ARMAS DEFENSIVAS
As armas defensivas que
iremos analisar vão desde a cota de malha, passando
pelo elmo até ao escudo, na, mediada em que as
primeiras se consideravam "traje defensivo",
assim como mais tarde a armadura completa.
Durante a época em apreciação,
que eu achei por bem ser o período intermédio
situado sensivelmente entre 1150 e 1250, onde ainda
havia uma grande diversidade de protecções
para o corpo. Podia-se ver, embora raramente, o vestuário
de pele ou de tecidos impregnados em vinagre e sal,
dobrados diversas vezes, afim de o tornar mais grosso,
era uma espécie de camisa comprida que se chamava
loriga sobre a qual se cravavam ou coziam, pequenas
placas de metal e que tinham diversos nomes, assim na
fig. 5 pode-se ver uma cota escamada e na fig. 6 uma
cota engradada que consistia em faixas que se entrecruzavam,
tendo no centro taxas de cabeça grande, estes
dois modelos tinham o grande inconveniente de se tornarem
extremamente pesados e rígidos o que tirava ao
cavaleiro muita leveza e por sua vez agilidade para
o combate.
Aos poucos este traje foi sendo substituído
pela cota de malha, tendo seguido o exemplo dos muçulmanos,
que consistia num tecido de ferro, à base de
anéis metálicos, que protegiam todo o
corpo excepto a face, assim a cota de malha passou a
fazer parte de indumentária do cavaleiro por
ser mais resistente e leve. Esta foi praticamente utilizada
desde o século XII ao XIV, embora com algumas
adições de placas de metal e outras. Uma
vez mais chamo atenção para o leitor de
que iremos analisar não só o material
usado pelos portugueses, como também o que os
cruzados, das mais variadas nações, utilizaram
aquando da sua passagem por Portugal onde certamente
houve uma permuta de conhecimentos, tácticas
e armamentos.
ARMAS DEFENSIVAS DOS
CRISTÃOS
LORIGA
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A cota de malha mais vulgar era
justa ao corpo prolongando-se sensivelmente até
à altura dos joelhos, era composta de um
almofar (espécie de capuz) e mangas até
aos cotovelos, fig. 7.
Também se podiam ver outros
modelos, nomeadamente o que era composto por diversas
peças, fig. 8 e 9.
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Figura 7
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A malha era constituída
por imensas argolas de ferro forjado, não tinha
avesso nem forro de base. Depois de prontas eram ligadas
umas às outras por meio de uma espécie
de alicate. Um dos métodos para a sua execução
era o seguinte: enrolava-se o fio de ferro à
volta de um mandril, seguidamente eram cortados e martelados
para formarem anéis, fig. 10, depois eram passados
por um calibrador que os curvava com a mesma medida,
fig. 11, após essa operação eram
achatados, furados e entrecruzados (geralmente quatro
malhas); finalmente rebitavam-se, fig. 12 e 13; sendo
o seu efeito final como se pode ver na fig. 14.
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Executavam-se
diversos tipos de cota de malha: as "brancas"
por serem de ferro polido e as "ricas"
que tinham guarnições de esmalte de
cores vivas, podendo até ser enriquecidas
a ouro ou outros metais e pedras preciosas.
Esta arma defensiva era uma protecção
bastante eficaz para aparar as cutiladas, isto
é, de revés, para os golpes de estoque,
de ponta, produzidos por setas, lanças
e virotes, eram extremamente vulneráveis.
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Figura 14
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CAMAL
Espécie de capuz,
independente da cota de malha, encadeado de malha de
ferro que servia para proteger a cabeça, o pescoço
e por vezes os ombros, havia-os de diversos modelos
sendo o mais utilizado o da fig. 15; outros tinham uma
protecção para o queixo e boca, seria
uma espécie de barbote em cota de malha, que
poderia ser amovível, fig. 16 e 17 ou fixa fig.
18, outras eram reforçadas com placas de ferro
na face e nos maxilares, fig. 19.
GAMBÉSON
Este termo deriva do francês
"gambison", tratava-se de uma veste de couro,
que se colocava por debaixo da cota de malha, para proteger
o corpo da incómoda fricção dos
anéis de metal e por sua vez servia para amortecer
os golpes sofridos, fig. 20
COIFA
Espécie de uma rodela
almofadada, de couro, fig. 21 que se colocava debaixo
do camal e que servia para proteger a cabeça
da fricção da malha de ferro e para amortecer
as pancadas que o bacinete aparava. Como era evidente,
quer a cota de malha, quer o bacinete não se
podia colocar directamente sobre o corpo, sem ter algo
por debaixo que amortecesse as pancadas sofridas. Muitas
das vezes, essa protecção almofadada,
era também colocada à volta de toda a
cabeça, conforme nos deixa ver a fig. 22.
PROTECÇÕES
DE CABEÇA
O 'capacete' mais utilizado em Portugal foi o que poderemos
chamar "modelo normando" tendo sido adoptado
desde o fim do século X até sensivelmente
aos finais do século XII.
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Estes cascos primitivamente eram
hemisféricos, fig. 23 e mais tarde pontiagudos
com ou sem viseira fixa, nasal, cobre nuca e protecções
laterais. |
Figura 23
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Provavelmente os compostos eram confeccionados em
ferro, pregueados a cobre quando eram constituídos
por diversas peças ou inteiros quando eram de
uma só peça de cobre ou ferro. Entre a
grande variedade de modelos salientavam-se:
CÓNICO COM NASAL
Modelo, normando, foi provavelmente o mais utilizado
pelos portugueses, fig. 24 e 25.
COM DISPOSITIVO PARA FIXAR O CAMAL
Tinham uma série de pregos com cabeça
larga onde se prendia o camal. Observe o curioso nasal
amovível que se encontra preso ao camal e se
fixa no barbuto, tudo como nos mostram as fig. 26 e
27.
CÓNICO
COM PLACAS DE PROTECÇÃO LATERAL
Conforme a fig. 28
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Figura 28
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CILÍNDRICO
COM VISEIRA FIXA
Conforme a fig. 29.
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Figura 29
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FORMATO
FRÍGIO
Este género de cobertura de cabeça,
fig. 30, foi muito utilizado pelos cruzados ao longo
de todo o século XII.
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Figura 30
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ELMOS
O termo "elmo" por vezes cria certas confusões,
na medida em que é utilizado genericamente para
identificar qualquer tipo de cobertura de cabeça
da idade média, o que não é muito
correcto.
O elmo é uma protecção
de cabeça que começou a ser utilizado
sensivelmente a partir do fim do século XII e
o seu objectivos era defender a cabeça do seu
possuidor dos golpes de espada e das maças de
armas. Este colocava-se por cima do bacinete e era apoiado
nos ombros. A maioria dos elmos era de grandes dimensões
e peso. O cavaleiro só o utilizava em caso extremamente
necessário, por isso geralmente ia pendurado
no arção da sela.
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A forma desta grande cobertura
de cabeça foi-se alterando com o passar dos
tempos, primeiramente a parte superior era plana,
assim como todo o elmo, fig. 31, o que levantava
grandes problemas ao seu utilizador, na medida em
que o nariz não estava defendido e com uma
pancada mais forte estava sujeito a partir. |
Figura 31
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Para colmatar tal inconveniente os elmos
passaram a ser na parte da frente abaulados ou em bico,
assim o nariz estava protegido. Nas fig. 32 e 33 vê-se
um elmo composto de três peças rebitadas,
já com a forma abaulada na parte de frente, com
reforços em cruz no tampo e na parte da frente.
Um pouco mais tarde, o tampo passou
a ser abaulado, devido a oferecer menor resistência
aos golpes sofridos, na fig. 34 observa-se um elmo deste
modelo, onde o tampo, por ser abaulado, já não
necessita do reforço como o anterior, contudo
na parte da frente leva um reforço cruciforme
que tinha como principal objectivo defender o nariz.
A fig. 35 mostra-nos como a cabeça e o nariz
ficam protegidos.
Supõem-se que em Portugal terão
sido muito pouco utilizados por serem muito pesados
e incomodativos, principalmente devido ao calor.
CERVILHEIRA
Defesa da cabeça em malha de ferro, que era
colocada sobre a coifa, fig. 36
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Figura 36
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ESCUDOS
Alem das diversas formas e nomes que
tinham, geralmente eram confeccionados em madeira leve,
forrada a couro cru, sendo reforçados nos bordos
com aros de ferro. Sobre a face exterior ou nos bordos
colocavam-se pregos de cabeça larga para reforço.
Nalguns, ao centro, tinham uma peça saliente,
em bico ou não, geralmente de forma circular
feita de ferro, que se chamava umbo, que servia para
reforçar e proteger a mão ou braço
que segurava o escudo pela parte de trás. Os
mais utilizados, por esta época, entre outros
das mais diversas formas e tamanhos, poderemos salientar:
NORMANDO
Talvez o mais utilizado pelos nossos guerreiros,
eram bastante compridos em forma de amêndoa,
ou seja arredondados na parte de cima, ligeiramente
convexos e terminando em bico na parte de baixo,
o que servia para espetar no chão quando
o cavaleiro combatia apeado. Eram confeccionados
em madeira, forrados de couro e com reforços
de ferro nos bordos. Pintavam-se com uma grande
variedade de motivos, alguns identificativos do
seu possuidor ou do país a que o cavaleiro
pertencia, fig. 37. Por esta época ainda
não se podia falar de heráldica,
conforme nó a conhecemos.
O escudo era sustentado por intermédio
de correias para o braço e outra, com fivelas,
para ser ajustada e presa a tiracolo, como se
pode verificar pelas fig. 38 e 39, a colocação
das correias que se chamavam bracelões
dava a possibilidade de segurar o escudo verticalmente
ou horizontalmente, conforme a ocasião
e o cavaleiro assim o desejasse.
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Figura 37
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RODELA
Pequeno escudo, convexo, geralmente reforçado.
BROQUEL
Pequeno escudo convexo, extremamente leve, geralmente
confeccionado em madeira ou vime, coberto de couro
e reforçado a ferro. Era sustentado por
uma pega de ferro, fig. 40
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Figura 40
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