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Judeus Portugueses em
Marrocos Os Judeus na Expanso
Portuguesa em Marrocos durante o Sculo XVI
Jos da Silva Tavim
O cinquentenrio do dito manuelino e da
expulso dos judeus do Reino, comemorado em Dezembro de 1996,
foi assinalado, alm das cerimnias oficiais, por um modesto
surto de publicaes sobre os judeus portugueses antes e depois
do xodo: uma revista especializada, uma reedio do famoso
estudo de Samuel Schwarz sobre as comunidades criptojudaicas na
Beira Alta e Trs-os-Montes, livros sobre Belmonte, processos
inquisitoriais contra falsos cristos-novos, a vida do capito
Barros Basto (o apstolo dos marranos) e este estudo sobre a
dispora dos judeus de Sefarad. Os destinos dos judeus que
deixaram a Pennsula no fim do sculo XV e no seguinte eram
quatro: Pases Baixos, Norte de Itlia, Imprio Otomano e
Marrocos. Jos da Silva Tavim d-nos um estudo exaustivo sobre a
vida e as actividades dos judeus em Marrocos no sculo XVI.
Em Marrocos, judeus e cristos-novos (muitos dos quais se
reconverteram f antiga) tiveram um papel preponderante nos
contactos comerciais e diplomticos entre portugueses e rabes.
medida que cresceram as comunidades judaicas em Fez, Tnger,
Tetuo e Xexuo, os sefarditas comearam a desempenhar o papel
de comerciantes (em especial de cereais, acar, passas,
tmaras, especiarias, panos e lacre), tradutores, banqueiros e
alfaqueques, ou seja, resgatadores de cativos. As especiarias
reexportadas de Lisboa constituram negcio particularmente
rentvel, como o prprio Rei D. Manuel chegou a explicitar, e os
judeus de Marrocos eram, por excelncia, os intermedirios neste
contrato.
Neste estudo bem documentado, Jos da Silva Tavim descreve a
constituio das comunidades judaicas de Marrocos antes e depois
da chegada dos sefarditas, o que permite um olhar interessante
sobre a diferena entre as comunidades autctones - os
toshavim - e as comunidades novas - os megorashim. Segundo o
autor, a chegada dos judeus portugueses e castelhanos coincidiu
com o momento em que se eclipsava o fulgor dos judeus
autctones, cuja sorte estava intimamente ligada da dinastia
Mernida, que acabou em 1472, um ano aps a conquista de Tnger
por D. Afonso V. Embora continuassem a desempenhar funes nas
cfilas, os toshavim foram ultrapassados, em importncia, pelos
judeus vindos de Sefarad.
O autor - que se apoia em fontes hebraicas, castelhanas,
portuguesas e ainda em tradues rabes - d particular ateno
s estratgias dos judeus de Marrocos em promoverem o incremento
das suas comunidades. Alm de mercadorias, faziam circular
saberes religiosos, e nunca deixaram de ter contactos com os
seus familiares que, aps um baptismo forado, tinham optado por
ficar em Portugal. Curioso o facto de alguns deles, sobretudo
os que estavam empenhados no negcio do resgate de portugueses
presos em Alccer-Quibir e outras localidades de Marrocos, no
hesitarem em abraar a f crist - pelo menos, na aparncia -
para poder viajar para Portugal e negociar directamente o preo
do resgate. O estudo complementado com um extenso anexo de
linhagens familiares e reprodues de documentos da poca.
(Edies APPACDM, 1997, 618 pgs.,
4000$00)
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