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História
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'Dragões' de Angola 1966-1974

A opinião do adversário

A opinião que o adversário tinha sobre as tropas a cavalo está bem patente numa parte duma carta apreendida junto da fronteira com a Zâmbia.
"CHIFUMAGE - SECTOR 2
1 - 9 - 71
Hoje escrevemos esta carta ao Comandante IKO.
Em primeiro lugar, saudações e cumprimentos.
Sim, todos nós estamos aqu ia dormir, afinal nós viemos de CASSAMBA para aqui para nos juntarmos ao camaradas e você sózinho? Verdade? Um dia tu vais morrer à tôa.
Mas não fomos nós que falámos com o Agostinho para irmos junto contigo lutar com os brancos, não. Mas agora vemos que todas as pessoas já foram liquidadas. Já perdeu a guerra, pronto deixa lá.
Nós estamos a lutar com os brancos, mas hoje veio a guerra com cavalos, mataram muitos aqui no Chifumage e no Luena, ficámos nós cinco aqui, esperando aqui para eu mandar primeiro ao subsector do Kkeya, aquêle Kakkeya quando vier, vem-nos dizer para fugir. Quando nos assustarmos iremos para lá.
Primeiro dizemos-te, aquêle assunto que tu falaste, ninguém mais aqui quer teimar com os cavaleiros, nenhum camarada tem corrida para correr com o cavalo e fazer-lhe fôgo. Aqui os cavalos estão a lutar com os camaradas, ninguém consegue matar um.
Aqui nas chanas, mesmo que mandem camaradas para lutar com os cavalos não vão conseguir. As pessoas quando estão nas subidas e fazem fogo contra eles é difícil e há muitos dos nossos que morrem.
Não sabemos quando vêm aqui ao sector com o presidente, se calhar quando vierem vão-nos fazer fugir, não sabemos, mas lembramo-nos que ainda estamos com vida, vamo-nos embora.
Depressa, manda os camaradas para levarem o material, nós estamos para sair daqui, agora estamos cansados de mortes, estamos muito liquidados.
Se tu demorares mais do que um mês, vamos deixar aqui todo o material e vamo-nos embora, porque vocês já perderam a guerra
"

(Ferrand d'Almeida, Recordações de um Dragão de Angola)

EPÍLOGO

O Autor John P. Cann na sua obra "Contra-insurreição em África 1961-1974" caracterizou a forma como as Forças Armadas Portuguesas estiveram em África como "o modo português de fazer a guerra". O emprego de unidades de Cavalaria a Cavalo no Teatro de Operações de Angola bem como o estudo do levantamento do mesmo tipo de Unidades para Moçambique, (mas que não se chegou a concretizar), atesta bem, juntamente com outras metodologias, o espírito criativo e dinâmico necessário para vencer uma guerra de contra-insurreição travada a milhares de quilómetros de Portugal. Demonstrou também que, ultrapassados os preconceitos, não existem soluções completamente fora de tempo. A necessidade continua a ser a mãe da invenção (ou pelo menos neste caso a mãe da "reinvenção"). Portugal foi o ultimo país da Europa a combater a cavalo! Depois de nós os Sul-Africanos também usaram unidades a cavalo e mais recentemente o Exército Britânico no Kosovo e na Bósnia, no âmbito das Operações de Apoio à Paz também o fizeram. No Afeganistão, as forças especiais americanas socorreram-se novamente do cavalo

GLOSSÁRIO

Arreio de Cabeça - conjunto de artigos (correame e ferros) que se adaptam à cabeça do cavalo, parte do corpo que melhor se presta à recepção das acções de direcção e de vontade transmitidas pelas mãos do cavaleiro.

Arreio de montada - ou arreio de sela, são destinados ao transporte do cavaleiro sentado sobre o dorso do cavalo. A sua forma tem em vista a adaptação do homem ao corpo do animal, formando um todo. O arreio de montada compreende:
-um selim
-uma cilha
-uma cilha-mestra
-um cobertor
-dois estribos
-dois loros
-um peitoral

Barbela - Consta de uma corrente cujos elos se ajustam perfeitamente e destina-se a limitar os movimentos do freio sobre as barras do animal.

Bridão - é o ferro que entra na boca do cavalo e em que em cada um dos extremos existe uma argola onde se afivelam as rédeas de bridão.

Cabeçada - é a designação genérica para o arreio de cabeça e, consoante o ferro a usar, poderá ter a designação de cabeçada de freio, cabeçada de bridão, cabeçada de freio-bridão.

Cilha - tem por função fixar o selim sobre o dorso do animal.

Cilha mestra - destina-se a aconchegar as abas do selim, e a dar uma segunda segurança caso haja problemas com a cilha. É também usado para impedir que o cobrejão caia quando este está sobre o animal.

Estribos - apoios em ferro onde o cavaleiro coloca os pés e são indispensáveis a um bom equilíbrio.

Freio - é um ferro que trabalha também dentro da boca do cavalo assentando nas barras do maxilar inferior. A actuação do freio só é efectiva com a intervenção da barbela.

Freio-bridão - é uma solução que tem por finalidade evitar o emprego de um bridão e de um freio distintos, simplificando o arreio de cabeça. Os Dragões usavam freio-bridão m/935.

Loros - correias que suspendem os estribos ao selim;

Peitoral - correias em triângulo que impedem que o arreio descaia para a retaguarda.

Rédeas - Constam essencialmente de duas correias e são os meios de comando que o cavaleiro dispõe para fazer sentir a sua acção.

Selim - é onde o cavaleiro se senta.


Um momento de alegria! Cavalos e cavaleiros refrescam-se. Podia ser há quatro mil anos atrás, quando nas vastas planícies da Ásia Central o homem começou a domesticar o cavalo, ou podia ser na frente Leste, durante a segunda guerra mundial, quando russos e alemães usaram pela ultima vez, grandes unidades de cavalaria a cavalo. Mas não. A fotografia é tirada no Leste de Angola, no inicio da década de setenta quando parecia que a história já tinha empurrado o cavalo, de vez, para fora dos campos de batalha. A particularidade dos laços que se estabelecem entre o cavaleiro e a sua montada conferiu desde sempre às unidades de Cavalaria um espírito e élan que a diferenciaram sempre das demais armas criando nos seus militares um orgulho muitas vezes apelidado de peneirento.

BIBLIOGRAFIA

- Abbot, Peter e Manuel Ribeiro Rodrigues, Modern African Wars (2): Angola and Moçambique 1961-74, (London: Osprey, 1988);
- Cann, John P., Contra-insurreição em África 1961-1974. O modo português de fazer a guerra, (S. Pedro do Estoril, Edições Atena, 1998);
- Freire, Miguel, Dragoons of Angola, Osprey Military Journal, vol 4, issue 4, pg 45 - 50.
- Nunes, António Pires, Angola 1966-74. Vitória Militar no Leste, Colecção Batalhas de Portugal (Lisboa, Edições Prefácio, 2002)
- Rodrigues, A. Ribeiro, As Campanhas Ultramarinas 1961-1974 Guiné - Angola - Moçambique (1), (Lisboa, Edições Destarte, Colecção Guerra e Paz, 2000);



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