Breves consideraes acerca da Provncia
Cisplatina: 1821-1828.
Texto de Fbio Ferreira
1. Introduo
O presente artigo prope-se a tratar brevemente
os curtos anos de existncia da provncia
brasileira da Cisplatina, no territrio que hoje
a Repblica Oriental do Uruguai, alm da
influncia que a sua existncia como parte do
Imprio exerceu nas relaes Brasil Provncias
Unidas do Rio da Prata (atual Argentina) no
contexto da dcada de 1820, e a repercusso da
provncia brasileira nas Provncias Unidas e,
primeiramente, no Reino Unido de Portugal,
Brasil e Algarve e, depois, no Imprio
Brasileiro.
Assim, o prximo item dedicado a anexao da
Banda Oriental ao Reino Unido sob o nome de
provncia Cisplatina, onde so mostradas as
articulaes polticas por parte do general
Lecor para a realizao da incorporao.
A influncia portenha e dos Trinta e Trs
Orientais no processo que vem a desencadear a
Guerra da Cisplatina, alm das articulaes
polticas dos primeiros em atrair para o
conflito Simn Bolvar e os Estados Unidos so
tratados no terceiro item do artigo.
O trabalho aborda a seguir a guerra propriamente
dita, a partir da declarao da mesma por parte
do Brasil, em 1825, aos argentinos; e, tambm,
das negociaes polticas, com a participao da
Inglaterra, pela emancipao da Cisplatina.
Assim, nas prximas linhas encontrar-se-o
informaes acerca do primeiro conflito externo
do Brasil e Argentina independentes na regio
platina, alm dos seus fatos precursores.
2. A Provncia Cisplatina
A regio do atual Uruguai, que adentra o sculo
XIX como parte do Vice-Reino do Rio da Prata, a
partir de 1817, devido ao projeto expansionista
joanino na regio platina e ao processo de
independncia desencadeado nos pases
hispano-americanos que tem como grande marco o
ano de 1810, ca sob o domnio da monarquia
portuguesa instalada no Rio de Janeiro. 1
frente dos ocupadores, a governar,
primeiramente Montevidu, depois, em virtude da
resistncia artiguista, o resto do territrio
oriental, est o general Carlos Frederico Lecor,
veterano das guerras napolenicas que, com o fim
dos conflitos na Europa, parte para a Amrica.
A administrao Lecor taxada positivamente por
Saint-Hilaire (2002), naturalista francs que
esteve na regio em 1820; e Lynch (1989)
designa-a como favorvel aos grandes
estancieiros e comerciantes de Montevidu,
conseguindo o apoio dos primeiros pelo
restabelecimento da ordem e do respeito
propriedade e, dos segundos, pela estabilidade e
pela poltica de porto aberto.
Em 1821, mais precisamente no dia 16 de abril
2, pouco antes de D. Joo VI retornar
para Portugal, autorizada a realizao do
Congresso Cisplatino, que teria como funo
decidir se a Banda Oriental seria anexada ao
Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve, ou
tornar-se-ia um pas independente ou, ainda, se
a mesma acabaria como parte de um outro governo.
3
Segundo Golin (2002), Lecor no teria aceito as
outras duas alternativas que no fosse a de
incorporar a Banda Oriental ao Reino Unido e,
para isto, altera o nmero de deputados e o
critrio de seleo dos mesmos para o Congresso,
alm de articular com os diversos orientais que
teriam voz no encontro.
Assim, a cimeira, que ocorre de quinze de julho
a oito de agosto de 1821 4, tem
diversos dos seus membros comprometidos com a
posio de Lecor e, como resultado, a aprovao
da incorporao da Banda Oriental ao Brasil sob
o nome de Provncia Cisplatina, podendo-se
afirmar que o general portugus teve grande
importncia na ampliao do territrio
brasileiro at o Rio da Prata.
Silva (1986, p.393) define o Congresso como uma
manobra para legitimar a ocupao da Banda
Oriental, j que Lecor obtm (...) o apoio do
Conselho Municipal de Montevidu e de
representantes de vrias outras localidades
(...) dando-lhe um sentido, no de conquista,
mas de incorporao no Reino Unido (...) com a
aprovao de um Congresso Nacional do Estado
Oriental do Rio da Prata.
O questionamento da idoneidade da votao pela
incorporao tambm est presente em Lynch
(1989, p.103), destacando-se o seguinte trecho:
En julio de 1821 un Congreso Oriental
subordinado al nuevo rgimen vot la
incorporacin de la Provincia Oriental al
imperio portugus como Estado Cisplatino (...)
A anexao da Cisplatina d-se, segundo Carvalho
(1998), com a regio arrasada em razo das
guerras que ela foi palco desde 1810, tendo o
seu setor produtivo sido devastado e a populao
bastante reduzida, havendo, nos orientais, um
sentimento muito mais de pragmatismo ao unir-se
com o Brasil do que ideolgico ou subserviente
ao Reino Unido.
No entanto, apesar do empenho de Lecor para a
anexao e conseqente ampliao do territrio
brasileiro, na Corte, alguns setores no so
favorveis, sendo que a mesma no ratificada
por D. Joo VI, que a esta altura j est em
Portugal. A reprovao atitude de Lecor em
Lisboa deve-se preocupao de que a
incorporao viesse a acarretar em problemas com
Fernando VII, alm de que a mesma fora fruto de
articulaes secretas entre o general e Jos
Bonifcio, no contexto do rompimento do Brasil
com o Reino Unido, que de fato vem a ocorrer
formalmente no 7 de setembro de 1822.
Com a independncia do Brasil, a provncia
Cisplatina v-se dividida entre os que apiam a
manuteno da sua unio com o Brasil, e aqueles
favorveis a mant-la sob o controle de
Portugal, havendo a ciso dos ocupadores entre
imperiais e lusitanos.
Os que optam por D. Pedro, tm a frente o
general Lecor; as tropas fiis D. Joo VI so
lideradas pelo brigadeiro lvaro da Costa de
Souza Macedo, que acreditam que a Cisplatina ,
de direito, pertencente a Portugal. Diante do
posicionamento antagnico entre as tropas, Lecor
parte para Canelones, ficando Montevidu sob o
controle dos lusitanos.
Entretanto, mesmo com os embates, Lecor no se
v impedido de articular com os caudilhos
platinos, como o faz com o de Entre Rios, em
1822, e com os diversos lderes da costa do
Uruguai, sempre visando a manuteno da presena
brasileira na regio e o rechao aos oponentes
do seu projeto.
Segundo Carneiro (1946), Lecor, em Canelones,
obtm o apoio de diversas figuras orientais,
como Rivera 5 e Lavalleja 6,
alm de vrios governos da campanha e de Colnia
e Maldonado. Uma vez obtendo tal suporte, parte
para o cerco por terra de Montevidu. Por mar a
cidade cercada pelo almirante Rodrigo Lobo e
por uma esquadra oriunda do Rio de Janeiro e,
sitiados, os portugueses, que tinham ao seu lado
os Oribe, no resistem por muito tempo.
A questo da independncia brasileira face
Portugal complexa, no s na rea que
constitui a ltima conquista luso-brasileira,
mas em todo o Brasil, at mesmo antes do sete de
setembro. Tal ciso seja na Cisplatina, seja no
resto do territrio brasileiro, havendo a no
adeso em torno de um projeto nico, acaba por
dividi-los entre os que optam por Portugal e os
que escolhem a independncia.
A diferena de projetos para o Brasil, partindo
de dentro do prprio pas antes mesmo de 1822,
explicitado por Proena (1999, p.36) no seguinte
trecho: [H] uma ntida separao entre as
provncias do Norte, em torno da Baa, que se
mantinham fiis s Cortes, as do Sul
separatistas e apoiantes de D. Pedro, e a zona
de Pernambuco onde a situao se ia tornando
mais confusa, pela existncia de uma faco
bastante numerosa que perfilhava, no s a
separao de Portugal como uma modificao do
sistema poltico brasileiro.
A diversidade existente no Brasil tambm
apresentada por Ramos (2002, p.39), citando
Macaulay:
Havia no Brasil quem desejasse um governo
central no Rio porque sentia que isso servia
melhor as suas necessidades. D. Pedro queria ser
imperador, Jos Bonifcio queria ser
primeiro-ministro, milhares de advogados,
agricultores e comerciantes da rea do Rio S.
Paulo Minas Gerais preferiam um governo que
estivesse ao seu alcance a um governo sediado do
outro lado do Atlntico. Os ricos e os polticos
activos das provncias distantes entretanto no
identificavam necessariamente os seus interesses
com os do Rio; no extremo Norte, no Maranho e
no Par, os laos com Lisboa eram muito fortes
(...).
A demonstrao da inexistncia de uma unidade
nos antigos domnios portugueses no Novo Mundo
em torno de D. Pedro aps o sete de setembro
igualmente demonstrado por Saraiva (1993,
p.364): Uma parte da Amrica do Sul continuava
fiel a Portugal, sem reconhecer a autoridade do
novo imperador: em Montevidu, um general
afirmou reconhecer apenas o poder do rei e na
Baa o general Madeira mantinha as cores
portuguesas.
Assim, a provncia Cisplatina encontra-se
dividida entre imperiais e lusitanos, tendo os
ltimos abandonado a regio do Prata somente em
fevereiro de 1824 7 e, Lecor pisa em
Montevidu, a liderar as tropas brasileiras, em
2 de maro do mesmo ano, sendo a Cisplatina,
segundo Bethell (2001), o ltimo reduto da
resistncia lusitana na Amrica.
Com a volta de Lecor para Montevidu, Carneiro
(1946, p.36) narra que (...) jurou-se a
constituio poltica do Imprio promulgada por
D. Pedro I. Por essa constituio o Estado
Cisplatino, em situao de confederado, passava
a fazer parte do Brasil.
Entretanto, a contenda entre portugueses e
brasileiros, e a retirada dos primeiros do
territrio, acaba por fortalecer o grupamento
que objetiva o desligamento da Cisplatina ao
Brasil, conforme explicita Golin (2002, p.332):
(...) a retirada das disciplinadas tropas
lusitanas enfraqueceu o exrcito de ocupao.
Imediatamente, o movimento pela autonomia da
Banda Oriental intensificou suas confabulaes,
agitou a populao e, no ano seguinte, em 1825,
desencadeou a sublevao.
Constatao idntica faz Duarte (1985), ao
afirmar que aps a sada dos portugueses e a
conseqente ciso nas tropas de Lecor, os
contingentes militares do general ficam em
estado lamentvel e, ainda, salienta que se foi
possvel a manuteno da presena brasileira na
Cisplatina aps a diviso das tropas de
ocupao, foi pela habilidade poltica de Lecor.
Paralelamente ao processo de independncia do
Brasil e a vitria dos imperiais na Cisplatina,
em Buenos Aires so iniciadas as articulaes
para que as Provncias Unidas reconquistassem o
territrio que, desde 1810, desejavam que fosse
seu: a outra margem do Rio da Prata.
Assim sendo, o intento portenho de acabar com o
domnio brasileiro na regio que outrora fora
parte do Vice Reino que tinha Buenos Aires como
capital, e o papel desempenhado pelos 33
orientais na independncia da provncia
Cisplatina sero abordados no prximo item do
trabalho.
3. A participao portenha na emancipao da
Cisplatina e os Trinta e Trs Orientais
O desejo de Buenos Aires, aps a Revoluo de
Maio de 1810, em conquistar a rea do atual
Uruguai pode ser evidenciado ao longo desta
dcada, quando, por exemplo, os portenhos apiam
os intentos de Artigas contra os realistas, em
1811, ou quando controlam Montevidu, em 1814,
s abandonando-a por no resistirem oposio
artiguista. As incurses ao territrio oriental
cessam aps a invaso comandada por Lecor, em
1816.
Porm, com o advento da independncia do Brasil
e a sua repercusso na Cisplatina, em 1823
8, ganha fora, nas Provncias Unidas, a
idia de guerrear contra o pas recm
independente, sendo que, em 4 de agosto, Santa
F assina um tratado com o cabildo de Montevidu
para expurgar a presena brasileira da
Cisplatina e no dia 21 do mesmo ms, Mansilla,
governador de Entre Rios no perodo de 1821-24,
que anteriormente assinara tratos com Lecor,
intima o antigo tratante a abandonar a provncia
brasileira localizada no Prata.
Um pouco antes das hostilidades com Santa F e
Entre Rios, as Provncias Unidas enviam, em
janeiro de 1823, Jos Valentim Gomes para
negociar com o Rio de Janeiro o que os portenhos
entendiam como a restituio da Banda Oriental,
entretanto, segundo Carvalho (1998, p.57) o
emissrio encontrou decidida repulsa a respeito
da separao da Cisplatina do Imprio.
A questo envolvendo esse territrio entendido
por brasileiros e argentinos como seus, no faz
com que somente as Provncias Unidas enviem
emissrios para o Rio. O governo sediado nesta
cidade envia, em tal perodo, misses para
Buenos Aires e Assuno com o objetivo de
aproximar-se mais destes governos, porm malogra
em seu intento. Na primeira, o enviado
brasileiro s no perde por completo a viagem
pelo fato de espionar os liberais refugiados
naquela cidade e, na cidade paraguaia,
inicialmente sequer recebido por Francia e,
quando o , de nada resulta o encontro.
Os esforos portenhos no fazem com que Lecor
abandone a provncia anexada, mas mesmo diante
da permanncia do general, no desistem da
desocupao da mesma e, com tal intento, apiam
o plano de Lavalleja de atacar a Cisplatina e
rechaar os brasileiros desta localidade.
No entanto, o primeiro intento do oriental
malogra, sendo ele rechaado da margem esquerda
do Prata por Frutuoso Rivera, que, quando Juan
Manuel Rosas 9 vai Cisplatina
visando uma nova insurreio, debanda para o
lado dos portenhos, porm permanecendo no
exrcito brasileiro at o novo ataque de
Lavalleja, quando passa a agir ao lado dos
insurretos. Ao mudar de lado, Carneiro (1946)
afirma que Lecor coloca a cabea de Rivera a
prmio, assim como a de Lavalleja, a 2.000 e
1.500 pesos respectivamente.
A nova investida tem como ponto de sada a
Argentina, e de chegada o atual Uruguai, mais
precisamente Agraciada, no dia 19 de abril de
1825, sendo o grupo hostil aos sbitos de D.
Pedro I conhecido como Os Trinta e Trs
Orientais. 10
Sobre a chegada e os objetivos do grupo em
relao a Cisplatina, Carneiro (ibid, p.38)
narra que (...) s 11 horas da noite,
realizavam o desembarque (...) Ao desfraldar a
sua bandeira tricolor, com o lema Libertad o
muerte, que os uruguaios empunhariam at 1829,
revogando a de Artigas (...) o chefe dos
orientais no deixava patente seno que os seus
projetos eram de unio com as Provncias Unidas
(...) e no de independncia da Banda Oriental.
Esse grupo, segundo Lynch (1989), com a sua
travessia, visa ativar o latente movimento
emancipatrio dentro da Cisplatina, tendo os
Trinta e Trs, com tal ao, o objetivo de
anexar a ento provncia brasileira com as
Provncias Unidas, entretanto, com alguma
espcie de autonomia. Os objetivos portenhos no
so muito diferentes, querendo o territrio
esquerda do Prata para si. O autor ainda observa
que o grupo liderado por Lavalleja era
financiado por estancieiros da provncia de
Buenos Aires.
Calgeras (1998, p.409), sobre os intentos dos
insurgentes, afirma que, inspirado no projeto
artiguista, Lavalleja vinha com o velho
programa de Artigas, que todos os pro-homens da
provncia oriental partilhavam: a confederao
dentro no quadro das Provncias Unidas.
Entretanto, o autor frisa que h diferenas
substanciais entre os dois projetos: o do
caudilho que atuou na Banda Oriental na dcada
de 1810 no aceitava a incorporao a Buenos
Aires sem definir previamente um pacto para a
unio; j o grupo de Lavalleja decreta a
reincorporao as Provncias Unidas de maneira
incondicional.
Este novo ataque de Lavalleja tem melhor sorte
que o primeiro: as tropas brasileiras ficam
confinadas praticamente em Montevidu e
Sacramento e, a 25 de agosto de 1825, a
assemblia reunida em Florida pelos insurgentes,
proclamam nulos todos los actos de
incorporacin y juramentos arrancados a los
pueblos de la Provincia Oriental [e] quedaba
libre e independiente del Rey de Portugal, del
Emperador del Brasil y de qualquiera outro poder
del universo 11.
vlido salientar que, segundo Carneiro (1946,
p.40), os Trinta e Trs, ao desembarcarem, no
gozavam de crdito, ao contrrio, A ao dos
patriotas uruguaios foi tomada como uma loucura
ou como ingnua imprudncia., entretanto, o
autor ainda observa que o exrcito brasileiro
estava comprometido por causa da rebelio de
Pernambuco, o que acarreta em diversas derrotas.
O sucesso da investida leva a embates entre o
cnsul brasileiro em Buenos Aires e o governador
desta cidade, que nega a participao portenha
na incurso provncia Cisplatina e, ainda, ao
ataque representao brasileira na cidade. Tal
fato demonstrado por Carvalho (1998, p.58) no
seguinte trecho: Em Buenos Aires, era atacado o
consulado brasileiro (29 de outubro) e o nosso
representante transladava-se para Montevidu. J
ento a ofensiva uruguaia era apoiada por tropas
argentinas, apesar de nota diplomtica
conciliadora e cordial (...)
O ataque de 29 de outubro e a participao dos
buenairenses neste curioso ato de hostilidade ao
Brasil so detalhados por Calgeras (1998,
p.416) da seguinte maneira: (...) s dez e meia
da noite, uma turba guiada por uma banda, de
msica, e aos gritos de morram os portugueses,
morra o Imperador do Brasil, morram os amigos do
tirano, morra o Consul, tinha atacado
impunemente o consulado. O autor ainda afirma
que tal ato teve o revide de soldados da marinha
brasileira, que desrespeitam, no Rio, a bandeira
argentina.
A rivalidade para com os brasileiros no fica
estrita a manifestaes a porta do consulado em
Buenos Aires. Soma-se a isso o fato de que a
cidade serve de refgio aos opositores
brasileiros na Cisplatina, conforme relata
Carneiro (1946) que, quando a polcia de Lecor
descobre conspiradores contra o Imprio, muitos
deles fogem para tal ncleo urbano argentino.
Neste mesmo ano de 1825, segundo Golin (2002) as
Provncias Unidas tentam trazer Simn Bolvar
12 para o conflito do Rio da Prata,
intimando o Brasil a desocupar a margem esquerda
do rio e, caso no o fizesse por bem, teria que
fazer fora. Uma vez tendo sucesso a
empreitada, Bolvar e seus aliados marchariam
at o Rio de Janeiro, deporiam D. Pedro I e
proclamariam uma repblica.
Bolvar chega a cogitar a sua participao nessa
unio de foras contra o Imprio, porm, devido
a problemas na regio que libertou do domnio
espanhol, opta por permanecer a, tendo sido a
sua participao no evento apenas diplomtica,
via o seu representante no Rio de Janeiro, que
crtica o expansionismo brasileiro.
No s Simn Bolvar que os portenhos tentam
trazer para o seu lado e contra o Imprio:
Segundo Carvalho (1998), o ministro das relaes
exteriores do governo Rivadavia 13
busca apoio nos Estados Unidos, a evocar a
Doutrina Monroe e a vincular D. Pedro I a
Portugal e, assim, sob esta tica, o conflito
teria a interferncia europia, o que
rechaado pela doutrina. Entretanto, o intento
de Buenos Aires no vitorioso, pois os Estados
Unidos entendem o embate entre os dois pases
como americano e no europeu.
Mesmo diante destes fatos e das derrotas
brasileiras nas batalhas do Rincn das Gallinas
e do Sarand tendo frente Frutuoso Rivera ,
o Brasil no oficializa a guerra, a trat-la
como uma insurreio dentro da sua provncia
localizada no Rio da Prata.
Lavalleja, segundo Carneiro (1946), querendo
terminar logo com os embates, chega, inclusive,
a propor a Lecor, aps a vitria de Rivera em
Rincn das Gallinas, a interveno do veterano
das guerras napolenicas junto ao Imperador para
que fossem retiradas do territrio oriental as
tropas brasileiras, porm, o militar nega-se a
tal.
Entretanto, em 4 de novembro de 1825, o Imprio
recebe o comunicado de que as Provncias Unidas
entendiam a Cisplatina como parte do seu
territrio e, assim, o Rio de Janeiro declara
guerra aos portenhos em 10 de dezembro de 1825.
A resposta argentina dada menos de um ms
depois: declarada guerra ao Brasil no primeiro
dia de 1826.
4. A Guerra Cisplatina: 1825-1828
Apesar do Brasil ter declarado guerra aos
argentinos em 1825 e, eles, aos brasileiros no
primeiro dia do ano seguinte, ambos os
envolvidos sabiam que estavam a adentrar em uma
ao blica j desgastados, devido aos seus
processos de independncia e, no caso das
Provncias Unidas, soma-se o embate interno
entre Unitrios e Federais que trouxe-lhes
grandes prejuzos.
O Imprio, neste conflito, objetiva manter a sua
configurao, alm de possuir um projeto
poltico de no permitir a criao de grandes
pases no continente e, com a eventual perda da
Cisplatina para as Provncias Unidas, esta,
obviamente, teria o seu territrio ampliado.
Soma-se a tal questo a preocupao do controle
do esturio do Rio da Prata, acesso muito mais
eficaz ao oeste do Rio Grande, Santa Catarina,
Paran e sudoeste do Mato Grosso, do que o
terrestre e, caso o Rio da Prata ficasse nas
mos das Provncias Unidas, o Imprio temia pela
sua integridade nas reas brasileiras citadas
acima. 14
No entanto, Calgeras (1998) taxa o conflito
blico pela manuteno da Cisplatina como uma
preocupao dinstica de D. Pedro I e no como
anseio dos brasileiros, sendo a guerra contrria
aos desejos dos ltimos, que precisam de
estabilidade e paz para progredirem, alm de
boas relaes com os seus vizinhos hispnicos
para evitar contendas.
O conflito, desde o seu incio, no apoiado
pela Inglaterra, havendo, inclusive, a sua
interveno para que ele no ocorresse ou fosse
abreviado, no entanto, os ingleses no so bem
sucedidos neste momento, conforme demonstra
Lynch (1989, p.105): (...)Gran Bretaa tena
una considerable influencia sobre los gobiernos
de Ro de Janeiro y de Buenos Aires, pero no
haba sido capaz de impedir la guerra y
encontraba dificultades para restablecer la
paz.
Entretanto, isto no significa que a Inglaterra
seja favorvel a manuteno da Cisplatina sob o
poder imperial, nem argentino, ao contrrio,
interessa-lhe a criao de um terceiro estado na
regio, conforme explicita Padoin (2001, p.62):
Enquanto isso, ou por detrs desse panorama de
rivalidades estava a atuao inglesa, preocupada
com o crescimento e fortalecimento dos novos
Estados que estavam se estruturando (...)
especialmente do Brasil e da Argentina (...)
Caso fosse consumada a vitria de um desses
Estados, no s fortaleceria suas pretenses
hegemnicas, como seria o senhor no domnio do
comrcio para o mercado mundial, especialmente
nessa importante Bacia do Prata. Assim, a
Inglaterra (...) apoiou atravs de sua
habilidade diplomtica a independncia da Banda
Oriental/Cisplatina, mantendo seu tradicional
espao de influncia.
Ainda sobre a participao inglesa em tal
advento, Carvalho (1998, p.58 e 59) afirma que
Canning [ministro ingls] era favorvel
separao da Cisplatina. [Em 1826] deu-se a
primeira interveno britnica. Sugeria a cesso
da Banda Oriental mediante indenizao e
declarao de independncia de seu territrio. A
recusa de D. Pedro o fez considerar como um
inimigo da Inglaterra.
A guerra, segundo Golin (2002), teve respaldo
popular no Brasil, ao menos no seu incio. Nas
Provncias Unidas idem, pois quando Rivadavia
cogita tirar o seu pas do conflito, dando a
hegemonia da rea litigiosa aos brasileiros
atravs de um tratado, a populao de seu pas
veta a idia. 15
Porm, esse no o posicionamento de Rivadavia
no seu discurso ao assumir o poder, ao
contrrio, mostra-se favorvel ao conflito
blico, que, por sua vez, no uma unanimidade
no pas que guerreia com o Brasil. 16
No Imprio, a unanimidade em torno dos seus
tambm no ocorria: Lecor, que passa a ser
taxado de incompetente devido s derrotas
brasileiras, e o governador do Rio Grande,
brigadeiro Jos Elpidio Gordilho Velloso de
Barbuda, mostram publicamente as suas
divergncias em virtude do conflito.
Assim, dessa guerra, Lecor sai derrotado: em 12
de setembro de 1826 17 substitu-o a
frente do exrcito imperial o tenente-general
Filiberto Caldeira Brant Pontes, que, quatro
meses mais tarde, recebe o ttulo de marqus de
Barbacena.
Padoin (2001) observa que no s do lado
brasileiro que figuras polticas saem derrotadas
do conflito, como foi com Lecor. O embate, do
lado argentino, leva ao enfraquecimento dos
unitrios, que esto no poder na figura de
Rivadavia, e ao fortalecimento dos federalistas,
agremiao a qual Rosas ligado.
A repercusso negativa, no Brasil, crescente,
fato que, D. Pedro I, dois meses aps a
substituio de Lecor, vai at a Cisplatina
devido impopularidade da guerra, e antecipa a
sua volta para o Rio de Janeiro em virtude do
falecimento de sua esposa, Dona Leopoldina
18.
vlido observar que neste momento a guerra j
bastante questionada no Imprio, a contribuir
no desgaste da imagem do Imperador, sendo tal
associao feita por Bethell e Carvalho (2001),
e observada por Ramos (2002, p.55) da seguinte
maneira: (...) este conflito e o seu resultado
funcionou contra o imperador no esprito dos
seus novos sbditos, pois o povo no podia
perceber nenhum sentido nessa guerra. Alm
disso, o recrutamento para a tropa foi enrgico
e provocou constrangimentos e indignaes sem
conta, recorda Francisco Iglesias.
No entanto, o conflito platino no o nico
fator desgastante da imagem de D. Pedro I,
soma-se guerra a questo da sucesso em
Portugal, por causa do falecimento de D. Joo VI
a 10 de maro de 1826 19 e o temor
por parte dos brasileiros da recolonizao, j
que o seu imperador torna-se o rei D. Pedro IV
em Portugal e chegou, inclusive, a cogitar a
unio das duas coroas. A insatisfao dos seus
sditos americanos demonstrada, mais uma vez,
em Ramos (ibid.):
(...) no caso da herana portuguesa, ao
saber-se rei, D. Pedro IV julgou (...) que era
possvel guardar as duas coroas. Tal facto
violava a Constituio de 1824, no convinha nem
apetecia aos brasileiros por parecer um acto de
recolonizao. De resto, o Conselho de Estado
rejeitou (...) tal possibilidade. (...) D. Pedro
(...) abdicou [o trono portugus] em D. Maria da
Glria [porm] pareceu insatisfatria para os
interesses do Brasil, pois logo se pensou (...)
que os interesses de D. Pedro se iam dividir
entre os problemas de Portugal e os do imprio.
Assim, a imagem do primeiro Imperador do Brasil
torna-se cada vez mais desgastada. A situao em
Portugal no encerra-se com a carta de 1826 nem
com a sua abdicao em favor da filha de apenas
sete anos; na Cisplatina, a guerra continua com
os seus problemas para os brasileiros: derrotas,
convocaes compulsrias, contratao de
mercenrios, enfim, a contenda estava a consumir
as divisas imperiais, alm de trazer problemas
com a Inglaterra e Frana, no que ser mostrado
mais adiante.
A situao interna das Provncias Unidas tambm
no era das mais tranqilas poca do conflito.
Lynch (1989) observa que a constituio
centralista de 1826, promulgada por Rivadavia,
gera conflitos com as provncias e com os
federalistas, fazendo com que o lder portenho
tenha a necessidade de retirar tropas do palco
da guerra para pelejar no interior do seu
territrio.
Sobre a repercusso do embate nos dois pases em
conflito, Padoin (2001, p.61) afirma que Essa
guerra provocou a instabilidade de Buenos Aires,
com o enfraquecimento dos unitrios no poder
(...), alm de no Brasil o Governo Imperial ser
pressionado por crticas quanto aos gastos
feitos em uma luta que servia para dar
continuidade poltica anterior da Coroa
portuguesa.
No Imprio, a manter a guerra e a buscar a
soluo do contingente insuficiente, o Imperador
encontra como soluo para tal problema a
contratao de mercenrios, na sua maioria,
europeus pobres que visam vida melhor na
Amrica.
Entretanto, tal deciso, segundo Bethell e
Carvalho (2001, p.705), no foi das mais
acertadas por parte de D. Pedro I, ao contrrio,
(...) foi desastrosa, pois, alm de no evitar
a derrota, gerou no Rio de Janeiro, em junho de
1828, o motim de vrios milhares de mercenrios
irlandeses e alemes. sitiando a cidade por
dois dias.
Sobre o mecenato, Lemos (1996, p.115) afirma que
O grosso dos mercenrios foram mesmo os alemes
recrutados (...); colonos que, fugindo da
hedionda misria europia, sujeitavam-se ao
servio militar brasileiro, por algum tempo,
como forma de pagar a viagem para c, e cujo
manifesto interesse eram campos e lavouras.
O autor tambm afirma que tal premissa vlida
para os soldados, no os oficiais, pois os
ltimos viriam para o Brasil pelo estilo
aventureiro ou, ainda, veteranos das guerras
napolenicas que estavam desempregados e, na
busca de empregos, pleiteavam a vinda para o
Brasil.
Observa-se que a marinha brasileira tambm
inclu-se como fora onde seus quadros foram
compostos por homens contratados para a Guerra
Cisplatina, assim como os portenhos, conforme
afirma Lemos (ibid, p.141), que aps fazer tal
afirmao descreve a marinha dos oponentes do
Brasil da seguinte maneira: (...) a esquadra
buenairense era comandada pelo irlands William
Brown e guarnecida unicamente por europeus,
auxiliados por alguns ndios (...) e, diante
desse fato, o autor salienta o papel importante
dos mercenrios, em ambos os lados, na guerra
pela Cisplatina.
A participao de ingleses em ambas as foras
navais tambm pode ser constatado em Waddell
(2001), que afirma que na busca de recompensas,
muitos acabam por abandonar a marinha mercante
do seu pas de origem e, assim, ingressam na
guerra, sendo os ingleses, segundo Bethell e
Carvalho (2001), a maioria dos marinheiros de
ambos os lados.
No que diz respeito s foras navais, o Brasil,
maior marinha latino-americana poca, sofre
vrias derrotas no Prata pelo fato das suas
embarcaes serem inadequadas para o rio que as
batalhas tinham palco. 20 Porm,
apesar dos fracassos, o Brasil chega a bloquear
Buenos Aires, no que gera a insatisfao inglesa
e francesa, que vem os seus negcios na regio
prejudicados.
Principalmente para a Inglaterra, pas cuja
livre navegao do Prata era fundamental para o
seu interesse comercial, o conflito entre os
dois pases americanos torna-se prejudicial,
pois os dois maiores compradores dos seus
produtos no novo mundo estavam mergulhados nessa
contenda, alm da dvida de como seria
solucionada a navegao do citado rio em
circunstncias beliculosas, da a mediao
inglesa desde o incio do conflito.
Sobre o envolvimento britnico no conflito, e de
como o mesmo prejudica-os, gerando o interesse
pela paz, Lynch (1989, p.105) observa que:
(...) Gran Bretaa tena motivos de inters
propio al igual que benevolencia para buscar
una frmula de paz. La guerra estaba
perjudicando el comercio britnico en el
Atlntico sur y los comerciantes sufran graves
prdidas debido al bloqueo brasileo de Buenos
Aires y al aumento de la piratera. Y
polticamente Canning daba una curiosa
importancia a la conservacin de al menos una
monarqua en las Amricas, salvando a Brasil de
si mismo y de sus vecinos republicanos.
Soma-se ao citado acima, a preocupao britnica
de que havia a possibilidade do Brasil ou das
Provncias Unidas recorrerem a ajuda dos Estados
Unidos e, uma vez recebendo o apoio
norte-americano, este pas teria vantagens
comerciais em detrimento da Inglaterra.
Ento, cada vez mais, com o passar e a
indefinio da guerra, conveniente aos
ingleses, e tambm as duas partes beligerantes,
o estabelecimento da paz e, assim, a diplomacia
britnica, tanto no Rio de Janeiro, quanto em
Buenos Aires, comea a trabalhar neste sentido.
Pela parte do governo brasileiro, discute tal
questo, conforme pode ser constado em Carvalho
(1998), o Marqus de Queluz, que durante o
perodo joanino foi o administrador portugus de
Caiena.
Paralelamente ao empate entre os dois pases sul
americanos na guerra, Rivera, em 1828, conforme
narra Lynch (1989), recruta foras guerrilheiras
e, a avanar pelo rio Uruguai, conquista as
misses brasileiras, tendo, assim, com que
negociar junto ao Brasil. Tal invaso, segundo
Carvalho (1998), tambm resulta no retardamento
da assinatura de um acordo entre brasileiros e
argentinos, pois diante da conquista do
territrio dos inimigos, os segundos passam a
postergar a soluo definitiva do caso.
No que tange o ataque de Rivera ao Brasil,
Padoin (2001, p.62) afirma que mais do que ter
um instrumento de barganha para com o Imprio,
conforme cita Lynch (1989), Rivera tem como
propsito (...)torna-las [as misses
brasileiras] mais uma das Provncias Unidas,
conforme o projeto artiguista, alm de que, com
tal ataque, o governo brasileiro acaba por abrir
mo do controle da Cisplatina.
Diante de tais fatos, o tratado de paz entre o
Brasil e as Provncias Unidas do Rio da Prata,
mediado pela Inglaterra, assinado em 27 de
agosto de 1828, quando ambos desistem das suas
pretenses na regio que outrora fora a Banda
Oriental e que foi a provncia Cisplatina. Fica
acordado o reconhecimento de um novo pas na
regio litigiosa, a Repblica Oriental do
Uruguai.
Ainda sobre o acordo em que os dois pases
americanos reconhecem a independncia da ento
provncia Cisplatina, vlido salientar que a
Inglaterra recebe o aval de navegar livremente
pelo esturio do Rio da Prata pelo perodo de
quinze anos. 21
Sobre o acordo celebrado entre as duas partes
beligerantes, e a independncia da provncia
Cisplatina como Uruguai, destaca-se o seguinte
trecho de Lynch (1989, p.105 e p.106): El
vehculo de la independencia [da Cisplatina] fue
la mediacin britnica que se inici en 1826 y
reforz los esfuerzos de los patriotas. (...)
Fue un reconocimiento de los hechos el que
Brasil y las Provincias Unidas firmaran un
tratado de paz (27 de agosto de 1828),
declarando la independencia de la Provincia
Oriental. En 1830 el Estado Oriental del Uruguay
tuvo su primera constitucin, que culmin y
complet la lucha por la independencia.
Entretanto, o autor observa que o novo pas
independente estava longe dos ideais de Artigas,
esquecendo a reforma agrria, e havendo a
excluso do sufrgio de diversos setores da
sociedade, que participaram inclusive da guerra
pela ciso com o Brasil, como, por exemplo,
pees, vaqueiros, trabalhadores assalariados,
soldados rasos e gachos.
5. Concluso
Assim sendo, a provncia Cisplatina torna-se
parte integrante do Imprio Brasileiro menos por
questes ideolgicas do que pragmticas, havendo
por parte dos orientais o desejo da resoluo da
situao de penria que estavam a enfrentar,
pelo seu territrio ter sido palco de conflitos
desde 1810.
Sobre o no aportuguesamento da regio, Ferreira
(2002) citando Felde, afirma que a ocupao
luso-brasileira foi efetivamente militar,
ignorando a possibilidade de realizar benefcios
materiais e intelectuais na rea ocupada.
No que tange a Guerra Cisplatina, ela pode ser
entendida como um conflito entre duas naes em
processo de formao, no caso, Brasil e
Argentina, que a esta poca estavam a definir o
seu territrio nacional, tentando manter, na
maioria das vezes, a hegemonia de cidades que
foram a capital dos antigos domnios coloniais
sobre o pas independente, alm da manuteno da
configurao do territrio colonial: no caso
brasileiro, o Rio de Janeiro luta para manter a
sua supremacia sobre as demais provncias e, no
argentino, Buenos Aires sobre o antigo Vice
Reino do Rio da Prata,.
Pode-se dizer que neste aspecto a formatao do
Brasil Imperial assemelha-se praticamente com a
recebida de Portugal em 1822, tendo sido perdida
apenas a Provncia Cisplatina. J as Provncias
Unidas no conseguem manter a configurao do
Vice Reino em 1810, pois o domnio colonial
platino dos espanhis, hoje, forma o Paraguai,
parte da Bolvia, Uruguai e Argentina, alm de
que a configurao do ltimo esteve diversas
vezes comprometida, havendo, ao longo do sculo
XIX, vrios momentos de ciso, como quando as
suas provncias fecham com Artigas, abandonando
Buenos Aires, ou quando a mesma, em meados do
sculo, separa-se do resto do pas.
Evidentemente, o Brasil do sculo XIX tambm
passa por momentos em que a sua integridade
esteve em jogo, seja durante o perodo de D.
Pedro I, seja durante a regncia, porm, o
resultado final foi a integridade e a manuteno
exceto no caso da Cisplatina das
configuraes herdadas em 1822.
Ressalta-se ainda que a Guerra contribuiu para o
desgaste de figuras de ambos os lados, no
Brasil, de Pedro I, que abdica em 1831 com a sua
imagem comprometida, nas Provncias Unidas, dos
unitrios, que assiste a chegada ao poder do
federalista Rosas, que permanece a at 1852,
governando ditatorialmente, entretanto,
contribuindo enormemente para a formatao da
atual Argentina.
O resultado da Guerra foi favorvel aos
britnicos, que vem o seu projeto da criao de
um estado tampo no Rio da Prata, favorecendo
os seus interesses comerciais nesta parte do
globo. Evidentemente, tal criao no era o
desejo do Brasil e das Provncias Unidas ao
incio do conflito, entretanto, com o Uruguai,
os brasileiros saem do Rio da Prata conforme
desejavam os argentinos e os ingleses e as
Provncias Unidas no estendiam o seu territrio
a outra margem do rio o que no anelavam os
brasileiros e ingleses. Pode-se perceber na
assinatura do trato entre os dois pases
beligerantes forte dose de pragmatismo, pois j
no possuam condies para pelejar e se no
obtinham a configurao territorial ideal ao fim
do conflito, ao menos no permitiam que o seu
rival tambm a obtivesse.
Entretanto, os conflitos na regio do Prata no
terminam com a Guerra da Cisplatina, durante o
sculo XIX vrios so os embates travados entre
os quatro pases da regio, Brasil, Argentina,
Uruguai e Paraguai, alm da questo da
demarcao de limites entre os pases dessa
regio virem sempre a tona e a ocorrncia da
interveno de um na poltica do outro, como,
por exemplo, os partidos uruguaios colorados e
blancos receberem, respectivamente, o apoio dos
brasileiros e argentinos, e o apoio dado aos
farroupilhas por faces uruguaias e por Rosas.
Finalizando, o conflito cisplatino d-se no
contexto da formao de dois pases, Brasil e
Argentina, sendo a primeira grande guerra das
naes em formao, alm de repercutir
internamente de forma negativa para os seus
governos.
6. Fotos Ilustrativas
Acima, Lavalleja. Abaixo, Rivera.
Figuras disponiveis em: http://www.uruguay.com
7. Notas
1 - Para maiores detalhes, ver: FERREIRA, Fbio.
A Presena Luso-Brasileira na Regio do Rio da
Prata: 1808 1822. In: Revista Tema Livre,
ed.03. Disponvel em:
http://www.revistatemalivre.com
2 - GOLIN, Tau. A fronteira: governos e
movimentos espontneos na fixao dos limites do
Brasil com o Uruguai e a Argentina. Porto
Alegre: L&PM, 2002, p.328.
3 - Disponvel em:
http://www.ufpel.tche.br/fae/siteshospedados/A17TAMBARA.htm
4 - GOLIN, Tau. A fronteira: governos e
movimentos espontneos na fixao dos limites do
Brasil com o Uruguai e a Argentina. Porto
Alegre: L&PM, 2002, p.328.
5 - Frutuoso Rivera natural de Montevidu,
tendo nascido nesta cidade em 1788. Luta ao lado
de Artigas, depois do Brasil, que promove-o de
coronel a brigadeiro, e a partir de 1825 contra
o mesmo. o primeiro governante do Uruguai
independente, at 1834, funda o partido
Colorado, teoricamente mais prximo ao Brasil, e
retorna ao poder em 1838. Nos anos de 1840 luta
contra Rosas e tenta mais uma vez voltar ao
poder em seu pas, no que fracassa, exilando-se
na capital do Imprio. Em 1853 integra uma junta
governativa do seu pas, porm, no ano seguinte,
falece. Vainfas (2002, p.303) define-o como
exemplo da (...) oscilao das identidades
polticas e nacionais da Cisplatina, entre o
Brasil e o Uruguai, bem como a constante
inverso de papis e alianas que marcaria
muitas lideranas poltica dessa ex-provncia
brasileira, espremida entre o Brasil e a
Argentina.
6 - Juan Antonio Lavalleja (1784-1853),
considerado um dos 33 orientais, lutou ao lado
de Artigas, no que culminou, por um curto tempo,
na sua priso por parte do novo governo que se
instala na Banda Oriental, ficando preso durante
trs anos na ilha das Cobras, no Rio de Janeiro,
e ganha a sua liberdade em 1821. Aps os
adventos de 1825-1828, disputa a presidncia do
seu pas com Rivera, entretanto derrotado e
exila-se em Buenos Aires, de onde alia-se com
Oribe contra aquele que derrotou-o no pleito. Na
guerra civil que dura de 1843 1851 aliado
dos Blancos contra os Colorados. Chegaria ao
poder via a junta designada para comandar o seu
pas em 1853, porm falece antes. CARNEIRO,
David. Histria da Guerra Cisplatina. So Paulo:
Companhia Editora Nacional, 1946 e Disponvel
em: http://www.bartleby.com/65/la/Lavallej.html
e
http://www.todo-argentina.net/biografias/Personajes/juan_antonio_lavalleja.htm
7 - GOLIN, Tau. A fronteira: governos e
movimentos espontneos na fixao dos limites do
Brasil com o Uruguai e a Argentina. Porto
Alegre: L&PM, 2002, p.332.
8 - Op. cit., p.100.
9 - Nascido em 1793 na provncia de Buenos
Aires, chega a frente das Provncias Unidas em
1829, permanecendo a at 1852. vlido
observar que um personagem controverso na
historiografia argentina, na qual gerou
construes dispares, como, por exemplo, a de
Domingo Sarmiento, contemporneo de Rosas, que
em seu livro Civilizao e Barbrie ojeriza-o;
e a interpretao dada pelo revisionismo
histrico, que resgata a figura de Rosas, em um
intento de modificar a galeria de heris
nacionais. Vrios dos autores do revisionismo
defendiam Rosas, a atribuirem-lhe legitimidade
popular; defensor da soberania nacional contra
os interesses imperialistas franceses e
ingleses; e a sua tirania era justificada pela
sua contribuio a unidade nacional. Assim, esse
personagem histrico fomentador de tantas
construes dispares na historiografia de seu
pas, chegou ao poder sob a bandeira do
federalismo, apoiou os farroupilhas contra o
Imprio, e declarou guerra ao Brasil em 1851,
termina a sua vida exilado em Londres depois que
perde o poder na Argentina. Vem a falecer na
capital inglesa em 1877.
10 - Segundo Carneiro (1946), dos 33 orientais,
na verdade, 17 o eram. Onze eram argentinos,
dois africanos, um paraguaio, outro francs e,
ainda, um era brasileiro.
11 - CARVALHO, Carlos Delgado de. Histria
diplomtica do Brasil. Coleo Memria
Brasileira, v. 13. Braslia: Edio fac-similar.
Senado Federal, 1998, p.58.
12 - Simn Bolvar nasce em Caracas em 24 de
julho de 1783. Estuda no exterior e, na sua
formao, sofre influncia de Rousseau e
Napoleo Bonaparte. Ao retornar a sua cidade de
origem, participa dos movimentos de emancipao
da atual Venezuela, assim como dos atuais
Panam, Colmbia, Equador, Peru e Bolvia. Fica
conhecido como El Libertador. Aps ser
presidente de diversos pases que ele participa
da independncia da Espanha, Bolvar morre em 17
de dezembro de 1830, em uma fazendola perto de
Santa Marta, Colmbia. Disponvel em:
http://www.its.utas.edu.au/users/creyes/simon_bolivars_home_page.htm
e
http://www.auburn.edu/~jfdrake/teachers/gould/bolivar.html
e http://www.bolivarmo.com/history.htm
13 - Bernardino Rivadavia (Buenos Aires,
20/05/1780 Cdiz, Espanha, 02/09/1845), ligado
ao partido Unitrio, ocupa a presidncia das
Provncias Unidas de 08/02/1826 07/07/1827.
Disponvel em:
http://www.historiadelpais.com.ar/
14 - Disponvel em:
http://www.rio.rj.gov.br/multirio/historia/modulo02/cisplatina.html
15 - Disponvel em:
http://www.historiadelpais.com.ar
16 - GOLIN, Tau. A fronteira: governos e
movimentos espontneos na fixao dos limites do
Brasil com o Uruguai e a Argentina. Porto
Alegre: L&PM, 2002.
17 - Op. cit., p.126.
18 - A esposa de D. Pedro I falece em 8 de
dezembro de 1826.
19 - Disponvel em:
http://www.arqnet.pt/dicionario/joao6.html
20 - Disponvel em:
http://www.geocities.com/ulysses_costa2000/oconflitonacisplatinap.html
21 - Disponvel em:
http://www.rio.rj.gov.br/multirio/historia/modulo02/cisplatina.html
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portugus: 1801-1810.
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Moeda e Crdito no Brasil:
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Brasil (1808-1829)
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