O modelo da
chamada ‘Colónia Penal do Tarrafal’, em Cabo
Verde, onde a 29 de Outubro de 1936, faz
hoje 70 anos, chegaram os primeiros 152
presos dos 340 que por lá passaram, era
igual aos dos campos de concentração nazis,
onde Hitler promoveu o holocausto. Um dos
desterrados, Edmundo Pedro, de 87 anos, que
integrava o grupo ao lado de seu pai,
lembrou ao CM a precariedade das
instalações, em tendas de lona, a
incomunicabilidade com o exterior, as
barreiras de arame farpado e as próprias
características do local.
O
Campo do Tarrafal serviu para presos
políticos desterrados de Outubro de 1936
a Janeiro de 54
“Era a zona
mais inóspita, seca e quente, da ilha de
Santiago, em Cabo Verde”, salienta
Edmundo Pedro que lá passou nove anos e
escapou à morte por pouco. Foi
recambiado para Lisboa na Primavera de
1945, para responder em tribunal, e
chegou tuberculoso ao continente, mas
conseguiu melhorar nos três meses que
passou na cadeia do Aljube à espera de
julgamento.
Setenta anos depois, ele é um dos cinco
sobreviventes ao Tarrafal, onde sofreram
torturas mais de três centenas de
resistentes à ditadura fascista,
nomeadamente comunistas e
anarco-sindicalistas, e gostava que a
efeméride fosse assinalada de forma
alargada e pedagógica. Não está, porém,
disponível para dar cobertura a actos
como o que hoje é promovido junto ao
mausoléu das vítimas, no cemitério do
Alto de S. João, em Lisboa, pela União
de Resistentes Antifascistas Portugueses
que aponta como uma organização do PCP.
Edmundo Pedro foi convidado, mas, como
lhe disseram que não poderia intervir,
não estará presente. E gaba a sua
consciência tranquila de sempre ter
lutado pela liberdade, arriscando a
própria vida e sem esmorecimento, apesar
de tudo o que sofreu no ‘campo da morte
lenta’. Por sua vontade, o Tarrafal era
uma lição de história para todos os
portugueses.
MÉDICO PARA "PASSAR ÓBITOS"
O número de 32 presos mortos no Campo do
Tarrafal, entre 1936 e 1948, desmente a
marca ‘paternalista’ dada muitas vezes à
ditadura de Salazar. Com a escolha do
local de desterro, na pior zona da ilha
de Santiago, tentou-se de facto levar à
morte os mais aguerridos resistentes ao
regime.
Directores do campo como Manuel dos
Reis, João Silva e Henrique Seixas
admitiam que “quem vem para o Tarrafal
vem para morrer” e ao médico Esmeraldo
Pais Prata é atribuída a frase “não
estou aqui para curar doentes, mas para
passar certidões de óbito.”
A historiografia sobre o Tarrafal é,
porém, limitada, sendo a maioria dos
trabalhos ligada a autores que parecem
querer fazer sobretudo a exaltação do
papel do PCP na resistência à ditadura.
A fuga
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