A BATALHA

Batalha do Vimeiro
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AJUSTAR
O DISPOSITIVO
Às 7 da manhã
o exército francês estava reunido
a poucos quilómetros dos postos avançados
ingleses. Estes não os viam, nem tinham
conhecimento deste movimento e concentração
dos franceses(5) . Às 8 horas da manhã
os Ingleses vêem as primeiras patrulhas
da cavalaria francesa que, no reconhecimento
inicial, seguem todas as direcções.
É às 10 horas que as colunas de
Infantaria francesa se põem novamente
em marcha tomando as suas posições
a coberto das vistas dos Ingleses. Na frente
do dispositivo estava a divisão do General
Delaborde com as brigadas contíguas e
em coluna, à direita a 1ª brigada,
do General Brenier, e na esquerda, a 2ª
brigada, do General Thómieres. À
retaguarda desta divisão seguia a do
General Loison com o mesmo dispositivo: na direita
a brigada do General Solignac e na esquerda
a brigada do General Charlot. Na retaguarda,
sob o comando do General Kellerman, vinham dois
regimentos de granadeiros que constituíam
a reserva. A cavalaria vinha dividida em dois
corpos, um a flanquear a direita da brigada
de Brenier, ou seja, a direita do dispositivo,
e um outro que marchava junto à reserva
de Kellerman.
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Junot decide efectuar
o ataque principal no centro do dispositivo inglês
e um ataque secundário no flanco nordeste dos
Ingleses. A opção de Junot por exercer
o esforço no centro do dispositivo inglês
só pode ser resultado de um reconhecimento
inadequado - superficial, como refere Charles Oman(6)
- e de um desaproveitamento da sua cavalaria. Com
esta poderia ter tentado identificar os pontos fracos
da posição inimiga.
Wellesley é então confrontado com o
facto das forças francesas terem optado por
um envolvimento segundo um eixo que não tinha
sido convenientemente salvaguardado. Impunha-se um
reajuste do dispositivo o mais rápido possível
sob pena de pôr em risco toda a posição.
Manteve a Brigada de Hill (1ª) no seu lado direito
e deu ordem para que as brigadas de Fergusson (2ª),
Nightingale (3ª), Bowes (4ª) e Acland (8ª)
atravessassem a ribeira de Alcobrichel, entre Vimeiro
e Maceira, e viessem pela estrada de Fonte de Lima
para tomar uma nova posição.
As brigadas de Fergusson e Nightingale desenvolveram-se
ficando lado a lado entre a ribeira de Toledo, à
direita e a ribeira de Maceira à esquerda,
formado praticamente um angulo recto com o dispositivo
das brigadas de Fane e Anstruther. Por sua vez a brigada
de Crawford foi apoiar as tropas portuguesas que se
deslocavam para a região de Marquiteira para
proteger o flanco esquerdo e, ao mesmo tempo a retaguarda
da posição.
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Fotografia 3
- Fotografia tirada no inicio do século
XX e publicada na Revista Militar de Agosto de
1908 (Nº 8, Ano LX) aquando das comemorações
do Centenário da "Guerra da Península".
A elevação é a povoação
e cabeço do Vimeiro, vistos de oeste para
este. |
Fotografia 4
- Fotografia contemporânea da mesma perspectiva
da fotografia 3 mas de uma cota mais elevada.
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O ATAQUE FRANCÊS
O ataque principal ao centro do dispositivo
é feito pela brigada de Thomières enquanto
a brigada de Brenier, da mesma divisão de Delaborde,
é enviada para envolver a posição
e atacar o flanco nordeste. O Comandante da divisão,
General Delaborde, fica com Thomières. Junot,
apercebendo-se das movimentações dos
ingleses no sentido de reforçarem o flanco
nordeste decide reforçar a brigada de Brenier.
Fá-lo dando indicações à
brigada de Solignac para reforçar essa brigada,
enquanto a de Charlot reunir-se-ia à de Thomières,
ou seja, as divisões são partidas ao
meio e as suas brigadas vão combater separas
entre si por alguns quilómetros. Brenier ficava
com um total de sete batalhões para o ataque
secundário enquanto Junot ficava com oito batalhões
de Infantaria e três regimentos de cavalaria
para exercer o esforço no centro do dispositivo.
Esta situação não pareceu preocupar
Junot nem os seus comandantes de divisão que
continuaram a sua progressão em formaçã
de coluna.
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ESQUEMA 1 - Visão
em perspectiva da posição Inglesa
apoiada no cabeço imediatamente a sul da
povoação do Vimeiro. A visão
em perspectiva é da carta militar 1/25.000
da região de Lisboa m888. Estão
graficados os quatro assaltos conduzidos pelos
franceses. (imagem obtida com o programa PCMAP/32
versão 4.0 e gentilmente cedida pelo Instituto
Geográfico do Exército). |
O ATAQUE PRINCIPAL
(esquema 1)
Cerca de 2200 franceses
comandados por Delaborde lançaram o primeiro
assalto. Primeiro foram recebidos com fogo dos skirmishers
para depois, e já quando se encontravam perto
dos Ingleses, serem recebidos com tamanho fogo cerrado
de mosquete e peça que não aguentaram.
Abandonando a boa protecção que as suas
posições lhes ofereciam, alguns regimentos
de Fane e Anthruster lançaram violentos assaltos
de baioneta que obrigaram, numa primeira fase, as
colunas de Charlot a fugirem e depois, a serem copiadas,
na mesma atitude, pelas colunas de Thòmieres.

Fotografia 5 - Fotografia
do Azulejo existente na praça da Vila de
Vimeiro alusivo ao combate, na povoação
e junto à igreja, entre o 1º regimento
de granadeiros e o 43º regimento de Anstruther.
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Derrotado o primeiro
assalto, Junot decide investir num segundo assalto
às mesmas posições no planalto
do Vimeiro, mas desta vez pelo 2º regimento
de Granadeiros. Comandados pelo Coronel Saint-Clair
lançaram-se pelos mesmos trilhos do primeiro
assalto e foram reforçados pelos homens
de Thomières que entretanto voltaram a
reagrupar-se. Uma vez mais a violência do
fogo de mosquete e de artilharia foi tal que a
determinação dos franceses não
foi capaz de superar mais do que metade da encosta.
Junot não desistiu e lançou a sua
ultima reserva: o 1º regimento de Granadeiros.
Comandados por Kellerman, este decidiu não
seguir as pegadas dos anteriores assaltos optando
por uma cumeada mais baixa e a este que poderia
permitir flanquear as brigadas inglesas e chegar
à povoação do Vimeiro. Aparentemente
não tendo ninguém na sua frente,
os granadeiros de Kellermann avançaram
até à Igreja da povoação.
Mas para desastre dos franceses, Anstruther tinha
observado o movimento das tropas de Kellerman
e fez deslocar, por sua iniciativa e a tempo,
o seu 43º regimento que fustigou os flancos
dos franceses (fotografia 5). Também Acland,
ao ver o movimento de Kellermann decide, também
por sua iniciativa, fazer deslocar forças
suas para bater pelo fogo esta investida já
no interior da povoação. A determinação
e coragem dos granadeiros franceses levam-nos
ainda mais para diante, mas a concentração
do fogo, consequência do movimento atempado
dos ingleses por previsão dos seus comandantes,
é de tal forma violenta que os granadeiros
retiram. |
"Agora, vigésimo!
Agora precisamos de vós. A eles, meus rapazes,
e deixem-nos ver de que é que vós sois
feitos" (7). Tinha chegado a altura da cavalaria
inglesa explorar o sucesso. Comandados pelo Tenente
Coronel Taylor, a cavalaria aliada, 240 ingleses e
260 portugueses, com ingleses ao centro e portugueses
nos lados carregam sobre os franceses em retirada.
Aos tiros disciplinados dos franceses em retirada
a cavalaria portuguesa vacila e retira "para
não mais ser vista até ao fim da batalha"(8)
. Por seu lado, a cavalaria inglesa vai, literalmente,
longe demais. Penetrou nas posições
francesas mas barrada por um obstáculo perde
o ímpeto e para além de começar
a ser batida pelo fogo da infantaria francesa, dois
regimentos de cavalaria, ainda frescos carregam sobre
eles. Agora, o combate era pelo regresso às
próprias linhas amigas. Com os cavalos exaustos
e sob fogo cerrado muitos não o vão
conseguir e os que conseguem bem o devem à
intervenção do seus camaradas do 50º
regimento que, avançando de baioneta calada
obrigaram os franceses a recuar. O 20º de dragões
ligeiros pagou com a vida do seu comandante e de umas
dezenas de mortos e feridos, o seu baptismo de fogo
na guerra peninsular.
Junot tinha-se empenhado decisivamente no ataque ao
centro do dispositivo inglês. Empenhadas todas
as suas unidades e também a reserva, restava-lhe
a esperança de um ataque secundário
bem sucedido para ainda poder ganhar o dia.
O ATAQUE SECUNDÁRIO
(mapa 2)

MAPA 2 - Pormenor de um azulejo existente
na praça da vila do Vimeiro onde se pode
observar o ataque secundário francês
na região de Ventosa. A estrela 4º
significa a investida do General Solignac e o
5º a investida de Brenier. A norte, no croqui,
e junto à povoação de Marquiteira
deslocava-se a brigada de Craufurd juntamente
com a infantaria portuguesa comandada pelo Tenente-Coronel
Trant.
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Para atacar o flanco
nordeste Brenier tinha que alcançar a região
de Ventosa. Com a ideia de escolher o melhor itinerário,
opta por um percurso mais longo o que faz com
que Solignac, que obedecendo a ordens seguia atrás
para o reforçar, vai chegar - para seu
espanto - a Ventosa antes de Brenier. Quando aí
chega depara com uma linha de infantaria inglesa
no topo da colina. O que Solignac, e muitos outros
generais franceses iriam no futuro experimentar,
é que nem sempre o que os olhos vêem
é o que existe. Do outro lado, em contra-encosta,
estavam as brigadas de Ferguson, Bowe e Nightingale.
Quando a realidade se depara aos seus olhos, já
era tarde demais para retirar, não restava
senão combater o melhor possível.
Solignac é gravemente ferido e os franceses
acabam por quebrar e retirar. Brenier que entretanto
se aproxima vindo de nordeste ataca as forças
inglesas que não indo em perseguição
das forças de Solignac, guardavam três
peças de artilharia e aproveitavam para
recuperar o fôlego. Lançam-se no
assalto e ainda chegam a recuperar as peças
de artilharia, mas os ingleses reorganizam-se
e, para azar dos franceses, são ainda reforçados.
O destino das tropas de Brenier será o
mesmo: quebrar e retirar. |
Monumento de evocação
à Batalha do Vimeiro
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O FIM
Junot tinha consumido as suas
tropas. A batalha do Vimeiro estava terminada
e constituía uma vitória inequívoca
dos Ingleses e principalmente do seu comandante,
General Wellesley(9) . Junot retirava para Torres
Vedras deixando Delaborde e Thiébault
com a missão de reorganizar as unidades
dispersas enquanto Margaron, com a cavalaria,
cobria a retirada.
Com a derrota dos franceses no campo de batalha
do Vimeiro iniciou-se um processo de negociações
que viria a ser conhecido pela Convenção
de Sintra. Esta convenção, assinada
a 30 de Agosto de 1808 (10) , permitiu a livre
evacuação e repatriação
de cerca de 26.000 militares franceses com toda
a sua bagagem e pilhagem em navios ingleses.
O escândalo foi tanto que os três
generais britânicos(11) tiveram que justificar
todo o processo em tribunal. Para os portugueses,
mantidos sempre à margem das negociações,
foi não só uma humilhação
e sinal de desprezo pelos seus aliados ingleses,
como um deliberado roubo pelos franceses.
Muitos pormenores ficaram por descrever os quais
podem ser lidos em inúmeras obras que
existem sobre as campanhas napoleónicas
em Portugal, no caso concreto do presente artigo,
as primeiras invasões francesas. Mais
do que descrever uma batalha, é interessante
reflectirmos sobre algumas questões que
se prendem não só com as decisões
dos comandantes mas com toda a filosofia do
"Comando e Controlo" de operações
militares.
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