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O Tratado
de Madrid
O Tratado
de Madrid foi elaborado a partir do Mapa das Cortes e beneficiou
as colônias portuguesas, em detrimento dos direitos espanhóis. A
habilidade dos diplomatas portugueses – que estabeleceram o
princípio do Uti Possidetis como base para a divisão territorial
- colaborou para a vitória portuguesa. Foi valendo-se desse
princípio, que estabelecia que a terra deveria ser possuída
pelos que nela moravam e trabalhavam, que os portugueses puderam
consolidar sua presença no imenso território que hoje constitui
o Brasil.
Vale
ressaltar que, em meados do século XVIII, pouco se conhecia
sobre o interior do continente americano e, menos ainda, sobre a
Amazônia. Os únicos cursos d’água conhecidos na região eram os
Rios Madeira e Javari, que serviram como referência para a
fronteira sul da Amazônia Ocidental.
Pelo
Tratado de Madrid, a linha fronteiriça entre as possessões
espanholas e portuguesas deveria partir do ponto mediano entre a
foz do Rio Madeira e a foz do Rio Mamoré , seguindo por uma
linha reta até encontrar a margem do rio Javari (ver mapa
correspondente), aproximadamente na latitude de 6º e 40’ Sul.
Era o nascimento da linha imaginária que, no futuro, causaria
tantas polêmicas.
Destratando os Tratados
As
mudanças ocorridas nos diversos aspectos econômicos, políticos e
sociais dos países envolvidos com a colonização americana
levaram Portugal e Espanha a muitas idas e vindas naquestão das
fronteiras. Assim, o Tratado de Pardo, de 1761, anulou o que
havia sido acertado em Madrid; Em 1777, o Tratado de Santo
Ildefonso arremedou algumas conquistas obtidas em Madrid e
restaurou a linha divisória entre o Madeira e o Javari, como
havia sido estabelecida em 1750.
O Tratado
de Ayacucho
Nas
primeiras décadas do século XIX, o contexto histórico
latino-americano havia se alterado profundamente. As ex-colônias
espanholas e portuguesas tornaram-se países independentes e as
questões fronteiriças ganharam conotações inéditas. Foi nesta
nova situação que Brasil e Bolívia negociaram o Tratado de
Ayacucho, assinado em 1867.
Os
brasileiros negociaram esse tratado, sujeitos a pressões
exercidas pela Bolívia durante a Guerra do Paraguai, que estava
mobilizando todos os recursos bélicos e financeiros do Brasil.
Ainda assim, a diplomacia brasileira soube se aproveitar da
fragilidade congênita da Bolívia para tirar vantagens.
Como o
povoamento brasileiro já havia penetrado nos rios Madeira, Purus
e Juruá, os negociadores do Brasil procuraram empurrar a linha
divisória mais para o sul, estabelecendo que o ponto inicial da
fronteira seria agora a confluência dos rios Beni e Mamoré, onde
se iniciava o Madeira. A partir daí, o Tratado de Ayacucho dizia
que "Deste rio para oeste seguirá a fronteira por uma paralela,
tirada da sua margem esquerda na latitude sul 10º20’ até
encontrar o rio Javari. Se o Javari tiver as suas nascentes ao
norte daquela linha leste-oeste, seguirá a fronteira desde a
mesma latitude, por uma reta a buscar a origem principal do dito
Javari."
O
trecho transcrito acima deixa claro que por ocasião da
assinatura do Tratado de Ayacucho, ainda não se conheciam as
verdadeiras nascentes do Javari. Acreditavam os diplomatas
brasileiros que essas nascentes estavam no paralelo 10º20’, mas
deixavam em aberto uma solução para o caso dessa idéia não
corresponder à realidade. E foi exatamente isso o que se
constatou posteriormente: as verdadeiras cabeceiras do Javari
estavam situadas a 7º 06’. Foi essa descoberta que, a partir de
1895, quando a fronteira começou a ser demarcada na prática, deu
origem à Questão Acreana.
(Baseado em
Mello, 1990
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