PROCEDIMENTOS TÁCTICOS
Dada a particularidade do conflito os procedimentos
tácticos doutrinários existentes para
a cavalaria num exército convencional não
se aplicavam, pelo que a doutrina empregue nos Dragões
resultou em grande parte do espírito empreendedor,
e ao mesmo tempo crítico, dos quadros.
Organização para o
combate
As formações bem como a organização
para o combate não é constante ao longo
dos anos em que foram empregues estas unidades no
Teatro de Operações do Leste de Angola,
o que prova que houve um esforço constante
para fazer face à dinâmica própria
da guerra. O ponto de partida na organização
foi a táctica da Cavalaria a Cavalo que preconizava
o trio como unidade mínima que, quando apeado,
preconizava um guarda-cavalos para os três cavalos
e uma parelha de homens disponíveis para o
combate. Dois trios davam uma esquadra de seis homens
que quando apeava se transformava em duas parelhas.
Duas esquadras formavam uma secção de
doze homens mais o comandante que era Furriel. Um
pelotão era geralmente constituído por
três secções mais a secção
de comando composta pelo Oficial, Clarim, Ferrador,
Socorrista e o radio-telegrafista. Mais tarde, a organização
tendeu para que a unidade base para operações
dentro do pelotão, uma vez apeados, fosse a
equipa de cinco homens (já a reflectir a doutrina
"Comando"). No caso particular da Companhia
de Cavalaria 2563 que foi convertida no 1º Esquadrão
a Cavalo após um ano de operações
a pé, a organização adoptada
foi tal que permitisse, uma vez apeados, a manutenção
dos mesmos grupos de combate do antecedente.
Formações
O deslocamento do pelotão era feito com duas
secções à frente formadas em
linha e a terceira secção no centro
e à retaguarda, formada em duas colunas. Isto
fazia com que o pelotão tivesse uma frente
extensa, cerca de 300 metros, o que o tornava não
"emboscável". A secção
da retaguarda era de "descanso". O dispositivo
rodava pela direita de duas em duas horas, permitindo
que todas as secções "descansassem"
na retaguarda da formação (Esquema 1).
Este sistema apresentava uma fragilidade: a secção
da retaguarda deixava um rasto demasiado forte o que
permitiria um eventual seguimento por parte de guerrilheiros.
Para ultrapassar esta situação, aquando
da escolha do local para o bivaque, a tropa invertia
o deslocamento (Esquema 2) por forma a obrigar que
os eventuais seguidores passassem pela segurança
do bivaque mesmo antes de saber onde este estava instalado.
Esquema 1
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Esquema genérico da
formação de um pelotão em
marcha. A posição do Comandante
não é fixa, é onde melhor
exercer o comando e controlo do seu pelotão.
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Esquema 2
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Esquema
genérico de um pelotão em bivaque
e a manobra de decepção efectuada
antes de bivacar.
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Bivaques
O princípio era aquartelar de noite e sair
ainda de noite. A noite constituía um período
de grande vulnerabilidade para os cavalos. O pelotão
bivacava assim que caia a noite e da seguinte maneira:
os cavalos ao centro, em circulo, e os homens em circulo
por fora. A guarnecer a segurança a estes dois
círculos concêntricos eram montados três
postos de sentinela dobrados (Esquema 3).
Esquema 3
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Travessia de cursos
de água
Tratava-se de uma operação muito complicada
pois os cursos de água, embora pouco largos
- cerca de 1 a 6 metros -tinham para cada um dos lados
cerca de 100 a 150 metros de terreno lamacento. As
travessias eram então um processo penoso de
cerca de 300 metros. Para ultrapassar esta situação
era preferível subir 3 a 6 Kms no sentido da
nascente e assim ter um local de passagem menos penoso,
voltar a descer ao longo do rio para retomar novamente
o sentido de marcha.
Actividade de rotina
Os Esquadrões a Cavalo tinham uma dupla missão:
(1) unidade de quadrícula (por exemplo, no
caso da região do Munhango, o esquadrão
tinha uma área sensivelmente de 100Km x 200Km);
(2) à ordem, em cooperação com
outras forças, constituía-se em força
de intervenção.
A missão de quadrícula empenhava diariamente
cerca de 2 pelotões em patrulhamentos na região.
Os outros três pelotões dedicavam-se
à instrução, nomeadamente de
tiro e de trabalho de equitação, e a
trabalhos de manutenção gerais no aquartelamento.
Quando empregue como unidade de intervenção,
o Esquadrão a cavalo saía a dois ou
três pelotões.
Operações como Força de Intervenção
"Durante a operação ["Diana"],
a região, percorrida durante oito dias consecutivos
por um Esquadrão a Cavalo a dois pelotões,
só ofereceu como verdadeiros obstáculos
as "anharas" alagadiças. Actuando
em conjugação e apoiadas por forças
apeadas, são de destacar os seguintes aspectos:
- o Esquadrão a Cavalo actuou durante oito
dias consecutivos, sem receber qualquer reabastecimento,
para os homens ou para os cavalos, percorrendo cada
um dos Pelotões cerca de 250 Km;
- não se verificaram casos de doença
ou inutilização de qualquer dos 74 solípedes
que tomaram parte na operação. Houve,
apenas, o caso de agravamento de assentaduras mal
curadas, imposição resultante da urgência
de actuação;
- a surpresa, consequência da velocidade a que
o inimigo e as populações ainda se não
habituaram e a facilidade de progressão em
todo o terreno sem sujeição a trilhos
e picadas, permitiu capturar apreciável número
de indivíduos, apesar dos sistemas de alarme
e alerta utilizados." (J.A., Cavalaria
a Cavalo em Angola)
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O verdadeiro obstáculo
aos dragões eram as "anharas"
alagadiças. Fazendo lembrar a vulnerabilidade
ao terreno dos pesados blindados de hoje, também
os cavalos se "atascavam" obrigando
os cavaleiros a esforços titânicos
para os recuperar. Nesta fotografia, dois Dragões
tentam retirar um cavalo completamente "afundado".
De notar que o militar de pé usa botas
altas enquanto o militar deitado usa polainas. |
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A instrução
continua de equitação era uma preocupação
para manter a destreza nos homens e a boa condição
física das montadas. Nesta fotografia,
diversos militares ultrapassam as agruras do terreno.
De notar a corda de forragear do lado esquerdo
da cabeçada. |
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