|
Histria
Segundo
historiadores, as expedies dos espanhis Vicente Pinzon e de
Diogo Lepe desembarcaram nas costas cearenses antes da viagem de
Cabral ao Brasil. A primeira, num cabo identificado como o da
Ponta Grossa, no Municpio de Icapu, e a segunda, na Barra do
Cear, em Fortaleza. Tais descobrimentos no puderam ser
oficializados devido ao Tratado de Tordesilhas.
A ocupao efetiva do territrio cearense comeou em 1603 com a
bandeira de Pero Coelho de Souza que fundou o Forte de So
Tiago, na Barra do Cear. A posse oficial do Cear deu-se com
Martins Soares Moreno, (o Guerreiro Branco), que aqui chegou em
20 de janeiro de 1612 e fundou o forte de So Sebastio, no
antigo local onde fora erguido o Forte de So Tiago.
Em 1637 chegam os holandeses que domina durante sete anos. Em
1644 foram expulsos pelos ndios com a destruio do Forte de
So Sebastio. Aps cinco anos de sua retirada os holandeses
voltaram ao Cear comandados por Matias Beck, na ocasio em que
ergueram o Forte Shoonemborch, s margens do Rio Paje, de onde
se originou a cidade de Fortaleza. A expluso definitiva dos
holandeses ocorreu em 1654 pelo comandante portugus lvaro de
Azevedo Barreto, que muda o nome do Forte para Nossa Senhora da
Assuno.
A criao do municpio de Fortaleza se deu a 13 de abril de
1726, quando a povoao do Forte foi levada condio de vila.
Somente em 1823 o Imperador Dom Pedro I elevou a vila
categoria de cidade. Durante o Segundo Imprio, o Intendente
Antnio Rodrigues Ferreira e o Arquiteto Adolfo Hebster
realizaram obras urbansticas transformando Fortaleza em uma das
principais cidades do pas. Atualmente, o Estado do Cear
composto por 184 municpios com autonomia
poltico-administrativa.
A histria de Fortaleza se confunde largamente com a histria do
Cear, terra de ndios dos troncos tupi (tabajaras, parangabas,
parnamirins, paupinas, caucaias, potiguaras, paiacus, tapebas) e
j (tremembs, guanacs, jaguaruanas, caninds, genipapos,
baturits, ics, chocs, quiripaus, cariris, jucs, quixels,
inhamuns), os quais, embora dizimados em grande parte, fazem sua
cultura estar presente at a atualidade, em hbitos, comida,
medicina e arte populares, nomes, vocabulrio e etnia.
Foi em 1884 que se fez a abolio da escravatura no Cear,
quatro anos antes do dia 13 de maio da abolio brasileira. Este
fato lhe valeu o nome dado por Jos do Patrocnio de Terra da
Luz, e fez aumentar os nimos de todos os abolicionistas do
Brasil. At Victor Hugo mandou da Frana suas saudaes aos
cearenses.
Provavelmente, foi Amrico Vespcio o primeiro europeu a passar
ao longo da costa cearense, em meados de 1499, quando percorria
todo o litoral norte do Brasil, a partir do cabo Santo agostinho
no Rio Grande do Norte. Dois meses antes de Pedro lvares Cabral
partir de Lisboa, o navegador espanhol Vicente Yaez Pinzn, num
roteiro semelhante a Amrico Vespcio, desembarcou no litoral
cearense, no cabo do Mucuripe em Fortaleza, conforme alguns, ou
no cabo de Ponta Grossa em Aracati, conforme outros.
Na primeira dcada, aps o descobrimento do Brasil, o Cear
estava exposto sorte de piratas franceses, e continuando sob
domnio dos nativos, tupis beira-mar e js ( ou tapuias) no
interior. Em 1534, a coroa portuguesa, no intuito de marcar o
domnio das terras descobertas, implantou o sistema de
capitanias no Brasil, e em 1535 concedeu a Antnio Cardoso de
Barros a Capitania do Siar, que nunca se importou em tomar
posse desse feudo. No entanto, desempenhou na Bahia o cargo de
provedor-mor e, em 1556, ao retornar para Portugal, teve a mal
sorte do navio naufragar nas costas de Alagoas e ser devorado
pelos ndios, junto com o bispo D. Pero Fernandes Sardinha.
O Cear voltou a entrar na histria em 1603, em pleno domnio
espanhol de Felipe III, quando Pero Coelho de Sousa obteve do
governador geral Diogo Botelho a permisso de colonizar o Siar
Grande, partindo do Rio Grande do Norte. Chamou a colnia de
Nova Lusitnia e o arraial projetado na foz do rio Cear de Nova
Lisboa, a atual regio da Barra do Cear. Aventurou-se com seus
soldados e ajuda de ndios tabajaras e potiguaras serto adentro
e enfrentou os franceses liderados por Adolphe Membille que, a
partir do Maranho invadiram o sul. Deteve-os s margens do rio
Parnaba. Por falta de recursos e a primeiraforte seca, de que
se tem notcia nesta regio, retirou-se em 1607 para a Parraba.
No mesmo ano, os padres Francisco Pinto e Lus Filgueiras
iniciaram seus trabalhos de catequese dos ndios na regio, com
relativo sucesso. Na trilha de Pero Coelho de Sousa atravessaram
o territrio de leste a oeste, at chegarem serra da Ibiapaba,
onde fundaram um povoado, logo atacado por ndios tocarijus,
morrendo Francisco Pinto a tacape. Lus Filgueiras, junto com um
punhado de ndios fiis, retirou-se para as proximidades da foz
do rio Cear, fundando outro povoado, o de So Loureno. Temendo
a agresso de ndios, no entanto, em agosto de 1608 se retira,
para retornar a Pernambuco, e mais tarde, aps naufrgio na ilha
de Maraj, foi outro devorado a ser devorado pelos nativos.
Martins Soares Moreno que pode ser considerado o verdadeiro
fundador do Cear. Jovem soldado sob ordens de Pero Coelho de
Sousa, destacou-se pela amizade que matinha com os ndios,
imitando seus costumes. Chegou de volta ao Cear no incio de
1612, em companhia do padre Baltazar Joo Correia e seis
soldados construiu um pequeno forte, chamado de So Sebastio,
novamente, na foz do rio Cear. Aps combates com os franceses
no Maranho e tentativas rechaadas de invaso dos holandeses,
foi a Portugal e obteve em 1619 a carta rgia como senhor da
Capitania do Siar, aonde voltou em 1621, para fixar-se por
vrios anos, consolidando e fazendo florescer sua capitania. Os
amores de Martins Soares Moreno por uma ndia, serviram de tema
para o romance Iracema, de Jos de Alencar, escritor cearense.
Os holandeses de pernambuco, que j tinham colocado sob seu
domnio as regies at o Rio Grande do Norte, em 1637
desembarcaram no Mucuripe (atual regio do porto de Fortaleza),
sediando e tomando o forte na foz do rio Cear, do qual foram
expulsos pelos prprios ndios em 1644. Voltaram em 1649 sob
ordens de Matias Beck. Construram na enseada do Mucuripe, junto
ao rio Paje, uma fortificao, qual deram o nome de
Schoonenborch, em homenagem ao seu governador em Pernambuco. O
forte tornou-se centro de atividades miiltares e dos trabalhos
de explorao das minas de prata na serra de Maranguape.
Em 1654, no entanto, os holandeses foram expulsos do Brasil
pelos portugueses e, assim, tambm entregaram o forte a eles,
mudando o nome, na poca em que o portugus lvaro de Azevedo
Barreto foi capito-mor do Cear, para Fortaleza da Nossa
Senhora da Assuno, dando origem ao futuro nome da capital
cearense. O forte, construdo em madeira, se manteve, de
reforma, at 1812, quando outro, de alvenaria, o substituiu. O
povoado que comeou a florescer em volta, se desenvolveu
gradativamente para a cidade de Fortaleza. A vila de Fortaleza
foi instalada em abril de 1726 e tornou-se cidade, por ordem
rgia, em 17 de maro de 1823, com o nome de Fortaleza de Nova
Bragana.
Nessa primeira fase da histria cearense, o pouco
desenvolvimento regional se manteve na orla martima, baseado no
plantio da cana-de-acar. Porm, informados das excelentes
pastagens e do bom clima dos sertes do Cear, aventureiros de
Pernambuco, Paraba, Rio Grande do Norte e Bahia comearam a
ocupar os espaos, expulsando os ndios ou, quando possvel,
domesticando-os para o trabalho, instalando currais, logo
oficializado como sesmarias.
Assim, a partir da ltima dcada do sculo XVII, durante
aproximadamente quarenta anos, acelerou-se a interiorizao, a
aprtir duma economia essencialmente pecuarista. Os currais se
transformaram gradativamente em fazendas. O boi virou grande
moeda da poca, garantindo a alimentao e subprodutos baseados
no seu couro, como roupa, sapato, chapu, gibo e perneira. Os
rebanhos eram objeto de largo comrcio com Pernambuco, de onde
vinham tecidos, louas, ferramentas e outras utilidaes
indispensveis para a vida nas fazendas.
Mais tarde em vez de transportar o boi pelas suas prprias
pernas, a experincia demonstrou ser mais fcil abat-lo no seu
lugar de origem, salgar-lhe a carne e transport-lo para os
centros de consumo, originando, assim, um intensivo comrcio com
a zona aucareira de Pernambuco. O boi era transportado para as
cidades porturias, abatido, salgado e despachado, transformando
os portos de Aracati, Acara e Camocim nos principais da regio.
Este processo da carne charqueada manteve-se florescente no
Cear, at a grande seca no final do sculo XVIII, quando os
rebanhos se aniquilaram, em consequncia de trs anos de
ausncia de chuvas.
Assim , o Cear, voltado para a pecuria e agricultura de
subsistncia, sem grandes plantaes de acar, ouro e outras
riquezas de seu tempo, atravessou obscuramente a poca da
colonizao, encerrando sua Segunda fase histrica, dependendo
sucessivamente do Maranho, Par e Pernambuco.
Somente em 1799, o rei nomeou o primeiro governador, Bernardo
Manuel de Vasconcelos, que instalou a capital em Aquiraz,
transferida em 1810 para Fortaleza.
Outras vilas, no entanto, comearam a se formar junto s
fazendas e encruzilhadas no interior. Uma das regies mais
prsperas se tornou o Cariri, tendo como centro a vila do Crato,
fundada por uma misso franciscana. Ic prosperou como
entreposto comercial, entre o Cariri e o litoral. Aracati era
porto de mar, por onde se exportava o couro e o charque.
Nesta poca tambm, e na sucesso dos prximos governadores,
iniciou o comrcio direto com a Europa, que antes era canalizado
exclusivamente pelo porto de Recife, fato que intensificou a
exportao de produtos locais. O algodo comeou a fazer parte
da riqueza geral e, at recentemente, de excelente qualidade,
disputava os mercados europeus, tendo sido o principal produto
de exportao do Cear. Com o franqueamento dos portos
brasileiros em 1808, reforaram-se as trocas com o Reino Unido
e, a seguir, com os Estados Unidos e Portugal.
|
|
|