--

       

Busca Mundial

Busca  Portugalwebt

 

EUROPA    AFRICA   AMÉRICA    ÁSIA   OCEANIA                     

EUROPA

PORTUGAL

AFRICA

NORTE DE AFRICA

AFRICA OCIDENTAL

ÁFRICA ORIENTAL E G. PÉRSICO

AMÉRICA

fortificações brasileiras

A Região da Cisplatina

ÁSIA

ORIENTE

EXTREMO ORIENTE

OCEANIA

AUSTRALIA

BATALHAS

APENDICE

ALDEIAS

FOTOS

MAPAS

TEMPLÁRIOS

MONUMENTOS NACIONAIS

GLOSSÁRIO

FORTES E FORTALEZAS

S. João Baptista

S.Neutel

Forte de Crismina

S.Francisco

Forte de Santa Catarina

Fortaleza Ponta da Bandeira

Torre da Medronheira

Fortaleza de Nossa Senhora da Luz

Portugal no mundo:

FORTES E FORTALEZAS

CASTELOS DO MUNDO

BRASIL

THE LIBRARY OF IBERIAN

RESOURCES ONLINE

A SOCIETY ORGANIZED FOR WAR
IGESPAR IP

  MY CASTLE  WEB RING

 

A Deusa A-Má e os nomes de Macau

O topónimo Macau, ou porto da Deusa A-Ma é de origem chinesa. No entanto, os vários nomes desta urbe em chinês, não têm a ver com a divindade
• Jin Guo Ping e Wu Zhiliang

A etimologia do topónimo Macau e as muitas variantes é tão misteriosa como a própria origem da Cidade. Tem fascinado gerações e gerações de historiadores, fazendo correr verdadeiros rios de tinta ao longo da história. Da bibliografia ocidental, podemos citar estudos, entre outros, de J. J. L. Duyvendak, Paul Pelliot, Luís Gonzaga Gomes, José Maria Braga, Graciete Nogueira Batalha, Søren Egerod, C.R. Boxer, o Monsenhor Manuel Teixeira e Rui Loureiro. Nos últimos anos, e à medida da publicação maciça de fontes chinesas, promovida pela Fundação Macau e pela Fundação Oriente, apareceram, com a introdução de novas metodologias nos estudos sobre a história de Macau, trabalhos inovadores na investigação etimológica dos nomes de Macau. Nas fontes históricas da China Ming (1638-1644), consta como primeiro vernáculo “Haojing”. Mais tarde, apareceram outros nomes, tais como, “Haojing” (Espelho do Fosso); e “Haojing’ao” (Baía do Espelho do Fosso);”“Haijing” (Espelho do Mar); “Haojiang” (Rio do Fosso);”“Jinghu” (Lago do Espelho); “Jinghai” (Mar do Espelho) e ainda uma série de nomes onde entra o elemento “Lian” (Flor de lótus). Em suma, os nomes de Macau podem dividir-se em quatro grandes séries, a saber:
1. Os que começam com Hao (fosso ou trincheira);
2. Os que iniciam com Hai (mar);
3. Os que são coroados de Jing (espelho);
4. Os que têm elementos de Lian (Flor de lótus).

Macau e a Deusa A-Má
Macau está ligado umbilicalmente à Deusa A-Má. É evidente.
O culto da divindade começou por ser um fenómeno religioso popular com origem em Fujian – a “terra dos Chincheos” das antigas fontes portuguesas. A história de Macau é a divulgação deste culto na Península que veio a ser mundialmente conhecida com o seu nome.
Sem conhecer a história do culto de A-Má, não seria possível perceber a própria história de Macau. Este culto, foi trazido para Macau já a partir da Dinastia Song (966-1279), com um processo de oficialização promovida pelos Imperadores e através do fluxo emigratório dos “chincheos” em direcção da Ásia Marítima. A considerar-se a imponente fachada de São Paulo como o expoente máximo da cultura cristã em Macau, o Templo da Barra será, sem dúvida, o seu correspondente na milenar cultura chinesa. A etimologia do nome Macau personifica a própria história da Cidade. O topónimo detém uma história quase cinco vezes secular nas fontes ocidentais, desde a primeira carta de Fernão Mendes Pinto, escrita em 1555.
Alguns anos atrás, ainda antes da transferência dos poderes em Macau, levantou-se uma polémica sobre a data da construção do Templo da Barra (dedicado a A-Má). Um investigador chinês que trabalhava na Universidade de Macau nessa altura, lançou a versão de que o Templo da Barra foi construído em 1605, baseando esta afirmação unicamente numa inscrição que descobriu por detrás de um nicho do Templo. Uma série de artigos repetitivos e sensacionalistas na imprensa chinesa local e do Continente chinês, alguns dos quais traduzidos em português, provocou reacções do falecido Monsenhor Manuel Teixeira, e uma acesa troca de críticas.
Não concordando com a versão de 1605, apontamos como o seu calcanhar de Aquiles o facto de não justificar as primeiras grafias portuguesas que vieram a dar origem ao nome“Macau” constante em fontes ocidentais muito anteriores a essa data.

Relatos fidedignos
Abundantes referências ocidentais provam que o Templo da Barra já existia antes de 1605. Citemos apenas exemplos que partem de relatos testemunhais de viajantes que passaram por Macau e de fontes fidedignas de origem portuguesa.
Em 1564, Tang Kekuan, um conhecido general de Guangdong, veio a Macau com o objectivo de conseguir o auxílio militar português para reprimir o motim dos marinheiros de Zhelin.
E assentando todos nisto, disse Dom João que à tarde se veria com [o] mandarim e lhe ofereceria o socorro em nome d’el-Rei e de seu embaixador, e o mais que com ele passasse depois se determinaria acerca dos capitães que para isso fossem necessários. Dizem, mas eu não no afirmo, que alguns senhores perguntaram [i.e., pediram] logo a Dom João que nomeasse quem havia de ir por capitão-mor da armada, ao que ele respondeu que depois se praticaria nisso; outros dizem que ali logo declarou e nomeou a Dom Manuel. Não sei qual destas foi, par não me achar ao [conselho] presente. Um dos que se acharam no conselho me disse que perguntara a Dom Manuel, por estar apegado com ele, quem havia de ser o capitão-mor do socorro, e ele que lhe respondera por estas palavras: “Ego sum”. Donde se infere que não se nomeou geralmente no dito conselho, mas basta que logo se disse e se corrompeu pela povoação que Dom Manuel ia por capitão-mor, e assim parece que era a vontade de Dom João, por ele ser muito bom fidalgo e cavaleiro. Mas como na povoação havia outros que [lhes] competia o dito cargo pela experiência e obrigações de suas pessoas, como era a Luís de Melo e o embaixador, que por todas as vias a ele mais lhe competia, ou também a Diogo Pereira, esfriavam no que fora assentado, mas não desistindo do socorro haver-se de dar.
Estando a coisa desta maneira, o mandarim mandou dizer a Dom João que ele desembarcava e ia à varela para se ver com ele e assentarem seus negócios, por não se perder tempo, que Sua Mercê o mesmo fizesse. Dom João o houve por bem e foi ter ao dito lugar, que é no cabo da povoação, junto ao mar, acompanhado de muita gente, assim da de sua obrigação como da mais da povoação, vestidos de todos os setins, grãs e veludos, e outras muitas 1ouçainhas e peças ricas de ouro1.”
Pela referência”“ia à varela…, que é no cabo da povoação, junto ao mar”, pretende-se que “varela” se refere ao Templo da Barra. O encontro terá sido, portanto, no Templo da Barra. Este manuscrito foi concluído em 1565 por João de Escobar, secretário da Embaixada de Gil de Góis/Diogo Pereira, que devia ter chegado a Macau em 1563, o mais tardar em 1564. Sendo um relato testemunhal, a sua veracidade parece indiscutível, o que prova a existência do Templo da Barra antes de 1605.
É sobejamente conhecida a explicação etimológica sobre Macau, dada por Matteo Ricci que chegou à Cidade do Nome de Deus a 7 de Agosto de 1583:
Con tutto ciò, è sì grande il guadagno et utilità che, si all’erario pubblico come ai particulari, rende il trafico de’ Portughesi, che sempre i magistrati gli derono agio per questo in varie parti, non gli lasciando habitare in terra se non nel tempo che durava il mercato o fiera per qualche mese; sin che al fine gli derno licentia di stare fermi nella detta peninsola, dove era venerata una pagoda, che chiamano A-Má. Per questo chiamavano quel luogo Amacao, che vuol dire in nostra lingua Seno di Ama2.
Estando acima de qualquer dúvida ou suspeita, a descrição do missionário italiano, que viveu algum tempo em Macau, prova igualmente a existência do templo antes de 1605.
O conhecido “espião holandês” Jean Huygen van Linschoten (1563-1611), no seu famoso Histoire de la navigation Itinerario, voyage ofte schipvaert near Oost ofte Portugaels Indien (cuja primeira edição data de 1596), dedicou o Capítulo XXXXIII às rotas marítimas do Porto Interior de Macau.
A partir de Macau fl toƒl que vous auez leué les ancres vous vous verrez incontinent au NordEft vne marque blanche au haut d’vne montagne, & fi toft apres à Eft deux collines, la deuxiefme deÉquelles qui paroit au milieu entre la montagne & l’autre collines eft entierement nue & defcoverte, laquelle paroitA à travers les entrefentes des rochers & escucils de Patanas qui eft à mi-chemin du Canal eftant pres des derniers maifons du lieu a l’ endroit defquelles eftant paruenu, vous defcouvrez incontinent la troifiesfme colline de fort qu’eflant à l’endroit de la pointe qui eft tout ioignant le lieu apellé Varella dos Maodorins, …
Sabemos que o holandês abandonou a Índia Portuguesa em 1587, de maneira que as suas fontes deviam ser anteriores a essa data. Isto quer dizer que nos anos 80 do século XVI ou antes disso, o Templo da Barra já servia de lugar de encontro oficial entre as autoridades chinesas e os portugueses de Macau, recebendo assim o nome de “Varella dos Maodorins”. A provar que existia antes de 1605.
A propósito, “dos Maodorins” não significa pertencente aos mandarins. Trata-se do velho costume chinês dos mandarins de patente elevada optarem por fazer dos templos sua residência temporária de repouso ou para alguma missão, “oficializando” assim os templos onde ficavam. O Templo da Barra foi, pelo menos a partir de 1564, “oficializado” com a presença do general Tang Kekuan.
Na China imperial, o distrito era a base da administração territorial. Ficando Macau longe da sede distrital, a “oficialização” do Templo da Barra, como em outros casos no território chinês, era uma subtil forma de estender a esfera da administração local sem estabelecer a necessária e correspondente estrutura funcional. Em síntese, o Templo da Barra foi durante a Dinastia Ming (1368-1664) um estabelecimento religioso de propriedade privada (dos “Chincheos”, tal como hoje) mas”“oficializado”.
Este estatuto manteve-se durante a Dinastia Qing (1644-1911). Em Yue Haiguan Zhi (Crónica da Alfandega de Guangdong), de Liang Tingnan, xilografada no Reinado de Daoguang (1821-1850), há determinações expressas sobre as despesas mensais3 do Hopu de Macau com o culto da Deusa A-Má. Outra prova do estatuto oficializado é o facto do Comissário Imperial Lin Zexu, encarregue de resolver o problema do ópio, na sua curta visita a Macau, efectuada a 3 de Setembro de 1839, já em vésperas da Guerra do Ópio, se ter deslocado de propósito ao Templo da Barra para prestar culto à Concubina Celestial4.
O viajante e mercador italiano Francisco Carletti que esteve em Macau de 15 de Março de 1598 a 28 de Julho de 1599, descreve no seu livro de viagens à volta do mundo uma celebração da Deusa A-Má em Macau:
Quando oferecem os alimentos nalguma festa solene, comem-nos perto do ídolo, como vi fazer em Amacao, na campina, num certo lugar dedicado ao seu ídolo, onde havia umas pedras grandes, com caracteres de ouro esculpidos nelas; esse ídolo chama-se “Ama”. por isso a ilha é chamada Amacao quer dizer “lugar do ídolo Ama”. Celebraram essa festa no primeiro dia da lua nova de Março, que é o seu Ano Novo, sendo celebrado por todo o Reino como festa principalíssima…”5. Mais uma prova de que o Templo da Barra existiria antes de 1605.
Este testemunho ocular insuspeitável corresponde às descrições da Monografia Abreviada de Macau (Aomen Jilüe), que veio a ser publicada 150 anos mais tarde:
Existem em Macau 3 blocos de pedra lendários. Um deles chama-se Yangchuanshi (Rocha do Navio Transoceânico). Reza a tradição que, no Reinado de Wanli (1573-1620) da Dinastia Ming (1368-1644), quando um grande navio de uns abastados comerciantes de Fujian foi surpreendido por uma enorme tempestade, apareceu subitamente uma santa, de pé, no alto dum rochedo, que salvou o navio. Logo se ergueu um templo, em honra e agradecimento, a Tianfei (Concubina Celestial)6, dando-se a este lugar o nome de Niangmajiao (Ponta de Niangma, Ponta da Barra). Niangma7 é o nome pelo qual é designada Tianfei (Concubina Celestial). Sobre a superfície do rochedo que se ergue em frente do seu templo, foi gravado o desenho dum navio, com a seguinte inscrição: “Lishe Dachuan”
(Travessia feliz dos grandes rios), em homenagem e reconhecimento do milagre de Tianfei (Concubina Celestial). Há ainda outra rocha que se chama Haijueshi (Rocha da Percepção do Mar). Fica à direita da Niangmajiao (Ponta de Niangma, Ponta da Barra). Sobre uma altura de uma dezena de xun8, aparecem dois enormes caracteres que dizem Haijue (Percepção do Mar). O diâmetro de cada palavra atinge um zhang9. Uma terceira rocha, de nome Xiamashi (Pedra de Manduco), é arredondada e de cor azulada. Quando faz vento ou chove, ao escurecer, ou quando a maré começa a encher, ouvem-se rugidos produzidas por ela10.
Afirme-se, pois, sem risco, que antes de 1605 já existia o Templo da Barra, aliás “oficializado”, no local onde hoje se encontra.

Discrepâncias nominais
O seu nome chinês é Ma-Kou-Miu (em Mandarim: Ma Ge Miao).
“Ma” é abreviatura de A-Má. (Em chinês, este”“A” é apelativo, contendo muitas vezes nuances de carinho).”“Kou” é uma espécie de pavilhão de dois pisos. O piso térreo serve de suporte e o cimeiro é geralmente fechado em todos lados com janelas, sendo local de repouso por excelência, e donde se tem uma vista panorâmica da paisagem circundante. Também servia para guardar objectos ou livros.”“Kou” tem ainda outra acepção que é a de “aposento feminino”. Tratando-se A-Má de uma deusa, o termo usa-se igualmente nessa acepção. Quanto a “Miu” significa varela, pagode ou templo. Ma-Kou-Miu é traduzível em português como “o Templo-Aposento Feminino de A-Má”.
Não há dúvida que o nome da Deusa deu origem ao topónimo português Macau, salvo prova em contrário. A prova coeva está no Dicionário Chinês-Português, cuja autoria é atribuída aos padres Miguel Ruggieri e Matteo Ricci: “Maquao”11. E no entanto, os nomes chineses vernáculos de Macau nada têm a ver com A-Má. A etimologia de Macau é um caso extremamente curioso, porque embora origem chinesa, diverge dos étimos chineses da urbe, sem ligação à Deusa A-Má. Tal disparidade talvez seja uma das que melhor caracteriza esta confluência de culturas— a Macau, cosmopolita e universalista, entre dois mundos.
O nome “Haojing” aparece pela primeira vez, na Guangdong Tongzhi (Crónica Geral de Guangdong) de Huang Zuo, xilogravada em 1561, na transcrição de um memorial ao Trono, apresentado por Lin Fu, Vice-Rei dos Dois Guang (em português, o “Vice-Rei de Cantão”), que poderá remontar a 152812.
Outro memorial ao Trono, intitulado Fuchu Haojing’ao Yi Shu (Memorial sobre a afeição aos bárbaros de Haojing’ao (Baía do Espelho do Fosso), apresentado pelo censor Pang Shangpeng, no 43º ano (1564) do Reinado de Jiajing (1522-1566) e que é considerado o primeiro documento oficial chinês sobre Macau, conta como os Portugueses se mudaram de Lampacau para Macau.
[…] A sul da Cidade de Cantão, fica o Distrito de Xiangshan, banhado pelo mar. De Yongmo (Caminho Harmonioso) a Haojing’ao (Baía do Espelho do Fosso ) há uma jornada. Ali existem dois montes que ficam um em frente do outro como sendo terraços, daí os nomes de Nantai (Terraço do Sul) e Beitai (Terraço do Norte). Eis Aomen (Porta da Baía)13.”
Em Yuedaji (Grande Crónica de Guangdong), de autoria de Guo Fei, concluída cerca de 1602 temos, na secção cartográfica, um mapa xilografado de Macau. Trata-se de uma peça extremamente valiosa e importante para a história de Macau. Macau está inserido num mapa panorâmico do litoral de Guangdong, apresentando-se a Península com legendas e desenhos de casas. As legendas, da esquerda para a direita, são: Fenghuanghsan (Monte de Fénix), identificável com o Penedo de Patane das fontes lusas; Wangxiacun (Aldeia de Mong-há); You Lulu Zhi Xiangshanxian (Há caminhos terrestres para o Distrito de Xiangshan); Haojing’ao (Baía do Espelho do Fosso); Fanren Fangwu (casa dos bárbaros), com um desenho de 5 casas à volta duma praça; Yamagang (Porto de Yama), [ou A-Ma]; e Fanchuan (barcos dos bárbaros), com desenho de dois barcos caracteristicamente portugueses à entrada do Porto Interior.
Pelas informações em texto e imagem desta carta, sabemos que no início de Setecentos, “Haojing’ao” (Baía do Espelho do Fosso ) designava toda a Península de Macau e que às águas defronte do Templo da Barra se chamava “Yamagang” (Porto de Yama). Os primeiros portugueses desembarcados na Ponta da Barra souberam deste nome pelos nativos: daí o nome”“Amacao” e as muitas variantes. Enquanto os Lusos designavam toda a Península com o nome do Porto de A-Má, os Chineses mantinham o seu nome vernáculo “Haojing’ao” (Baía do Espelho do Fosso ). Eis a explicação da disparidade entre os nomes português e chinês de Macau, do referido verbete do Dicionário Chinês-Português. Tudo leva a crer que este “Haojing’ao” se referiria ao Porto Interior. Esta afirmação pode ser confirmada por alguma cartografia elaborada com a técnica de pintura chinesa, conservadas ainda no antigo Arquivo Imperial dentro da Cidade Proibida em Pequim14.
É de conhecimento geral que o actual nome chinês correspondente a Macau é “Aomen” (em Cantonês: Ou Mun), que quer dizer literalmente “Porta da Baía”. Ao espaço entre duas ilhas chama-se “porta” e esta “Porta” seria o espaço entre a Ponta da Barra e a zona de Yingkeng (Ribeira Grande) na Lapa, funcionando a Colina da Barra e a Ilha da Lapa como os dois pilares. Na verdade, na toponímia do litoral chinês, “porta”, além de querer dizer “saída”, significa também “porto”. (Porto é onde fundeiam embarcações). Também aos ancoradouros se chama “porta.”15 Portanto, “Aomen” significa ao mesmo tempo, a”“Porta da Baía” e o”“Porto da Baía”. Este nome passou a ser mais corrente e popular durante a Dinastia Qing (1644-1911)16.
A “Porta da Baía” e “Porto da Baía” corresponderiam, no conceito português, a “Barra de Macau”. Consequentemente, esta”“Baía” não podia ser outra senão o Porto Interior.
Nos livros oficiais da Dinastia Ming (1638-1644), por exemplo, Mingshilu (Verdadeira Crónica da Dinastia Ming), a primeira grafia registada é “Haojing’ao” (Baía do Espelho do Fosso)17. Na Mingshi (História dos Ming), o nome oficial chinês de Macau é “Haojing’ao” (Baía do Espelho da Trincheira)18. “Hao” (trincheira ou fosso) é uma troca por “Hao” (ostra), que o uso consagrou.
Numa versão não definitiva, mas considerada a mais completa, da História da Dinastia dos Manchus, constam vários nomes para Macau sendo o mais usual “Aomen”, com quatro dezenas de ocorrências. Na secção geográfica, o nome oficial é porém “Haojing’aoshan” (Ilha da Baía do Espelho do Fosso) que entra no mar formando uma península que se chama Aomen (Porta da Baía)19.”
Na mesma História, Macau é conhecido como “Haojing’ao”( Ilha da Baía do Espelho do Fosso)20. Mas também há um caso de “Haojing Aomen”21, onde constam os dois nomes que costumam ser usados em separado. De todas as maneiras, o nome oficial é “Haojing’aoshan ( Ilha da Baía do Espelho do Fosso), copiado certamente da Daqing Yitongzhi (Geografia Unificada da Grande Dinastia Qing), do século XVIII.
Quanto à designação Hao em “Haojing”, que o uso consagrou, foi durante muito tempo interpretada como sendo “ostra”. Recentemente, um estudo pioneiro do Professor Tang Kaijian, da Universidade Ji’nan de Guangdong, apurou que a este “Hao” não corresponde ostra, mas sim outro molusco que no entanto não conseguiu identificar22. No encalço da pista dada pelo eminente investigador, conseguimos verificar que o nome “Haijing” (Espelho do Mar), interpretado até hoje como “águas tão calmas como um espelho” pela esmagadora maioria dos estudiosos, é afinal sinónimo completo de “Haojing”23. E o nome científico do molusco chamado “Haijing” (Espelho do Mar) é Amusium pleuronectes (Linnaeus, 1758)24. Nada mais, nada menos do que: vieira. Portanto, Haojing ou Haijing tinham a ver com a vieira, que abundava25 nas águas de Macau, e daí passou a designar a terra.

Outras variantes no nome de Macau
O nome “Aoshan” para Macau aparece em Chouhai Tubian (Defesa Marítima Ilustrada), obra xilografada em 1562, no seu Primeiro Capítulo (mapas nº 7 e 8 de Guangdong). A mesma anotação surge em Zheng Kaiyang Zazhu (Miscelânea de Zheng Kaiyang), outra obra datada de 1572, no mapa nº 8 da secção de cartografia, referente a Guangdong. “Aoshan” quer dizer “Montanha da Baía”. Em chinês, a acepção básica de”“Shan” é “montanha”, mas também para ilha, que se ergue do fundo do mar como se fosse uma montanha se dá o nome de “Shan”. Por isso, “Ao shan”, pode ser literalmente “Ilha da Baía”. Este nome vem referenciado pelo Pe. Álvaro Semedo, na sua obra”Relação da Grande Monarquia da China, publicada inicialmente em castelhano, em 1642:
Dali (São João) a 54 milhas para dentro do reino existe uma outra ilha chamada pelos chineses Gau xan, e pelos portugueses Macau, pequena e tão cheia de rochas que se torna muito fáci1 defendê-1a sendo própria para o reduto de ladrões como era, exactamente, até então, acolhendo-se ali muitos, os quais infestavam toda aquela ilha26.
Na famosa Aomen Jilüe (Monografia Abreviada de Macau), de meados do século XVIII, temos várias referências a “Aoshan”: Saindo pelo Portão Meridional, a poucos li de distância, fica o Lianhuajing (Caule da Flor de Lótus, a Avenida do Istmo Ferreira do Amaral), que é o único caminho que vai dar a Macau. Qianshan (Montanha Dianteira, Casa Branca) e Aoshan (Ilha da Baía) ficam em frente uma da outra. A primeira, a norte da Baía; a segunda, a sul27.”
Ao norte, fica Qingzhoushan (Ilha Verde). Esta ilha fica num mar azul que separa Qianshan (Montanha Dianteira, Casa Branca) de Aoshan (Ilha da Baía).
Às vezes ao “Aoshan” (Ilha da Baía) acrescenta-se um determinante “Haojing” (Espelho do Fosso), dando lugar a “Haojing’ao Shan” (Ilha da Baía do Espelho do Fosso). A primeira ocorrência deste nome consta da Xiangshan Xianzhi (Crónica do Distrito de Xiangshan), de autoria de Bao Yi, xilografada em 175028. Macau pertencia administrativamente a Xiangshan. É um nome oficial que figura em Daqing Yitongzhi (Geografia Unificada da Grande Dinastia Qing), mandada elaborar pelo Imperador Qianlong e concluída em 1789. E mais tarde em Qingshi Gao (Esboço da História da Dinastia Qing), concluída em 1927.
Em Cangwu Junmenzhi (Crónica Militar de Cangwu), publicada em 1581, temos a designação “Xiangshan’ao” (Baía do Monte Odorífero)29 para Macau. Xiangshan, porque se situava no território do Distrito de Xiangshan.
A designação mais corrente, que se estendeu aos nossos dias é “Aomen”, ou “Ou Mun”, (Porta da Baía). Os nomes que iniciam com “Hai” (mar), os que são coroados de “Jing” (espelho) e os que contém o elemento “Lian” (Flor de lótus) são de mero uso literário.
Curiosamente, este nome chinês de Macau começou num molusco chamado vieira, e o último governador de Macau sob administração portuguesa, também se chamou Vieira. Coincidência ou fado?
Esta urbe, pelo nome, terá sido o maior encontro-desencontro dos últimos cinco séculos nas histórias da China e de Portugal. De Portugueses conhecedores da Deusa A-Má e de Chineses, grandes apreciadores de vieiras.

notas:
1 Rui Manuel Loureiro, Em Busca das Origens de Macau, Lisboa, Grupo de Trabalho do Ministério da Educação para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1996, pp. 154.
2 Pasquale M. d’Elia S.I., Fonti Ricciane, Roma, La Libreria dello Stato, 1942, vol. I, p.151-152.
3 Liang Tingnan, Yue Haiguan Zhi (Crónica da Alfandega de Guangdong), edição anotada por Yuan Zhongren, Edições do Povo de Guangdong, 2002, pp.325-330.
4 Chen Shurong e Huang Hanqiang (dir.), Lin Zexu yu Aomen (Lin Zexu e Macau—Actas do Seminário sobre o 150º Aniversário da Visita de Lin Zexu a Macau), Macau, 1990, pp. 100-112
5 Manuel Teixeira, Macau através dos séculos, Macau, Imprensa Nacional, 1977, p.14
6 Também conhecida como Tianhou (Rainha do Céu), outro nome da Deusa A-Má.
7 Niangma, no dialecto Minnan (sul de Fujian), significa
“avó” ou “sogra”, dependendo de quem o usa. O termo já aparece em Fernão Lopes de Castanheda e em Damião de Góis.
8 Um xun equivale a 8 chi (côvado), correspondendo a uns 24 metros.
9 Equivale a 3, 333m.
10 Yin Guangren e Zhang Rulin, Aomen Jilüe (Monografia Abreviada de Macau), anotado por Zhao Chunchen, Macau, Instituto Cultural de Macau, 1992, pp.24.
11 Michele Ruggieri e Matteo Ricci, Dicionário Português-Chinês, direcção de edição John W. Witek, S.J., Lisboa, 2001, p.169.
12 Cf. Tang Kaijian cf. Aomen Kaibu Chuqishi Yanjiu (Estudos sobre os Primórdios da Abertura de Macau), Beijing, Livraria China, 1999, p. 67.
13 Wu Zhiliang e outros (dir.), Mingqingshiqi Aomenwenti Danganwenxian Huibian (Colecção Documental de Arquivos das Dinastias Ming e Qing relativos a Macau), Beijing, Editora do Povo, 1999, vol. V, p 280.
14 Cf. Arquivo Histórico nº 1 da China e Centro de Estudos sobre Um País Dois Sistemas de Macau, Aomen Lishi Ditu Jingxuan (Tesouros Cartográficos Históricos de Macau), Editora da Língua Chinesa, Beijing, 2000, peças nº 8 e nº 10.
15 Chen Zunzuns e Ma Ping, Dignai Xingai (Crónica do Distrito de Dignai), Shanghai, 1924, Judie (Situação Geográfica), p. 14.
16 Tang Kaijian, op. cit., p. 76.
17 Wu Zhiliang e outros (dir.), op. cit., vol. V, p.30.
18 Zhang Tingiu, Mingai (História dos Ming), Beijing, Livraria China, 1974, pp. 8432, 8433, 8437 e 8460.
19 Zhao Erxun, Qingshigao (Esboço da História dos Qing), Beijing, Livraria China, 1977, p. 2272.
20 Idem, ibidem.
21 Zhao Erxun, op. cit., p.4561.
22 Tang Kaijian, op. cit., p. 66.
23 Para mais pormenores, vejam Jin Guo Ping e Wu Zhiliang, Haojing e Haijing, in Jinghai Piaomiao: História (s) de Macau—Ficção e Realidade, Macau, Associação de Educação para Adultos, 2001, pp. 228-230.
24 R. Tucher Abhott and S. Peter Dance, Compendium of Seashells: A full-color Guide to more 4200 of the World’s Marine Shells,’E. P. Dutton.Inc, New York, 1982, p. 303. Com um comprimento de 80 - 100 milímetros. A sua distribuição é muito ampla, do Oceano Índico ao Pacífico Ocidental. Pode servir-se fresco ou preparado para alimento seco que é, em Guangdong, conhecido como’“Daizi (fitas)”.
25 Segundo um poeta chinês, por volta de 1810, ainda havia viveiros de vieira no Porto Interior, cf. Zhang Wenqin, Aomen Shici Jianzhu (Notas a Poemas sobre Macau), Editora Zhuhai e Instituto Cultural da Região Administrativa Especial de Macau, 2003, vol. I, pp. 250.
26 Álvaro Semedo, S.J. Relação da Grande Monarquia da China, traduzido do italiano por Luís Gonzaga Gomes, Macau, Direcção dos Serviços de Educação e Juventude e a Fundação Macau, 1994, p.291.
27 Yin Guangren e Zhang Rulin, op. cit., p.23.
28 Zhongshan Wenxian (Documentação de Zhongshan), Taipé, Livraria Estudantil, 1985, vol. I, pp. 85.
29 Nas antigas fontes portuguesas, era conhecida como “Hong San”, “Ansam”, “Amção”, etc., que quer dizer “Monte Odorífero”. No Delta do Rio das Pérolas, há muitos topónimos com o adjectivo “Odorífero”, por exemplo Hong Kong quer dizer “Porto Odorífero”, porque nessa zona abundavam os incensos odoríferos.

caixa:
Para uma bibliografia essencial em chinês sobre o culto da Deusa A-Má, protectora dos mareantes, cf. Li Xianzhang, Mazu Xinyang Yanjiu (O Culto da Deusa A-Má), Macau, Museu Marítimo de Macau, 1995; Aomen Mazu Lunwenji (Actas da Conferência Internacional sobre o Culto da Deusa A-Má), Macau, Museu Marítimo de Macau e Sociedade de Estudos da Cultura de Macau, 1995; Xu Xiaowang e Chen Yande, Aomen Mazu Wenhua Yanjiu (Estudos sobre o Culto à Deusa A-Má), Macau, Fundação Macau, 1998; Li Lulu, Mazu Shenyun (O Charme da Deusa A-Má), Beijing, Editora Jardim Académico, 2003.
Para estudos em línguas ocidentais, cf. Fonti Ricciane, vol. I, p.151, nota 5; James L. Watson, Standardizing the Gods: The Promotion of Tian Hou (“Empress of Heaven”)”along the South China Coast, 960-1960; In David Johnson (ed.)”Popular Culture in Late Imperial China, Berkeley, University of California Press, 1985; Gerd Wädow, “O significado dos títulos da princesa Celestial no sistema de culto do estado chinês”, in Revista de Cultura, nº. 29, 1996, pp.191-205; Zhang Wenqin “O culto das divindades protectoras da navegação marítima em Macau e o intercâmbio cultural sino-ocidental”, in Revista de Cultura, nº. 29, 1996, pp.243-259; e Christina Miu Bing Cheng, Macau, a cultural janus, Hong Kong, Hong Kong University Press, 1999.Da vieira às janelas
Para além de deliciar a população com a sua saborosa carne, a vieira fornecia um excelente material de construção. As conchas polidas, eram usadas como vidraças nas janelas, daí que também à vieira se chamasse Chuanbei (Concha da janela), Haojingchuan (Janela de vieira), Mingwa (Telha translúcida), Haoguang (Iluminação de vieira), etc.
À concha polida dava-se em português o nome próprio de “adufa”, termo indo-português para o “resguardo de janelas” que era feito ordinariamente de conchas semi-transparentes do marisco bhing,e que substituia a vidraça.
Por duas vezes mandou reformar os paços pontifícios que ficam contíguos a sé e tambem reformar todas as adufas que se fizeram de novo, para as janellas do grande edifício da mesma sé (P. Casimiro da Nazaré. Mitras Lusitanas, I, p. 196 num texto escrito em 1695.
Mas também em indo-português se usava o termo “carepo” (do concani”karap, “concha”) para designar a concha translúcida da ostra Placuna placenta, chamada bhilgaci em concani, de que se fazia uso para as janelas.
Tais janelas tinham muitas vantagens num clima quente: deixavam penetrar uma luz branda e suave, interceptando os raios do sol, dispensavam cortinas e estores, e eram mais fortes e duradoiras. Também eram ornamentais.
Um viajante de 1616, Pyrard de Laval (em Viagem, II, p. 49) citado por Rodolfo Dalgado op.cit.) escrevia que não usam [em Goa] de vidraças, mas em vez dellas servem-se de cascas de ostra mui delgadas e lisas, que encaixilham em grades de madeira; e deixam passar luz como se fossem papel ou chavelho, porque não são tão transparentes como o vidro.
A linguista portuguesa Graciete Nogueira Batalha concluiu, sobre este assunto, que adufas semelhantes, até meia altura da janela, feitas de lâminas de conchas, com caixilhos de madeira, usaram-se em Macau como na Índia. Pessoas de meia idade ainda se recordam desse uso, mas actualmente não existe aqui nenhuma casa com adufas desse género, as quais foram substituídas por persianas de vários tipos.
Mais tarde corrigiu a informação no seu Suplemento ao Glossário do Dialecto Macaense (Coimbra, 1977) dizendo ter descoberto posteriormente algumas velhas adufas em casas antigas e muito deterioradas. Além de duas fotografias a cores publicadas por Graciete Nogueira Batalha, foram publicadas fotografias a preto e banco e a cores destas janelas em Património Arquitectónico. (ICM, Macau, 1988)
Entre 1996 e 1997, o Instituto Cultural (ICM) realizou trabalhos de restauro em algumas casas na Rua da Felicidade, que apresentavam este tipo de janelas. Tijolos cinzentos e janelas com “adufas” eram duas das principais características da tradicional construção civil nas últimas duas dinastias chinesas. Com estas particularidades ainda se conservam os “Jardim Museu” ou “Casa Museu” em Suzhou e Hangzhou, recentemente restaurados. Também em vilas e aldeias mais tradicionais do Vale do Rio Yangtse e no litoral sul, aonde o camartelo da modernização não chegou persistem casas com estas características.
Atentando nas fotografias existentes, havia 3 tipos de janelas de “adufas”: com todo o resguardo formado de conchas; com a parte inferior feita de concha e a superior com persianas; ou com a parte superior de concha e a inferior num estilo de persiana bem mediterrânica. Este estilo híbrido de elementos arquitectónicos chineses e portugueses é mais uma prova da confluência destas culturas a nível arquitectónico. Quanto às formas, eram geométricas.
Também em Aomen Jilüe (Monografia Abreviada de Macau) se fala destas janelas: Nas paredes, que são caiadas, abrem-se janelas. Há janelas do tamanho duma porta, com dois batentes por dentro e o resguardo por fora, com caixilhos, onde estão fixadas lâminas de mica.3 À falta de mais informações sobre o uso de mica nas janelas, julga-se que tenha havido aqui confusão com conchas ou madrepérola, com uma aparência semelhante à da mica.
Na Biblioteca Nacional de Lisboa, existem duas cartas manuscritas (quotas D.89R e D.90R), cujas datação exacta ainda está por determinar. Numa delas ainda não se vê a Porta do Cerco, construída em 1574, pelo que nos permitimos avançar com a hipótese de ter sido elaborada antes de 1574, ou com informações anteriores a essa data. Na outra, figurando a tal porta, leva-nos a afirmar que terá sido produzida depois de 1574. Mas o que nos interessa é um pormenor importantíssimo numa delas: Na D.90R, o litoral chinês em frente de Lampacau está indicado com a legenda: “China – Terra de Conxas” na própria cartografia, o que comprova uma abundância de conchas, a ponto de merecer a atenção dos mareantes, destacando-a como referência para a navegação.
Os materiais usados no fabrico de “adufas” variavam de região em região. Em Macau e em todo o litoral do sul da China, onde abundava “Haojing” terá sido esta a principal material-prima sendo as conchas polidas manualmente. Em terras mais inte-riores da China, tais como Suzhou e Hangzhou, as”“adufas” eram feitas a partir de conchas prensadas (moídas ou britadas) de “Hebang” (madrepérola de água doce), que pertence à Eulamellibranchia, um bivalve de água doce.
Sem dúvida, antes do uso generalizado do vidro que se terá verificado no século XVIII na China4 este terá sido o material mais usado no sistema de obtenção de luminosidade na tradicional arquitectura chinesa. Em 1696 foi criada a Oficina Imperial de Vidro dentro da Cidade Proibida e no Palácio de Verão, o Yuanmingyuan, cuja construção começou em 1707, apareceram as primeiras janelas de vidro.
Outrora, em Shaoxing (província de Zhejiang), vogavam os famosos Wupengchuan (barcos com cobertura de bambú pintada de preto) que também eram vulgarmente conhecidos como Mingwachuan (barcos com telhas translúcidas), por terem tais telhas, incrustadas na cobertura para facilitar a entrada da luz no interior dos compartimentos. As lanternas chinesas de uso normal tinham os abat-jour em papel, mas as que se usavam a bordo eram de “adufa”, impermeáveis. Mesmo agora, em casas de decoração é frequente verem-se abat-jour a imitar caixilhos com desenhos geométricos a cores. Talvez reminiscências das”“adufas”.
Acima de tudo, uma vantagem inegável da haojing reside na reciclagem do desperdício, uma vez degustada a iguaria. Talvez por isso o seu uso tão generalizado no sul da China.

 

  Copenhagen Image Banner 300 x 250

 

 
 

Guarda Almada    Castelos    Seixal    Sesimbra  Palmela  Arqueologia   Historia Portugal no mundo

intercâmbio    Contactos    Publicidade

Copyright © Ptwebs.