O COMBATE DE ROLIÇA - 17
DE AGOSTO DE 1808

Combate de Roliça
|
INTRODUÇÃO
A Guerra Peninsular é o nome dado ao conjunto
de batalhas, combates e cercos que de 1808 a 1814
ocorreram na Península Ibérica e
que opuseram dois exércitos de coligação,
um liderado pelos Ingleses, do qual Portugal fazia
parte e outro liderado pelos Franceses.
Embora a guerra de guerrilha não seja recente,
(pelo menos será tão antiga quanto
a primeira vez que um homem atacou outro desprevenido),
a verdade é que o conceito de "guerrilha"
tal como o entendemos hoje, nasceu precisamente
durante a Guerra Peninsular e advém da
palavra espanhola guerrilla que significa "guerrinha"
no sentido de "pequena guerra". A Guerra
Peninsular é particular pelo facto de não
ter sido só travada pelos exércitos,
mas também pelos povos. Curiosamente para
os espanhóis a Guerra Peninsular é
conhecida como a Guerra de La Independencia.
|
ANTECEDENTES ESTRATÉGICOS
Napoleão tinha derrotado a Áustria e
a Rússia em Ulm e Austerlitz em 1805, tinha
vencido a Prussia em Jena em 1806 e humilhou uma vez
mais a Rússia em Friedland em 1807. Com o Tratado
de Tilsit a Europa conquistava uma paz débil,
mas suficiente para Napoleão poder voltar-se
para lá dos Pirinéus.
Napoleão controlava toda a Europa, somente
a Inglaterra lhe escapava mas enquanto a França
era a dona em terra, a Inglaterra continuava a ser
a rainha dos mares. Na impossibilidade de defrontar
a Inglaterra, Napoleão decidiu-se por um bloqueio
económico, ou seja, o chamado Sistema Continental.
A ideia era asfixiar económica e comercialmente
a Inglaterra. Com este sistema foi proclamado que
todo o comercio marítimo entre a Inglaterra
e o Continente europeu era para cessar e que todos
os bens ingleses apreendidos em territórios
ocupados pelo Exército Francês ou seus
aliados seriam confiscados. Toda a Europa aderiu a
este sistema. Somente Portugal não se mostrava
claramente decidido mantendo sempre uma política
dúbia, talvez por estar encurralado entre a
ameaça de uma invasão francesa, caso
não acatasse as indicações de
Napoleão de encerrar os seus portos aos navios
ingleses, e a ameaça de usurpação
das suas colónias pela Inglaterra, dominadora
dos mares.
Face à indefinição de Portugal
em aderir ao Sistema Continental, Napoleão
firmou com D. Manuel Godoy a 27 de Outubro de 1807,
o secreto tratado de Fontainebleau, mediante o qual,
a côrte de Espanha se comprometia a auxiliar
os franceses a conquistar Portugal que ficaria, posteriormente
dividido em três pequenos reinos. Dez dias antes
da assinatura deste tratado já o Exército
do General Junot tinha entrado em Espanha para, ao
mesmo tempo que o Corpo de Exército espanhol
do General Solano a sul e duas divisões a norte
entrarem em Portugal materializando a divisão
do nosso país nos previstos três pequenos
reinos.
Os exércitos de França e Espanha entraram
em Portugal sem que houvesse resistência de
qualquer natureza. Em 1807 "militarmente, o exército
(Português) de linha, mal pago, indisciplinado,
sem armamento, sem instrução nem comandos,
desmoralizado (...) era uma turba de inválidos
e politicantes, com que não se podia contar
para a guerra" . Ainda que em 1806 tenha havido
uma restruturação com vista a modernizar
a organização do Exército, criando
divisões e brigadas e até um novo Plano
de Uniformes, a verdade é que o Exército
de linha, com os seus 24 Regimentos de Infantaria,
12 de Cavalaria e 4 de Artilharia, não conseguia
levantar mais do que 10000 a 12000 homens. Para tamanha
discrepância de números face ao invasor,
não restou alternativa a não ser não
resistir e, para salvaguarda da soberania de Portugal,
optar-se por transferir a côrte e o governo
para o Brasil.
A soberania francesa instalou-se no território
nacional. No país vizinho, ainda que aliados,
as relações entre França e Espanha
degradaram-se ao ponto de se voltaram um contra o
outro. A insurreição mais emblemática
foi no dia "dois de Maio", em Madrid, acabando
com um saldo de trinta soldados franceses e duas centenas
de populares mortos nas ruas. No dia seguinte, por
ordens do Marechal Murat, eram fuzilados cerca de
uma centena de populares espanhóis. A França
passava a ser considerada invasor nos dois países
peninsulares.
Depois de
saber das sublevações em Espanha nesse
famigerado dia "dois de Maio", a Inglaterra
decidiu ajudar económica, financeira e militarmente
Portugal e Espanha, enviando um exército expedicionário
para a Peninsula Ibérica. A Espanha dispensou-o
pedindo só ajuda material. Portugal por sua
vez aceitou-o e integrou-se nele consolidando, mais
tarde, um estatuto de verdadeiros Camaradas de Armas.
No inicio do verão de 1808, França e
Inglaterra sabiam o que iria ser jogado na Península
Ibérica e como o deveriam fazer. Usando terminologia
actual de doutrina militar poderíamos afirmar
que para os Ingleses o End-state da operação
seria apoiar Portugal e Espanha na expulsão
das tropas invasoras de França e garantir a
final e absoluta evacuação, da Península
Ibérica, dessas forças. O Centro de
Gravidade era a supremacia da Armada Britânica
nos mares. Embora a natureza da guerra só permitia
uma vitória através de operações
militares conduzidas com sucesso em terra, o contributo
da Royal Navy era absolutamente vital para manter,
sem restrições, linhas de comunicações
e reabastecimento com Inglaterra ou mesmo capacidade
de evacuação, como se constatou mais
tarde na Corunha em 1809 e.... ainda mais tarde em
Dunquerque, 1940. O Ponto Decisivo era a conquista
de Lisboa. Quando em 24 de Julho Wellesley desembarcou
na cidade do Porto para conferenciar com a Junta governativa,
ela própria considerou que seria melhor um
desembarque o mais próximo possível
de Lisboa para não dar tempo a Junot de reunir
as suas forças.
Para as tropas de Napoleão, o End-state da
invasão era o encerramento do Tejo à
Royal Navy e o consequente termo de todo o comércio
entre Ingleses e os portos Portugueses (embora os
portos das colónias se mantivessem inacessíveis).
Como Centro de Gravidade tratava-se de manter do lado
Francês a simpatia das populações.
Os Franceses sabiam que era indispensável,
à conduta das suas operações,
o apoio (ou pelo menos a não hostilização)
do povo Português, para manter as linhas de
comunicações, de reabastecimento e inclusive
a recolha de informações. Aliás
este sentimento é bem demonstrado nas proclamações
aos habitantes de Lisboa feitas por Junot aquando
da sua chegada "... Eu venho salvar o vosso porto
e o vosso Príncipe da influência maligna
da Inglaterra. (...) Moradores de Lisboa vivei socegados
em vossas cazas; não receis cousa alguma do
meu exercito nem de mim; os nossos inimigos e os malvados
somente devem temer-nos ." A 16 de Agosto quando
Junot se teve de ausentar de Lisboa e dirigir-se com
o grosso do seu Exército para Norte, foi nestes
moldes que se dirigiu ao habitantes de Lisboa. "Eu
me separo de vós por tres ou quatro dias. Eu
vou visitar o meu Exercito e se for necessario dar
uma batalha aos Inglezes, e qualquer que seja o sucesso,
eu voltarei para vós. Eu deixo para governar
Lisboa um General, que pela sua doçura e que
pela sua firmeza de caracter soube merecer a amizade
de Portuguezes em cascaes e Oeiras (...) Vós
tendes estado ate agora tranquillos; e do vosso interesse
continuar a sello: Não vos manchais com um
crime horrendo no instante em que a nossa sorte das
armas decidirá sem risco vosso do poder que
vos haja de governar" . Por saberem que a dispersão
das suas forças poder-lhes-ia ser fatal, o
Ponto Decisivo dos franceses era a manutenção
de um dispositivo das suas forças capaz de,
em tempo oportuno, permitir a sua concentração
para combater com um exército invasor que desembarcasse
na costa litoral.
Página
seguinte >>>
|
|
|