Findos estes processos, considerados como
preliminares já que deles nunca resultou a adopção de um
modelo regulamentar, o assunto da conversão das armas de
pederneira em percussão só viria a ser retomado em 1850,
com a nomeação de uma primeira comissão para analisar as
diferentes possibilidades de conversão, tendo aquela
concluído que o sistema francês, inicialmente testado
(1º modelo), revelava-se mais adequado. Porém, como dos
4 000 canos disponíveis para conversão, apenas 9
possuíam a espessura necessária para suportar a abertura
de uma rosca, resultou um novo impasse.
A 9 de Agosto de 1851 foi nomeada uma
nova comissão, encarregue de preparar 12 espingardas
protótipo do sistema que melhor se prestasse ao fim
pretendido.
O novo protótipo de conversão retomou o
processo anteriormente sugerido pelo Capitão Costa
Monteiro, com a aplicação da borracha na qual era
enroscada a chaminé. Impuseram-se porém alguns
refinamentos e critérios de fabrico mais rígidos. Estas
peças – borrachas – não seriam apenas soldadas ao cano,
mas aparafusados no ouvido [Fig. 11]. O ouvido roscado
deveria ser mais estreito, para evitar a perda de gases
e consequente expulsão da borracha. A chaminé seria em
aço e mais fina, de modo a receber a cápsula fulminante
[Fig. 12]. O cão teria um rebaixo mais profundo na
superfície de impacto, de modo a impedir a projecção de
estilhaços de cobre da cápsula fulminante e por fim, no
mecanismo do fecho, a noz seria substituída por uma
outra com o entalhe para a posição de segurança [Fig.
14] de tal modo que, nesta posição, o próprio cão
segurava a cápsula fulminante contra a chaminé, sem a
premir, impedindo que esta se soltasse com os movimentos
do soldado.
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Fig. 11 Representação do quinto modelo de conversão, onde se
pode observar que a chaminé, enroscada na
“borracha”, não está alinhada com a carga de
pólvora no cano. Gravura do século XIX do
“Relatório da Escola Central de Tiro”. |
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Fig. 12 Pormenor da borracha e da chaminé com a
respectiva nomemclatura. Gravura do século XIX,
do “Relatório da Escola Central de Tiro”. |
Os testes efectuados no Castelo de S.
Jorge com estas armas protótipo foram muito
satisfatórios, tanto pela precisão atingida como pela
ausência de falhas de tiro e de acidentes. Faltava agora
restabelecer a confiança nestas armas, pelo que cada uma
delas foi testada individualmente com carga dupla e com
duas balas, uma delas forçada.
Assim, por ofício de 13 de Outubro
de 1851, o Inspector do Arsenal do Exército propôs ao
Ministério da Guerra, que se transformassem por este
sistema (5º modelo), as armas de pederneira existentes
em depósito. Esta proposta, foi aceite com alguma
relutância pois a portaria de 18 de Outubro de 1851,
autoriza esta transformação apenas em pequena escala. Só
pela portaria de 25 de Fevereiro de 1852, viria a ser
dada autorização para a conversão generalizada das armas
de pederneira.
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Fig. 13 Espingarda de Infantaria, convertida
para percussão pelo quinto modelo de
transformação, com a respectiva baioneta de
alvado |
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Fig. 14 Carabina para Caçadores, convertida para
percussão pelo sexto e definitivo modelo de
conversão, com o respectivo sabre baioneta. |
Ainda assim, surgiram alguns problemas na
comunicação de fogo que levou à ocorrência de algumas
falhas de tiro, não muito frequentes, mas suficientes
para que fosse ordenada uma nova modificação na
conversão a efectuar. A chaminé e o respectivo reforço
metálico onde esta estava inserida, passaram a ser
colocados de modo a que a comunicção de fogo entre a
cápsula fulminante e a carga principal se fizesse em
linha recta. Deste modo, chegou-se a um novo e
definitivo sistema de conversão (6º modelo),
estabelecido por ordem de inspecção de 30 de Janeiro de
1855.
Nestas transformações, deu-se
igualmente a máxima importância aos restantes elementos
da arma a converter. Os canos foram rigorosamente
examinados, recalibrados e sujeitos a provas. Todas as
peças dos fechos foram forjadas em matrizes, calibradas
através de escantilhões e temperadas. Na grande maioria
das espingardas convertidas em percussão, as peças que
compõem o mecanismo do fecho, assim como todos os
parafusos de fixação (do cano, do fecho e das
guarnições), possuem o punção AE [Fig. 16], reflexo
deste cuidado posto no fabrico e verificação destas
peças [Fig. 17] e, num sentido mais lato, das novas
concepções de fabrico, implementadas no âmbito da
revolução industrial. Também as cargas e a relação
adarme/vento foram optimizadas para a arma convertida.
No final, cada grupo de 50 espingardas foi
cuidadosamente examinado e verificado por uma comissão
especialmente designada para o efeito, presidida pelo
comandante da repartição.
A espingarda de Infantaria convertida
para percussão, estabelecida como padrão, tinha 1,403 m
de comprimento sem baioneta e 1,829 m com a respectiva
baioneta de alvado e o seu peso é de 4,016 kg sem
baioneta e 4,419 kg com baioneta. O comprimento do cano
é de 0.992 m e o calibre 19,5 mm. Empregava projécteis
de 18 mm de diâmetro e pressupunha um vento de 1.5 mm.
a |
Fig. 15.a - Pistola de cavalaria modelo Indian Patern
convertido para percussão, no Arsenal do
Exército, pelo sexto modelo de transformação.
Todos os componentes desta arma estão marcados
com a punção do Arsenal do Exército –AE– ,
incluindo os parafusos. |
b |
Fig. 15.b - Pormenor da borracha com a punção AE. |
 |
FiFig. 16 - Pormenor do interior do fecho de
uma pistola de cavalaria convertida para
percussão, no Arsenal do Exército, onde se pode
observar todos os componentes do mecanismo e
parafusos marcados com a punção AE. |
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