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História
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A Batalha do Vimeiro 21-Ago-1808

General Jean Andoche Junot

Quando rebentou as guerras revolucionárias, Junot era um estudante de direito. Já como voluntário foi ferido em 1792 e 1793. É como sargento em Toulon que chama a atenção de Napoleão. Debaixo de fogo, escrevia uma nota ditada por este, quando foram alvejados tão perto que fez saltar areia para cima do papel, ao que Junot terá dito "bem, já não precisarei de areia" (depreende-se para enxaguar a tinta). Foi este sangue frio debaixo de fogo que impressionou Napoleão e o fez nomear Junot seu Ajudante em Itália. Nessas funções foi gravemente ferido na cabeça o que se calhar, em ultima instância, terá provocado o seu desequilíbrio mental. Acompanhou Napoleão no Egipto onde participou em diversas vitórias. Foi preso pela Royal Navy quando regressava a França em Outubro de 1799. É posteriormente libertado e regressa a França. Em 1801 é General de Divisão. Em 1805 é embaixador em Portugal. Comanda o exército que invade Portugal em 1807 mas não consegue capturar a família real. Depois da derrota no Vimeiro e da Convenção de Sintra é repatriado para França. Mais tarde regressa a Espanha e depois a Portugal onde combate na batalha do Buçaco. Em 1812 participa na invasão da Rússia. Regressado a França no inicio do ano de 1813 começa a dar fortes sinais de loucura que o levam ao suicídio, atirando-se de uma janela, em Julho desse mesmo ano. Morreu sem nunca ter recebido o tão ambicionado bastão de Marechal.

O comando de Junot

I - Foram poucas, se é que existiram algumas, as coisas que Junot fez bem. A sua opção de atacar os Ingleses parece-nos acertada pois tratava-se de enfrentá-los enquanto não fossem reforçados por mais unidades inglesas ou ainda recebessem mais portugueses. Apesar de deter a iniciativa, Junot, não a soube aproveitar. Não sendo conhecedor do reforço por parte dos Ingleses pelas brigadas de Acland e Anstruther, os seus cálculos foram sempre numa perspectiva que o favorecia.

II - No entanto Junot gozava de uma vantagem nítida com o seu efectivo de cavalaria que contrastava bastante com o efectivo reduzido da cavalaria inglesa. Foi esta arma que Junot não soube rentabilizar e que arriscaríamos a afirmar que podia ter sido decisiva para uma vitória. É que, para além de prescindir de um reconhecimento pessoal à "linha da frente" e que é um mínimo do que se pode exigir a um comandante(12) , Junot também não deu indicações claras à sua cavalaria para identificar os pontos fracos do dispositivo inglês. Na terminologia doutrinária actual a condução da operação poderia ter sido em "recce-pull", ou seja, as unidades de cavalaria à frente reconheceriam os pontos fracos do dispositivo inimigo e informaria o grosso, que se deslocava atrás, para o ponto fraco onde exercer o esforço do ataque. Aliás, não teria sido preciso muito brio profissional na cavalaria francesa para detectarem que os ingleses não tinham a sua cavalaria a vigiar e que o alerta oportuno da aproximação do inimigo limitava-se a postos avançados das próprias unidades de infantaria.

III - A opção por um ataque principal e um ataque secundário na forma de envolvimento não parece mau, simplesmente ao dividir quase que equitativamente os seus meios pelos seus dois ataques, deixou de dar condições a que existisse um esforço (com fortes probabilidades de sucesso) e um ataque secundário. Só mesmo a presença dos Generais comandantes de divisão no Vimeiro deixava transparecer que aí era o esforço. Por outro lado ao deixar para o ataque secundário duas brigadas de divisões diferentes sem um comandante único, separadas entre si, no espaço e no tempo, era comprometer seriamente um ataque coordenado que deveria ser bem coordenado.


General Arthur Wellesley

É considerado um dos melhores generais britânicos de sempre. A sua história no período da Guerra Peninsular confunde-se com a própria história do envolvimento do exército britânico na Península. Nasceu em 1769 e foi educado numa academia militar francesa. Quando foi nomeado para vir para Portugal tinha 39 anos e era Tenente General. Possuía já uma carreia distinta em diversos teatros de operações, não só na Índia como na Europa. Criticado muitas vezes pela sua natureza defensiva nas batalhas, a verdade é que em Portugal, durante o ano de 1808, venceu Delaborde, numa operação ofensiva, e derrotou, Junot, numa dinâmica operação defensiva. Acabou por sair ileso da comissão de inquérito a propósito da Convenção de Sintra. Depois da morte do general Moore na Corunha, é nomeado comandante das forças na Península e combaterá os franceses até ao ano de 1814 já em terras francesas. Em Portugal deve-se-lhe as Linhas de Torres verdadeira muralha que impediu Massena de reconquistar Lisboa.

O Comando de Wellesley

I - Desde que desembarcou em Portugal, Wellesley sabia que o espirito ofensivo, materializado na iniciativa, tinha que estar sempre do seu lado. Como já vimos anteriormente isso não aconteceu somente porque Sir Harry Burrard assim não o quis. A batalha do Vimeiro não é uma operação defensiva de Wellesley, trata-se de uma operação de protecção a um desembarque e o dispositivo adoptado era para cumprir essa missão. Julgamos não ser importante questionar se um outro dispositivo não teria sido melhor. O que é importante destacar é a rápida análise da inutilidade desse dispositivo e uma capacidade extraordinária de o alterar a tempo de interferir, positivamente, no desenrolar da batalha. É certo que a decisão é de Wellesley, mas muito mérito deve ser dado também aos seus comandantes de brigada que, por iniciativa própria, demonstraram agilidade mental de prever as acções do inimigo e de agir em conformidade. O que se passou com as unidades de Acland e Anstruther para fazer frente à iniciativa de Kellermann, é um caso bem feliz do que cada vez mais se pretende nos exércitos actuais: que o comandante seja claro na sua intenção objectivando com clareza a finalidade da operação para que os seus comandantes subordinados, na ausência de ordens e face a alterações do contexto do combate, ajam para a finalidade ultima da operação.

II - Uso inteligente da formação em linha e do terreno. A organização das unidades de infantaria inglesa, em linha, por oposição à formação em coluna das francesas revelou-se uma pedra chave não só no Vimeiro como também noutras batalhas peninsulares. A questão abordada de uma forma simples pode ser apresentada da seguinte maneira: a coluna é essencialmente uma formação ofensiva cuja característica é a velocidade, o imenso efeito moral de quem está no seu interior e o efeito aterrador de quem a vê aproximar. No entanto peca pela falta de poder de fogo. Por outro lado, a linha, é essencialmente uma formação defensiva que tem todo o seu valor no potencial de fogo que consegue debitar. A própria extensão da linha pode permitir que as suas extremidades façam fogo de flanco sobre a coluna, ou seja, uma combinação fatal. Numa situação normal o ratio de armas a fazer fogo é de 900 na linha contra 200 na coluna.
A combinação da formação em linha com o uso adequado do terreno potencía ainda mais esta formação. Ao manter fora das vistas do inimigo, em contra-encosta, as linhas principais de atirados e destacando para a frente uma linha de skirmishers induz-se o inimigo em erro convidando-o a aproximar-se a uma distância que quando deparado com a realidade já está num ponto de não retorno. O efeito do fogo em massa é então devastador.

Os Portugueses

Tal como já referido no artigo sobre o Combate de Roliça, o exército português estava longe de constituir um aliado credível e com quem se podia contar no momentos difíceis do combate(13) . Tanto em Roliça como no Vimeiro a infantaria portuguesa não chegou a entrar em combate, somente a cavalaria o fez. Se no combate de Roliça podia haver duvidas no desempenho da cavalaria portuguesa, o mesmo não acontece na batalha do Vimeiro. Aqui todas os relatos dão conta de que a maioria dos cavaleiros portugueses evitaram a carga sobre os granadeiros de Kellerman em retirada. O General Beresford com a sua capacidade de organização e acção disciplinadora, juntamente com o enquadramento de oficiais ingleses e a progressiva determinação e confiança dos soldados portugueses faria do exército português uma força militar credível já no ano de 1810.

Sobre a Convenção de Sintra

Com a Convenção de Sintra materializou-se a expulsão dos Franceses de Portugal, ou seja, o end-state da operação, no que a Portugal dizia respeito, estava alcançado. Para tal tinha chegado um combate em Roliça e uma Batalha no Vimeiro, para além do poder de dissuasão dos numerosos reforços já a rondar a costa portuguesa. É certo que se a Convenção de Sintra poupou os efectivos e equipamentos franceses a verdade é que o mesmo se passou com os Ingleses. Permitiu também, desde logo, o uso de Portugal como a testa de praia para os desembarques na península. Não se pretende comentar os artigos da Convenção, que depois de lidos, faz questionar, quem eventualmente venceu a batalha(14) . O que julgamos positivo na Convenção de Sintra, numa perspectiva desta campanha como um todo, é que o end-state para Portugal foi alcançado sem que tivesse sido necessário a destruição do exército inimigo (e consequentemente a destruição parcial do exército anglo-luso) mas sim pela perda da vontade de combater dos franceses, ou pelo menos do(s) seu(s) General(is).
- Se a não aceitação das condições dos franceses acarretaria um prolongamento da campanha com todos os custos inerentes para ambos os lados;
- Se a eventual evacuação do exército francês, por terra, para Espanha iria acabar por engrossar - no imediato - o exército que se pretendia combater num futuro próximo;
- Se houvesse uma forma rápida de os retirar de Portugal impedindo, ou pelo menos atrasando, um novo emprego militar no teatro de operações da península;
Então, porque não levá-los, por mar, para França?

Notas:

1 - Cesar, Victoriano, Estudos de História Militar, Typ da Cooperativa Militar, Lisboa, 1903, pg 109
2 - Ver artigo "O combate de Roliça"
3 - Cesar, op cit, pg 112
4 - Foy, Maximilian, Junot's Invasion of Portugal 1807-1808,Worley Publications, 2000, pg 167
5 - Foy, op cit, pg 168
6 - Oman, Sir Charles, A History of the Peninsular War, Volume I, Greenhill Books, edição 1995, pp 253
7 - Segundo Norbert Landsheit, são palavras proferidas pelo general Fane in, Fletcher, Ian, Voices from the Peninsula, Greenhill Books, Londres, 2001, pg 24
8 - ibid. pp 24
9 - Sir Harry Burrard chega ao campo de batalha a meio do combate mas tem o bom senso de declinar em Wellesley a continuação do mesmo, deixando para o fim da batalha a transferência de comando.
10 - Continha 22 artigos dos quais é interessante salientar o artigo Segundo que dizia que o exército francês retirava-se com armas e bagagens, sem ser considerado prisioneiro de Guerra, e tendo a liberdade de combater, logo que chegasse a França.
11 - General Wellesley, General Sir Harry Burrard e o General Sir Hew Dalrymple que tinha chegado na manhã do dia 22 de Agosto e foi quem acabou por determinar as intenções britânicas.
12 - Existem muitas linhas escritas sobre o estado de saúde mental de Junot aquando da batalha do Vimeiro. O próprio General Thiébault, chefe do estado-maior de Junot, admitiu que haveria já sinais de alienação mental.
13 - A Ordem de Batalha do exército Português na batalha do Vimeiro é sensivelmente a mesma que em Roliça. Ver artigo "O Combate de Roliça"
14 - Poder-se-á afirmar que se os ingleses ganharam no Vimeiro os franceses ganharam nas negociações que culminaram com a convenção.

 



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