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História
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A Batalha do Vimeiro 21-Ago-1808

A BATALHA

Batalha do Vimeiro

AJUSTAR O DISPOSITIVO

Às 7 da manhã o exército francês estava reunido a poucos quilómetros dos postos avançados ingleses. Estes não os viam, nem tinham conhecimento deste movimento e concentração dos franceses(5) . Às 8 horas da manhã os Ingleses vêem as primeiras patrulhas da cavalaria francesa que, no reconhecimento inicial, seguem todas as direcções. É às 10 horas que as colunas de Infantaria francesa se põem novamente em marcha tomando as suas posições a coberto das vistas dos Ingleses. Na frente do dispositivo estava a divisão do General Delaborde com as brigadas contíguas e em coluna, à direita a 1ª brigada, do General Brenier, e na esquerda, a 2ª brigada, do General Thómieres. À retaguarda desta divisão seguia a do General Loison com o mesmo dispositivo: na direita a brigada do General Solignac e na esquerda a brigada do General Charlot. Na retaguarda, sob o comando do General Kellerman, vinham dois regimentos de granadeiros que constituíam a reserva. A cavalaria vinha dividida em dois corpos, um a flanquear a direita da brigada de Brenier, ou seja, a direita do dispositivo, e um outro que marchava junto à reserva de Kellerman.

Junot decide efectuar o ataque principal no centro do dispositivo inglês e um ataque secundário no flanco nordeste dos Ingleses. A opção de Junot por exercer o esforço no centro do dispositivo inglês só pode ser resultado de um reconhecimento inadequado - superficial, como refere Charles Oman(6) - e de um desaproveitamento da sua cavalaria. Com esta poderia ter tentado identificar os pontos fracos da posição inimiga.
Wellesley é então confrontado com o facto das forças francesas terem optado por um envolvimento segundo um eixo que não tinha sido convenientemente salvaguardado. Impunha-se um reajuste do dispositivo o mais rápido possível sob pena de pôr em risco toda a posição.
Manteve a Brigada de Hill (1ª) no seu lado direito e deu ordem para que as brigadas de Fergusson (2ª), Nightingale (3ª), Bowes (4ª) e Acland (8ª) atravessassem a ribeira de Alcobrichel, entre Vimeiro e Maceira, e viessem pela estrada de Fonte de Lima para tomar uma nova posição.
As brigadas de Fergusson e Nightingale desenvolveram-se ficando lado a lado entre a ribeira de Toledo, à direita e a ribeira de Maceira à esquerda, formado praticamente um angulo recto com o dispositivo das brigadas de Fane e Anstruther. Por sua vez a brigada de Crawford foi apoiar as tropas portuguesas que se deslocavam para a região de Marquiteira para proteger o flanco esquerdo e, ao mesmo tempo a retaguarda da posição.

Fotografia 3 - Fotografia tirada no inicio do século XX e publicada na Revista Militar de Agosto de 1908 (Nº 8, Ano LX) aquando das comemorações do Centenário da "Guerra da Península". A elevação é a povoação e cabeço do Vimeiro, vistos de oeste para este. Fotografia 4 - Fotografia contemporânea da mesma perspectiva da fotografia 3 mas de uma cota mais elevada.

O ATAQUE FRANCÊS

O ataque principal ao centro do dispositivo é feito pela brigada de Thomières enquanto a brigada de Brenier, da mesma divisão de Delaborde, é enviada para envolver a posição e atacar o flanco nordeste. O Comandante da divisão, General Delaborde, fica com Thomières. Junot, apercebendo-se das movimentações dos ingleses no sentido de reforçarem o flanco nordeste decide reforçar a brigada de Brenier. Fá-lo dando indicações à brigada de Solignac para reforçar essa brigada, enquanto a de Charlot reunir-se-ia à de Thomières, ou seja, as divisões são partidas ao meio e as suas brigadas vão combater separas entre si por alguns quilómetros. Brenier ficava com um total de sete batalhões para o ataque secundário enquanto Junot ficava com oito batalhões de Infantaria e três regimentos de cavalaria para exercer o esforço no centro do dispositivo. Esta situação não pareceu preocupar Junot nem os seus comandantes de divisão que continuaram a sua progressão em formaçã de coluna.

ESQUEMA 1 - Visão em perspectiva da posição Inglesa apoiada no cabeço imediatamente a sul da povoação do Vimeiro. A visão em perspectiva é da carta militar 1/25.000 da região de Lisboa m888. Estão graficados os quatro assaltos conduzidos pelos franceses. (imagem obtida com o programa PCMAP/32 versão 4.0 e gentilmente cedida pelo Instituto Geográfico do Exército).

O ATAQUE PRINCIPAL (esquema 1)

Cerca de 2200 franceses comandados por Delaborde lançaram o primeiro assalto. Primeiro foram recebidos com fogo dos skirmishers para depois, e já quando se encontravam perto dos Ingleses, serem recebidos com tamanho fogo cerrado de mosquete e peça que não aguentaram. Abandonando a boa protecção que as suas posições lhes ofereciam, alguns regimentos de Fane e Anthruster lançaram violentos assaltos de baioneta que obrigaram, numa primeira fase, as colunas de Charlot a fugirem e depois, a serem copiadas, na mesma atitude, pelas colunas de Thòmieres.


Fotografia 5 - Fotografia do Azulejo existente na praça da Vila de Vimeiro alusivo ao combate, na povoação e junto à igreja, entre o 1º regimento de granadeiros e o 43º regimento de Anstruther.
Derrotado o primeiro assalto, Junot decide investir num segundo assalto às mesmas posições no planalto do Vimeiro, mas desta vez pelo 2º regimento de Granadeiros. Comandados pelo Coronel Saint-Clair lançaram-se pelos mesmos trilhos do primeiro assalto e foram reforçados pelos homens de Thomières que entretanto voltaram a reagrupar-se. Uma vez mais a violência do fogo de mosquete e de artilharia foi tal que a determinação dos franceses não foi capaz de superar mais do que metade da encosta. Junot não desistiu e lançou a sua ultima reserva: o 1º regimento de Granadeiros. Comandados por Kellerman, este decidiu não seguir as pegadas dos anteriores assaltos optando por uma cumeada mais baixa e a este que poderia permitir flanquear as brigadas inglesas e chegar à povoação do Vimeiro. Aparentemente não tendo ninguém na sua frente, os granadeiros de Kellermann avançaram até à Igreja da povoação. Mas para desastre dos franceses, Anstruther tinha observado o movimento das tropas de Kellerman e fez deslocar, por sua iniciativa e a tempo, o seu 43º regimento que fustigou os flancos dos franceses (fotografia 5). Também Acland, ao ver o movimento de Kellermann decide, também por sua iniciativa, fazer deslocar forças suas para bater pelo fogo esta investida já no interior da povoação. A determinação e coragem dos granadeiros franceses levam-nos ainda mais para diante, mas a concentração do fogo, consequência do movimento atempado dos ingleses por previsão dos seus comandantes, é de tal forma violenta que os granadeiros retiram.

"Agora, vigésimo! Agora precisamos de vós. A eles, meus rapazes, e deixem-nos ver de que é que vós sois feitos" (7). Tinha chegado a altura da cavalaria inglesa explorar o sucesso. Comandados pelo Tenente Coronel Taylor, a cavalaria aliada, 240 ingleses e 260 portugueses, com ingleses ao centro e portugueses nos lados carregam sobre os franceses em retirada. Aos tiros disciplinados dos franceses em retirada a cavalaria portuguesa vacila e retira "para não mais ser vista até ao fim da batalha"(8) . Por seu lado, a cavalaria inglesa vai, literalmente, longe demais. Penetrou nas posições francesas mas barrada por um obstáculo perde o ímpeto e para além de começar a ser batida pelo fogo da infantaria francesa, dois regimentos de cavalaria, ainda frescos carregam sobre eles. Agora, o combate era pelo regresso às próprias linhas amigas. Com os cavalos exaustos e sob fogo cerrado muitos não o vão conseguir e os que conseguem bem o devem à intervenção do seus camaradas do 50º regimento que, avançando de baioneta calada obrigaram os franceses a recuar. O 20º de dragões ligeiros pagou com a vida do seu comandante e de umas dezenas de mortos e feridos, o seu baptismo de fogo na guerra peninsular.
Junot tinha-se empenhado decisivamente no ataque ao centro do dispositivo inglês. Empenhadas todas as suas unidades e também a reserva, restava-lhe a esperança de um ataque secundário bem sucedido para ainda poder ganhar o dia.

O ATAQUE SECUNDÁRIO (mapa 2)


MAPA 2 - Pormenor de um azulejo existente na praça da vila do Vimeiro onde se pode observar o ataque secundário francês na região de Ventosa. A estrela 4º significa a investida do General Solignac e o 5º a investida de Brenier. A norte, no croqui, e junto à povoação de Marquiteira deslocava-se a brigada de Craufurd juntamente com a infantaria portuguesa comandada pelo Tenente-Coronel Trant.
Para atacar o flanco nordeste Brenier tinha que alcançar a região de Ventosa. Com a ideia de escolher o melhor itinerário, opta por um percurso mais longo o que faz com que Solignac, que obedecendo a ordens seguia atrás para o reforçar, vai chegar - para seu espanto - a Ventosa antes de Brenier. Quando aí chega depara com uma linha de infantaria inglesa no topo da colina. O que Solignac, e muitos outros generais franceses iriam no futuro experimentar, é que nem sempre o que os olhos vêem é o que existe. Do outro lado, em contra-encosta, estavam as brigadas de Ferguson, Bowe e Nightingale. Quando a realidade se depara aos seus olhos, já era tarde demais para retirar, não restava senão combater o melhor possível. Solignac é gravemente ferido e os franceses acabam por quebrar e retirar. Brenier que entretanto se aproxima vindo de nordeste ataca as forças inglesas que não indo em perseguição das forças de Solignac, guardavam três peças de artilharia e aproveitavam para recuperar o fôlego. Lançam-se no assalto e ainda chegam a recuperar as peças de artilharia, mas os ingleses reorganizam-se e, para azar dos franceses, são ainda reforçados. O destino das tropas de Brenier será o mesmo: quebrar e retirar.



Monumento de evocação à Batalha do Vimeiro
O FIM

Junot tinha consumido as suas tropas. A batalha do Vimeiro estava terminada e constituía uma vitória inequívoca dos Ingleses e principalmente do seu comandante, General Wellesley(9) . Junot retirava para Torres Vedras deixando Delaborde e Thiébault com a missão de reorganizar as unidades dispersas enquanto Margaron, com a cavalaria, cobria a retirada.
Com a derrota dos franceses no campo de batalha do Vimeiro iniciou-se um processo de negociações que viria a ser conhecido pela Convenção de Sintra. Esta convenção, assinada a 30 de Agosto de 1808 (10) , permitiu a livre evacuação e repatriação de cerca de 26.000 militares franceses com toda a sua bagagem e pilhagem em navios ingleses. O escândalo foi tanto que os três generais britânicos(11) tiveram que justificar todo o processo em tribunal. Para os portugueses, mantidos sempre à margem das negociações, foi não só uma humilhação e sinal de desprezo pelos seus aliados ingleses, como um deliberado roubo pelos franceses.
Muitos pormenores ficaram por descrever os quais podem ser lidos em inúmeras obras que existem sobre as campanhas napoleónicas em Portugal, no caso concreto do presente artigo, as primeiras invasões francesas. Mais do que descrever uma batalha, é interessante reflectirmos sobre algumas questões que se prendem não só com as decisões dos comandantes mas com toda a filosofia do "Comando e Controlo" de operações militares.


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