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Mas a mais
importante batalha a que Elvas tem ligado o seu nome glorioso,
pelas consequências morais e materiais da vitória alcançada
pelos Portugueses, foi a das Linhas de Elvas. A
14-I-1659. Havia já perto de 3 meses (desde 22-VIII-58) que o
exército castelhano, comandado pelo primeiro ministro D. Luís de
Haro, tinha investido a praça de Elvas. Esta, apesar da sua
pequena guarnição - 11.000 homens, reduzida por terríveis
epidemias contra 14.000 infantes, 2500 cavalos e numerosa
artilharia - resistia sempre. Logo de começo o seu comandante,
André de Albuquerque, tinha conseguido passar as linhas dos
castelhanos, acompanhado por outros oficiais, e dirigira-se a
Estremoz, onde o conde de Cantanhede organizava um exército de
socorro, ficando como comandante D. Sancho Manuel, depois do
conde de Vila- Flor. Compunha-se este exército de socorro de
8.000 infantes (sendo só 2.500 regulares), 2.900 cavalos e sete
peças de artilharia. Saindo a 11 de Estremoz, a 13 estava em
frente de Elvas, avisando da sua chegada com o troar da sua
artilharia. Na manhã evocada de 14, D. João Pacheco, general
castelhano, que já na véspera saíra a reconhecer os nossos,
voltou a fazer novo reconhecimento, concluindo que os nossos não
atacariam nesse dia. Ordenou então D. Luís de Haro que as forças
castelhanas que tinham reforçado as guarnições da linha
fronteira ao nosso exército, recolhessem aos seus quartéis.
Entretanto tinha-se dissipado o nevoeiro, ficando um dia
formosíssimo. Os nossos, que já na véspera tinham tomado o seu
«dispositivo de batalha»e recebido ordens para o ataque,
começaram o seu avanço. A sua «ordem de batalha» era a seguinte:
na frente, mil homens escolhidos levando, além das suas armas,
«faxinas» para cegarem os fossos, comandados pelo mestre de
campo - general Diogo Mendes de Figueiredo. «Vanguarda», 3.000
infantes, 1.200 cavalos, comandados pelo conde de Mesquitela e
André de Albuquerque. «batalha» (grosso), 2.000 infantes e 900
cavalos, comandados pelo sargento-mor Manuel Mendes Leitão.
«Reserva», 2.000 infantes e 800 cavalos, comandados por Pedro de
Lalande. A «artilharia», comandada por Afonso Furtado de
Mendonça, ocupara uma eminência perto de Amoreira, donde batia
eficazmente o campo de batalha. A guarnição da praça tinha
tomado posições, donde podia coadjuvar o exército. Logo que D.
Luís de Haro reconheceu o erro que cometera, coadjuvado pelos
seus generais, mandou os seus terços reocuparem as posições
ameaçadas que eram a parte das linhas: Monte de Nossa Senhora da
Graça-Murtais-mosteiro de S.Francisco, constituída por forte
circunvalação flanqueada por 5 fortins. Esta manobra foi feita
de maneira confusa e desordenada, pois além dos obstáculos
naturais e artificiais do terreno, o fogo dos nossos era de
grande intensidade e eficácia, sendo o exército espanhol
«surpreendido no momento de tomar o seu dispositivo de combate»,
revés inicial que, pode-se dizer, decidiu do resultado da
batalha. Sob a pressão formidável dos nossos, foi impossível ao
general espanhol, embora auxiliado por bons e afamados generais,
como o duque de Ossuna, o duque de S.German, D.Nicolau de
Cordova e outros, deter o nosso progresso. As linhas foram
cortadas pelos infantes escolhidos de Diogo de Figueiredo,
auxiliados pelos terços do conde de Mesquitela e logo um dos
fortins foi tomado. Pela aberta ou brecha foram entrando as
forças que formavam a «batalha» (grosso), que tomaram posição no
interior das linhas. As tropas espanholas concentraram-se nos
fortins, onde se concentrou a resistência. A artilharia e as
forças da praça cooperavam com grande energia. A luta durou
muitas horas mas foi-nos sempre favorável. Caíram em nosso poder
outros dois fortins, e os outros dois ficaram cercados, sendo um
deles o do Monte da Graça. Ao anoitecer os nossos entraram na
praça e a vitória transformou-se em triunfo. Os dois chefes
abraçaram-se no campo de batalha. D. Luís de Haro tinha retirado
pouco depois do começo da batalha para Badajoz e o seu
substituto, D. Rodrigo Moxica, também se não demorou. Todo o
acampamento caiu em nosso poder. Nos despojos figuravam 15.000
espingardas, 19 peças e 3 morteiros. Prisioneiros foram mais de
5.000. Número de mortos foi também muito elevado. Dos nossos
morreram cerca de duas centenas, e grande número de oficiais,
entre eles André de Albuquerque. Durante a noite renderam-se os
dois últimos fortins. Logo de manhã D. Sancho Manuel, com a
cavalaria perseguiu os Espanhóis, que retiravam em grande
desordem, até ao Caia, causando muitas baixas e tomando-lhe duas
peças, carros, etc. Foram muito importantes as vantagens obtidas
nesta batalha, tanto militares como políticas; infelizmente não
puderam ser mantidas por muito tempo. |