|
Os traficos nos Navios Negreiros
A historia do trafico é por
demais complexa e remota, cabendo às mais antigas sociedades das
nações e a todos os povos da alta antigüidade, portanto não
cabendo aos portugueses a sua primazia, que por sua vez são
descendentes de povos que também foram escravizados e dominados
por outros mais poderosos. Em toda a África, desde épocas
imemorais, a escravidão militar ou escravidão histórica a que é
própria de todas as sociedades humanas numa fase de sua evolução
política e que dessa escravidão nasceu a escravidão mercantil,
não só as guerras criaram a escravidão, mas também as religiões
pois as vitorias do islamismo deram como resultado o
estabelecimento do trafico pelo extremo nordeste do continente
africano e como o religioso muçulmanos penetrou até o coração da
África, as legiões do profeta conseguiram manter o monopólio do
comercio do interior e o trafico de escravos destinados a suprir
o sul da Ásia e grande parte do Mediterrâneo Oriental, e esse
trafico ampliou-se para todo o norte da África, e pelo fato este
tráfico teve então dois vastos emontórios que foram o leste pelo
Mar Vermelho e do norte do deserto até o Maghreb e no principio
do século XV e que se puseram os primeiros navegantes cristãos
em relação com os escravos da costa africana do oeste.
E no ano de 1432 o
navegador português Gil Eanes introduziu em Portugal a primeira
leva de negros escravos e a partir desta época os portugueses
passaram a traficar os escravos com as Ilhas das Madeiras e em
Porto-Santo, em seguida levaram os negros para os Açores logo
depois para Cabo-Verde e finalmente para o Brasil.
Em meados do século XVI devido ao estabelecimento do Governo
Geral, o que pesa para Portugal a respeito ao trafico negro,
pesa também sobre a França, Espanha, Holanda e especialmente
sobre a Inglaterra, pois lhe cabe a primazia como vanguardeira
do tráfico e do comércio de escravos autorizado desde o reinado
de Eduardo VI e começando no reinado da Rainha Elizabeth no
século XVI, e John Hawkins foi o primeiro inglês a empreender o
comércio de negros escravos por este motivo recebeu o titulo de
Baronnet, e a historia dos navios negreiros e a mais comovente
epopéia de dor e de desespero da raça negra; homens, mulheres e
crianças eram amontoados nos cubículos monstruosamente escuros
das galeras e dos navios negreiros onde iam se misturando com o
bater das vagas e o ranger dos mastros na vastidão dos mares. A
fome e a sede, de mãos dadas com as doenças que se propagavam
nos ambientes estreitos passavam pelos maribundos e não lhes
ceifavam a vida, concedendo-lhes perdão e misericórdia que não
encontravam aconchego nos corações dos homens, daqueles homens
severos e maus de todas as embarcações e que só se preocupavam
com o negócio rendoso que a escravaria oferecia.
Os negros fortes,
retintos e amontoados também se tornavam feras acuadas onde o
dia se confundia com a noite pois as levas de negros que
embarcavam na costa da África provinham de diferentes pontos e
de diferentes raças e eram misturadas como carga comum nos bojos
dos navios negreiros.
Os gemidos dos moribundos vinham juntar a algaravia das
diferentes línguas dos Mandingas, Felupos, Cabindas, Gêjes,
Fulas, Congos, Bundas, Bantos, Libolos, Caçanjes e tantas outras
tribos, desconhecidas umas das outras, rosnavam como feras
furibundas e dilaceravam-se mutuamente nas mínimas disputas;
quando o navio negreiro sofria qualquer acedio de naus piratas,
os tripulantes que se preparavam para a defesa do navio
negreiro, normalmente recebiam ordens do comandante que era
sempre um bárbaro que sumariamente mandava atirar ao mar os
negros agonizantes, para aliviar a carga para tornar o barco
mais maleável, erra quando os marinheiros desciam aos porões
imundos e os moribundos eram atirados ao mar, e quando isto não
acontecia as epidemias lavravam os porões e só havia um remédio:
o mar! A organização da Companhia de Lagos tinha o objetivo de
incentivar e desenvolver o comércio africano e dar expansão ao
trafico negreiro. Logo após o navegador Antão Gonçalves ter dado
entrada em Portugal de uma leva de escravos negros capturados na
Ilha de Arguim, e a viagem inicial da Companhia de Lagos que foi
empreendida por uma expedição composta de seis caravelas ao
comando do escudeiro Lançorote que transportou 235 cativos, e
pelas lutas travadas entre varias feitorias da África que se
entrechocavam no fornecimento de escravos e as incursões
devastadoras dos corsários e piratas e a instituição da
Companhia de Lagos, motivaram a formação de varias companhias
negreiras, que entre elas podemos citar a Companhia de Cacheu em
1675, Companhia de Cabo Verde e Cacheu de Negócios de Pretos em
1690, Companhia Real de Guiné e das Índias em 1693, Companhia
das Índias Ocidentais em 1636 .
E devido ao êxito desta
para o Brasil e o tino político do padre jesuíta Antônio Vieira
se deu a criação da Companhia Geral do Comércio do Brasil em
1649.
A Companhia do Estado do Maranhão em 1679, Companhia da Costa da
África em 1723,Companhia do Grão Pará e Maranhão, Companhia de
Comércio de Pernambuco e Paraíba que foram criadas pelo Marquês
de Pombal, desta maneira podemos atestar que o transporte de
negros da África era o melhor e mais rendoso negocio da época. E
as raças transportadas durante o longo período negreiro e que se
distribuíam por toda a África pode ser assim enumeradas: do
grupo de Guiné e Nigricia foram exportadas os Jalofos (aptos a
ida do mar), Mandingas (convertidos ao Maometismo eram
inteligentes e empreendedores), Yorubas ou Minas (fortes,
robustos e hábeis), Felupos (os mais selvagens), Fulas que se
dividiam em pretos, vermelhos e forros (eram descendentes dos
chamita), Sectários de Maomet (eram os mais valentes e
organizados), Balantos ( gentios democratas), Biafadas ( eram
robustos, atléticos, esforçados, bons marinheiros), Papéis,
Manjacos, Nalus, Bahuns.
E do Congo e Angola tiveram
do grupo Banto foram os Ba-Congos (mais adiantados da África),
Djaggas ( convertidos ao cristianismo), Cabindas (excelentes
trabalhadores), Mussurongos, Eschicongos, Jagas e seus afins
Ban-Galas e do grupo Fiote tivemos os Bamba e os Hollos,
Ambaquistas, e do sertão tivemos os Ma-Quiocos (hábeis
caçadores), Guissamas (valentes e hábeis), Libollos (pacíficos e
agricultores), todos do grupo Bunda, e o do grupo N`bundo vieram
os Ba-Nanos, Ba-Buenos, Bailundos (todos eram altos, fortes e
aguerridos), Bihenos (artistas), Mondombes, e do grupo
Janguellas ou Baagangellas tiveram os Ambuellas (mineradores de
ferro), Guimbandes (pacíficos e artistas) Banhanecas e
Ba-Ncumbis (pastores e agricultores) e dos grupos Bantos
Orientais foram os Macuás (inteligentes e faladores), Manimdis e
Manguanguaras (selvagens) Nyanjas ou Manganjas (inteligentes e
pacíficos), Mavias (pescadores) e do Senegal tivemos os
Muzinhos, Moraves e Ajaus (mercadores de marfim) e do ramos de
Bochimanos e Hotentotes tiveram os Ba-Cancalas, Bacubaes,
Ba-Corócas, Ba-Cuandos, Ba-Cassequeres, Basutos e Bechuanas,
Nubios.
A obra do negreiro na
África foi verdadeiramente vandálica, destruidora, sanguinária!
A eloqüência do número de raças exportadas de todos os recantos
africanos é frisantes atestado da gula dos comerciantes
negreiros pelo rendoso negocio do trafico. Todas as nações
civilizadas tinham ali na costa da África a sua feitoria e nos
mares em cruzeiros simultâneos, navios de todos os efeitos
empregados no trafego imoral, aberrante, desumano e sanguinário,
que despovoou pouco a pouco o continente negro e seu modo
cobriu-se de sangue durante asa preias desordenadas, preias
levadas a efeitos a ferro e a fogo, a laço e a tiro.
|

|