TRAJE
O "sago" era uma espécie
de túnica ou gibão, com mangas curtas,
comprido até aos joelhos e de diversas cores,
geralmente no tom do material em que eram confeccionados,
sendo preso por um cinturão de couro ou por
tiras de pele entrançada, fig. 27. Era confeccionado
em lã grosseira e forte, pele de cabra ou
linho, conforme a região. Alguns eram providos
de capuz. Sobre este vestiam um manto que consistia
num pedaço de fazenda (lã) ou pele
de cabra cortada em semicírculo, ou em duas
partes, unidas nos ombros por uma costura, podendo
também ser fixos por um colar ou fíbula.
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Figura 27
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Engalanavam-se nos braços
e pescoço com braceletes e aros de ouro, bronze,
etc. assim como utilizavam alfinetes, pregadores, presilhas
e toda a espécie de amuletos decorativos, assim
como, nalgumas tribos, tinham o hábito de fazerem
tatuagens e pinturas no corpo, fig. 28 e 29.
Utilizavam peles curtidas
de urso ou lobo, com o respectivo crânio,
o qual adaptavam à cabeça, deixando
cair a pele pelas costas, outras vezes cingiam-nas
ao corpo unindo, sob o peito, com as garras do animal,
fig. 30. |

Figura 30
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Calçavam uma espécie
de botins entretecidos de fibras de animais, crina,
linho, esparto, pele de javali, etc.
Nota:
No que diz respeito às cores dos tecidos nunca
se chegou a nenhuma conclusão,uns dizem que trajavam
com cores vivas, outros que usavam vestes escuras, etc.
Efectivamente é bastante difícil conseguir
um "género lusitano" na medida em que
não havia uniformidade absolutamente nenhuma,
os hábitos e tradições variavam
de tribo para tribo, assim como também é
necessário ter em linha de conta o clima e o
terreno onde se encontravam estabelecidas essas populações
e os meios naturais de que dispunham. Também
é necessário ter em atenção
a grande influência romana que o período
de Sertório trouxe aos Lusitanos. Neste
sentido poder-se-á afirmar que existem três
épocas distintas no que diz respeito ao armamento,
traje, costumes, etc., que poderão ser assim
divididas:
- 1ª época: pré Viriato
que se poderá considerar a mais primitiva.
- 2ª época: Viriato que é o período
estudado neste trabalho.
- 3º época: Sertório ou seja a da
romanização (vestuário, armamento,
escudos
mais compridos, hábitos, etc.
TÁCTICA
Por vezes ordenavam-se em corpos
com cerca de 6 000 homens, combatendo em linha simétricas,
colocada de modo a servirem tanto para o ataque
como para a defesa, protegendo-se mutuamente, aplicando
a formatura em cunha, em que eram bastante exímios,
embora a sua grande "especialidade" fosse
a guerrilha, a emboscada, o ardil. Se tivermos em
consideração o terreno onde eles progrediam
que era extremamente arborizado e sem vias de comunicação,
assim os lusitanos, face ao romanos, tinham toda
a vantagem de além de conhecerem o terreno,
uma vez que as suas zonas de refúgio eram
autênticos "esconderijos" da guerrilha,
praticamente inacessíveis aos exércitos
de ocupação, aliavam a tudo isto a
ligeireza e flexibilidade face aos romanos, tanto
no equipamento como no armamento dos seus guerreiros,
dando-lhe assim uma rapidez de movimentos extremamente
eficaz. De nada servia o bem preparado e pesado
equipamento e armamento do temível exército
romano, temível sim mas, nas circunstâncias
de uma guerra convencional para combater em campo
aberto e não em estreitos caminhos, escarpadas
montanhas, desfiladeiros intransponíveis
e florestas extremamente densas. |
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A cavalaria lusitana, regra
geral, formava na retaguarda, entrando só em
combate na ocasião em que os chefes achassem
oportuno e actuavam sempre por entre os intervalos da
infantaria; por vezes, os cavaleiros combatiam desmontados,
deixando as montadas seguras nas árvores ou em
estacas que eles transportavam presas nas extremidades
das rédeas.
Quem melhor os soube descrever
foi o geógrafo grego Estrabão na sua
"Geografia da Ibéria", assim no
capítulo III, §3, n.º 6 relata-nos
" (
) os Lusitanos são hábeis
e ligeiros nas lutas de guerrilhas, em armar ciladas
e em se retirarem de situações desesperadas,
fazendo as suas evoluções militares
com muita ordem e destreza; tanto combatiam a pé
como a cavalo e estes últimos geralmente
transportavam um peão na garupa do cavalo,
sendo o animal treinado a subir as ásperas
encostas das serras(
)"
" (
) Entravam em combate
soltando cânticos guerreiros, fazendo uma
grande algazarra, gritando e abanando o cabelo
para infundir terror, batendo com os pés
no chão e as espadas nos escudos, numa
bélica gritaria cheia de ardor e entusiasmo(
)"
Era este o testemunho acerca deste
povo aguerrido, que lutou tenazmente contra as
legiões invasoras em prol da sua autonomia
e independência, que era aquilo que os Lusitanos
mais prezavam.
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VIRIATO

54A001
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Guerreiro e chefe Lusitano que
foi assassinado no ano de 140 antes de Cristo. A
sua história de resistente e líder
de um povo começou com uma sanguinolenta
traição dos romanos que iludindo os
lusitanos, pela aparente boa fé do Cônsul
Galba, depõem as armas com que tinham combatido
os romanos e dispersam-se para diferentes locais.
Mal começam a retirar pacificamente, o exército
de Roma cai sobre eles e executam uma terrível
mortandade, escapando poucos, mas entre esses que
se salvaram ia Viriato. |
À sua voz reúnem-se
os lusitanos, jurando vingança, Viriato ainda
não é o chefe, combatendo ombro a ombro
com os seus, assim o Pretor Caio Vetilio com as suas
tropas bem organizadas e disciplinadas, uma vez mais
derrotam esses "provocadores pastores", que
se vêem obrigados a refugiarem-se nas montanhas
e nos locais mais recônditos.
Neste sentido, uma voz de revolta
sobressai entre todas, é a de Viriato que
incitando o seu povo à insurreição,
à vingança dos seus mortos e à
independência do jugo romano, consegue reanimar
os seus e eles confiam-lhe o comando (147 a.C.)
foi este novo chefe que empregou pela primeira vez
o ardil, que sempre fora fatal à lógica
de Roma e ao seu exército clássico.
Depois de uma série de emboscadas, Viriato
à frente de um grupo de cavaleiros simula
fazer frente ao inimigo, retirando-se seguidamente,
teve este como intuito mostrar ao Pretor que estava
vivo e que os Lusitanos estavam dispostos a tudo
e assim começou uma série de vitórias
para Viriato e o seu povo, que segundo Pinheiro
Chagas "(
) junto a Tribola, Vetelio é
derrotado. Cinco mil homens, que iam socorrer Tartesso,
onde se haviam refugiado o resto das tropas romanas,
tem igual sorte, sem um só poder escapar.
Caio Plaucio é derrotado na batalha campal
junto a Cora (
) "
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Monumento em Viseu
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" (
) Não
é mais feliz Unimano do que os seus antecessores.
Caio Nigidio, que traz reforços consideráveis,
é completamente destroçado junto a Viseu.
Caio Lelio recupera uma passageira superioridade, que
enche de alegria Roma. Fábio Emiliano vem com
a missão de acabar de vez a guerra, trazendo
um reforço de quinze mil infantes e dois mil
cavaleiros, que se reúnem ao exército
de Lelio, às legiões romanas existentes
em Espanha e aos seus aliados. Todo este imenso poder
é destroçado, junto a Ossuna, pelo valente
chefe Lusitano (
)"
" (
) Fábio toma a
desforra em Beja; mas Viriato é incansável:
levanta novas tropas e derrota os romanos, encurralando-os
nos seus quartéis em Córdova, e caminha
em marcha triunfal até Granada e Múrcia!
(
)"
" (
) Roma faz os últimos
esforços e incumbe o General Serviliano de marchar
contra os Lusitanos. Duas vezes derrotado o Cônsul
vê-se obrigado a assinar um tratado de paz em
que Roma reconhece o poder de Viriato. Não o
rectificou a república, enviando outro General,
Cipião, que recorrendo à astúcia,
já que nada lucrava com a força, descobriu
em dois embaixadores de Viriato dois traidores que acabariam
por assassinar covardemente o seu chefe (
)"
Assim morreu Viriato, notável
resistente e chefe Lusitano que nunca se vergou e se
deixou intimidar perante o poder de Roma e do seu invencível
exército.

Vinheta ilustrativa das campanhas
de Viritao com as figuras 54A001, 54A002 e 54A003
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SERTÓRIO
General romano que nasceu em Núrsia,
na Sabina, pelos anos 122 (?) a.C. e morreu assassinado
no ano de 72 a.C., - segundo Pinheiro Chagas- Sertório
seguiu primeiro a carreira do Foro em que se distinguiu
muito, tendo depois servido na guerra contra os Cimbros
às ordens de Cipião e em seguida sob o
comando de Mário, sendo enviado, já como
Tribuno Militar, para a Península Ibérica.
Nomeado Questor, depois de ter regressado a Roma, foi
enviado para a Gália, onde combateu e venceu
os inimigos de Roma, tendo aí recebido muitos
ferimentos e perdido um dos olhos.
Durante a guerra social, ao impedir
a rebelião da Cisalpina, chamou sobre si os ódios
de Sila pela sua dedicação ao partido
de Mário regressando a Roma com este.
Quando Sila recuperou o poder, despachou
de imediato Sertório para a Península
Ibérica, tendo ele aqui continuado a luta contra
a aristocracia onde arranjou muitos inimigos, principalmente
Aunio, lugar-tenente de Sila.
Quando os Lusitanos de novo se sublevaram,
após o assassinato de Viriato, Sertório
foi convidado para comandar a sua insurreição
o que ele aceitou, pois era uma maneira de combater
a aristocracia romana. Assim, sob o comando de Sertório
os Lusitanos obtiveram imensas vitórias, sobre
os generais romanos, não tardando a dominar não
só a Lusitânia como a Bética.
A sua fama atraiu muitos dos seus compatriotas
que se tinham revoltado contra o poder de Roma. O primeiro
general que ele venceu foi Metelo que ao tentar tomar
Lacobriga, hoje Lagos (?), foi completamente derrotado
por Sertório, que acudiu em socorro da praça.
Seguiram-se muitas vitórias e algumas derrotas,
que curiosamente tinham um efeito contrário em
Sertório, uma vez que não se deixava abater
por elas, dando a entender que na desgraça ia
buscar novas forças para o combate. Tal era a
fibra deste grande chefe dos Lusitanos.
Curiosamente, Sertório acabou
por prestar um grande serviço a Roma, introduzindo
a civilização, as artes, a política
e os costumes de Roma, tendo acabado por romanizar quase
toda a Ibéria, tendo dividido os seus domínios
em duas províncias, a Bética que tinha
por capital Osca e a Lusitânia, cuja capital era
Évora, residência favorita do chefe Lusitano.
A Sertório se deve o ter tirado
- segundo Pinheiro Chagas - " (
) o modo selvagem
e brutal que os Lusitanos usavam no combate, fazendo-lhes
adoptar as armas, a formatura e a disciplina romana,
transformado uma verdadeira multidão de salteadores
num verdadeiro exército. Alem disso distribuía
com mãos largas a prata e ouro para ornar os
capacetes ou embelezar os escudos, e incitava os seus
subordinados a usarem túnicas e mantos bordados".
Por ironia do destino morreu este general
romano e grande chefe dos Lusitanos, de um modo idêntico
ao do seu antecessor. Depois de uma prolongada guerra
com Metelo e Pompeu, que tinham sido enviados pelo Senado
no ano de 76 a.C., acabou por ser assassinado no ano
de 72 a.C., num banquete em sua honra, por um dos seus
homens de confiança, Perpena, que contra ele
urdira uma conspiração.
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