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Com a
proclamao da independncia do Brasil em 7 de setembro de 1822,
D. Pedro tambm estava declarando guerra metrpole lusitana.
Quando o primeiro Governo do Imprio brasileiro se instalou em
outubro de 1822, somente a rea de Minas-Rio-So Paulo era
completamente leal causa brasileira. Logo, no Rio de Janeiro,
a capitulao das tropas portuguesas no constituiu um grande
problema. Ao contrrio de outras regies como Bahia, Maranho,
Par e Cisplatina, onde houve franca resistncia separao
poltica do Brasil.
Estava
claro para o Governo brasileiro, no intuito de estender e
consolidar sua autoridade sobre uma nao espalhada ao longo de
uma extensa fronteira martima, que o elemento mais importante
naquela situao era o Poder Martimo. Ou seja, somente ganhando
o domnio do mar poderia o Governo expulsar os portugueses,
impedir a chegada de reforos de Lisboa, forar o Norte a
submeter-se, e colocar as diversas provncias sob a autoridade
imperial.
Com
uma percepo ntida do problema, era necessrio iniciar o
processo de formao da Marinha Imperial. Essa tarefa caiu sobre
os ombros do novo Ministro da Marinha, o Capito-de-Mar-e-Guerra
Lus da Cunha Moreira. Um dos poucos brasileiros que pertencera
Marinha portuguesa. Sua experincia se fundamenta em sua
participao durante todas as Guerras Napolenicas e seu
importante desempenho na captura anglo-lusitana de Caiena em
1808.
No porto do Rio de Janeiro, encontravam-se alguns navios da
Armada portuguesa que haviam cado sob o controle do Governo
Imperial brasileiro. Eram seis naus, trs fragatas, duas
corvetas e trs brigues, porm, dentre as naus, principal navio
de linha da poca, somente a Martins de Freitas estava em boas
condies. A Prncipe Real estava desarmada e as outras eram
irreparveis. Mas, com a ajuda de uma subscrio nacional, o
apoio dos marinheiros brasileiros e de muitos portugueses, que
se tornaram brasileiros por adoo, criou-se a Esquadra
Nacional, composta pela Nau Pedro I, trs fragatas, duas
corvetas e cinco brigues. O Brasil conseguiu constituir uma
Fora Naval respeitvel, em condies de fazer frente aos
portugueses.
Os
movimentos a favor da libertao poltica do Brasil se
desenrolavam tambm no exterior. Em Londres, encontrava-se o
General Felisberto Caldeira Brant Pontes, aliado do partido
patritico e amigo de Jos Bonifcio. Tornou-se, para o novo
Governo brasileiro, um agente digno de confiana e capaz de
comprar armas, levantar emprstimos, coordenar o recrutamento de
estrangeiros e dar imediato aviso do que ocorresse em Portugal.
O General Caldeira Brant tinha opinies firmes e esclarecidas
sobre os problemas de estratgia militar, sua passagem pela Real
Academia Naval, em Portugal, o levou a adquirir plena
conscincia da importncia do poderio martimo. A necessidade de
uma Armada Imperial que merecesse confiana constituiu um tema
ao qual se reportava com freqncia em suas correspondncias com
o amigo e Ministro Jos Bonifcio.
Foi
convidado pelo Governo brasileiro para comandar a recm-criada
Armada brasileira, o Almirante ingls Lord Alexander Thomas
Cochrane, o qual trouxe consigo mais quatro oficiais britnicos,
dentre os quais Joo Pascoe Grenfell, que se destacou por
prestar imensos e inestimveis servios nossa Ptria.
O Almirante Cochrane assumiu o Comando-em-Chefe da Esquadra
Imperial em 21 de maro de 1823, quando iou, no mastro da Nau
Pedro I, o seu pavilho de 1 Almirante da Marinha do Brasil. A
1 de abril, partiu do Rio de Janeiro com destino a Salvador
levando as ordens do Ministro Cunha Moreira, para que
estabelecesse um rigoroso bloqueio, destruindo e tomando todas
as foras portuguesas que encontrasse, fazendo o maior dano
possvel ao inimigo.
O
incio do bloqueio ao porto de Salvador foi retardado em virtude
da vinda de uma Esquadra portuguesa para reforar a resistncia
do General Madeira de Mello, comandante das tropas portuguesas
estacionadas na Bahia. Ao amanhecer do dia 4 de maio de 1823, as
duas esquadras se avistaram em alto-mar e imediatamente a
capitnia brasileira desfraldou no mastro do traquete o sinal de
Preparar para o combate! Porm, por volta das sete horas da
noite baixara um violento temporal impedindo a continuidade do
combate, fazendo com que os navios portugueses se recolhessem ao
porto de Salvador.
A
manuteno do bloqueio ao porto de Salvador foi uma tarefa rude
e gloriosa porque inmeras embarcaes tentavam forar o
bloqueio e conseqentemente eram aprisionadas. Alm desse
bloqueio, as foras portuguesas sofriam o ataque contnuo dos
patriotas baianos do Recncavo e da ilha de Itaparica na reao
contra a resistncia do General Madeira de Mello. Desesperanado
de qualquer reforo, lutando com dificuldades insuperveis para
abastecimentos, resolveu, a 2 de julho de 1823, abandonar o
Brasil embarcando nos navios portugueses e seguir rumo ptria.
Essa fuga foi a primeira grande demonstrao do valor da Marinha
na independncia.
O
Capito-de-Fragata John Taylor, um dos oficiais ingleses que
acompanharam o Almirante Cochrane, comandando a Fragata Niteri,
recebeu a incumbncia de perseguir at as costas da Europa a
fugitiva, mas, ainda assim, poderosa esquadra portuguesa,
composta de 86 navios, de guerra e onerrios, s regressando a 9
de novembro de 1823.
Depois de sua atuao na Bahia, o Almirante Cochrane, com sua
famosa capitnia, a Nau Pedro I, apresentou-se na barra do porto
de So Lus em 26 de julho de 1823. Fazendo supor que atrs de
si, pronta a apoi-lo, se aproximavam poderosas foras de mar e
terra, conseguiu com que dois dias depois o Maranho j aderisse
oficialmente Independncia e ao Imprio. Aps pacificar e
integrar o Maranho, o Almirante Cochrane enviou Provncia do
Par o Capito-Tenente Joo Pascoe Grenfell, com o Brigue
Maranho, que chegou barra de Belm no dia 10 de agosto. Aps
proceder de modo semelhante ao que se realizou no Maranho, a
Junta Governativa reconheceu, em sesso solene, a Independncia
no dia 15 de agosto.
Os portugueses em Montevidu continuavam a resistir aos
interesses do Governo Imperial brasileiro durante 1823. Sofriam
um rigoroso bloqueio desde 15 de maro, e em meados do ano, as
vitrias da Marinha Imperial no Norte do pas permitiram que
fosse reforada a flotilha brasileira no Sul. O auge da
resistncia portuguesa se deu a 21 de outubro, quando navios
tremulando a bandeira lusitana, sob o comando de D. lvaro da
Costa, saram do porto de Montevidu em ordem de batalha.
Seguiu-se um violento combate onde os brasileiros mantiveram-se
firmes, comandados pelo Capito-de-Mar-e-Guerra Pedro Antnio
Nunes, o que forou os portugueses a abandonarem a luta e
retirarem-se para Montevidu. A futilidade em prosseguir a
resistncia estava clara, por isso foram iniciadas as
negociaes para a rendio portuguesa, o que veio a ocorrer em
18 de novembro de 1823.
No
dia 9 de novembro, o Almirante Cochrane tinha chegado ao Rio de
Janeiro, onde recebeu, entre outras homenagens e honrarias, o
ttulo de Marqus do Maranho. Escreveu seu nome nos livros de
histria como um dos maiores nomes da Ptria, no perodo de
nossa Independncia; um vulto de legenda dentro da Marinha
brasileira, Primeiro Almirante da Imperial Marinha do Brasil,
merece juntar-se aos insignes vultos da nossa Independncia
Poltica.
Sob
seu comando, a Marinha Imperial assegurou o contato entre os
ncleos dispersos da populao, varreu dos mares as esquadras
hostis e, atravs da ligao entre os centros mais
desenvolvidos, propiciou a conjugao dos esforos que nos
conduziram condio de pas livre. E mais importante que as
aes militares propriamente ditas foi a simples presena das
Foras Navais do Imprio nas provncias do Norte. Tanto que por
volta de 1824 todas as tropas portuguesas j se encontravam fora
do territrio brasileiro, e, em 1825, a Independncia do Brasil
foi reconhecida por Portugal e pelo mundo.
A
extraordinria habilidade dos homens que comandaram e tripularam
os navios da Esquadra brasileira fez com que essas aes
iniciais de combate direto fossem seguidas por patrulhas
eficientes que asseguravam o completo domnio do mar para o
Brasil e, com isto, evitavam qualquer possibilidade de reforo
de tropas portuguesas para o territrio brasileiro. O alto grau
de eficincia de nossos navios foi sentido, tambm nas
negociaes de paz, cujas condies preliminares iniciais dos
portugueses eram de que cessssemos nossas aes navais. Ou
seja, a Marinha de Guerra mostrou-se definitivamente como um
fator decisivo para a consolidao da Independncia do Brasil.
FONTES
BIBLIOGRFICAS:
BRASIL,
Servio de Documentao da Marinha. Histria Naval Brasileira.
Terceiro Volume, Tomo I. Rio de Janeiro: SDM, 2002.
CAMINHA, Joo Carlos Gonalves. Formao da Marinha Imperial. In
Navigator, n 10, Dez/1974, pp 5-28.
MAIA, Joo do Prado Maia. A Marinha de Guerra do Brasil na
Colnia e no Imprio. Rio de Janeiro: Livraria Editora Ctedra,
Braslia: Instituto Nacional do Livro, 1975.
VALE, Brian. Estratgia, Poder Martimo e a Criao da Marinha
do Brasil 1822-23. In Navigator, n 4, Dez/1971, pp 5-21.
Servio
de Relaes Pblicas da Marinha
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