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História
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O Combate de Roliça 17-Ago-1808

O DIA 17 DE AGOSTO (Mapa 2)



Mapa 2
Tudo leva a crer que Delaborde estava bem ciente da sua missão: trocar espaço por tempo. Hoje chamar-se-ia conduzir uma operação retrógrada. Talvez o género de operação militar mais difícil, pois combate-se em inferioridade de meios e com uma exigência de sincronia de movimentos e "tempos" para desempenho (ou melhor, não empenhamento) com o inimigo. Só mesmo um Comandante experiente e uma tropa disciplinada constituem os ingredientes mínimos para garantir ao algum sucesso a este tipo de operações, tudo o resto são contingências.

O Exército Anglo-luso saiu das Caldas da Rainha na madrugada deste dia e só em Óbidos tomou o seu dispositivo para o combate. A ideia do General Wellesley era atacar frontalmente a posição ao mesmo tempo que efectuava um duplo envolvimento com o objectivo de atacar de flanco, caso as forças estivessem em retirada, ou cortar os itinerários de retirada, caso as unidades se detivessem tempo demais na posição. Assim, adoptou o seguinte dispositivo:

- Do seu lado direito seguiria uma força de 1200 homens de Infantaria Portuguesa com mais 50 da Cavalaria portuguesa. Esta força era comandada pelo Tenente-Coronel Trant. Esta coluna devia seguir pelo Casal da Lamarosa e tinha como tarefa tornear a esquerda dos postos avançados franceses conquistando a região de Zambujeira dos Carros com a finalidade de cair sobre a retaguarda do Inimigo.
- Do seu lado esquerdo seguiria uma força de cerca de 4900 homens de Infantaria, um Grupo de Artilharia Ligeira a 6 peças e 40 soldados de Cavalaria (20 Ingleses e 20 Portugueses). Esta força era comandada pelo Brigadeiro-General Ferguson e tinha como tarefa tornear a direita dos postos avançados inimigos com a finalidade de atacar o flanco direito da Posição Inimiga em Roliça e impedir a junção de forças de Loison (vindos de Este) ás de Delaborde.
- Ao centro seria o seu ataque principal e por isso onde se exerceria o esforço. Esta força tinha 9000 homens organizada em três brigadas: da esquerda para a direita, 6ª Brigada (BrigGen Fane), 3ª Brigada (BrigGen Nightingale) e 1º Brigada (BrigGen Hill).

Os Franceses ocupavam a posição do Moinho de Roliça e Delaborde há-de ter dado a ordem para retirar quando os skirmishers de Fane trocavam fogo com os seus atiradores ao mesmo tempo que Trant e Ferguson apareciam já nos seus flancos. Efectuaram uma retirada por escalões, vindo primeiro o Regimento Nº 70 e depois o 2º Ligeiro, a Artilharia e a Cavalaria estabelecendo-se na posição de Columbeira, cerca de 1600 metros para sul desta primeira posição (Foto 1 e 2).

Fotografia 1 - Pormenor do Azulejo existente no Monumento na ovoação de Roliça alusivo ao Combate do dia 17 de Agosto de 1808. A imagem mostra forças Inglesas que ocupam a 1º Posição Francesa, junto ao Moinho de Roliça, entretanto abandonada pelos Franceses.
Fotografia 2 - Pormenor do Azulejo existente no Monumento na povoação de Roliça alusivo ao Combate do dia 17 de Agosto de 1808. A imagem mostra a imponência da 2ª posição Francesa. É visível o desenho de silhuetas de soldados franceses no topo da Columbeira.

O Ataque á segunda posição (Foto 2 a)

Wellesley manteve o mesmo dispositivo para abordar a segunda posição francesa e não tencionava lançar o assalto frontal sem que os movimentos de flanco de Trant e Ferguson não estivessem também consolidados para o ataque. O ataque ao centro seria realizado pelos Regimentos dianteiros que usariam as linhas de água ou ravinas que conduziam ao topo da linha de alturas da Columbeira (esquema 1). Todas estas ravinas eram de difícil acesso apresentando arbustos e rochas escarpadas que impediam a ligação entre os regimentos. O ataque, foi pois, dessincronizado tendo o 29º regimento precipitado o assalto antes de qualquer outra força estar já empenhada. No fim do próprio dia 17 de Agosto de 1808, do acampamento em Vila Verde, o General Wellesley, numa carta dirigida ao Secretário de Estado o Visconde Castlereagh, descrevia assim o assalto à segunda posição dos Franceses: "a Infantaria Portuguesa foi ordenada a seguir por uma passagem à direita da elevação. As companhias ligeiras da Brigada do Major-General Hill e o 5º Regimento subiram na passagem seguinte á direita; o 29ºRegimento com o apoio do 9ºRegimento sob comando do BrigGen Nightingale por uma terceira passagem e o 45ª e 82ª Regimentos pela esquerda" .

Fotografia 2a - Fotografia tirada no inicio do século XX e publicada na Revista Militar de Agosto de 1908 (Nº 8, Ano LX) aquando das comemorações do Centenário da "Guerra da Península". A elevação da esquerda é a "Columbeira" e seria pela elevação da direita que as tropas Portuguesas deveriam fazer a abordagem à posição Francesa. ESQUEMA 1 - Visão em perspectiva da posição Francesa e das quatro linhas de água pelas quais, as unidades ingleses se lançaram no assalto. A visão em perspectiva é da carta militar 1/25000 da região de Alconbaça e permite-nos ter uma ideia muito fidedigna do que seria o terreno em 1808, porquanto as elevações desta natureza são imutáveis em 200 anos. As povoações, nas suas dimensões e paisagens, e as estradas (nos seus trajectos e tipo de piso, mudaram completamente, mas as elevações e respectivos vales e linhas de água são praticamente imutáveis em 200 anos. (imagem obtida com o programa PCMAP/32 versão 4.0 e gentilmente cedida pelo Instituto Geográfico do Exército).

Delaborde só tinha consigo no topo da Columbeira quatro batalhões de Infantaria, (Foto 3) uma vez que tinha destacado três companhias do Regimento Nº70 para a sua direita na direcção para a qual Ferguson se deslocava. Após duas horas de renhidos combates nos quais os Ingleses lançaram três assaltos e em que o próprio Delaborde foi ferido este deu ordem para retirar. O momento tinha chegado - as tropas de Ferguson começaram aparecer no seu lado direito. Retirou mantendo dois batalhões em contacto com o Inimigo enquanto os outros dois retiravam. Usou o seu Regimento de Chasseurs à Cheval para carregar de forma limitada os atiradores Ingleses que pressionavam a retirada, perdendo o seu Comandante, o Major Weiss. A retirada francesa foi feita em boa ordem e disciplinadamente sendo apenas perturbada cerca de 1500 metros mais à retaguarda dado o facto da passagem ser estreita e se ter gerado alguma confusão entre os Franceses. Desta situação resultou o "abandono" de três peças de artilharia e alguns prisioneiros. Nas palavras do Tenente-Coronel Inglês Wilkie que presenciou esta retirada, "os seus (dos Franceses) movimentos eram realizados de uma forma tão precisa quanto estivessem a realizá-los em parada, retirando por fileiras da direita das companhias, rodando ocasionalmente sobre o seu pivot, fazendo fogo sobre as tropas que os perseguiam, para depois retomarem a sua original ordem de marcha" .
Fotografia 3 - Vista "aérea" do centro do dispositivo da 2ª posição Francesa no cimo da Columbeira. É fácil de constatar que desta posição os Franceses têm uma excelente observação das manobras de aproximação e dispositivo de ataque dos Ingleses.

Durante os combates, Loison estaria em Cercal ainda a cerca de 15 milhas a Este de Roliça e por isso sem oportunidade de participar. É interessante referirmos que o Historiador Sir Charles Oman na sua obra "A history of the Peninsular War" quando descreve o combate de Roliça, e neste, o momento em que a Cavalaria francesa protege a retirada ordenada dos seus homens, afirma que "a cavalaria Portuguesa recusou-se a enfrentar aquela". O General Maximilian Foy afirma que os Chasseurs á cheval carregaram diversas vezes sem que a Cavalaria Portuguesa se atrevesse a empenhar-se . No seu relatório ao fim do dia, Wellesley afirma que o Inimigo conseguiu efectuar a sua retirada em boa ordem devendo-o, em primeiro lugar, á inexistência de Cavalaria e em segundo, á incapacidade de fazer chegar, em tempo, às linhas de água, um numero suficiente de tropas e peças de artilharia para apoiar as unidades que fizeram a primeira investida . Consequentemente a versão da Cavalaria portuguesa não se ter empenhado aparece em quase todas as obras. Por esta razão, não deixa de ser interessante transcrevermos aqui um dos poucos relatos de um Oficial de Cavalaria Inglesa presente no combate de Roliça. "Tinhamos observado o desenrolar da batalha por algum tempo (...) quando se houve um grito " a cavalaria à frente!" subimos uma espécie de caminho escavado até ao topo da elevação que estava à nossa frente. Embora retirados da sua primeira posição, o inimigo, parecia ter reagrupado mostrando uma linha de cavalaria e pessoal apeado prontos para reiniciar o combate. Agora, a nossa cavalaria era de todo incapaz de lidar com a dos franceses; e o facto tornou-se facilmente visível quando as nossas fileiras da frente alcançaram o cume do monte - é que o talude do terreno em frente estava coberto com tamanho numero deles que considera absolutamente ridículo, pela nossa parte, qualquer tentativa de carregar .

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