desde
sempre nas unidades montadas). Podemos observar
que a cabeçada não é a cabeçada
militar modelo m/41. Nesta foi improvisada uma
corda para forragear. Como restante equipamento
podemos observar o saco de boca e para ração
m/935 pendurada na parte posterior do selim. Na
parte anterior está um pano de tenda enrolado
com o cobrrejão ou um cobertor constituindo
o "malote" do cavaleiro. |
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Nesta fotografia podemos constatar
a razão pela qual os Dragões equipavam
com os porta-carregadores de lado e não
atrás como mandava a técnica individual
de combate. Quando montado e com o cavalo em ordem
de batalha os carregadores bateriam no malote
de trás tornando-se muito incómodo
ao longo de várias horas de marcha. Identificáveis
são os dois malotes o da frente com pano
de tenda e acessórios para o homem e o
de trás com cobrejão e manta para
o cavalo, ambos presos com correias que têm
o nome de "garupas". De notar que foi
preso à parte da frente do arreio o bornal
de lona do equipamento individual do homem e na
parte detrás é visível o
que parece ser o saco de boca m/914. O militar
enverga botas com polainas. No arreio de cabeça
é visível o freio-bridão
m/935 com duas rédeas e a corda de forragear.
A G-3 é transportada à retaguarda
do lado direito. |
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Nesta fotografia pode-se observar
uma outra forma de aparelhar o cavalo socorrendo-se
do equipamento individual do cavaleiro. De notar
os dois modelos de quico utilizado pelos militares.
O do militar da frente é o do uniforme
de campanha Nº2-C e o da retaguarda é
o do uniforme Nº2-G com o cobre-nuca todo
descaído. |
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Quando o contacto era provável
ou iminente, como é o caso desta fotografia
em que os Dragões já estão
no interior de uma base logística inimiga,
a arma era colocada a tiracolo permitindo fazer
fogo com uma mão enquanto a outra comandava
o cavalo. |
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