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"MADRE DE DEUS" UM SONHO JAPONS
Sonhos premonitrios e alguns destroos levam um carpinteiro japons da povoao de Fukuda a tentar h mais de treze anos resgatar das profundezas o que est convencido tratar-se do "Madre de Deus", a nau portuguesa naufragada naquela zona em princpios do sculo XVII

FotoNaquele ano de 1608 as coisas no correram bem aos marinheiros e samurais das shuin sen, as embarcaes com o "selo vermelho" doshogun , que as autorizava a navegar para o estrangeiro, pertencentes ao senhor de Arima, o daimio cristo Harunobu Arima. Haviam demandado o reino do Sio para, como de costume, adquirir madeiras preciosas, e em particular as utilizadas no fabrico do incenso japons. Um atraso na torna-viagem forou-os a passar a invernia em Macau, e durante essa prolongada e demasiado inactiva estada os japoneses envolveram-se em graves desacatos com os residentes. As temveis espadas dos samurais tero ceifado algumas vidas, e os presumveis responsveis foram condenados pena capital e executados.
Em Junho do ano seguinte dava entrada no porto de Nagasqui o capito-mor da viagem do Japo, Andr Pessoa, na sua nau "Nossa Senhora da Graa", tambm conhecida por "Madre de Deus". Ia carregada de sedas chinesas e outros produtos muito do agrado dos japoneses.
Irritado com o sucedido aos seus homens em Macau, o daimio Harunobu Arima apresentou queixa no castelo de Sumpujo, no sop do monte Fuji, ento residncia do todo-poderoso shogun regente Ieyasu Tokugawa, o qual por sua vez mandou pedir explicaes a Andr Pessoa. Informado do que se passara, Ieyasu no s deu razo aos portugueses como decretou a proibio de qualquer embarcao japonesa voltar aportar em Macau.
Entretanto, recm-regressados a Nagasqui, os japoneses que sobreviveram aos desacatos em Macau apresentam ao senhor de Arima uma verso diferente da relatada pelo capito-mor. Este volta a queixar-se a Ieyasu que acaba por rever a sua posio, ordenando a deteno de Andr Pessoa. Diligente e pretendendo agradar ao shogun regente, Harunobo Arima entra em conluio com o governador de Nagasqui e valendo-se da sua posio de catlico, convence o bispo de Nagasqui, monsenhor Lus Cequeira S.J., a convidar Andr Pessoa para uma refeio em sua casa com o objectivo de a o capturar e matar. Avisado da armadilha que o esperava o capito-mor rene os poucos portugueses que consegue encontrar, corta as amarras da nau e faz-se ao mar. O daimio ao aperceber-se da tentativa de fuga manda os seus homens ao encalo dos portugueses e uma imensidade de pequenas embarcaes a remos persegue e tenta sitiar o "Madre de Deus".
O reduzido nmero de tripulantes a bordo leva os portugueses a concentrar esforos para impedir as sucessivas tentativas de abordagem, o que condiciona a sua capacidade de manobrar convenientemente a nau para tirar bom proveito dos escassos ventos.
Ao terceiro dia, 6 de Janeiro de 1610, quando o "Madre de Deus" estava j prestes a sair da baa de Nagasqui e seguir para onde ventos fortes lhe possibilitariam pr-se mais rapidamente ao largo, um marinheiro portugus que do alto da amurada se preparava para arremessar uma bacia incendiria sobre uma embarcao inimiga foi atingido numa mo, deixando pegar o fogo s velas. Vendo Andr Pessoa que, sem pano, estavam perdidos, pegou numa tocha e dirigindo-se ao paiol, f-lo explodir. Os que no morreram na exploso e tentaram escapar a nado, entre os quais um padre jesuta, foram passados espada pelos japoneses das embarcaes sitiantes. Sobreviveram apenas os portugueses que ficaram em terra.

Reparar um navio em sonhos

H 13 anos atrs e durante trs noites consecutivas, Matsumoto Shizuo, um carpinteiro residente na pequena povoao costeira de Teguma-cho, no muito longe de Nagasqui, teve insistentemente um sonho que o perturbou e que viria a alterar por completo a sua vida pacata. No sonho, uma voz feminina, que se identificava como sendo Maria-san (ou seja, Nossa Senhora), dizia-lhe necessitar que ele reparasse um navio naufragado, partido em dois. Queria ainda que erguesse ali uma esttua de Nossa Senhora em tamanho natural, em homenagem aos que haviam perecido naquele naufrgio. Tratava-se de um sonho deveras inquietante, porquanto Matsumoto Shizuo budista! Que lhe aparecesse em sonhos a imagem de Buda ainda v, mas ser contactado pela Nossa Senhora dos catlicos, para mais a pedir-lhe que reparasse um navio quando ele carpinteiro de casas e no naval j seria um pouco menos comum. Mas, fosse como fosse, no teve coragem de enjeitar o pedido, e durante trs noites seguidas sonhou que era transportado at ao fundo do mar onde, com muito labor, levou a bom termo a reparao solicitada.
Mas as coisas no ficaram por ali. Aquele sonho que parecia demasiado real no o abandonava, nem lhe dava sossego. Recordava-se de ter ouvido do pai e dos outros idosos da terra que haveria desde h muitos anos um namban sen (navio namban) afundado naquelas guas ao largo da povoao. Mas se ele nem sabia muito bem o que significava namban, que imaginava vagamente tratar-se de um navio russo at que algum lhe falou no "Madre de Deus". A partir de ento, a obsesso tomou conta e Matsumoto passou a tentar informar-se e investigar tudo quanto ao assunto dizia respeito. Para alm da mulher, filhos, genro e nora, o contgio do namban sen foi-se alastrando aos amigos e demais habitantes daquele lugar.

Resgatar um namban sen

Uma considervel multido, onde se contavam o bispo Lus Cequeira, o padre Joo Rodrigues e outros jesutas, portugueses e japoneses, havia assistido, em terra, ao desenrolar do combate naval, e existem descries pormenorizadas de toda a aco, bem como do permetro onde a Madre de Deus se afundou, nos registos escritos que chegaram at ns. Aps muito empenho e grande insistncia o carpinteiro Matsumoto l conseguiu os apoios que lhe permitiram passar a pente fino, durante alguns anos e com o mais sofisticado equipamento de deteco, toda a zona referenciada no relato dos jesutas, mas nem sinais do "Madre de Deus". Animado de uma tenaz fora de vontade, no esmoreceu, transferindo as buscas para um outro local um pouco mais alm, por coincidncia na zona onde se lembra de em jovem ter ouvido o seu pai indicar como sendo o stio onde um namban sen estaria afundado.
Aps morosas pesquisas, a cerca de 600 metros da povoao de Fukuda, mesmo sada da baa de Nagasqui, encontraram um navio afundado a 45 metros de profundidade. Tratava-se de uma embarcao de pesca japonesa, o que no conformou Matsumoto Shizuo. No, decididamente no era aquele o navio que ele "consertara" a pedido de Maria-san.. Perante a sua insistncia os mergulhos prosseguiram naquele mesmo local at que, enterrado no lodo e exactamente por debaixo da embarcao de pesca japonesa descobriram um outro navio, este sim, decerto muito mais antigo e a apontar para a possibilidade de ser o "Madre de Deus", j que no existe notcia nenhuma de outra embarcao com aquele porte e caractersticas se ter perdido na baa de Nagasqui.
Desde ento Matsumoto tem consumido todas as suas economias e energias para resgatar o "Madre de Deus" das profundezas do mar. Construiu no exterior da sua casa um tanque com cerca de dois por quatro metros onde conserva em gua doce pranchas e tabuados recuperados da embarcao, estando a garagem da sua habitao transformada em estaleiro de arqueologia subaqutica, onde conserva em diversos contentores de plstico pedaos de madeira, cavilhas, pregos, fragmentos de cermica, pequenas pinhas de pinheiro bravo tipo ibrico (bem diferentes das pinhas existentes no Japo) e que serviriam talvez para fazer lume a bordo, para alm de uma enorme ncora.
As naus portuguesas eram fabricadas em madeira de carvalho como o azinho e o sobreiro, enquanto o tabuado do casco era geralmente feito de pinho bravo, o que levava a que nas suas andanas pelo mundo e sempre que havia necessidade de fazer reparaes, se tivesse com alguma frequncia de recorrer a aplicaes de madeiras exticas e nativas. Acontece que o madeirame resgatado s profundezas nesse naufrgio ao largo de Fukuda principalmente constitudo por carvalho e pinho bravo, para alm de um ou outro cedro chins e um pouco de teca, tendo o senhor Matsumoto enviado para Tquio algumas amostras que, aps terem sido analisadas, foram datadas como anteriores ao afundamento do "Madre de Deus".

Budista de voto cristo

Convencido de que se trata mesmo da nau do capito-mor Andr Pessoa, Matsumo Shizuo mandou erguer uma imagem de Nossa Senhora esculpida em pedra e em tamanho natural na ilhota de Matshima, prxima daquele local, dando cumprimento ao segundo pedido de Maria-san. A imagem foi benzida no local pelo sacerdote Diego Yuuki, jesuta espanhol naturalizado japons, h muito a residir em Nagasaqui e que, como historiador, tem desenvolvido um importante trabalho de investigao do chamado "perodo portugus" no Japo.
Os meios de comunicao social tm acompanhado o assunto com interesse e a prpria NHK, a maior cadeia televisiva nipnica, j emitiu um documentrio dedicado ao "Madre de Deus", com imagens recolhidas no fundo do mar, embora pouco espectaculares dada a espessa camada de lodo que cobre o local a imensidade de partculas em suspenso que tornam a visibilidade quase nula.
O afundamento do navio deu-se a poucos dias da data prevista de regresso a Macau, ou seja, em princpio j com a seda chinesa que transportava nos pores convertida em prata japonesa. Da que ao longo dos tempos se tenham registado vrias tentativas para recuperar esse tesouro, como aconteceu em 1928, em que segundo algumas informaes, tero sido apenas resgatados alguns capacetes e uma ncora que se sups serem da nau portuguesa.
Em 1620, tripulantes de uma embarcaoshuin sen pertencente a um mercador abastado de Quioto, que navegava na baa de Nagasaqui afirmaram ter avistado tona de gua a ponta de um dos mastros do "Madre de Deus" durante a baixa-mar e com guas particularmente claras, e que a nau estaria ento a uma profundidade de pouco mais de 10 metros. Um desses tripulantes, impressionado com o que vira descreveu a nau a um pintor de Nagasqui pedindo-lhe que a desenhasse.

Ser ou no ser o "Madre de Deus"

Uma das dvidas levantadas quanto autenticidade do achado de Matsumoto tem a ver com a resposta a uma informao pedida ao Museu da Marinha em Lisboa, relativamente ncora recuperada. Esta apontava para o facto de se tratar de um ferro do tipo "almirantado", o que nos remeteria para um perodo posterior ao "Madre de Deus". Munido de fotos da referida ncora contactmos em Lisboa o subdirector do Museu de Marinha que nos encaminhou para os seus dois especialistas em ncoras, Gonalves Neves e Jos Vale, licenciados em histria, que confirmaram tratar-se dum ferro tipo "almirantado", mas da poca do "Madre de Deus". Esclareceram que a confuso se poderia dever ao facto desse tipo de ncoras, apesar de j serem conhecidas desde o sc. XV, s terem comeado a ser designadas dessa forma desde h cerca de dois sculos.
Colocada a mesma questo ao Centro Nacional de Arqueologia Nutica e Subaqutica, os diversos tcnicos contactados, incluindo o arquelogo subaqutico Paulo Jorge Rodrigues, conselheiro cientfico do director, afirmaram no restar dvidas de que a ncora em causa poderia ter pertencido ao "Madre de Deus", tendo-nos inclusivamente mostrado dois ferros idnticos, um dos quais encontrado h cinco anos numa grande embarcao de finais do sc. XV aquando da escavao do tnel para ampliao da rede do Metropolitano no Cais do Sodr, em Lisboa, em zona h muito aterrada ao rio. A outra ncora apareceu tambm h poucos anos numa nau da carreira das ndias, "Nossa Senhora dos Mrtires", que naufragou em 1606 entrada de Lisboa, junto ao Forte de S. Julio da Barra.
Entre os mortos do naufrgio da "Nossa Senhora dos Mrtires" contava-se o padre jesuta Francisco Rodrigues, que em 1603 foi enviado pela Companhia de Jesus em Nagasqui, como seu procurador, a Roma, embarcando na nau de D. Paulo de Portugal para Macau e da para a ndia. O padre Francisco viajava na companhia de um cristo japons, baptizado Miguel, que sobreviveu ao naufrgio. Para alm da ncora foram recuperados diversos potes contendo pimenta, dois astrolbios, canhes, e diversas peas de cermica do mesmo tipo dos fragmentos de cermica resgatados por Matsumoto no suposto "Madre de Deus".
Mas perder os ferros como consequncia de um corte das amarras devido a uma sbita tempestade ou por qualquer outro motivo era relativamente frequente, pelo que as naus navegavam normalmente com duas e trs ancoras, havendo mesmo situaes em que se tendo perdido todas, havia que lanar mo a um qualquer ferro na primeira oportunidade. Da que numa embarcao lusa naufragada seja eventualmente possivel encontrar-se um ferro tipo rabe, chins, japons, ou qualquer outro. Quer isto dizer, portanto, que identificar s a ncora pode no significar identificar a embarcao onde ela encontrada, em termos de arqueologia subaqutica.

Apoios para continuar

Os materiais entretanto recolhidos por Matsumoto Shizuo, que conta com o apoio cientfico de um historiador japons, o professor Shibata ou sejam, a ncora tipo almirantado de finais do sc. XV, os pedaos de cermica idnticos aos encontrados em outras naus portuguesas da poca, as pinhas do tipo dos pinheiros ibricos, e destroos de madeira de carvalho e pinho datadas como anteriores ao afundamento da nau apontam fortemente para a possibilidade de se tratar mesmo do "Madre de Deus".
A ser assim, isso significa que a pormenorizada descrio do permetro em que se deu o afundamento feita pelos jesutas que o tero presenciado poder no estar correcta.
Seja como fr, para o senhor Matsumoto no subsistem dvidas: trata-se mesmo da nau do capito-mor Andr Pessoa. A revelao que, em sonhos, Nossa Senhora lhe fez s poder significar que assim , no lhe restando outra alternativa que no seja resgatar a embarcao das profundezas. E tendo em vista o enorme esforo financeiro que tal representa, j que se trata de retirar primeiro o navio de pesca que est por cima, Matsumoto encetou j a nova batalha: para motivar instituies e conseguir financiamentos que lhe permitam levar por diante, sobretudo, um desafio, j que para si nada pretende e tenciona doar tudo ao municpio de Nagasqui.
Vai contando com a sua tenacidade, o apoio incondicional da famlia e dos amigos e, talvez mesmo de Maria-san e de Buda do qual continua devoto e que, est em crer, numa causa como esta, no o deixar "naufragar"!

 

 

 

 

 

 

 

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